Rodrigo Constantino
“Não se entregue ao mal, mas continue com mais coragem contra ele.” (Virgílio)
Talvez a crítica construtiva mais comum que escuto dos leitores diz respeito ao meu “radicalismo”. Muitas pessoas gostam de boa parte das idéias liberais que defendo, mas acham que sou “extremista” demais, e que se eu fosse mais moderado conseguira conquistar mais adeptos. Essas pessoas pedem uma maior “flexibilidade” de minha parte. Vários perguntam se pretendo entrar para a política também, para sair do campo “apenas” das idéias e partir para a prática. Nesse artigo, pretendo explicar porque discordo de todos esses que pedem mais “jogo de cintura” ou minha eventual candidatura. Em outras palavras, farei uma defesa da pureza das idéias liberais.
Em primeiro lugar, é preciso derrubar o culto ao pragmatismo. Atualmente, quando escutamos que alguém é pragmático, isto soa como um elogio. Mas desde quando ser pragmático é uma virtude? O pragmatismo, não custa lembrar, defende que o sentido de tudo está na utilidade, no resultado. O efeito prático das ações é o que importa. Os fins justificam os meios. Os princípios morais cedem lugar ao relativismo moral. O pragmatismo é amoral. Pragmatismo nos remete a algo maquiavélico, lembrando que o filósofo Maquiavel escreveu praticamente um guia de sobrevivência e manutenção do poder para o príncipe. Ele afirmou que “um homem que queira fazer em todas as coisas profissão de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons”. Além disso, deu recomendações bem pragmáticas ao poderoso, lembrando que o conquistador deve executar as ofensas necessárias de uma só vez, e ganhar a confiança dos súditos através de benefícios feitos pouco a pouco depois. É curioso notar que o adjetivo “maquiavélico” adquiriu conotação negativa, enquanto “pragmatismo” é visto como algo bom.
Esta postura pragmática é contrária àquilo que John Stuart Mill defendeu: “A verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade. Se quiséssemos saber se é ou não desejável crer numa proposição, seria possível excluir a consideração sobre ser ou não verdadeira? Na opinião, não dos maus, mas dos melhores, nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil”. Ou seja, falar em utilidade dissociada da verdade é oferecer um falso remédio, e quem oferece falso remédio é um falso amigo. O verdadeiro defensor da utilidade é aquele que prega o que entende como verdadeiro, e não o que se encaixa no pragmatismo do momento. Em O Homem Medíocre, José Ingenieros afirma, logo no começo: “Quando colocamos a proa visionária na direção de uma estrela qualquer e nos voltamos às magnitudes inalcançáveis, no afã de perfeição e rebeldes à mediocridade, levamos dentro de nós, nesta viagem, a força misteriosa de um ideal”. Quem deixa essa força se apagar, ficando simplesmente inerte, não passa “da mais gelada bazófia humana”. Para ele, “o ideal é um gesto do espírito em direção a alguma perfeição”.
Isso não quer dizer, em minha opinião, que seja louvável alguém sonhar qualquer sonho sem os pés no chão. Existem ideais e ideais. O socialismo é uma utopia, e como tal é inexeqüível. Mas, não obstante seus fins serem um pesadelo para todos aqueles que não se vêem como insetos gregários, sua grande falha está também no fato de suas crenças baterem de frente com a natureza humana. Ou seja, os meios pregados pelos socialistas levam inexoravelmente ao terror, miséria e escravidão. O socialismo é um ideal errado e que, além disso, ignora totalmente a realidade. Isso não quer dizer que devemos repudiar qualquer ideal. O liberalismo pode ser visto como um ideal também, no sentido de que defende uma ampla liberdade individual que ainda não existe. No entanto, além de ser um ideal desejável, ele pode ser também factível, pois não entra em confronto com nossa natureza. Pode até ser que em sua forma mais pura, o liberalismo seja um ideal inalcançável, mas pelo menos ele serve como a tal estrela que mostra o caminho a ser seguido. É fundamental não perder isso de vista, em troca das concessões pragmáticas do momento.
Uma vez identificado o ideal a ser seguido, resta questionar por que seria condenável ser “radical” na defesa deste ideal. Uma pensadora que sempre condenou este relativismo foi Ayn Rand, logicamente tachada de “extremista” por seus inimigos. O termo “extremismo”, para começo de conversa, é um termo que não tem significado algum se estiver isolado. O conceito de “extremo” denota uma relação, uma medida, um grau. Logo, parece óbvio que a primeira pergunta a ser feita é: Extremo em relação a que? Responder que é ruim um extremo em relação a qualquer coisa é absurdo, pois extrema saúde e extrema doença seriam então igualmente indesejáveis, extrema inteligência seria tão ruim quanto extrema burrice, e extrema integridade seria tão condenável quanto extrema perfídia. Seria o caso de se perguntar aos ditos “moderados” então: É igualmente indesejável ser extremamente honesto e extremamente desonesto? O “caminho do meio” faz sentido quando se trata da integridade? Quem responde que sim não pode estar do lado dos íntegros.
Outro grande pensador que não aceitou contemporizar com o inimigo foi Ludwig von Mises. Sua vida é a prova disso. Mesmo diante de todas as dificuldades imagináveis, fugindo do regime nazista, da guerra, sem conforto financeiro, Mises jamais aceitou jogar o jogo sujo da política, ceder ao que considerava falso apenas para alívio imediato. Mises acreditava muito no poder das idéias, pois entendia que os governos são sempre frágeis, já que dominados por uma minoria. Mudando as idéias abraçadas pelo povo, governos podem desabar rapidamente. Com esta crença inabalável no poder das idéias, Mises sabia que não poderia compactuar com aquilo que considerava falso. Ele poderia facilmente ter sido mais “flexível”, aceitando algumas concessões à mentalidade dominante da época, e teria tido uma carreira mais tranqüila. Mas não conseguiria dormir com sua consciência limpa dessa maneira, pois saberia que estaria dormindo com o inimigo. Mises não aceitou trocar a dignidade pela reputação, lembrando que dignidade é aquilo que pensamos de nós mesmos, enquanto reputação é o que os outros pensam de nós. Mises não estava em busca de aplausos da platéia, da bajulação dos colegas, do poder político, mas sim da verdade. Contemporizar com o mal apenas para obter mais adeptos é atitude de imorais em busca de rebanho de seguidores. É preciso integridade para enfrentar as adversidades que surgem quando alguém resolve contrariar os poderosos e o consenso do momento. E Mises tinha esta integridade, tanto que no auge de sua crise, disse se arrepender apenas dos momentos em que contemporizou demais, nunca quando foi intransigente.
Ainda dentro da Escola Austríaca, outro que compreendeu a importância da pureza das idéias foi Hayek. Para ele, os liberais devem ser capazes de apelar à imaginação, fazendo a construção de uma sociedade livre ser uma aventura intelectual, uma conquista da coragem. Hayek achava que os intelectuais liberais não deveriam ser demasiadamente práticos e também não deveriam confinar suas idéias àquilo que parecesse politicamente viável no momento. Deveriam, ao contrário, ser homens dispostos a se agarrar aos princípios e lutar por sua total realização, ainda que remota. As concessões práticas devem ser deixadas para os políticos. A batalha pela liberdade não estaria perdida, segundo Hayek, se fosse possível resgatar a crença no poder das idéias. Esta opinião de Hayek influenciou de forma crucial Antony Fisher, que desejava fundar um novo partido político depois de ler O Caminho da Servidão, excelente obra onde Hayek mostra que o aumento do poder político destrói a liberdade. Fisher foi convencido por Hayek a criar um “think tank” em vez de um partido, e assim nasceu o Institute of Economic Affairs, em 1955. As idéias divulgadas pelo instituto foram fundamentais para criar um ambiente favorável às reformas liberais da era Thatcher, anos depois. Sem uma mudança da mentalidade, essas reformas ou não seriam possíveis, ou não seriam sustentáveis.
Com isso, chego ao momento final de explicar porque não pretendo entrar para a política nunca. O meio político é o meio do pragmatismo, da amoralidade, dos fins que justificam os meios. Isso é inevitável, até porque para ser um grande senador, antes é preciso ser um senador. Isto exige votos de muitos eleitores, e acaba demandando um jogo sujo de promessas falsas, mentiras, jogo de poder, contemporização com inimigos etc. É preciso ter estômago, estar disposto a sujar as mãos e abandonar certos princípios. Além disso, não deixa de ser paradoxal alguém que pretende reduzir drasticamente o poder político buscar justamente o poder político para tanto.
Em minha opinião, respaldado por Mises, Hume e tantos outros, o poder político é mais frágil do que muitos acreditam. Creio que os próprios governantes sabem disso, e por isso buscam sempre toda forma de controle sobre nossas vidas. Mas no final do dia, eles conseguem se manter no poder somente com o respaldo de boa parte da população, mesmo usando aparatos de coerção. Afinal, os governados são sempre maioria. A manutenção do poder, portanto, depende das idéias disseminadas entre esta maioria. Isto foi verdade até mesmo para os regimes nazista e comunista. Maquiavel também tinha compreendido bem isso. O que precisa mudar são as idéias do povo. Os governantes sabem disso, e costumam encarar a liberdade de expressão com hostilidade. Aquele que ataca o governo deve ser visto como inimigo da pátria, do próprio povo. Há uma propaganda intensa para o culto à presidência, onde o governo é visto como uma espécie de deus. A própria pergunta que me fazem com freqüência, de quando pretendo me candidatar a algum cargo político, denota esta crença. A maioria, atualmente, acredita que o meio da nossa salvação é o meio político. Estão à espera de um messias salvador. Ainda não compreenderam de forma correta o poder das idéias. “Não há nada mais forte que uma idéia cuja hora é chegada”, disse Victor Hugo.
Acho bom que defensores da liberdade tentem atuar pela via política também, mas acho mais provável serem corrompidos do que mudarem o sistema de lá, do ninho das cobras. Prefiro atuar no campo das idéias, e de forma intransigente, radical, extremista. Quando uma gota de veneno se mistura a um prato de comida saudável, o veneno se sobressai. Lama misturada com sorvete estraga o sorvete, e não torna a lama apetitosa. Muitos condenam o idealismo, o radicalismo e a falta de pragmatismo. Acham que todos aqueles que desejam mais liberdade devem partir para a política e apresentar uma postura mais moderada. Enganam-se. Estão ignorando o poder das idéias. Os canhões podem depender de recursos materiais, mas para onde estes canhões estarão apontando depende apenas das idéias. Portanto, são esses os motivos pelos quais discordo de todos aqueles que pedem maior “flexibilidade” na defesa a liberdade ou sugerem a via política para mudar o rumo do país. Jamais subestimem o poder das idéias! Elas podem colocar todo um povo na direção correta da liberdade individual, ou elas podem lançar uma sociedade inteira no caos, como atestam as experiências socialistas.
“Não se entregue ao mal, mas continue com mais coragem contra ele.” (Virgílio)
Talvez a crítica construtiva mais comum que escuto dos leitores diz respeito ao meu “radicalismo”. Muitas pessoas gostam de boa parte das idéias liberais que defendo, mas acham que sou “extremista” demais, e que se eu fosse mais moderado conseguira conquistar mais adeptos. Essas pessoas pedem uma maior “flexibilidade” de minha parte. Vários perguntam se pretendo entrar para a política também, para sair do campo “apenas” das idéias e partir para a prática. Nesse artigo, pretendo explicar porque discordo de todos esses que pedem mais “jogo de cintura” ou minha eventual candidatura. Em outras palavras, farei uma defesa da pureza das idéias liberais.
Em primeiro lugar, é preciso derrubar o culto ao pragmatismo. Atualmente, quando escutamos que alguém é pragmático, isto soa como um elogio. Mas desde quando ser pragmático é uma virtude? O pragmatismo, não custa lembrar, defende que o sentido de tudo está na utilidade, no resultado. O efeito prático das ações é o que importa. Os fins justificam os meios. Os princípios morais cedem lugar ao relativismo moral. O pragmatismo é amoral. Pragmatismo nos remete a algo maquiavélico, lembrando que o filósofo Maquiavel escreveu praticamente um guia de sobrevivência e manutenção do poder para o príncipe. Ele afirmou que “um homem que queira fazer em todas as coisas profissão de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons”. Além disso, deu recomendações bem pragmáticas ao poderoso, lembrando que o conquistador deve executar as ofensas necessárias de uma só vez, e ganhar a confiança dos súditos através de benefícios feitos pouco a pouco depois. É curioso notar que o adjetivo “maquiavélico” adquiriu conotação negativa, enquanto “pragmatismo” é visto como algo bom.
Esta postura pragmática é contrária àquilo que John Stuart Mill defendeu: “A verdade de uma opinião faz parte de sua utilidade. Se quiséssemos saber se é ou não desejável crer numa proposição, seria possível excluir a consideração sobre ser ou não verdadeira? Na opinião, não dos maus, mas dos melhores, nenhuma crença contrária à verdade pode ser realmente útil”. Ou seja, falar em utilidade dissociada da verdade é oferecer um falso remédio, e quem oferece falso remédio é um falso amigo. O verdadeiro defensor da utilidade é aquele que prega o que entende como verdadeiro, e não o que se encaixa no pragmatismo do momento. Em O Homem Medíocre, José Ingenieros afirma, logo no começo: “Quando colocamos a proa visionária na direção de uma estrela qualquer e nos voltamos às magnitudes inalcançáveis, no afã de perfeição e rebeldes à mediocridade, levamos dentro de nós, nesta viagem, a força misteriosa de um ideal”. Quem deixa essa força se apagar, ficando simplesmente inerte, não passa “da mais gelada bazófia humana”. Para ele, “o ideal é um gesto do espírito em direção a alguma perfeição”.
Isso não quer dizer, em minha opinião, que seja louvável alguém sonhar qualquer sonho sem os pés no chão. Existem ideais e ideais. O socialismo é uma utopia, e como tal é inexeqüível. Mas, não obstante seus fins serem um pesadelo para todos aqueles que não se vêem como insetos gregários, sua grande falha está também no fato de suas crenças baterem de frente com a natureza humana. Ou seja, os meios pregados pelos socialistas levam inexoravelmente ao terror, miséria e escravidão. O socialismo é um ideal errado e que, além disso, ignora totalmente a realidade. Isso não quer dizer que devemos repudiar qualquer ideal. O liberalismo pode ser visto como um ideal também, no sentido de que defende uma ampla liberdade individual que ainda não existe. No entanto, além de ser um ideal desejável, ele pode ser também factível, pois não entra em confronto com nossa natureza. Pode até ser que em sua forma mais pura, o liberalismo seja um ideal inalcançável, mas pelo menos ele serve como a tal estrela que mostra o caminho a ser seguido. É fundamental não perder isso de vista, em troca das concessões pragmáticas do momento.
Uma vez identificado o ideal a ser seguido, resta questionar por que seria condenável ser “radical” na defesa deste ideal. Uma pensadora que sempre condenou este relativismo foi Ayn Rand, logicamente tachada de “extremista” por seus inimigos. O termo “extremismo”, para começo de conversa, é um termo que não tem significado algum se estiver isolado. O conceito de “extremo” denota uma relação, uma medida, um grau. Logo, parece óbvio que a primeira pergunta a ser feita é: Extremo em relação a que? Responder que é ruim um extremo em relação a qualquer coisa é absurdo, pois extrema saúde e extrema doença seriam então igualmente indesejáveis, extrema inteligência seria tão ruim quanto extrema burrice, e extrema integridade seria tão condenável quanto extrema perfídia. Seria o caso de se perguntar aos ditos “moderados” então: É igualmente indesejável ser extremamente honesto e extremamente desonesto? O “caminho do meio” faz sentido quando se trata da integridade? Quem responde que sim não pode estar do lado dos íntegros.
Outro grande pensador que não aceitou contemporizar com o inimigo foi Ludwig von Mises. Sua vida é a prova disso. Mesmo diante de todas as dificuldades imagináveis, fugindo do regime nazista, da guerra, sem conforto financeiro, Mises jamais aceitou jogar o jogo sujo da política, ceder ao que considerava falso apenas para alívio imediato. Mises acreditava muito no poder das idéias, pois entendia que os governos são sempre frágeis, já que dominados por uma minoria. Mudando as idéias abraçadas pelo povo, governos podem desabar rapidamente. Com esta crença inabalável no poder das idéias, Mises sabia que não poderia compactuar com aquilo que considerava falso. Ele poderia facilmente ter sido mais “flexível”, aceitando algumas concessões à mentalidade dominante da época, e teria tido uma carreira mais tranqüila. Mas não conseguiria dormir com sua consciência limpa dessa maneira, pois saberia que estaria dormindo com o inimigo. Mises não aceitou trocar a dignidade pela reputação, lembrando que dignidade é aquilo que pensamos de nós mesmos, enquanto reputação é o que os outros pensam de nós. Mises não estava em busca de aplausos da platéia, da bajulação dos colegas, do poder político, mas sim da verdade. Contemporizar com o mal apenas para obter mais adeptos é atitude de imorais em busca de rebanho de seguidores. É preciso integridade para enfrentar as adversidades que surgem quando alguém resolve contrariar os poderosos e o consenso do momento. E Mises tinha esta integridade, tanto que no auge de sua crise, disse se arrepender apenas dos momentos em que contemporizou demais, nunca quando foi intransigente.
Ainda dentro da Escola Austríaca, outro que compreendeu a importância da pureza das idéias foi Hayek. Para ele, os liberais devem ser capazes de apelar à imaginação, fazendo a construção de uma sociedade livre ser uma aventura intelectual, uma conquista da coragem. Hayek achava que os intelectuais liberais não deveriam ser demasiadamente práticos e também não deveriam confinar suas idéias àquilo que parecesse politicamente viável no momento. Deveriam, ao contrário, ser homens dispostos a se agarrar aos princípios e lutar por sua total realização, ainda que remota. As concessões práticas devem ser deixadas para os políticos. A batalha pela liberdade não estaria perdida, segundo Hayek, se fosse possível resgatar a crença no poder das idéias. Esta opinião de Hayek influenciou de forma crucial Antony Fisher, que desejava fundar um novo partido político depois de ler O Caminho da Servidão, excelente obra onde Hayek mostra que o aumento do poder político destrói a liberdade. Fisher foi convencido por Hayek a criar um “think tank” em vez de um partido, e assim nasceu o Institute of Economic Affairs, em 1955. As idéias divulgadas pelo instituto foram fundamentais para criar um ambiente favorável às reformas liberais da era Thatcher, anos depois. Sem uma mudança da mentalidade, essas reformas ou não seriam possíveis, ou não seriam sustentáveis.
Com isso, chego ao momento final de explicar porque não pretendo entrar para a política nunca. O meio político é o meio do pragmatismo, da amoralidade, dos fins que justificam os meios. Isso é inevitável, até porque para ser um grande senador, antes é preciso ser um senador. Isto exige votos de muitos eleitores, e acaba demandando um jogo sujo de promessas falsas, mentiras, jogo de poder, contemporização com inimigos etc. É preciso ter estômago, estar disposto a sujar as mãos e abandonar certos princípios. Além disso, não deixa de ser paradoxal alguém que pretende reduzir drasticamente o poder político buscar justamente o poder político para tanto.
Em minha opinião, respaldado por Mises, Hume e tantos outros, o poder político é mais frágil do que muitos acreditam. Creio que os próprios governantes sabem disso, e por isso buscam sempre toda forma de controle sobre nossas vidas. Mas no final do dia, eles conseguem se manter no poder somente com o respaldo de boa parte da população, mesmo usando aparatos de coerção. Afinal, os governados são sempre maioria. A manutenção do poder, portanto, depende das idéias disseminadas entre esta maioria. Isto foi verdade até mesmo para os regimes nazista e comunista. Maquiavel também tinha compreendido bem isso. O que precisa mudar são as idéias do povo. Os governantes sabem disso, e costumam encarar a liberdade de expressão com hostilidade. Aquele que ataca o governo deve ser visto como inimigo da pátria, do próprio povo. Há uma propaganda intensa para o culto à presidência, onde o governo é visto como uma espécie de deus. A própria pergunta que me fazem com freqüência, de quando pretendo me candidatar a algum cargo político, denota esta crença. A maioria, atualmente, acredita que o meio da nossa salvação é o meio político. Estão à espera de um messias salvador. Ainda não compreenderam de forma correta o poder das idéias. “Não há nada mais forte que uma idéia cuja hora é chegada”, disse Victor Hugo.
Acho bom que defensores da liberdade tentem atuar pela via política também, mas acho mais provável serem corrompidos do que mudarem o sistema de lá, do ninho das cobras. Prefiro atuar no campo das idéias, e de forma intransigente, radical, extremista. Quando uma gota de veneno se mistura a um prato de comida saudável, o veneno se sobressai. Lama misturada com sorvete estraga o sorvete, e não torna a lama apetitosa. Muitos condenam o idealismo, o radicalismo e a falta de pragmatismo. Acham que todos aqueles que desejam mais liberdade devem partir para a política e apresentar uma postura mais moderada. Enganam-se. Estão ignorando o poder das idéias. Os canhões podem depender de recursos materiais, mas para onde estes canhões estarão apontando depende apenas das idéias. Portanto, são esses os motivos pelos quais discordo de todos aqueles que pedem maior “flexibilidade” na defesa a liberdade ou sugerem a via política para mudar o rumo do país. Jamais subestimem o poder das idéias! Elas podem colocar todo um povo na direção correta da liberdade individual, ou elas podem lançar uma sociedade inteira no caos, como atestam as experiências socialistas.
FANTÁSTICO!
ResponderExcluirMagnífico artigo. Brilhante no úrtimo!
Já considero este o que mais importante, o mais absolutamente genial naquilo em que se pode desdobrar.
Dificil encontrar palavras para congratular-me com tão brilhante artigo. Este sim, é o caminho. A fibra, a firmeza, a lisura, a rigidez de principios, a consciencia de agir segundo aquilo que sabe julgar e diferenciar do errado. É a pujança moral que falta àqueles que sinceramente defendem a liberdade como principio, a defesa da liberdade igual para todos, dado que todos naturalmente possuem o mesmo direito, sendo este o principio inviolável da justiça.
É preciso orgulho do que se é para não se curvar a pragmatismos, até pretensos, ou a achismos convenientes.
O orgulho individual que conduz a um comportamento rigorosamente em conformidade com o reconhecimento do certo e errado.
Antes a opinião sincera que de nós não podemos esconder, do que a opinião alheia que pode ser manipulada por aparências. Quem dá mais valor a opinião alheia, a um artificialismo moral do grupo, é alguém que se permite tudo, desde que ninguém esteja vendo. Afinal, o fato de ele mesmo ver não lhe diz nada, já que interessa-se pela opinião alheia sobre si e não pela própria.
Magnífico artigo, perfeito, grandioso em seu imenso significado.
Abraços
C. Mouro
Parece-me que foi apresentado acima uma concepção deturpada do que seja pragmatismo.
ResponderExcluirSer pragmático é avaliar uma idéia pelos seus resultados,e não a priori,platonicamente.Esse idealismo platonico pressupõe um "Mundo das Idéias" transcendente ,independente deste nosso mundo real.É o resultado da crença no "espírito".
Ser pragmático é avaliar uma árvore pelos seus frutos.Assim sendo,jamais maus meios poderão produzir bons fins,senão apenas de modo aparente,porém falso.
Muito bom. Continue assim.
ResponderExcluirCostumo dizer que o problema do Brasil são os princípios e valores da maioria das pessoas. Para melhorar o País, anter de mais nada, tem que trabalhar muito o campo das ideias.
Pragmatismo é, em sintese, o desprezo por principios; é a flexibilidade moral/ética em nome de alegados fins compensadores. Assim, um pragmático desdenha de quem segue rigidamente sua consciência, dizendo-o um sonhador em sentido pejorativo. Como se não um indivíduo de principios rígidos e bem fundamentados realisticamente, mas como um utópico desejoso de impossibilidades meramente fantasiosas.
ResponderExcluirEnfim, o pragmático submete o certo e o errado àquilo que alega compensador. Desta forma um corrupto desdenha do indivíduo reto:
"és um sonhador, o mundo real é assim. A tua honestidade não te levará a nada"
Ele está invocando a prática como realizadora e desdenhando da teoria que percebe a lisura como comportamento superior àquele que proporciona vantagens. Ou seja ele está dizendo que o que importa é a "praxis", alegando que o julgamento teórico é bobagem por não ter garantia de realização. Assim, aquilo que alega ser uma realidade mais fácil de obter, até sob alegação de pela prática chegar ao objetivo teórico, é o que importa em vez de "sonhos utópicos", deturpando a idéia de teoria induzindo a que seja fantasia.
Digamos, um exemplo de pragmatismo seria alguém que defende a liberdade se misturar a marxistas/socialistas proferindo discursos populistas a fim de conquistar votos. Diria o pragmático então: "de que adianta defender idéias liberais se o povo não as deseja ou entende, isso é um sonho que não leva a nada".
Pragmático é aquele que defende a praxis como legitimadora, desprezando a teoria que analisa e julga para determinar o comportamento certo e o errado.
Abraços
C. Mouro
Aliás, o pragmático é aquele que afirma não haver direito onde não houver garantia. Esquecendo que o direito existe, mesmo que não se concretize, ainda assim será direito do indivíduo.
ResponderExcluirEssa idéia de praxis leva a confusões, pois legitima certos achismos que pelo Poder se tornam prática.
Ou seja, para o prático, se não se realiza na pratica, então não existe.
São muitos os práticos de tal naipe.
Abraços
C. Mouro
Excelente, Rodrigo. Subscrevo todo o artigo, tim tim por tim tim.
ResponderExcluirOs comentários do Mouro também acrescentam muito ao blog.
Ab
Sol
Excelente. Ficou muito bom mesmo. Acho até um artigo definitivo. Nunca mais será necessário justificar sua posição em relação a política e aos princípios liberais.
ResponderExcluirAristóteles dizia que o homem é um animal político. Já eu acho que todo político é um animal... Parabéns!
parabéns.
ResponderExcluir99% dos que participam do debate público ou dos vendem idéias, ou não entendem nada de método científico e filosofia da ciência - ou seja, a base para entender exatamente o que estão debatendo/vendendo, ou então tem uma pequena noção mas refugiam-se no pensamento coletivista típico brasileiro.
O restante 1% dos que entendem, pensam de verdade e por conta própria e acham tudo o que está aí uma palhaçada ou hipocrisia deslavada, preferem não se misturar com a lama do chiqueiro.
Excelente artigo!!!
ResponderExcluirUma resposta a altura a seus criticos de plantão, aqueles que só sabem "atirar pedras" e parecem não ter a capacidade e a clareza de pensamentos de homens capazes e que possuem a coragem de expor idéias sinceras e não desvirtuar de seus ideais apenas por ocasião e pragmatismo.
Grande Rodrigo,
ResponderExcluirMuito bom esse artigo. As críticas por ser extremista são feitas por amantes da doutrina do sacrifício individual. Para eles, que sabem que estão errados, conseguir que alguem abra mão de suas convicções para encontrar um ponto comum, é lucro, visto que eles apenas ganham.
Ayn Rand falou que qualquer mistura entre veneno e comida, tem apenas a morte como resultado final. Continue assim, defendendo seus princípios e nunca os compromentendo.