quinta-feira, maio 04, 2006

Pseudo-Nacionalismo



Rodrigo Constantino

Evo Morales fez ressurgir do fundo do baú um debate saudável sobre nacionalismo, ao invadir com tropas ativos de uma empresa brasileira na Bolívia, objetivando a sua expropriação. Uma medida claramente populista, já testada – e totalmente fracassada – na América Latina. Sempre com embalagens nobres, como a defesa do “interesse nacional” e o “argumento” de setor estratégico, no fundo esta postura mascara somente um desejo de poder. Trata-se de um pseudo-nacionalismo.

Na mesma Bolívia, em 1937, o governo militar acusou a subsidiária da Standard Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. O resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. No México, em março de 1938, Cárdenas disse que pretendia assumir o controle da indústria de petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de uma resistência passional ao controle estrangeiro. O governo inglês reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países.

Após o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos os seus maiores clientes. Foi estabelecida uma empresa estatal de petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação, e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.

No Chile de Allende, o primeiro aspecto de seu programa de governo foi um assalto às propriedades privadas agrícolas, na medida conhecida como tomas. As expropriações eram carregadas de violência, por bandos armados, normalmente membros do MIR. Entre novembro de 1970 e abril de 1972, mais de 1.700 fazendas foram tomadas por bandos armados. Em seguida, Allende iniciou um programa de nacionalização de diversos setores da economia, como mineração e têxtil. Seu governo utilizou pequenas brechas na lei para infernizar a vida das empresas, e conseguir assim expulsar o capital estrangeiro do país. Os resultados são conhecidos, com queda drástica na produção industrial, elevado desemprego e hiperinflação.

Como fica claro, a expressão “interesse nacional” é utilizada como escusa para a concentração de poder nas mãos do Estado. O povo brasileiro não escapou ileso desta irracionalidade demagógica. Brizola, por exemplo, sempre foi um grande defensor da expropriação de ativos estrangeiros, supostamente na defesa do tal “interesse nacional”. Com tal mentalidade, os políticos criaram as reservas de mercado, a Lei da Informática, expulsaram multinacionais do país e tudo o mais que poderia afastar investimentos produtivos que geram o progresso de uma nação. Em nome do nacionalismo, prejudicaram justamente o avanço da nação.

As lições deveriam estar amplamente aprendidas. Estado não é sinônimo de povo. Governo não tem que ser empresário. Interesse nacional não é o mesmo que interesse de alguns políticos poderosos. Investimento estrangeiro não é o mesmo que exploração. A manutenção de contratos é conditio sine qua non para a prosperidade. Um ambiente amigável para os negócios, inclusive para multinacionais, é fundamental para o progresso. Ser patriota não é aderir ao pseudo-nacionalismo, que fecha a nação para o mundo e concentra no Estado um poder arbitrário.

Evo Morales não luta pelos “interesses nacionais” da Bolívia. Pelo contrário: suas medidas populistas prejudicam a grande maioria de indivíduos bolivianos. Os resultados são sempre terríveis quando a lógica é trocada pela ideologia dogmática. E não há como se alegar surpresa na medida de Morales. Afinal, é o que o Foro de São Paulo prega, o que defendem Fidel Castro, Hugo Chávez e demais socialistas que tomaram o poder na região, com os aplausos e apoio do presidente Lula, que também faz parte do Foro fundado em 1990. Fica difícil imaginar como Lula irá lutar pelos interesses dos indivíduos brasileiros desta forma.

O pseudo-nacionalismo é o caminho da desgraça, da miséria, da escravidão. O aprendizado está disponível para quem quiser. O povo tem a escolha: ou adota este conhecido rumo “nacionalista”, que leva inexoravelmente à catástrofe; ou abraça com força a idéia de liberdade individual, que vai na contramão desse populismo que tomou conta da América Latina.

4 comentários:

  1. Rodrigo

    Evo morales é um cara polêmico.Tem gente que está dizendo que ele deu um tiro no pé e seu próximo é a nacionalização da coca!
    Será que quer o bem da Bolívia estatizando as reservas de gás natural e petróleo ou quer aparecer na mídia internacional e reverter a queda de popularidade dos últimos meses?

    Um abraço

    Marco Aurélio

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  2. Anônimo4:42 PM

    Oi Rodrigo,

    permita-me descordar desta sua visão. A questão da nacionalização é, na minha opinião, muito maior que um jogo de mídia com objetivos puramente exibicionistas. A questão é que não é uma situação sustentável ter 15% do pib de um país nas mãos de uma multinacional. Tomemos como exemplo a criação da própria petrobras, com a campanha "O petróleo é nosso". Quaisquer recursos estratégicos, como energia elétrica e recursos minerais não devem estar à mercê do mercado que visa unicamente o lucro. Que o diga o apagão.

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  3. Rapahel,

    o que é "setor estratégico"? Comida é estratégico? No entanto, quando o governo assumiu sua produção, como na China e URSS, tivemos fome! A Vale, enquanto estatal, era infinitamente menos eficiente. O apagão em Cuba é fruto do controle estatal do setor. No Brasil, foi também resultado de excesso de intervenção estatal. "O petróleo é nosso" é a expressão mais tola que conheço. Meu que não é!

    Justamente pelo setor ser "estratégico" é que o mercado deve ser mais respeitado ainda.

    Rodrigo

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  4. Anônimo3:58 PM

    Rodrigo,

    Sou de Porto Alegre e posso relatar um caso parecido de pseudo-regionalismo.
    Em 1989 o então Prefeito de Porto Alegre, Olivio Dutra, comandou em nome do interesse de seus contarrâneos, uma manobra de encampação das empresas de ônibus dentro da grande Porto Alegre.
    Foi um completo desastre que onerou os cofres da prefeitura em 6 milhões de reais até agora, após todas em empresas terem ganho na justiça o direito ao ressarcimento pelos prejuízos causados.

    Parebéns pelo seu blog, e pelo livro que recetemente comprei chamado Egoísmo Racional.

    Abraços

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