Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
segunda-feira, julho 10, 2006
Anos Perdidos
Rodrigo Constantino
Raras vezes na história o mundo viveu um período econômico tão benigno. O crescimento global tem sido espetacular, principalmente para os mercados emergentes. A performance brasileira, quando comparada com o restante, é pior que medíocre. A miopia do povo, entretanto, faz este perceber apenas o crescimento absoluto do país, ignorando o restante do mundo. Quando a comparação torna-se inevitável, os governistas logo apelam para inúmeras escusas – todas apenas falácias. A verdade é insofismável: o Brasil está atolado num lamaçal criado pelo modelo de Estado, completamente inchado e custoso.
Os dados não mentem. Desde 2000, o PIB brasileiro cresceu uma média de 2,5% ao ano. Conseguiu ficar abaixo da América Latina, que cresceu 2,7% ao ano neste período, contando com o peso morto da Argentina, que enfrentou uma grande crise no caminho. O Leste Europeu cresceu 5,3% ao ano desde 2000, enquanto a Ásia emergente cresceu 7% ao ano. A média dos mercados emergentes, ponderada pelo tamanho da economia, foi de 5,6% ao ano desde 2000. A China cresceu 9,3% ao ano, e a Índia cresceu 6,3% ao ano. Não importa com quem comparamos o Brasil, o resultado é o mesmo: uma performance patética.
Alguns falam que a China está em outro estágio de desenvolvimento, saindo de uma base muito baixa. Aí mostramos que o Chile cresceu 4,4% ao ano desde 2000, muito acima do Brasil. Rebatem que o Chile não conta, pois é pequeno demais. Mostramos então o crescimento russo, de 6,7% ao ano. Falam então que a Rússia tem o petróleo. Usamos então a Venezuela, que padece de males similares aos nossos, tendo crescido apenas 2,4% ao ano, não obstante todo seu ouro negro. E a eterna busca de fugas para não enfrentarem a dura realidade prossegue.
Defensores de um modelo mais frouxo de política monetária, dispostos a aceitarem um pouco mais de inflação, colocam a culpa nos altos juros, ignorando que estes são conseqüência, não causa dos problemas. Aderem à uma falsa dicotomia entre inflação e crescimento. Mostramos então que o Brasil teve uma inflação anual de 8,1% desde 2000, enquanto a Ásia emergente, com crescimento muito superior, apresentou inflação de apenas 2,6% ao ano. A média ponderada dos países emergentes foi de 6,3% ao ano, abaixo da inflação brasileira, ainda que com crescimento econômico bem maior. O Chile, nosso vizinho responsável, mostrou inflação de 2,8% ao ano desde 2000. Melhor os “desenvolvimentistas” procurarem alguma outra desculpa esfarrapada qualquer.
Quais as causas dessa performance pífia então? São muitas, claro. Mas podemos resumi-las de forma objetiva em uma única expressão: hipertrofia estatal. Nosso modelo de social-democracia esgotou-se. Desde o advento da democracia, governantes tentam replicar o “welfare state” escandinavo num país miserável e sem liberdade econômica. A demanda social reprimida criou uma tentação irresistível para populistas de plantão, que oferecem mais e mais privilégios sem preocupação com quem paga a conta. A burocracia é asfixiante, a previdência é explosiva, o assistencialismo é enorme e a gastança estatal não tem limites. Faltam recursos para investimento em segurança, necessária para um ambiente favorável aos negócios, e acabam os incentivos aos investimentos privados. O país vira uma guerra de grupos de interesses, todos lutando para apoderar-se de uma fatia maior de um bolo cada vez menor. São milhões para os criminosos do MST, são milhões para as aposentadorias dos servidores públicos, são milhões para as viagens dos políticos, são milhões para a propaganda estatal, são milhões para as esmolas, são milhões desviados em corrupção etc. Os hospedeiros que pagam os impostos não conseguem mais carregar tanto peso.
O reflexo desse modelo perverso, concentrando poder e recursos em demasia no Estado, aparece em alguns indicadores importantes. Os gastos gerais do governo estão chegando a 40% do PIB no Brasil. Esse valor está mais perto dos 30% para a média da América Latina e 20% para a Ásia emergente ou Chile. A dívida bruta consolidada do governo fechou o ano de 2005 praticamente em 75% do PIB. A média do Leste Europeu está em 40% do PIB, e nem chega a tanto na Ásia emergente.
Não podemos mais negar os fatos. A economia brasileira não está nada bem. Estamos com os braços amarrados pela enorme burocracia estatal, enquanto os pés estão atolados nos exorbitantes impostos. Enquanto isso, a globalização e o progresso tecnológico vão abrindo avenidas rumo ao crescimento para os países que fazem o dever de casa. O Brasil, uma vez mais, fica para trás, afundando na areia movediça criada pelo excesso de Estado. São anos perdidos, que não se recuperam mais. O triste é olhar para a frente e ver que as chances de mudança para melhor nos nossos pontos fracos são muito baixas. Quase todos os candidatos falam em aumento de gastos públicos ou recusam-se a atacar as raízes dos problemas, não propondo reformas estruturais amargas porém necessárias. Se os ventos de fora mudarem de direção, os anos perdidos tornar-se-ão décadas perdidas.
Para corroborar com o discurso de que o Estado gasta mais do que pode (e joga a conta para a iniciativa privada pagar), analise o teor das medidas provisórias editadas pelo Lula na semana retrasada, de números 305, 306, 307 e 308, que concederam mega aumentos para algumas carreiras jurídicas e policiais e militares da Administração Pública Federal. Vale a pena conferir (não dá para transcrevê-las aqui...)
ResponderExcluirAbraços
Nem sempre a mera correlação é suficiente para sustentar um fato, e pessoas tem arranjado desculpas até mesmo para desconsiderar o Index do Atlas Foundation. Mas seu artigo antecipa brilhantemente as possíveis réplicas e encosta a falácia contra a parede. Xeque Mate. Não há como fugir, pois para cada desculpa um novo contra exemplo aponta para a realidade, seja a Rússia, a Venezuela e etc.
ResponderExcluirUm outro artigo, levando em consideração alguns de seus conceitos, foi publicado: "Como Fazer a Revolução Libera". vale uma pena dar uma lida.
Excelente artigo, principalmente o terceiro parágrafo, onde você cerca todos os argumentos falaciosos "progressistas" acerca do assunto, sem deixar um buraco para escapar.
ResponderExcluirE assim vamos ficando para trás. Quanto mais problema aparece, mais demandam Estado. Quanto mais Estado, mais problema. Isso é Brasil. Isso é PT, PSDB e afins.
ResponderExcluirSensacionalllllllllllll!
ResponderExcluirUm dos melhores textos políticamente corretos que já li nesses últimos dez anos!
Você disse, com poucas e excelentes palavras, o que me vai na minha perplexa,pensante e mineira alma brasileira!
Muito obrigada.
Mariza
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