Rodrigo Constantino
“O fruto mais saboroso da auto-suficiência é a liberdade.” (Epicuro)
Ao lado de Platão e Aristóteles, Epicuro foi um dos grandes filósofos da Grécia Antiga. A escola que ele fundou permaneceu aberta por quase oito séculos. Suas idéias influenciaram muitos pensadores modernos, principalmente desde o Iluminismo. Entretanto, as críticas à sua filosofia de vida foram ainda maiores. Muitas delas, a meu ver, injustas, como as que alegam um caráter libertino e irresponsável de sua filosofia. Não me considero um epicurista, mas tampouco acho que o Jardim de Epicuro seja o “jardim das aflições”. Pretendo explicar sucintamente os motivos.
De forma resumida, a doutrina de Epicuro é uma filosofia do prazer. Achar o caminho de maior felicidade e tranqüilidade, evitando a dor, era a máxima epicurista. No entanto, não se trata da busca de qualquer prazer, tal como o associado ao hedonismo. Epicuro não faz uma defesa do carpe diem ou da libertinagem irresponsável. O prazer em questão não é nunca trivial ou vulgar. Na carta a Meneceu, Epicuro afirma que “nem todo o prazer é digno de ser desejado”, da mesma forma que nem toda dor deve ser evitada incondicionalmente. A deturpação do conceito de prazer usado por Epicuro foi algo que ocorreu durante a sua vida, e ele teve, portanto, a oportunidade de rebater: “Quando dizemos então, que o prazer é a finalidade da nossa vida, não queremos referir-nos aos prazeres dos gozadores dissolutos, para os quais o alvo é o gozo em si. É isso que crêem os ignorantes ou aqueles que não compreendem a nossa doutrina ou querem, maldosamente, não entender a sua verdade. Para nós, prazer significa: não ter dores no âmbito físico e não sentir falta de serenidade no âmbito da alma”. Em outras palavras, a ataraxia.
O Utilitarismo de Bentham e Mill irá numa linha muito parecida a de Epicuro. John Stuart Mill afirma que “desde Epicuro até Bentham, todos os partidários da teoria da utilidade designaram pelo termo não algo que contrastasse com prazer, mas o prazer em si mesmo, bem como a ausência de dor; e, em vez de opor o útil ao agradável ou belo, sempre declararam que o termo designava precisamente estas coisas, entre outras". O uso popular, entretanto, estaria associado ao conceito de frivolidade, de “meros prazeres instantâneos”, contrário ao que se pretendia dizer. Mill explica: "Quando assim atacados, os epicuristas sempre responderam que não são eles, mas seus acusadores, que representam a natureza humana sob uma luz degradante, já que a acusação supõe os seres humanos como incapazes de sentir um prazer distinto do que sentem os suínos".
Como se vê, a acusação de que o epicurista busca de maneira desenfreada os prazeres imediatos do corpo não faz sentido. Tampouco pega no epicurista a imagem de egoísta insensível fechado para o mundo. A satisfação egoísta a qualquer custo jamais poderia ser associada à filosofia de Epicuro, que depositava enorme importância na amizade. Para ele, “a faculdade de granjear amizades é de longe a mais eminente entre todas aquelas que contribuem para a sabedoria da felicidade”. De fato, Epicuro demonstrou isso em sua vida, alimentando várias amizades. Por que, então, sua filosofia despertou tamanha reação negativa?
O doutor Sean Gabb, diretor da Libertarian Alliance, arrisca uma resposta em seu texto Epicurus: Father of the Enlightment, onde ele sustenta a tese de que a filosofia epicurista é precursora do liberalismo clássico. Para Gabb, esta filosofia mexeu com poderosos interesses na época, já que o terror religioso vinha sendo cada vez mais utilizado para controlar as massas. A promessa de uma vida eterna e perfeita após a morte sempre foi um consolo poderoso para muitos, assim como a ameaça de punição eterna era poderosa arma. Uma filosofia que se dedica totalmente a esta vida – a única certa – não poderia ficar isenta de violentos ataques. Epicuro comprou uma briga e tanto ao afirmar coisas do tipo: “É sem valor pedir aos deuses aquilo que nós mesmos podemos realizar”. Muitas religiões pregam o sofrimento durante a vida como nobre, como ingresso para uma vida maravilhosa após a morte. Não é de espantar, portanto, ver os ataques passionais que uma filosofia defendendo a busca da felicidade mundana recebeu. Mas Epicuro estava mais preocupado em defender o que considerava útil aos homens nesta vida, do que dar, “sob o caloroso aplauso da multidão”, o seu “acordo em tolices”.
Sendo o temor pela punição eterna uma das maiores causas de submissão às autoridades políticas e religiosas, parecia claro que a filosofia de Epicuro encontraria muitos inimigos. Afinal, para Epicuro, quando nós existimos, a morte não existe, e quando chegar a morte, nós não somos mais nada. Ele simplesmente não parecia muito preocupado com a morte, mas sim com a vida. E quando as pessoas estão voltadas para a felicidade em vida, torna-se mais difícil serem dominadas e controladas pelo medo da morte. Claro que surge a questão moral de quais seriam então os freios para os desejos na vida. Por que não matar ou roubar se isso parecer útil? Epicuro não dá, aparentemente, uma resposta satisfatória a esta pergunta. Ele diz apenas que “a vida do insensato é ingrata”, em “constante agitação”, e que o homem justo está livre desses distúrbios.
Não consta que ele tenha agido de forma injusta em sua vida, assim como muitos dos seus seguidores. Por outro lado, vários religiosos praticaram atos bárbaros justamente em nome da fé. Não creio que o bom comportamento dependa de fé divina, de forma alguma. Respeitar os outros pode ser, afinal, do próprio interesse pessoal. A vida é melhor para todos, inclusive nós mesmos, quando há este tipo de convívio. Será que os crentes que julgam estar somente na fé divina o freio para atos injustos, iriam sair matando e estuprando se começassem a duvidar da existência de Deus? Não estariam dando um atestado de perversão os que pensam assim, dependendo somente do medo de punição divina para não praticar o mal? No mais, apelar para o argumento de coerção divina é apelar para a utilidade da religião, não sua verdade. E como disse Mill, “a verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade”. Para ele, “nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil”. Concordo com Epicuro nisso: não é preciso crer no sobrenatural ou na punição eterna para evitar fazer o mal. Ser bom com os outros é bom para si próprio. Afinal, devemos esperar ser tratados pelos outros como temos os tratado, uma lembrança que data de um século antes de Cristo.
Por que, então, não me considero um epicurista? Parte da resposta pode ser encontrada naquilo que Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, disse sobre Epicuro:
"Segundo Epicuro, a virtude também não mereceria ser buscada por si mesma, nem seria em si um dos objetos fundamentais de apetite natural; seria desejável apenas graças à sua tendência a evitar dor e proporcionar bem-estar e prazer. Na opinião dos outros três (Platão, Aristóteles e Zenão), ao contrário, a virtude seria desejável não apenas como meio de proporcionar os outros objetivos primários do desejo natural, mas como algo que em si mesmo seria mais valioso do que todos estes. Pensavam que, sendo o homem nascido para a ação, sua felicidade deve consistir não apenas no que há de agradável nas suas paixões passivas, mas sobretudo na conveniência de seus esforços ativos."
O Utilitarismo faz sentido muitas vezes, já que a maioria busca maximizar a própria felicidade mesmo. Mas se a utilidade entrar em conflito com a virtude, esta deve prevalecer. Antes dos resultados, vem o direito natural. Antes de se esquivar da dor e angústia, vem a busca da verdade. Antes do melhor, vem o justo. A liberdade individual não é por mim defendida por ser a forma mais eficiente de maximizar felicidade – ainda que o seja, mas sim por ser a moralmente correta. Além disso, uma filosofia que coloca o prazer como padrão de moralidade diz que qualquer coisa que leva ao prazer é desejável. Não faz, portanto, distinção entre essas coisas. Se para alguém o prazer está em invadir uma propriedade e para outro está em defender tal propriedade, não há um critério objetivo nesta filosofia que mostre quem está certo moralmente. O Utilitarismo seria, nesse aspecto, amoral.
Prefiro, então, a filosofia de Ayn Rand. O Objetivismo sustenta que o bem deve ser definido por um padrão racional de valor, que o prazer não é uma primeira causa, mas apenas uma conseqüência, que somente o prazer que procede de um julgamento racional de valor pode ser considerado moral. Dizer que o prazer deve ser o padrão da moralidade significa dizer que quaisquer valores que você escolhe, consciente ou inconscientemente, racional ou irracionalmente, são corretos e morais. A vida será então guiada por sentimentos ao acaso, não pela mente. A filosofia de Ayn Rand é o oposto disso, pois defende que ninguém pode atingir a verdadeira felicidade desta maneira arbitrária e randômica. Talvez Epicuro não fosse discordar disso, no fundo. Afinal, ele acreditava que “no princípio de tudo, encontra-se a razão, o maior dos nossos bens”, e que “dela resultam por si só todas as outras virtudes”. Mas o fato é que, tal como a conhecemos, a filosofia de Epicuro não chegou a formular um sistema completo como o Objetivismo, explicando, partindo de axiomas, o código moral racional.
Dito isso, não vejo com aversão a filosofia de Epicuro, diferente de muitos, particularmente os mais religiosos que chegam a adotar uma “ética” do sofrimento. A Declaração de Independência Americana é clara ao mencionar o direito de cada um buscar a própria felicidade. Thomas Jefferson, em uma carta de 1819 para um amigo, chegou a se declarar um epicurista. Mises, em Human Action, afirma que a filosofia de Epicuro inaugurou uma emancipação espiritual, moral e intelectual da humanidade. Todos aqueles que consideram, assim como eu, a felicidade nesta vida uma importante meta, e condenam as ameaças sobrenaturais e superstições que escravizam o indivíduo, possuem algo de Epicuro também. Podemos não abraçar toda a sua filosofia. Mas isso não nos impede de extrair o que ela tem de correto. Não é, como afirmam alguns, uma defesa da libertinagem irresponsável. Alguns irresponsáveis libertinos é que podem buscar refúgio em Epicuro, mas estariam fazendo isso injustamente. Trata-se de colocar a felicidade nessa vida como um objetivo de extrema importância. E quem não deseja evitar a dor e ser feliz nesse mundo?
“O fruto mais saboroso da auto-suficiência é a liberdade.” (Epicuro)
Ao lado de Platão e Aristóteles, Epicuro foi um dos grandes filósofos da Grécia Antiga. A escola que ele fundou permaneceu aberta por quase oito séculos. Suas idéias influenciaram muitos pensadores modernos, principalmente desde o Iluminismo. Entretanto, as críticas à sua filosofia de vida foram ainda maiores. Muitas delas, a meu ver, injustas, como as que alegam um caráter libertino e irresponsável de sua filosofia. Não me considero um epicurista, mas tampouco acho que o Jardim de Epicuro seja o “jardim das aflições”. Pretendo explicar sucintamente os motivos.
De forma resumida, a doutrina de Epicuro é uma filosofia do prazer. Achar o caminho de maior felicidade e tranqüilidade, evitando a dor, era a máxima epicurista. No entanto, não se trata da busca de qualquer prazer, tal como o associado ao hedonismo. Epicuro não faz uma defesa do carpe diem ou da libertinagem irresponsável. O prazer em questão não é nunca trivial ou vulgar. Na carta a Meneceu, Epicuro afirma que “nem todo o prazer é digno de ser desejado”, da mesma forma que nem toda dor deve ser evitada incondicionalmente. A deturpação do conceito de prazer usado por Epicuro foi algo que ocorreu durante a sua vida, e ele teve, portanto, a oportunidade de rebater: “Quando dizemos então, que o prazer é a finalidade da nossa vida, não queremos referir-nos aos prazeres dos gozadores dissolutos, para os quais o alvo é o gozo em si. É isso que crêem os ignorantes ou aqueles que não compreendem a nossa doutrina ou querem, maldosamente, não entender a sua verdade. Para nós, prazer significa: não ter dores no âmbito físico e não sentir falta de serenidade no âmbito da alma”. Em outras palavras, a ataraxia.
O Utilitarismo de Bentham e Mill irá numa linha muito parecida a de Epicuro. John Stuart Mill afirma que “desde Epicuro até Bentham, todos os partidários da teoria da utilidade designaram pelo termo não algo que contrastasse com prazer, mas o prazer em si mesmo, bem como a ausência de dor; e, em vez de opor o útil ao agradável ou belo, sempre declararam que o termo designava precisamente estas coisas, entre outras". O uso popular, entretanto, estaria associado ao conceito de frivolidade, de “meros prazeres instantâneos”, contrário ao que se pretendia dizer. Mill explica: "Quando assim atacados, os epicuristas sempre responderam que não são eles, mas seus acusadores, que representam a natureza humana sob uma luz degradante, já que a acusação supõe os seres humanos como incapazes de sentir um prazer distinto do que sentem os suínos".
Como se vê, a acusação de que o epicurista busca de maneira desenfreada os prazeres imediatos do corpo não faz sentido. Tampouco pega no epicurista a imagem de egoísta insensível fechado para o mundo. A satisfação egoísta a qualquer custo jamais poderia ser associada à filosofia de Epicuro, que depositava enorme importância na amizade. Para ele, “a faculdade de granjear amizades é de longe a mais eminente entre todas aquelas que contribuem para a sabedoria da felicidade”. De fato, Epicuro demonstrou isso em sua vida, alimentando várias amizades. Por que, então, sua filosofia despertou tamanha reação negativa?
O doutor Sean Gabb, diretor da Libertarian Alliance, arrisca uma resposta em seu texto Epicurus: Father of the Enlightment, onde ele sustenta a tese de que a filosofia epicurista é precursora do liberalismo clássico. Para Gabb, esta filosofia mexeu com poderosos interesses na época, já que o terror religioso vinha sendo cada vez mais utilizado para controlar as massas. A promessa de uma vida eterna e perfeita após a morte sempre foi um consolo poderoso para muitos, assim como a ameaça de punição eterna era poderosa arma. Uma filosofia que se dedica totalmente a esta vida – a única certa – não poderia ficar isenta de violentos ataques. Epicuro comprou uma briga e tanto ao afirmar coisas do tipo: “É sem valor pedir aos deuses aquilo que nós mesmos podemos realizar”. Muitas religiões pregam o sofrimento durante a vida como nobre, como ingresso para uma vida maravilhosa após a morte. Não é de espantar, portanto, ver os ataques passionais que uma filosofia defendendo a busca da felicidade mundana recebeu. Mas Epicuro estava mais preocupado em defender o que considerava útil aos homens nesta vida, do que dar, “sob o caloroso aplauso da multidão”, o seu “acordo em tolices”.
Sendo o temor pela punição eterna uma das maiores causas de submissão às autoridades políticas e religiosas, parecia claro que a filosofia de Epicuro encontraria muitos inimigos. Afinal, para Epicuro, quando nós existimos, a morte não existe, e quando chegar a morte, nós não somos mais nada. Ele simplesmente não parecia muito preocupado com a morte, mas sim com a vida. E quando as pessoas estão voltadas para a felicidade em vida, torna-se mais difícil serem dominadas e controladas pelo medo da morte. Claro que surge a questão moral de quais seriam então os freios para os desejos na vida. Por que não matar ou roubar se isso parecer útil? Epicuro não dá, aparentemente, uma resposta satisfatória a esta pergunta. Ele diz apenas que “a vida do insensato é ingrata”, em “constante agitação”, e que o homem justo está livre desses distúrbios.
Não consta que ele tenha agido de forma injusta em sua vida, assim como muitos dos seus seguidores. Por outro lado, vários religiosos praticaram atos bárbaros justamente em nome da fé. Não creio que o bom comportamento dependa de fé divina, de forma alguma. Respeitar os outros pode ser, afinal, do próprio interesse pessoal. A vida é melhor para todos, inclusive nós mesmos, quando há este tipo de convívio. Será que os crentes que julgam estar somente na fé divina o freio para atos injustos, iriam sair matando e estuprando se começassem a duvidar da existência de Deus? Não estariam dando um atestado de perversão os que pensam assim, dependendo somente do medo de punição divina para não praticar o mal? No mais, apelar para o argumento de coerção divina é apelar para a utilidade da religião, não sua verdade. E como disse Mill, “a verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade”. Para ele, “nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil”. Concordo com Epicuro nisso: não é preciso crer no sobrenatural ou na punição eterna para evitar fazer o mal. Ser bom com os outros é bom para si próprio. Afinal, devemos esperar ser tratados pelos outros como temos os tratado, uma lembrança que data de um século antes de Cristo.
Por que, então, não me considero um epicurista? Parte da resposta pode ser encontrada naquilo que Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, disse sobre Epicuro:
"Segundo Epicuro, a virtude também não mereceria ser buscada por si mesma, nem seria em si um dos objetos fundamentais de apetite natural; seria desejável apenas graças à sua tendência a evitar dor e proporcionar bem-estar e prazer. Na opinião dos outros três (Platão, Aristóteles e Zenão), ao contrário, a virtude seria desejável não apenas como meio de proporcionar os outros objetivos primários do desejo natural, mas como algo que em si mesmo seria mais valioso do que todos estes. Pensavam que, sendo o homem nascido para a ação, sua felicidade deve consistir não apenas no que há de agradável nas suas paixões passivas, mas sobretudo na conveniência de seus esforços ativos."
O Utilitarismo faz sentido muitas vezes, já que a maioria busca maximizar a própria felicidade mesmo. Mas se a utilidade entrar em conflito com a virtude, esta deve prevalecer. Antes dos resultados, vem o direito natural. Antes de se esquivar da dor e angústia, vem a busca da verdade. Antes do melhor, vem o justo. A liberdade individual não é por mim defendida por ser a forma mais eficiente de maximizar felicidade – ainda que o seja, mas sim por ser a moralmente correta. Além disso, uma filosofia que coloca o prazer como padrão de moralidade diz que qualquer coisa que leva ao prazer é desejável. Não faz, portanto, distinção entre essas coisas. Se para alguém o prazer está em invadir uma propriedade e para outro está em defender tal propriedade, não há um critério objetivo nesta filosofia que mostre quem está certo moralmente. O Utilitarismo seria, nesse aspecto, amoral.
Prefiro, então, a filosofia de Ayn Rand. O Objetivismo sustenta que o bem deve ser definido por um padrão racional de valor, que o prazer não é uma primeira causa, mas apenas uma conseqüência, que somente o prazer que procede de um julgamento racional de valor pode ser considerado moral. Dizer que o prazer deve ser o padrão da moralidade significa dizer que quaisquer valores que você escolhe, consciente ou inconscientemente, racional ou irracionalmente, são corretos e morais. A vida será então guiada por sentimentos ao acaso, não pela mente. A filosofia de Ayn Rand é o oposto disso, pois defende que ninguém pode atingir a verdadeira felicidade desta maneira arbitrária e randômica. Talvez Epicuro não fosse discordar disso, no fundo. Afinal, ele acreditava que “no princípio de tudo, encontra-se a razão, o maior dos nossos bens”, e que “dela resultam por si só todas as outras virtudes”. Mas o fato é que, tal como a conhecemos, a filosofia de Epicuro não chegou a formular um sistema completo como o Objetivismo, explicando, partindo de axiomas, o código moral racional.
Dito isso, não vejo com aversão a filosofia de Epicuro, diferente de muitos, particularmente os mais religiosos que chegam a adotar uma “ética” do sofrimento. A Declaração de Independência Americana é clara ao mencionar o direito de cada um buscar a própria felicidade. Thomas Jefferson, em uma carta de 1819 para um amigo, chegou a se declarar um epicurista. Mises, em Human Action, afirma que a filosofia de Epicuro inaugurou uma emancipação espiritual, moral e intelectual da humanidade. Todos aqueles que consideram, assim como eu, a felicidade nesta vida uma importante meta, e condenam as ameaças sobrenaturais e superstições que escravizam o indivíduo, possuem algo de Epicuro também. Podemos não abraçar toda a sua filosofia. Mas isso não nos impede de extrair o que ela tem de correto. Não é, como afirmam alguns, uma defesa da libertinagem irresponsável. Alguns irresponsáveis libertinos é que podem buscar refúgio em Epicuro, mas estariam fazendo isso injustamente. Trata-se de colocar a felicidade nessa vida como um objetivo de extrema importância. E quem não deseja evitar a dor e ser feliz nesse mundo?
Que ética do sofrimento é esta a que você alude em referência aos mais religiosos? Pode explicar melhor?
ResponderExcluirE por que você se refere sempre a "essa vida" e à felicidade "nesta vida", se você não acredita aparentemente em outra vida? Não seria mais adequado ao seu pensamento dizer simplesmente "felicidade na vida"?
ResponderExcluirGostei desse tal de Epicurismo!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNa hipótese bastante lógica da existência de DEUS e da outra vida do que adiantaria ao homem ganhar o mundo todo e perder a própria alma, amigo Constantino?
ResponderExcluirVc em assuntos econômicos é genial, mas culturalmente, a meu ver, deixa a desejar.
Abraços.
Bela explicação da filosofia epicurista, Constantino.
ResponderExcluirNo entanto, acho que você estaria em melhor companhia com Epicuro do que com Ayn Rand...
Quanto à religião e o sofrimento, acho que você não deve desprezar o fato de que a vida de muita gente religiosa e que sofreu muito, foi muito mais feliz do que a vida de todos os que passaram seus dias no "bem bom".
A freira na clausura é possivelmente mais feliz do que o empresário de sucesso.
Claro, não é preciso ir tão longe, para os monastérios e conventos. O empresário de sucesso cristão, com todos os sacrifícios que essa "qualificação" adiciona em sua vida, é mais feliz do que aquele que vive pela próxima alta da bolsa.
Sofrimento e felicidade não necessariamente se excluem.
As notas de ética de Epicuro são, junto a "Meditações" de Marco Aurélio, meus livros de cabeceira.
ResponderExcluirMais uma vez, você expõe com brilhantismo o pensamento liberal-tolerante que, na minha opinião, deveria permear a vida das pessoas.
Interessante.... Gostaria que vc refletisse sobre este tópico que fala de Epicuro e como Marx segue o seu pensamento... Onde ficaria o totalitarismo nesse ponto de vista?! Uma vez que Marx prega a liberdade individual no mundo das necessidades!?...Vide sua tese sobre Democrito e Epicuro...Me parecesse que o totalitarismo veio como deturpação das ideias originais de Marx...Obrigado...
ResponderExcluirKelvin (kelvinsales@hotmail.com)
texto muito bom !
ResponderExcluirnão sei muito de filosofia, mais me associo com com tudo da filosofia, pois meus pensamentos vôoam....
ResponderExcluirGostei da sua opinião sobre o filosofo Epicuro mas acho que deveria repassar sobre o tal com palavras mas simples para que o público adolescente se interessasse mas .
ResponderExcluirParabéns por mostrar que Epicuro não era mundano. Apesar da busca da felicidade através do prazer, ele mostra que essas fontes são simples: organização da vida, amigos e liberdade...ele teve uma vida simples e é triste ver que muitas pessoas ainda não compreendem a filosofia de Epicuro...
ResponderExcluirGosto mais de ver o Rodrigo tentando discutir filosofia com 'tipos' como o Olavo de Carvalho. Pena que o número de livros que ambos já empilharam para construir suas fortalezas impede que ambos se olhem nos olhos para uma discussão de mesmo nível. Aí ficamos imaginando Aristóteles dando uns tapinhas na cabeça de Nelson Ned, e dizendo: "Estude muito, meu filho, e vai ficar grande como seu ídolo Epicuro".
ResponderExcluirJoão Emiliano, não é sobre lógica que você conseguirá debater a existência de Deus.
ResponderExcluirE, mesmo considerando-se com verdadeira a existência de Deus, por que a filosofia de Epicuro trará a perda da "alma"?
Ah, falei sobre a existência de Deus, não da existência do seu Deus.
Joel Pinheiro, porque você supõe que "A freira na clausura é possivelmente mais feliz do que o empresário de sucesso."?
ResponderExcluirSua suposição se baseia tão somente em suas crenças, não em dados. É óbvio que você não foi a conventos nem entrevistou empresários de sucesso.
O que fez foi se agarrar ao velho ícone do empresário rico mas infeliz. Esta parábola é nada mais que uma lenda clássica imposta pela religião, que funciona muito bem com uma espécie de calmante de massas.
Para os crentes...
ResponderExcluirHipótese lógica da existência de Deus?
O que cultura quem a ver com crença?
A maioria dos incultos são os que mais creem.
Que diabo é esse negócio de salvar a alma?
Vamos supor que existe vida pós-morte;serei castigado por não acreditar no senhor Deus? É uma ditadura então,tem que acreditar na marra, ou vai para o fogo.
Senhores crentes, tenham fé,é um direito, mas não se julguem donos da verdade.