Rodrigo Constantino
Em artigo publicado em O Globo, “Falta Defender o Interesse Nacional”, o presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Rubens Barbosa, faz um apelo para a intervenção estatal na possível aquisição de uma empresa brasileira por outra chinesa. O governo não deveria permitir, na opinião dele, que a Tritec Motors fosse vendida para a chinesa Lifan Group. Tudo em nome do “interesse nacional”. Rubens cita os exemplos dos Estados Unidos na recente questão do porto, ou os casos da França e demais países europeus, que utilizam o Estado para a “proteção” de certos setores. Mas será que a intervenção estatal é mesmo do interesse nacional nessas fusões e aquisições?
Em primeiro lugar, como definir o interesse nacional? A nação é composta por milhões de indivíduos, cada um com interesses distintos. Claramente, do ponto de vista dos consumidores, o que importa é um bom serviço prestado, um produto decente, variedade de opções e preço acessível. E tais coisas são mais facilmente ofertadas através do livre mercado, com empresas competindo pela satisfação do cliente. A nacionalidade dos acionistas das empresas não é de muita importância para os consumidores. Não importa quem controla a rede de supermercados, contanto que tenham vários produtos bons na prateleira, serviço eficiente e bons preços.
Na verdade, a escusa do “interesse nacional” sempre serviu para a manutenção de privilégios das oligarquias locais. O governo, pela força da lei, impede novas empresas de competirem no mercado, favorecendo alguns empresários nacionais poderosos em detrimento dos consumidores. Não tem sido diferente nos casos citados. A venda da petrolífera Unocal para uma empresa chinesa não ameaça em absolutamente nada a segurança nacional americana. A empresa tem cerca de 1% do mercado apenas. A siderúrgica Arcelor, que atua em diversos países, não irá colocar em xeque os interesses nacionais desses países se for controlada pela indiana Mittal. Nada justifica a intervenção estatal nessas fusões e aquisições. Os consumidores perdem, em nome de um nacionalismo tolo.
Países como os Estados Unidos e vários da Europa têm muito a nos ensinar. Democracias estabelecidas, império da lei, liberdade de mercado com burocracia menor e razoável abertura comercial. Infelizmente, os brasileiros gostam de imitar apenas as coisas erradas que vem de fora. Uma pena. Os consumidores sofrem, em nome do suposto interesse nacional.
Me irrita mais a inconscistência do que os argumentos em si.
ResponderExcluirOs mesmos sujeitos que são os primeiros a criticar o "empresariado que rouba a mais-valia do trabalhador" e a criticar as "corporações neoliberais" são os primeiros a mandar o povo se foder em nome do empresariado e das corporações.
Que nem aqueles argumentos de que a PetroBras não deve ser vendida porque ela dá lucro. Oras, que se dane que ela dá lucro! Olha o preço do petróleo! Qualquer empresa com um monopólio protegido no cano de uma arma tem lucro e os mesmos socialistas que são tão oh contra as corporações são os primeiros a colocar o lucro na frente das pessoas.