Rodrigo Constantino
“Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.” (Albert Einstein)
Qual seria a reação esperada das pessoas se alguém afirmasse ter um dragão invisível que cospe fogo em sua garagem? Foi uma das questões que Carl Sagan levantou no seu esplêndido livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, no qual derruba com ótimos argumentos diversas crendices comuns. Logo de cara, podemos esperar que nos peçam para mostrar o tal dragão. Mas ocorre que ele é invisível. Podem então sugerir que farinha seja espalhada no chão, para detectar suas pegadas. Mas acontece que o dragão flutua no ar. Um sensor infravermelho pode então ser usado para detectar o fogo que ele cospe. Mas o problema é que o fogo é desprovido de calor. Uma tinta talvez possa ser borrifada para torná-lo visível. Infelizmente, o dragão é incorpóreo. E assim por diante. Qualquer ferramenta científica de nosso conhecimento é reiteradamente descartada como viável para provar a existência do dragão.
Carl Sagan então pergunta: “Ora, qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe?”. A incapacidade de invalidar sua hipótese não é, de forma alguma, a mesma coisa que provar sua veracidade. No fundo, pedir para acreditar no relato da existência do dragão é o mesmo que pedir, na total ausência de evidências concretas, para acreditar na palavra de quem afirma isso. Com certeza passaria pela cabeça da maioria das pessoas a mais provável explicação de que a mente do sujeito em questão criou o dragão, talvez por um sonho que pareça real ou mesmo uma alucinação, mais comum nos seres humanos do que muitos gostariam de admitir. E não seria nada correto da parte de quem afirma a existência do dragão, ficar ofendido com os demais, apenas porque apresentaram o veredicto de “não comprovado”.
O livro de Sagan trata de inúmeros casos de crenças totalmente desprovidas de evidências, e o autor sempre levanta questões incômodas para os mais crédulos, mostrando que explicações mais prosaicas são também as mais prováveis. A mente humana é falível, e pode criar muitas armadilhas para seus donos. O desejo de crer pode tornar árdua a tarefa de questionar, exigir evidências, adotar uma postura mais cética. Por isso o rigor científico é um método tão diferente, infinitamente mais seguro que a simples fé. As emoções podem pregar peças no cérebro, ainda mais se este não estiver preparado e acostumado com a postura cética e o método científico de busca da verdade.
Por ter sido um professor de astronomia entendido do assunto, muitos perguntavam para Sagan se ele acreditava em vida inteligente extraterrestre. Sua resposta era sempre com os argumentos padrões, de que há muitos lugares no espaço, as moléculas de vida estão por toda parte etc. Logo, ele ficaria surpreso se não houvesse inteligência extraterrestre, mas garantia que “ainda não há absolutamente nenhuma evidência convincente de que ela existe”. Muitos não ficavam satisfeitos, e insistiam no que ele realmente achava. Mas era isso o que ele realmente achava. Até que alguém questionou qual era sua opinião visceral. A resposta merece ser citada na íntegra:
“Mas eu tento não pensar com as minhas vísceras. Se levo a sério minha tentativa de compreender o mundo, pensar com algum órgão que não seja o meu cérebro, por mais tentador que possa ser, provavelmente complicará a minha vida. Na verdade, é correto guardar a opinião para quando houver evidências.”
Devemos manter sempre a mente aberta, é claro. Tal como os pára-quedas, elas só funcionam bem desta maneira. Mas como o engenheiro espacial James Oberg certa vez disse, ela não pode ficar tão aberta a ponto de o cérebro cair para fora. O que isso quer dizer é que devemos sempre estar dispostos a mudar de opinião, mas somente quando autorizados por novas evidências, que devem ser fortes. “Nem todas as afirmações têm igual mérito”, lembra Sagan. Alguém que afirma algo somente calcado em sua fé, seu desejo de acreditar, não está no mesmo direito de exigir respeito do que aquele que apresenta boas evidências. Como exemplo, podemos comparar um criacionista com um evolucionista. O primeiro depende apenas de sua fé, nada mais. O último, conta com diversas evidências absolutamente concretas.
Um relato deve sempre ser analisado sob a ótica do ceticismo. Ele, por si só, não prova nada. Qualquer investigador, detetive ou juiz sabe disso. Se isso serve para qualquer relato, imagine para relatos de acontecimentos totalmente incomuns, como supostos milagres, raptos por alienígenas, homens andando por cima da água, duendes, aparições de santos, visita de íncubos, parto de uma virgem etc., ainda mais transmitidos por terceiros e separados por séculos, quando não milênios, em línguas arcaicas! Acreditar nesses "relatos" exige muita vontade de crer mesmo. No caso da visão de OVNIs, por exemplo, o psicanalista Carl Gustav Jung considerava ser uma espécie de projeção do inconsciente. Sobre aqueles que aceitam os testemunhos incomuns literalmente, ele observou: "Essas pessoas não só têm insuficiência de pensamento crítico, mas também desconhecem as noções mais elementares da psicologia. No fundo, não querem aprender nada, mas simplesmente continuar a acreditar – sem dúvida a mais ingênua das presunções, em vista de nossas falhas humanas".
“Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.” (Albert Einstein)
Qual seria a reação esperada das pessoas se alguém afirmasse ter um dragão invisível que cospe fogo em sua garagem? Foi uma das questões que Carl Sagan levantou no seu esplêndido livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, no qual derruba com ótimos argumentos diversas crendices comuns. Logo de cara, podemos esperar que nos peçam para mostrar o tal dragão. Mas ocorre que ele é invisível. Podem então sugerir que farinha seja espalhada no chão, para detectar suas pegadas. Mas acontece que o dragão flutua no ar. Um sensor infravermelho pode então ser usado para detectar o fogo que ele cospe. Mas o problema é que o fogo é desprovido de calor. Uma tinta talvez possa ser borrifada para torná-lo visível. Infelizmente, o dragão é incorpóreo. E assim por diante. Qualquer ferramenta científica de nosso conhecimento é reiteradamente descartada como viável para provar a existência do dragão.
Carl Sagan então pergunta: “Ora, qual a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe?”. A incapacidade de invalidar sua hipótese não é, de forma alguma, a mesma coisa que provar sua veracidade. No fundo, pedir para acreditar no relato da existência do dragão é o mesmo que pedir, na total ausência de evidências concretas, para acreditar na palavra de quem afirma isso. Com certeza passaria pela cabeça da maioria das pessoas a mais provável explicação de que a mente do sujeito em questão criou o dragão, talvez por um sonho que pareça real ou mesmo uma alucinação, mais comum nos seres humanos do que muitos gostariam de admitir. E não seria nada correto da parte de quem afirma a existência do dragão, ficar ofendido com os demais, apenas porque apresentaram o veredicto de “não comprovado”.
O livro de Sagan trata de inúmeros casos de crenças totalmente desprovidas de evidências, e o autor sempre levanta questões incômodas para os mais crédulos, mostrando que explicações mais prosaicas são também as mais prováveis. A mente humana é falível, e pode criar muitas armadilhas para seus donos. O desejo de crer pode tornar árdua a tarefa de questionar, exigir evidências, adotar uma postura mais cética. Por isso o rigor científico é um método tão diferente, infinitamente mais seguro que a simples fé. As emoções podem pregar peças no cérebro, ainda mais se este não estiver preparado e acostumado com a postura cética e o método científico de busca da verdade.
Por ter sido um professor de astronomia entendido do assunto, muitos perguntavam para Sagan se ele acreditava em vida inteligente extraterrestre. Sua resposta era sempre com os argumentos padrões, de que há muitos lugares no espaço, as moléculas de vida estão por toda parte etc. Logo, ele ficaria surpreso se não houvesse inteligência extraterrestre, mas garantia que “ainda não há absolutamente nenhuma evidência convincente de que ela existe”. Muitos não ficavam satisfeitos, e insistiam no que ele realmente achava. Mas era isso o que ele realmente achava. Até que alguém questionou qual era sua opinião visceral. A resposta merece ser citada na íntegra:
“Mas eu tento não pensar com as minhas vísceras. Se levo a sério minha tentativa de compreender o mundo, pensar com algum órgão que não seja o meu cérebro, por mais tentador que possa ser, provavelmente complicará a minha vida. Na verdade, é correto guardar a opinião para quando houver evidências.”
Devemos manter sempre a mente aberta, é claro. Tal como os pára-quedas, elas só funcionam bem desta maneira. Mas como o engenheiro espacial James Oberg certa vez disse, ela não pode ficar tão aberta a ponto de o cérebro cair para fora. O que isso quer dizer é que devemos sempre estar dispostos a mudar de opinião, mas somente quando autorizados por novas evidências, que devem ser fortes. “Nem todas as afirmações têm igual mérito”, lembra Sagan. Alguém que afirma algo somente calcado em sua fé, seu desejo de acreditar, não está no mesmo direito de exigir respeito do que aquele que apresenta boas evidências. Como exemplo, podemos comparar um criacionista com um evolucionista. O primeiro depende apenas de sua fé, nada mais. O último, conta com diversas evidências absolutamente concretas.
Um relato deve sempre ser analisado sob a ótica do ceticismo. Ele, por si só, não prova nada. Qualquer investigador, detetive ou juiz sabe disso. Se isso serve para qualquer relato, imagine para relatos de acontecimentos totalmente incomuns, como supostos milagres, raptos por alienígenas, homens andando por cima da água, duendes, aparições de santos, visita de íncubos, parto de uma virgem etc., ainda mais transmitidos por terceiros e separados por séculos, quando não milênios, em línguas arcaicas! Acreditar nesses "relatos" exige muita vontade de crer mesmo. No caso da visão de OVNIs, por exemplo, o psicanalista Carl Gustav Jung considerava ser uma espécie de projeção do inconsciente. Sobre aqueles que aceitam os testemunhos incomuns literalmente, ele observou: "Essas pessoas não só têm insuficiência de pensamento crítico, mas também desconhecem as noções mais elementares da psicologia. No fundo, não querem aprender nada, mas simplesmente continuar a acreditar – sem dúvida a mais ingênua das presunções, em vista de nossas falhas humanas".
Muitos fogem da pesada carga do ceticismo. As crenças, mesmo que estapafúrdias, podem confortar de imediato. Sagan explica: “A pseudociência fala às necessidades emocionais poderosas que a ciência freqüentemente deixa de satisfazer”. Seria fantástico se de fato pudéssemos, como nas histórias infantis, satisfazer os desejos de nosso coração pelo simples ato de desejar. Mas a realidade não é assim, e a ciência é a melhor ferramenta para tentarmos compreender esta realidade. “A ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um”, diz Sagan. As conclusões falsas são tiradas, e as hipóteses são formuladas de modo a poderem ser refutadas. A pseudociência é exatamente o oposto. As hipóteses “são formuladas de modo a se tornar invulneráveis a qualquer experimento que ofereça uma perspectiva de refutação, para que em princípio não possam ser invalidadas”. Faz-se oposição ao escrutínio cético, e logo se alega que há uma conspiração contra as “teses” da pseudociência. Impostores, aliás, costumam adorar teorias conspiratórias.
A sabedoria humana está em compreender as nossas limitações. Por isso o rigor cético e austero da ciência é tão importante. A ciência não é infalível, mas é o melhor instrumento que temos. O que fica além dela, podemos humildemente chamar de ignorância, sem necessitarmos de outros nomes que apenas confundem. Não ter todas as respostas é o que nos motiva a buscá-las. A ciência verdadeira está aberta a todas as questões, aos assuntos mais delicados que existem. Ela deve ignorar os apelos à autoridade, focando somente nas evidências. A diversidade e o debate são estimulados. O mecanismo de correção dos erros é o que garante sua constante evolução. Idéias que não funcionam devem ser descartadas, eis a regra dura, mas justa. Os prêmios mais valorizados costumam ser aqueles que refutam crenças estabelecidas, pois a falibilidade humana é reconhecida. Tudo isso é contrário à postura típica da pseudociência ou das religiões. Carl Sagan afirma: “A ciência é um meio de desmascarar aqueles que apenas fingem conhecer; é um baluarte contra o misticismo, contra a superstição, contra a religião mal aplicada a assuntos que não lhe dizem respeito”.
Ciência é também um modo de pensar, um método crítico. Diante do relato do dragão na garagem – ou de alguém que multiplicou pães, andou na água, curou doenças com um toque, levitou, voltou dos mortos, foi abduzido por ETs, descobriu os poderes dos cristais etc., restam basicamente duas posturas: confiar na esquisitice e crer cegamente, ou exigir as evidências. É provável que, escolhendo a segunda alternativa, você acabe tachado de chato. Mas com certeza é o único caminho razoável para se chegar à verdade. Caso contrário, considere-se convidado para vir conhecer o Dragão de Sagan, que curiosamente também habita em minha garagem.
grande texto
ResponderExcluirassim intera os não iniciados no culto do dragão da garagem
falta do mesmo livro sobre o método científico , sobre a refutabilidade e não dogmatismo
só essa mobilidade de verdades explica a superioridade do método científico sobre os ouros métodos
em geral dos livros sagrados e dogmatismos
Leu a minha dica de livro né? :-)
ResponderExcluirNa verdade esse livro fica meio repetitivo a partir de certo ponto, mas a metáfora do dragão vale o livro inteiro.
Agora anota mais uma dica e prepare-se:
Por Trás do Véu de Isis de Marcel Souto Maior
Bom texto. Sonho com um mundo onde as pessoas serão menos ignorantes. Isso só é possível com educação e principalmente com o livre acesso a informação. A Internet colaborou para um salto espetacular nesse sentido. A alguns poucos séculos atrás, um ateu era visto como um doente mental. Acabava na fogueira ou no isolamento. Hoje, sabemos que as coisas não são bem assim. Mas a grande maioria das pessoas não deseja acordar da sua própria insegurança e prefere viver na ilusão. E o pior é que isso é de fundamental importancia para que as suas vidas façam algum sentido. Seria como dizer para uma criança que ela não deve chupar o dedo todas as noites ou como dizer para um esquizofrenico que o dragão não existe. O dia que ele descobrir que o dragão não existe, se mata!
ResponderExcluirÓtimo livro para quem busca argumentos contra os religiosos fervorosos e para quem procura uma explicação óbvia das coisas. Mas eu acredito que a Ciência evolui, logo, descobriremos muitas coisas que hj não podemos sequer imaginar. Assim como foi qdo descobriram as bactérias...
ResponderExcluirConstantino,
ResponderExcluirvoce ja leu a biblia? Dedicou-se a estuda-la tanto quanto se dedica aos livros que a refutam?
Se não, acha coerente esta forma de escrever? Dedicando-se a apenas um lado da moeda, esquecendo de investigar o outro? Caso eu fosse estudar o sistema capitalista e me dedicasse apenas a ler autores socialistas, que visão eu teria do capitalismo? Não é o que voce vem fazendo com suas criticas a religião?
um abraço!
Anônimo, algo a acrescentar? Alguma coisa no texto que vc não concorda? Qual o motivo? Argumentos, por favor!
ResponderExcluirRodrigo
Contantino,
ResponderExcluirlhe passa pela cabeça que voce pode estar atacando um espantalho, e não o Deus da biblia? Voce pode dizer: "É tudo crença em algo que não existe". Mas como voce pode ter tanta certeza que este Deus, da BIBLIA não existe, se voce não sabe quem é o Deus a quem a biblia se refere? E nem conhece os argumentos DA BIBLIA que explicam este Deus?
repetindo a analogia, voce esta criticando o capitalismo baseado em Marx!
abraço!
Anônimo, qual é a sua interpretação do que é o deus bíblico?
ResponderExcluirEstou perguntando seriamente. O problema é que mesmo dentro de um corpo doutrinal como a Igreja católica, para citar um exemplo, existem muitas visões aparentemente distintas sobre o que é esse deus. É claro que essas distinções se devem a tentativa de combinar a tradição judia ao misticismo e filosofia gregos.
Mas sejamos restritos ao que diz a bíblia. O antigo testamento é principalmente baseado em tradições hebraícas (com algumas influências de povos vizinhos) enquanto o novo testamento é fortemente baseado em misticismo grego, alguma filosofia (o Logos vs o Verbo) e uma reinterpretação da tradição judaíca.
Desse conglomerado de tradições, qual é a imagem de deus que deve ser a correta, a autêntica?
Anônimo, pelo jeito de escrever e a forma de se despedir, vou presumir que vc é o mesmo de antes. Portanto, repito:
ResponderExcluirAnônimo, algo a acrescentar? Alguma coisa no texto que vc não concorda? Qual o motivo? Argumentos, por favor!
Rodrigo
Blog do Conde:
ResponderExcluirRodrigo Constantino, economista, blogueiro, rascunhador de orelhas de livros alheios e metido a “pensador independente e libertário”, era bastante admirado quando só falava de única coisa que parecia entender parcamente, que era economia. No entanto, o raciocínio constantiniano peca pelos simplismos retóricos e pelo economecês vulgar. Não passa pela cabeça do cidadão, algo como a complexidade das relações humanas. Tudo se resume ao horizonte técnico, quando na verdade, a economia está inserida na política, na moral, nos costumes, etc. Não é por acaso que o sujeito se tornou motivo de galhofa, com a religião do “deus mercado”, na versão caricatural de um liberal. O “livre mercado” resolve tudo, desde cura pra câncer e hemorróidas, até problemas emocionais entre pais e filhos.
O livre mercado não resolve hemorróidas, mas não deve ser a toa que os países mais ricos e mais desenvolvidos são também os mais liberais...
ResponderExcluirTambém fiz um artigo sobre O Dragão de Sagan. Quem quiser dar uma olhada:
http://blogs.mentaframework.org/posts/list/12.page
Sergio
Sim Constantino,
ResponderExcluirfui eu quem fiz as duas perguntas anteriores. Não to aqui pra brigar, apenas quero discutir civilizadamente. Para não confundir, avisarei sempre que lhe fizer uma pergunta.
Tambem sou ateu, mas sou muito simpatico aos ensinamentos critãos.
Aproveito para dizer que concordo com o texto deste "Conde" no que se refere a isso: "a economia está inserida na política, na moral, nos costumes".
É na economia que manifestamos nossas preferencias. Os empresarios trabalham buscando satisfazer os consumidores. Os habitos de uma sociedade, sua moral, seus costumes, influenciam seus resultados economicos, influenciam as decisões dos empresarios sobre o que produzir. Uma sociedade onde as pessoas valorizam a poupança, o trabalho arduo, a caridade, a ética, tende a se desenvolver e a reduzir a pobreza e a violencia com mais eficiencia, do que um lugar onde nao aja o habito de caridade, onde a gastança e o endividamento seja mais valorizada que o gasto responsavel que busca satisfazer as necessidades mais urgentes da familia do individuo.
Um trabalhador que trabalha arduamente, faz poupança e investe em sua capacitação, terá um futuro melhor que aquele que espera o final de semana para trair sua esposa ou para se embebedar. Tudo isso é influencia da moral, dos costumes etc.
Os ensinamentos cristãos são pró mercado, mas vão alem disso, pois entendem que a economia é apenas o meio utilizado pelas pessoas para manifestarem o que pensam, sentem, desejam etc.
obs: Peça pra seus amigos manerarem nos comentarios agressivos. Fiz uma pergunta educada em outro topico, e fui agredido desnecessariamente. Fica dificil dialogar assim.
cleber,vou tentar responder satisfatoriamente a sua pergunta,já que você perguntou "seriamente".Se não olhares superficialmente verás que entre os cristãos não há muitas visões distintas do Deus da Bíblia.É verdade que as religiões(hinduísmo,xintoísmo,islamismo,budismo,animismo,etc) NÃO são todas iguais,pois elas discordam do PONTO CENTRAL:COMO Deus é.Os deuses do oriente são INFINITOS por definição,mas não são PESSOAIS."Deus é tudo e tudo é Deus"dizem.Já o Deus bíblico(judaico-cristão) é PESSOAL e INFINITO e se RELACIONA com a criatura.É tanto TRANSCEDENTE como IMANENTE.Por Ele ter se revelado(progressivamente:patriarcas,profetas,etc,e de forma plena na Pessoa de Seu Filho O Senhor Jesus Cristo)o homem pode conhece-lo VERDADEIRAMENTE,mas não COMPLETAMENTE,pois a mente finita não é capaz abarcar o infinito.resumindo,podemos agrupar as religiões em duas categorias fundamentais:as que começam com uma FORÇA ou ESSÊNCIA ESPIRITUAL NÃO-PESSOAL e a que começa com um DEUS PESSOAL que SE RELACIONA CONOSCO. OS cristãos divergem em questões periféricas,mas NENHUM critão(exceto os nominais)duvida da trindade,divindade de Cristo,sua morte expiatória,ressurreição enfim,para facilitar,aquilo que a MAIORIA DOS CRISTÃOS na MAIORIA DOS LUGARES na MAIOR PARTE DOS TEMPOS creram.Em suma os primeiros Credos.Quanto ao Novo Testamento ele definitivamente NÃO É baseado em misticismo grego.Os gregos eram dualistas,abominavam a matéria e se escandalizaram com a nova doutrina que o LOGOS se fez carne(aleluias!)que ouve uma união entre o EIDOS e a PHISYS.São Paulo diz:"Mas nós pregamos a Cristo crucificado,que é ESCÂNDALO PARA OS JUDEUS e LOUCURA PARA OS GREGOS"I CO 1.23.Depois da QUEDA do homem a VERDADE se fragmentou entre os povos,em alguns ficou totalmente desfigurada em outros menos,mas sempre ficou um lanpejo, por isso que há alguma semelhança entre algumas verdades do cristianimo e de outros povos.TODA Verdade é a Verdade de DEUS!Que Ele vos Abençoe!
ResponderExcluirRodrigo Constantino, espero que vc supere logo os problemas pelos quais vem passando para que sua revolta contra Deus diminua e vc possa continuar escrevendo sobre o que vc entende...
ResponderExcluirAmanda, não sei o que te faz pensar que tenho problemas com "Deus". Talvez a SUA própria crença. Sou uma pessoa feliz, em paz com a minha vida, que adoro. O que não gosto é de embustes e ignorância. Defendo a liberdade individual, e por isso combato os seus obstáculos. O fanatismo religioso é tão perverso quanto o socialismo. Sobre o que entendo, seria útil vc apresentar ARGUMENTOS, para não parecer que tenta apelar à autoridade, me desqualificando sem capacidade para tanto.
ResponderExcluirAbraços,
Rodrigo
Amanda,
ResponderExcluirO problema não é com o próprio Constantino. Eu imagino que ele escreva esses artigos ateístas para chamar a atenção para o seu blog.
Pode constatar o que estou dizendo: os seus artigos sobre assuntos econômicos têm, em média, meia dúzia de comentários. Já os assuntos em que ele escracha com a fé alheia têm dezenas de comentários.
Mais ainda, leia os artigos mais antigos e você constatará outra coisa: ele não era tão radical em seu ateísmo militante, só vem endurecendo do ano passado para cá, depois de uns "arranca-rabos" com Olavo de Carvalho que lhe rendeu certa notoriedade.
Abraço
Neo (Matrix?),
ResponderExcluirEngana-se, e feio. Aliás, noto que vc também não tem argumentos.
É engraçada a tentativa dos crentes de me calar. Eu sempre fui "radical" sobre esse assunto, meu caro. A estupidez dos crentes me incomoda há anos! Falo desse assunto muito antes de saber quem era Olavo. E tenho escrito mais sobre isso agora pois estou preparando um livro sobre o assunto, e tenho lido muitas coisas interessantes. Em resumo, o MESMO motivador que me leva a escrever sobre socialismo, e que olavetes aplaudem.
Rodrigo
Rodrigo,nenhum ARGUMENTO provará a existencia de Deus a um ateu.É uma questão de vontade,querer ver as micro e macro evidencias na Criação."Os céus manifesta a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos"SL 19.1;"Porquanto o que de Deus se pode conhecer...,tanto o seu eterno poder,como a sua divindade,se entendem, e claramente se vêem pelas coisas criadas,para que eles fiquem inescusáveis"Paulo aos Romanos CAP 1.19,20.
ResponderExcluirÉ preciso mais fé para crer que toda essa complexidade e ordem no universo é fruto do ACASO.
Aliás, já estou querendo CRER que todos esses textos do seu blog NÃO foram fruto de uma mente com um propósito e sim que uma montanha de letrinhas separadas foram jogadas para cima e caíram formando esses comentários.Sua mente racionalista,empírica,científica já deve ter ouvido falar sobre PROBABILIDADES.Que isso tenha ocorrido no universo é infinita e matematicamente menos plausível.Na verdade impossível.
Leia o "outro lado" também:Phillip E. Johnson,Nancy Pearcey,francis Schaeffer,C.S.Lewis e outros grandes apologistas cristãos.Será salutar!
"Buscareis e me achareis quando me buscares de TODO o coração"
Que Ele te ilumine!
Leo,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, obrigado por concordar comigo. Argumentos e uso da RAZÃO são inúteis no caso. É preciso DESEJAR crer. Isso mesmo! É o que venho falando aqui. São crenças IRRACIONAIS. E vcs ainda sentem orgulho disso...
Em segundo lugar, não me venha com apelos à autoridade. Citar nomes não diz nada. Ok?
Em terceiro lugar, vc acha que nada complexo pode surgir do acaso? O que vc acha que é uma sociedade? O capitalismo? A ordem ESPONTÂNEA pode gerar resultados absolutamente incríveis e complexos.
Por fim, vamos supor que tenha mesmo que ter uma criador, algo que não faz sentido (quem seria o criador do criador? e por aí vai). Quem disse que tem que ser o que VOCÊ criou ou resolver crer? Por que não um deus malvado? Ou vários desues? Ou alienígenas? Ou máquinas (Matrix)? Ou, claro, o Flying Spaghetti Monster, o meu preferido?!
Note: vcs andam sempre em referência circular. Ao menos, vc já assumiu que isso é fruto do desejo irracional, não da razão e de bons argumentos. Um bom começo!
Rodrigo
...hehehe!
ResponderExcluirGostei disso:
"Os céus manifesta a glória de Deus"
Ô Leo/Neo ...pô! ...isso foi castigo de deus por tua falta de humildade ...hehehe só pode ser isso. ...hohoho!
Rodrigo,
ResponderExcluirQuer dizer que você não apela à autoridades? não cita nomes "credenciados"?
isso que chamas de "crenças irracionais" chamamos FÉ.Sim,temos orgulho disso.
seus exemplos de complexo que surgiram do ACASO como a sociedade,capitalismo gerados pela ordem espontânia só são possíveis porque o homem FOI DOTADO pelo Criador com inúmeras aptidões, inclusive a RAZÃO.
Não existe Criador do Criador por que só Ele é ETERNO,não teve princípio e não terá fim.Nós,como almas, somos IMORTAIS,não teremos fim mas tivemos um começo.
Sei que isso não faz nenhum sentido para sua mente moderna,racionalista.O homem não é só razão ele tem uma alma.O pensamento não é só PROCESSOS BIOQUÍMICOS.São manifestações da alma.
Por causa da QUEDA(só se entende a cosmovisão cristã com esta perspectiva:CRIAÇAO,QUEDA,REDENÇAO.apesar da Redenção já ter sido iniciada no âmbito espiritual,só no futuro se manifestará no plano material)o homem perdeu o contato DIRETO,EMPIRICO com seu criador.A QUEDA ocasionou varias separaçoes:COM DEUS,ocasionando os problemas ESPIRITUAIS(e de quebra toda essa bagunça de religiões criadas PELO HOMEM.Ele foi criado para adorar)CONSIGO MESMO,ocasionando os problemas PSICOLÓGICOS;com O PRÓXIMO a causa dos problemas SOCIAIS e com a NATUREZA,ocasionando os problemas AMBIENTAIS.
Por causa da QUEDA a RAZÃO foi afetada,está em ESTADO DE REBELIÃO com o Criador.A mente humana só consegue aprender as verdades por partes linearmente,já a alma tem a capacidade de aprender de uma só vez.Por isso a convicçao do crente é um ato da vontade.Mas a razão não é descartada e sim redimida.
Sim, Deus poderia de uma vez por todas se revelar.O dragão "sair da garagem" mas não o faz por misericórdia.Se se manifestasse aos nossos sentidos MESMO ASSIM, repito MESMO ASSIM o homem não iria se submeter ao seu senhorio e isso iria trazer um JUÍZO SUMÁRIO.O homem moderno iria estuda-lo,"disseca-lo","decompo-lo",classifica-lo mas não ADORÁ-LO!
Sei que vocês ceticos,ateus,agnósticos ou pragmaticos o comentário acima serve até de piadas,sempre foi assim em todas as gerações.Só escrevo para mostrar que o sistema cristão é uma unidade de pensamento extremamente lógico e sem fragmentos soutos.Há princípio,meio e fim com respostas a todas as questões CRUCIAIS da vida.
Que Ele te guie pelo Caminho da Verdade!
Leo
MANIFESTAM.O que vale mais é a comunicação.
ResponderExcluirNÃO sou o NEO
Neo,que tal se chamar MATRIX?
Leo,
ResponderExcluirSuas palavras não fazem sentido lógico algum para quem não compartilha da sua fé. No mais, vc fugiu das minhas questões. Entendo. A fé é assim mesmo. Bloqueia o raciocínio.
"Só escrevo para mostrar que o sistema cristão é uma unidade de pensamento extremamente lógico e sem fragmentos soutos."
Nada mais falso. Não tem nada lógico, e está repleto de fragmentos soltos. As contradições pululam, e as questões não respondidas são contadas em centenas.
Rodrigo
Em tempo, sobre os limites da razão:
ResponderExcluir"Aqueles que invalidam a razão devem seriamente considerar se estão argumentando contra a razão com ou sem razão. Se é com razão, eles estabelecem o princípio que se esforçam para derrubar; mas, se argumentam sem razão (o que, para ser coerentes consigo mesmos, deveriam fazer), ficam fora do alcance da convicção racional e não merecem uma argumentação racional." (Ethan Allen, revolucionário norte-americano)
Sr Constantino Razão da Silva,
ResponderExcluirSe todas as suas convicções são baseadas na RAZÃO,então sua certeza que não existe nada após a morte tem uma explicação racional.Prove-me, e entrarei para o seu clube!
E não me venha com aquela de que o ônus da prova é nosso.
Se há negação HÁ UMA RAZÃO.demonstre-a.
"souto" foi de matar.desculpe-me.
Leo
Mas o Deus da bíblia não é um dragão indetectável, ele se manifesta de formas nada sutis: arbusto flamejante, pilar de fogo (os 10 mandamentos ótimo filme), um homem que volta da morte e flutua para o céu, sem falar nos milagres que supostamente estão acontecendo todo dia pelas igrejas do mundo.
ResponderExcluirSe você for católico, pode até comer um pedaço dele.
O Deus dos filósofos/teólogos é mais sutil, parecendo até uma construção matemática. Mas ele deixa pegadas na farinha, pois o universo é visto como prova de sua existência.
Rodrigo, eu admiro o Carl Sagan mas esse dragão parece estufado de palha.
Caro Rodrigo,
ResponderExcluirA minha afirmação sobre os seus artigos anti-religiosos se baseia em dados concretos. É muito simples a constatação. Vejamos, por exemplo, o seu artigo "Regulação do Mercado Financeiro" (afinal, lendo seu currículo, me pareceu que essa é a sua especialidade) lhe rendeu 5 comments. Já este artigo já vai com quase 30 comments.
Mas, não estou lhe condenando, não. Acho que você está certo em trazer à discussão esses assuntos. Mesmo discordando em alguns pontos com você, concordo com a maioria deles. Além do mais, acho que você se posiciona com uma boa base de argumentos que, confesso, é difícil discordar.
Na verdade só não gosto da forma debochada e, às vezes, despudorada e mal-educada dos comentários do Catelli e do C. Mouro. Acho que não é necessário se utilizar desses expedientes para se argumentar. Além dos mais, vale salientar, muitos dos seus leitores são religiosos. É só uma questão de respeito, podemos discordar sem precisar ferir os sentimentos de religiosidade de ninguém.
Acredito que existe muito mal trazido pelos aproveitadores das crenças, tantas vezes ingênua das pessoas. Mas existe muita gente hoje em dia que tem uma religiosidade em que não é necessária a associação com qualquer entidade religiosa. E isso é uma questão simples de foro íntimo.
Devemos ser homens e mulheres livres. Sejamos ateus, crentes ou agnósticos, a liberdade de pensamento é o que mais deveríamos prezar.
Portanto, aprecio muito esses debates. E, à medida que, de forma madura, se debate esses assuntos, pode-se aprender muito uns com os outros.
Abraço
Neo
Agora sim, concordo com você, até quando recrimina o deboche. Mas é que fica dificil resistir quando não se ouve argumentos da outra parte.
ResponderExcluirComo eu já tantas vezes escrevi, se alguém faz determinado tipo de afirmação me cabe apenas crer ou descrer. Acrença é só uma crença. Mas a insistência em querer que a crença seja aceita como verdade embasada, isso acaba provocandouma reação a tais "bases" que por vezes revelam-se ridiculas.
Se prestar atenção ao que comentei com o Leo, sobre crença e fé como inspiração entenderás.
Se alguém me diz que sua crença é fé pura sem argumento racional algum, sem história ou estória, o assunto se encerra. Se efetivamente alguém crê sinceramente, então que siga sua crença mas não queira impor a moral arbitrária de sua crença aos não crentes.
...Mas aí é complicado, pois quem crê num deus que comunica a "moral certa" tende a almejar impor essa moral a todos, afinal é a "moral certa" que seu deus ditou. ...e aí começam os problemas, e até a necessidade de criticar até a fé como forma de se proteger dos arbítrios dos variados deuses.
Se os crentes num deus desejassem apenas seguir o seu ou seus deuses sem querer que sua crença ditasse a forma dos demais viverem, certamente nenhum ateu se importaria com a subjetividade dos crentes. O problema é a ingerencia na vida alheia.
Como eu já disse, a crítica funciona como uma focinheira para as religiões e seus líderes. Sem ela, sem a crítica, as lideranças tendem a insuflar radicalismo nos seguidores e aí acaba resultando em perseguição aos infiéis, em inquisição, gulags, campos de concentração, reeducação e lá mais o raio.
Enfim, é isso.
Abraços
C. Mouro
Como ler a Bíblia
ResponderExcluirOlavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 17 de janeiro de 2007
Quando você lê um romance ou peça de teatro, não tem como julgar a verossimilhança das situações e dos caracteres se antes não deixar que a trama o impressione e seja revivida interiormente como um sonho. Ficção é isso: um sonho acordado dirigido. Como os personagens não existem fisicamente (mesmo que porventura tenham existido historicamente no passado), você só pode encontrá-los na sua própria alma, como símbolos de possibilidades humanas que estão em você como estão em todo mundo, mas que eles encarnam de maneira mais límpida e exemplar, separada das contingências que podem tornar obscura a experiência de todos os dias. A leitura de ficção é um exercício de autoconhecimento antes de poder ser análise literária, atividade escolar ou mesmo diversão: não é divertido acompanhar uma história opaca, cujos lances não evocam as emoções correspondentes.
A mesma exigência vigora para os livros de História, com o atenuante de que em geral o historiador já processou intelectualmente os dados e nos fornece um princípio de compreensão em vez da trama bruta dos acontecimentos. Se você não apreende os atos dos personagens históricos como símbolos investidos de verossimilhança psicológica, não tem a menor condição de avaliar em seguida se são historicamente verdadeiros ou não. Um livro de História tem de ser lido primeiro como ficção, só depois como realidade.
O problema é que nem sempre as possibilidades que dormem no fundo da nossa alma nos são conhecidas -- e então não podemos reconhecê-las quando aparecem na ficção ou na História. O resultado é que a narrativa se torna opaca. Pior ainda, você pode se deixar enganar por falsas semelhanças, reduzindo os símbolos da narrativa a sinais convencionais das possibilidades já conhecidas, senão a estereótipos banais da atualidade. O reconhecimento interior não é só um exercício de memória, mas um esforço sério para ampliar a imaginação de modo que ela possa abarcar mesmo as possibilidades mais extremas e inusitadas. Você não pode fazer isso se não se dispõe a descobrir na sua alma monstros, heróis e santos que jamais suspeitaria encontrar lá.
Compreensivelmente, os monstros são mais fáceis de descobrir do que os heróis e santos. O medo, o nojo, a raiva e o desprezo são emoções corriqueiras, e eles bastam para tornar verossímil o que quer que nos pareça ser pior do que nós mesmos. Já aquilo que é nobre e elevado só transparece a quem o ama, e esse amor traz imediatamente consigo um sentimento de dever, de obrigação, como no célebre soneto de Rilke em que a perfeição de uma estátua de Apolo transcende a mera contemplação estética e convoca o observador a mudar de vida, a tornar-se melhor. A impressão humilhante de não estar à altura desse apelo produz quase automaticamente uma reação negativa -- o despeito. Negando a existência do melhor, reduzindo-o ao banal ou fazendo dele uma camuflagem enganosa do feio e do desprezível, a alma encontra um alívio momentâneo para o seu orgulho ferido, restaurando uma auto-imagem tranqüilizante à custa de encurtar miseravelmente a medida máxima das possibilidades humanas.
Se esse problema existe em qualquer livro de ficção ou de História, imaginem na Bíblia, onde o personagem central é o próprio Deus. Abrir-se ao chamado da perfeição divina é trabalho para uma vida inteira e mais uns dias, e vem entremeado de inumeráveis derrotas e humilhações -- mas sem isso você não compreenderá uma só palavra da Bíblia. Cem por cento do ateísmo militante consistem em despeito e incapacidade de leitura séria.
"Cem por cento do ateísmo militante consistem em despeito e incapacidade de leitura séria."
ResponderExcluirEsse blog está cada vez pior!! É uma pena...
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