Rodrigo Constantino
"Values, not disasters, are the goal, the first concern, and the motive power of life." (Ayn Rand)
Trata-se do caso da médica italiana Gianna Beretta Molla. Ela foi membro atuante da Ação Católica desde a adolescência, e tinha três filhos com o marido Pietro Molla. Aos 39 anos, engravidou novamente, mas descobriu que tinha um fibroma no útero. Existiam basicamente três opções para ela: retirar o útero doente e perder o filho, fazer um aborto ou submeter-se a uma cirurgia arriscada e tentar preservar a gravidez. Consta que Gianna nem hesitou, e submeteu-se à cirurgia em setembro de 1961. Em abril do ano seguinte, nasceu sua filha, e ela faleceu uma semana depois. Gianna foi canonizada pela Igreja Católica em maio de 2004, recebendo do Papa João Paulo II o título de "Mãe de Família". Seu suposto milagre ocorrera no Brasil em 1977, quando uma mulher que perdera totalmente o líquido amniótico no terceiro mês de gestação conseguiu "dar a luz" mesmo assim. Isso teria ocorrido após o pedido de intercessão da Santa Gianna, feito na presença do Bispo de Franca, Dom Diógenes Matthes.
Respeito o direito da médica de ter escolhido esse caminho, coerente com aquilo que ela sempre pregou. Afinal, ela teria dito às jovens da Ação Católica em 1946: "Se na realização de nossa vocação devêssemos morrer, seria esse o dia mais bonito da nossa vida!". Pensar assim é um direito dela. Pretendo apenas questionar a ética por trás desta mentalidade, assim como realçar que outros podem pensar diferente, e devem ser livres para tanto. Pela crença calcada num dogma religioso de que a vida humana já começa no dia da concepção, por conta da alma dada por Deus, Gianna optou pela sua provável morte, em vez de interromper aquela gestação de um feto que ainda não era vida humana de fato. Deixou quatro órfãos no mundo, um viúvo, além de ter perdido a própria vida. A questão é: será que é razoável colocar a vida do feto, que é um humano apenas em potencial, num patamar tão mais elevado que a vida e a felicidade de todos os outros já vivos? Não seria mais aceitável interromper a gravidez e se manter viva, além de poder criar com amor os três filhos já nascidos? Acho que os católicos podem viver como quiserem, contanto que respeitem o direito dos outros por uma vida diferente, onde a ética preza mais pela felicidade dos vivos que pela vida do feto.
Na verdade, podemos notar no catolicismo a presença dessa "ética do sofrimento" em vários assuntos diferentes. Um caso análogo é o da eutanásia, onde a vida vegetativa está acima da felicidade de todos os outros vivos, sãos e conscientes. Um indivíduo é seu corpo e sua mente. Sem mente, ele não passa de uma carcaça, e sem corpo não pode existir mente, pois fantasmas não existem. Mas os católicos consideram de maior importância a sobrevivência da carcaça sem consciência que a felicidade de todos os outros, já que a situação vegetativa é angustiante para os que amam o doente. Mesmo que o próprio indivíduo tenha deixado claro em vida que não gostaria de permanecer vivo em tais circunstâncias, essas pessoas não aceitam seu direito de morrer. Alegam que somente Deus tem o direito de tirar a vida que deu, ignorando que ao mesmo tempo defendem guerras onde inocentes certamente irão morrer. São "fatalidades necessárias", dizem, e muitas vezes é verdade, pois algumas guerras são necessárias para a própria sobrevivência dos bons. Mas é uma postura incoerente por parte daqueles que ignoram a vida e a felicidade de todos os outros para manter vivo um corpo sem mente ou um tecido de um centímetro sem sensação alguma. Ou seja, a guerra do Iraque pode ser defendida por católicos, com perdas de várias vidas inocentes, incluindo crianças, mas um aborto no começo da gestação é um assassinato cruel, assim como desligar uma máquina que mantém um corpo sem mente funcionando automaticamente. São estranhos conceitos esses.
Não dá para esperar algo muito diferente quando lembramos que o ícone máximo dos católicos é a figura de um homem que foi torturado e sacrificado. O próprio símbolo deles, a cruz, vem de crucificare, que quer dizer torturar. As religiões precisam de mártires. Algumas pregam que nobre é o sacrifício do corpo – para eles o caminho do pecado – e deitar numa cama de pregos ou viver como asceta num deserto é o grande objetivo da vida. Sacrificar o próprio corpo, eis o conceito de virtude para esses. O uso do cilício, o auto flagelo, todo tipo de agressão ao corpo é visto como um ato belo de fé. Viver é sofrimento, é carregar um fardo, é já nascer culpado por um pecado. A vida digna é a vida de suplício, penitência. O pai disposto a sacrificar a vida do próprio filho em nome da fé é símbolo da virtude. O homem já nasce ruim, pecador, e sua vida é repleta de sacrifícios para poder finalmente alcançar a felicidade eterna – depois da morte. Quanto mais sofrimento, quanto mais dor, quanto mais sacrifício, mais nobre e virtuosa é a vida do fiel.
Essa ética dá muito pouco valor à felicidade dos seres humanos nesta vida, a única que certamente existe. Há certo desprezo pela vida e felicidade dos homens. O sujeito independente, que não faz parte de rebanho religioso algum, feliz, costuma incomodar esses religiosos. Como é possível que ele condene veementemente esse sacrifício todo pregado pelas religiões? Como ele ousa colocar sua própria felicidade nesta vida acima de tudo, incluindo a fé num deus? Por isso insisto uma vez mais na questão: qual vida esses religiosos realmente defendem? A vida feliz dos seres humanos aqui nesse mundo? Ou a vida de uma carcaça sem consciência, não obstante todo o sofrimento dos seus familiares vivos? Quem sabe a vida de um tecido sem sensações que será um dia um ser humano, a despeito da infelicidade que isso pode causar na mulher grávida vítima de um estupro? Talvez a vida de um feto em detrimento de milhares de mulheres pobres que morrem tentando fazer aborto inseguro em espeluncas clandestinas? Eles não parecem se importar tanto assim com essas vidas. Eu simplesmente não consigo compartilhar dessa visão "ética" do mundo, onde o sofrimento parece estar acima da felicidade dos seres humanos. Prefiro trocar a "ética do sofrimento" pela "ética da felicidade".
Duas polêmicas intimamente ligadas à vida têm que ser obrigatoriamente tratadas da mesma maneira. Aborto e eutanásia tratam do mesmo assunto: o que é vida. Até que ponto podemos dispor da vida? Separar os conceitos de zigoto, embrião e ser vivo adianta? Uma pessoa com morte cerebral pode ser classificada como viva?
ResponderExcluirJunte-se a essas e muitas outras perguntas que buscam uma definição biológica de vida, as de ordem sócio-religiosa e lá vai a vaca pro brejo. Aí mesmo que não vai se chegar a parte alguma.
Não adianta nada ficar procurando e criando conceitos sobre se a vida começa com um coração batendo, na hora da fecundação ou quando um feto é parido se já temos disponíveis todas as informações biológicas necessárias, todos os preconceitos estabelecidos e todas as determinações religiosas firmadas. O importante é a determinação dos prós e contras da qualidade de vida que o ser em questão tem a apresentar e no que ela afeta aos que o são próximos.
Alguém já se imaginou sem pai conhecido e sendo rejeitado pela própria mãe? Alguém já se imaginou em um coma irreversível, dando trabalho, despesa e preocupação à família? Alguém já se imaginou mãe ou pai de um bebê com anencefalia?
Em casos como esses e muitos outros, o aborto e a eutanásia são verdadeiras necessidades que se impõem pelo bom-senso. O remorso por uma decisão que implique a morte, fica, e até o mais ateu dos ateus e o mais sensato dos sensatos vai sentir. Porém, isso se dará muito mais em função do nosso atavismo carregado de crenças e superstições do que por um raciocínio lógico que implica até em piedade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"Alguém já se imaginou sem pai conhecido e sendo rejeitado pela própria mãe?"
ResponderExcluirRicardo Froes,
isso ocorre demais. Há casos de pessoas de sucesso que não conheceram os pais e/ou foram rejeitados pela mãe.
Agora dizer que as soluções para estes casos são "o aborto e a eutanásia"... dá até vontade de rir... que "bom-senso" esse...
José Antonio
O feto é um ser humano atual, não potencial. É um adulto em potencial. Vai continuar com essa filosofia tosca? Não precisa responder, não respondeu meu comentário antes mesmo.
ResponderExcluirEi Constantino,
ResponderExcluirSua ignorância não tem limite, não é? Quem é que garante que Gianna teria sobrevivido se abortasse? Você?
Eu já disse: se minha mulher tivesse seguido o parecer de uma JUNTA MÉDICA, não teríamos os netos que as filhas nos deram.
Constantino,
ResponderExcluirVocê não tem QI para entender: o FATO mais natural deste Universo é os pais morrerem antes dos filhos, isto é, depois que deixaram herdeiros. Você não tem conhecimento de moral e/ou ética para tratar destes assuntos.
Aliás, é de morrer de rir QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁ:
ResponderExcluir"Prefiro trocar a "ética do sofrimento" pela "ética da felicidade"."
Está dizendo que se sente feliz porque despertou a ira dos olavetes? Está dizendo que se sente feliz por ser massacrado pelos "conservadores"????? QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁ
José Antonio:
ResponderExcluirPoupe sua gargalhada. Realmente a frase ficou meio difícil de ser compreendida, mas dizer que “ocorre demais” pessoas nessas condições de rejeição atingirem o sucesso é forçar uma barra.
É óbvio que não quis me referir à eutanásia neste caso e sim dizer que, se uma mulher não quer um filho, seja por qualquer motivo, é legítima a opção pelo aborto. Um filho indesejado, ao contrário que você afirma, tem todos os instrumentos para se marginalizar.
"se minha mulher tivesse seguido o parecer de uma JUNTA MÉDICA, não teríamos os netos que as filhas nos deram."
ResponderExcluirque pena! acabaria a dinastia dos marios! E o médico tinha razão...
Esta é para aqueles que não acreditam no poder da mente e que não acreditam na Lei da Atração.
ResponderExcluir"Because you are in control of your life. Don't ever forget that. You are what you are because of the conscious and subconscious choices you have made." -- Barbara Hall
Aliás, passei aqui para dese4jar uma boa Páscoa, porém, lembrei-me que o Constantino e seus lambe-sacos execram os "feriados que os cristãos impõem". Claro que sei que a Páscoa não é uma festa cristã, porém, sua celebração é quase universal graças aos cristãos.
ResponderExcluirEi Constantino (vale para seus lambe-sacos)!!! A Páscoa... o Natal... devem ser bem tristes para suas crianças, não? Nada de coelhinho... nada de Papai Noel... nada de presentes... fico com pena de suas crianças... Ou será que vocês comemoram? hehehe Que eu saiba, isto tem nome, não??? Ou no caso de vocês não é hipocrisia??? QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁ
Seus artigos promovem uma bela oxigenada nos pensamentos.
ResponderExcluirIncitar as pessoas a pensarem (Como é útil!) é o incontestável e mais benéfico efeito dos seus artigos, que são bem escritos e conseguem chamar e prender a atenção.
Isso é o óbvio.
Parabéns, tem valido a pena ler seus artigos.
Se você fosse uma espírita, tivesse lido todas as 5 obras de Allan Kardec, por Deus! O sr. não estaria escrevendo isso.
ResponderExcluirNão é patrulha, gosto de ler o que escreve no Casa Grande. Mas essa questão do aborto é para quem entende de vida após a morte. Você não tem esse cabedal e talvez, nunca nessa vida.
Desculpe-me, mas não me contive!
Meu nome é:
Tarcizio von Randow
Moro em Belo Horizonte
uso e-mail do hotmail:
tarciziovr@hotmail.com
Boas festas de pácoa!
Tarcizio, vc não precisa pedir desculpas por discordar. Talvez devesse pedir desculpas por não ter argumentado, mas isso é outra coisa. No mais, considero o espiritismo um embuste, e a idéia de que almas reencarnam algo totalmente absurdo. Somos nosso corpo e mente. Não há divisão entre ambos. Quando o corpo morre, a mente acaba. O resto é delírio de quem precisa de consolo.
ResponderExcluirEis minha opinião.
Rodrigo
Putz!!! Constantino... você é dose, não??? Tarcizio citou, sim, seus argumentos!!! 5 obras de Allan Kardec!!! Se são discutíveis ou não, é outra história!!! Como sempre, você anula os argumentos alheios para dizer que não existem... VÁ TE CATAR!!!
ResponderExcluirEstá explicado: esse coitado não sabe o que é um argumento! Ele acha que citar livros é um argumento! Por isso os coitados adoram Olavo!!! Vixe Maria!
ResponderExcluirRodrigo
Por que os espíritas têm tanta convicção sobre o que acreditam? O que existe de especial na crença deles? Uma evidência forte, concreta, publicada numa revista científica séria (revista espírita não vale)? Um médium já psicografou Fermat e nos apresentou a prova de seu último teorema? Já psicografou Sófocles e reescreveu suas obras perdidas? Um médium brasileiro já psicografou em aramaico? Por que as alegações são tão extraordinárias e as evidências tão parcas?
ResponderExcluirSe os médiuns fossem mais do charlatães, seria facílimo para eles forncer uma prova realmente convincente.
Abraços.
Ei Contantino!!! E as imbecilidades que você tira da lésbica Ayn Rand??? Por acaso você não recorre aos livros para seus "argumentos"??? QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁ Perdido no espaço.... QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁQUÁ
ResponderExcluirFlávio: você não sabe o que é psicografia para criticar. Os espíritos "ditam" apenas a energia do pensamento e o CANALIZADOR (médium receptor) entende no seu próprio idioma. Há algo que você não sabe: TODOS OS SERES PENSANTES (incluindo animais inferiores e plantas) TAMBÉM EMITEM ONDAS DE ENERGIA, que não possuem idioma.
Está rindo porque incluí as plantas, não é??? Pode rir à vontade!!! Pois bem! Fique sabendo que o "pensamento" das plantas também já foi fotografado. Pesquise sobre fotografia Kirlian. E vou mais longe: os minerais também. Saiba que as "mudanças de humor" da água também já foram constadas, registradas e medidas. Física quântica.
Mário. Não critiquei nada, só questionei.
ResponderExcluirHá médiuns e médiuns então. Uma senhora que diz recebir um espírito lemuriano de 35000 anos fala inglês com um sotaque esquisito, tentando imitar o da época. Como ninguém sabe como era o sotaque da época, ela consegue enganar, digo, convencer, muita gente.
Pelo jeito você assistiu ao documentário besteirol pseudo-quântico-esotórico "Quem Somos Nós". Eu também vi, está entre meus filmes de comédia preferidos. A água sentimental é um dos momentos mais hilariantes. Recomendo a todos.
Pois é Rodigo, eu não discuto assuntos com quem não conhece absolutamente nada sobre espiritismo. Na verdade, o sujeito tem que estudar muito, e há mais de 30 venho pesquisando, observando fatos ligado ao espiritos, que você jamais viu.
ResponderExcluirPortanto sua resposta foi insatisfatória, preconceituosa e de uma arrogancia sem nenhuma dignidade. Bem que o Olavo avisou, "não discutam com Constantino, ele pensa que sabe de tudo, ele não respeita nenhuma opinião" Isso que você escreveu para mim denota que é isso mesmo:
O resto é delírio de quem precisa de consolo.
Sou contra o aborto, porque sei das consequencias que essa ação trará para mãe e o paí. E para você saber mais, vá estudar. São 5 obras faceis de entender. Mas infelismente seu intelecto não permite perder tempo com futilidade, apenas porque, está enfiado na sua cabeça que o Espiritismo é para pessoas que necessitam de consolo!
Desculpe, pois pensei que você fosse uma pessoa mais civilizada, Você está mais para petralha teimoso, que para um liberal.