quinta-feira, outubro 29, 2009

A Entrevista de Armínio



Rodrigo Constantino

O jornal Valor Econômico publicou hoje (29/10/09) uma entrevista com Armínio Fraga que merece ser lida com atenção. Nela, o ex-presidente do Banco Central afirma que “é preciso reestatizar o Estado”. Em outras palavras, Armínio está lutando contra o patrimonialismo que representa o câncer na política nacional. Uma patota chega ao poder e “privatiza” o Estado para si, locupletando-se através da “coisa pública”. O governo atual parece mais faminto que o de praxe, e Armínio se mostra preocupado com a “postura agressiva” do governo Lula na ampliação da presença do Estado na economia.

Naquele que talvez seja o principal trecho da entrevista, Armínio vai direto ao ponto: “Vejo com preocupação a sensação de que o Estado passou a servir a interesses partidários, às vezes ligados ou à política ou a interesses privados, sindicais. Esses sinais não são de agora. Começaram bem antes da crise, com as tentativas de controlar a imprensa (com a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo), os meios eletrônicos (tentativa de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual). Defendo uma reestatização do Estado”.

Como homem público, Armínio deve sempre pesar bem suas palavras. Além disso, ele conhece os inimigos da liberdade, a esquerda organizada que busca rotular as pessoas e impedir um debate sério calcado em argumentos. Dito isso, sua entrevista merece aplausos, pela coragem de tocar na ferida, de chamar a atenção para a ameaça que o governo tem representado para a liberdade econômica. Armínio está condenando abertamente a tentativa do governo Lula de partir para uma receita já testada e comprovadamente falida, ou seja, transformar o Estado num agente executor, empresário. Outros empresários deveriam seguir o exemplo e tomar coragem para atacar esta postura também, que representa um enorme perigo para nossas liberdades.

Entretanto, dois pontos merecem ser criticados na entrevista. Em primeiro lugar, Armínio tenta evitar a dicotomia entre Estado máximo e mínimo, alegando que ninguém defende o último: “Nunca ouvi falar em alguém que defenda o Estado mínimo”. Como assim? Armínio precisa escutar melhor. Entendo sua postura pragmática aqui, evitando o rótulo de liberal que a esquerda, de forma pérfida, usaria para encerrar o “debate”. Basta vestir alguém com o manto de “defensor do Estado mínimo” para jogá-lo no ostracismo e fugir de seus argumentos. Mesmo assim, entendo que é saudável se manter fiel aos conceitos condizentes com os valores defendidos. Os liberais não deveriam ter medo ou vergonha de se assumirem como tal.

Em segundo lugar, Armínio contemporiza com a esquerda no final da entrevista de forma condenável, aceitando a versão mentirosa da história nacional. Ele diz: “É curioso ver que muita gente que hoje está no governo, que fez oposição heróica contra a ditadura e na época também defendia, de certa maneira, reestatização do Estado, hoje olha para trás e se identifica com muita coisa da época da ditadura”. Como assim “oposição heróica”? Essa gente lutava por outra ditadura, aquela que até hoje existe em Cuba, e que seu colega Chávez tenta impor na Venezuela. Aceitar sem protesto essa inversão histórica foi uma concessão que Armínio não deveria ter feito. Claro que muitos hoje no governo se identificam com várias coisas da época da ditadura. Eles sempre lutaram pelo poder, e quanto mais concentrado este fosse, melhor. A esquerda não queria “reestatizar” o Estado, e sim tomá-lo na marra.

Não obstante essas duas falhas que destaquei, considero importante a entrevista de Armínio, e recomendo sua leitura na íntegra.

11 comentários:

  1. Se a União fosse apenas inútil, já justificaria extingui-la. Mas ela, além de inútil, só gera retrocesso, atraso, decadência moral, corrupção, burocratoparasitismo. Afasta da comunidade o poder decisório sobre seus destinos - acarretando uma sociedade sem intimidade com a decisão, e o extremo disto é a marginalização. Acredito que essa mencionada “Res pública” tenha sido proclamada sob o estigma da Monarquia, que preservava o território unido. Mas hoje esta reminiscência monárquica com raízes no Brasil colônia já não faz sentido.

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  2. Compreendo que o Sr. Armínio falou em "heróica" apenas no aspecto dos esforços e riscos a que se expuseram os opositores da ditadura, não aos valores de "boa" ou "ruim" que ela representasse.
    Quanto ao "estado mínimo", esse realmente não existe na história universal. NUnca existiu. Existe, em regra, alguns casos em que as funções do Estado, ou parte delas, passa para meia dúzia de particulares. Ele tem razão.

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  3. Vou apontar uma terceira falha na manifestação do Sr Armínio. Não vamos confundir um movimento político articulado, com objetivos determinados e com sintonia "bolivariana" com uma "PATOTA" casual.

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  4. E virão com a cascata da "heroína Dilma" na eleição do ano que vem, não percam por esperar.

    Tmb na minha opinião ela era só uma baderneira fazendo o meio de campo de uma disputa ideológica idiota e sem sentido. Se a gente vê o absurdo que foi a disputa leste-oeste, as barbaridades que esta encenação feita pelo lado ruim da humanidade justificou no planeta interio, vê que os idiotas que quebraram vidraças e chutaram latas de lixo pelas ruas, de madrugada, e que fizeram onda de "revolucionários" a partir de acampamentos de pseudo-escoteiros e buracos no meio do mato não foram nada mais do que fantoches da farsa ridícula.

    Estes baderneiros têm ainda o agravante de se mostrarem extremamente ladrões. Conclui-se que não estavam por liberdade coisa nenhuma. Estavam visando o poder, com o objetivo único e direto de roubar em escala oficial.

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  5. Ora, fejuncor, a que você atribui o fato de, no mundo inteiro, as pessoas jovens resolverem chutar latas de lixo e quebrar vidraças?
    Esse movimento foi testemunhado por quem? Onde? Essa disputa leste-oeste de que você fala, aconteceu no seu bairro? (Que cenário esquisito!!!).

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Eu particularmente atribuo a ânsia por viver uma vida fausta às custas do burocratoparasitismo – ou, no caso da ingenuidade estudantil, prolongar uma das melhores fases da vida, onde não assumimos responsabilidade porque o governo fornece aquilo que se precisa. Diferencia-se nesses poucos aspectos pontuais, mas na essência, tudo sempre se resume a isso.

    Não se pode transitar pela política sem ter uma bandeira ideológica qualquer. Então os caras, espertos, pegam uma bandeira como esta do "socialismo" e saem fazendo discurso. É só fachada. No fundo o objetivo é roubar. Como alguém já obesrvou: "Todo socialista deseja que o SEU socialismo seja eterno."

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  9. Sou defensor do estado mínimo, claro. Vamos tentar absolver o Armínio e assumir que ele é a favor do Estado Mínimo na teoria, mas na prática defende que ele é utópico.

    Assim como viver num mundo onde só haja pessoas boas, viver num mundo onde o governo se limite há um mínimo seria sonhar demais.

    Alguns anarquistas são anarquistas por acreditar que qualquer governo mínimo naturalmente evolui em direção a um máximo. É complicado.

    Talvez teremos que analisar a história para entender se isso é possível no Brasil ou apenas um sonho impossível.

    Existe algum exemplo no mundo de um governo máximo como o Brasileiro que virou mínimo sem derramamento de sangue?

    Sou contra qualquer tipo de revolução pela força. Pergunto por curiosidade mesmo. Para ter esperança que isso um dia seja possível de forma pacífica e democrática.

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  10. Arminio acabou de dar uma entrevista a Miriam Leitao dizendo-se de centro-esquerda.

    Ou realmente é esquerdista, ou então vendeu sua alma a hipocrisia da propaganda politiqueira, aquela politica menor, mentirosa.

    De toda forma, desabou no meu conceito, e creio que no de 99,9% dos liberais.

    Me parece cada vez mais vendido, dizendo que a crise foi devido a politicas liberais e falta de regulação do mercado.

    Lamentável homens inteligentes descerem ao ponto que desceu o Arminio.

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  11. Um homem de confiança do Soros é previsivemente um esquerdista. qual a surpresa?

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