Rodrigo Constantino
“A qualquer hora, envolvendo qualquer problema de sua vida, você é livre para pensar ou se evadir desse esforço.” (Ayn Rand)
Pensar ou não pensar, eis a questão! Diferente dos animais e plantas, o ser humano não sobrevive na base de reações automáticas. Sua consciência é volitiva, depende de sua vontade e esforço. O primeiro estágio da consciência é a sensação, um estado de apreensão produzido pela ação de um estímulo sobre um órgão dos sentidos. O segundo estágio é a percepção, um grupo de sensações automaticamente retidas e integradas pelo cérebro. Por fim, temos o estágio conceitual, onde os homens desenvolvem o conhecimento através do uso da lógica. Este estágio é o que tanto nos distancia dos demais organismos vivos. Entretanto, não se trata de um processo automático, mas sim voluntário. O homem deve querer pensar, respeitando seu mais fiel instrumento epistemológico: a razão.
Como o ato de pensar não é um processo mecânico e as conexões da lógica não são feitas por instinto, diferente das funções do estômago, pulmões ou coração, o indivíduo depara com a escolha entre ser ou não consciente. Para tanto, o homem deve decidir focar ou não sua mente. Da mesma forma que a faculdade da visão não é muito útil até estar focada, do contrário produz nada mais que um borrão, a mente também deve estar focada. Isso exige esforço contínuo. Em um extremo, temos o indivíduo que possui a mente ativa, atenta para entender tudo com que ela lida, na luta para apreender os fatos com clareza, sem preguiça na busca dos dados e de denominadores comuns para os concretos observados. Tal indivíduo não permite contradições, buscando a verdade com total honestidade intelectual. No outro extremo, está o homem para quem tudo além do nível sensório-perceptual é um borrão, uma névoa. A mente encontra-se entorpecida, tal como a de um bêbado pouco antes de desmaiar. Ela é passiva, errante, atordoada, vivenciando estímulos ao acaso. Esse homem encontra-se num estágio de completa letargia mental.
Se a escolha individual for pela anti-razão, na crença de que o conhecimento humano ou é impossível ou cai do além, de alguma divindade qualquer, a pessoa será vítima de constante falta de foco da mente. Ela irá se sentir cada vez mais cega, insegura e ansiosa. Após algum tempo, o indivíduo sentirá o foco como uma tensão nada natural, fazendo com que o processo de pensamento seja relativamente tortuoso e improdutivo. Tal indivíduo ficará bastante tentado a fugir para um estado passivo. Num grau extremo, a letargia transforma-se em total evasão mental, quando o indivíduo revoga a própria consciência por vontade própria. Ele se recusa a pensar, na fuga da responsabilidade de julgamento. Diferente do letárgico, que não se esforça, o evasivo esforça-se para não enxergar, na esperança de que o fato desaparecerá caso ele não o reconheça. Podemos dar como exemplo todos aqueles que cometeram suicídio coletivo sob o comando do reverendo Jim Jones. O caminho inevitável, cedo ou tarde, para quem adota a evasão mental como filosofia de vida, é a autodestruição. “Deixar a vida levar” costuma levar ao precipício.
Em resumo, o poder de escolha de um homem num processo de pensamento é manter ou não o vínculo entre sua mente e a realidade. Trata-se de uma questão de volição, onde o homem tem que escolher ser homem, um ser racional com livre-arbítrio. A alternativa é entregar-se ao acaso, sendo guiado por forças ocultas, sem a compreensão objetiva da realidade. Este indivíduo será uma presa fácil para oportunistas de plantão, seguindo como autômato o comando de algum líder, seja o vizinho, a maioria, o papa, o presidente ou até o reverendo Jim Jones. Para evitar tal destino e assumir o controle de sua vida, o homem tem que escolher ser homem. Ele deve optar pelo foco constante de sua mente, num processo que exige esforço contínuo para o ato de pensar. Ser ou não ser, eis a questão. E para tanto, fica a pergunta: pensar ou não pensar, eis a verdadeira questão!
interessante!
ResponderExcluir"penso, logo existo" né?