sábado, dezembro 26, 2009

A Deusa do Mercado



Rodrigo Constantino, para a revista Banco de Idéias do Instituto Liberal

Quase trinta anos após sua morte, Ayn Rand continua atual, e a venda de seus livros disparou com a recente crise financeira. Muitos acreditam que Atlas Shrugged foi um livro profético, antecipando a socialização dos Estados Unidos. Historiadores têm mostrado interesse na vida desta influente pensadora. O livro Goddess of the Market, de Jennifer Burns, faz um excelente relato da trajetória de Ayn Rand. O que emerge é um ser humano com suas falhas e contradições, como não poderia deixar de ser. Afinal, os heróis criados em suas novelas eram arquétipos do “super-homem” nietzschiano, e ninguém poderia esperar que a própria Ayn Rand fosse como John Galt.

O que Burns mostra de forma interessante é como a história de vida de Alisa Rosenbaum ajudou a moldar Ayn Rand. Sua experiência na Rússia comunista, o ataque bolchevique à fábrica de seu pai, o uso da força contra sua propriedade e seus direitos mais básicos, e tudo isso embalado com uma linguagem altruísta, exerceu profundo impacto em suas idéias. Rand construiu um edifício ideológico calcado na lógica individualista, que não permitiria brechas aos inimigos coletivistas. Para agravar a situação, ela foi viver nos Estados Unidos justamente numa época em que inúmeros intelectuais americanos admiravam a experiência soviética, em parte por ignorância. Ayn Rand sabia melhor, e não iria tolerar nenhum tipo de contemporização com o mal. Ela seria uma radical na defesa do capitalismo.

A filosofia de Ayn Rand, o Objetivismo, foi moldada sob a influência de pensadores como Aristóteles, Isabel Paterson e Rose Wilder Lane. Com o tempo, Ayn Rand alegou total originalidade em suas idéias, e descartou quase toda influência que teve em vida. Seu sistema era absoluto e fechado, derivado da razão universal, da existência de uma realidade objetiva. A partir de certos axiomas, toda uma filosofia seria desenhada, não permitindo espaço para contradições. No entanto, algumas contradições já saltavam aos olhos, pois Ayn Rand era uma racionalista que escrevia ficção romântica, e apesar de tanto enaltecer a razão, era uma mulher claramente sujeita ao impacto de fortes emoções. Ela era humana, demasiada humana.

Nada disso anula o valor de suas idéias na defesa do individualismo. Rand criou personagens que ajudaram na distinção entre indivíduos independentes e aqueles parasitas que ela chamava de “canibais morais”. Seu ataque ao coletivismo passou a ser cada vez mais um ataque ao altruísmo, entendido como um sacrifício individual em função do “bem-geral”. Rand passou a pregar as virtudes do egoísmo, o direito de cada indivíduo viver para satisfazer seus potenciais e interesses, em vez de ser um escravo dos demais. Ela defenderia o capitalismo com bases morais, não com argumentos utilitaristas. Rand acreditava muito no poder das idéias, e sabia que somente através de sólidos princípios o capitalismo teria uma chance. Os empresários não deveriam mais pedir desculpas por seus lucros. Lucrar não era vergonha alguma, e não deveria ser justificado com base no utilitarismo. O lucro era o resultado de mentes independentes que tinham total direito sobre aquilo que construíam.

Ayn Rand foi uma pessoa excêntrica. Não era fácil lidar com ela, e vários amigos descobriram isso com o tempo. O uso constante de anfetaminas não deve ter ajudado. Ao decorrer dos anos, ela foi se tornando mais intransigente e arrogante, alimentada pela reverência do grupo de seguidores liderado por Nathaniel Branden. Rand acabou criando uma espécie de seita, onde ela era uma figura autoritária. Não obstante tais contradições, seu legado foi fundamental para o avanço do movimento libertário nos Estados Unidos. Não é preciso abraçar dogmaticamente todas as suas idéias para dar o devido valor ao individualismo e à razão que ela tanto ajudou a enaltecer. Nesse sentido, ela de fato merece todo reconhecimento por parte dos defensores da liberdade individual.

23 comentários:

  1. Acho oportuno trazer Ayn Rand para discussão. O capitalismo precisa sobreviver em bases filosóficas e não somente em bases utilitárias. A pequena intelectualidade, funcionários, professores, procuradores, gente despregada da realidade da luta pelo ganha pão diário, precisam de elementos teóricos para cooptar.

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  2. pros espíritos livres:
    http://freenetproject.org/index.html

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  3. O que Rand pregava era a simplicidade da propriedade. Nada quero de ninguem que nao me seja dado por livre opção. nada devo a ninguém a não ser que seja por minha livre escolha.

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  4. “super-homem” nietzschiano? Essa é uma concepção simplista e errada para Übermench.

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  5. Deveria escrever só sobre o setor financeiro. Quando sai disso é um terror! Atropela tudo.

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  6. Zeca, seja bem-vindo para apresentar ARGUMENTOS. Apenas atacar dessa forma não vai levar a lugar algum.

    Eu li todos os livros de Ayn Rand, vi os filmes, tenho um livro escrito sobre ela, li vários livros de Nietzsche, e acho que sei um pouco sobre o que estou falando. Se vc quer debater o conceito exato do termo alemão, tudo bem. Vou poder aprender algo novo. Mas que John Galt representa em boa parte a idéia de "super-homem" nietzschiano, parece bem evidente. Ayn Rand sofreu forte influência de Nietzsche.

    Rodrigo

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  7. "Ayn Rand sofreu forte influência de Nietzsche.", ok. Agora, um "super-homem" nietzschiano não existe. O Übermench é um Além-do-Homem. Entende? Não é um homem melhorado e nem uma evolução do homem. O termo "super-homem" é errado. Parece pouco, só um detalhe, mas confunde a verdadeira idéia.

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  8. Zeca, John Galt também não existe, não é um homem, mas um arquétipo, um ideal de homem. Acho que ela pegou isso de Nietzsche sim. Entendo que vc não goste de "super-homem", mas não vejo onde essa tradução estraga o artigo.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Além-do-Homem, consegue imaginar? Então está errado! Entendeu? Xí!!!!

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  11. Já disse: Übermench não é um ideal de homem. Ele está inserido em outra ética. Teoricamente não podemos imaginá-lo, nem como arquétipo. Nem você, nem Rand, nem Nietzsche. E um Além-do-Homem. É outra cosmologia. Veja Rand na literatura e só.

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  12. Eu adoro essas coisas.Meu negócio é X, X é lindo, o paraíso na terra.Só que eu nao posso mostrar X, nao posso descrever, nao posso nem imaginar.
    As " ciências " humanas são uma maravilha, parece conversa de político.

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  13. Considerando que ela foi influenciada por Nietzsche, aclara-se, de certa forma, uma razão para a extrema contradição entre sua defesa da liberdde e seu comportamento autoritário.

    Não sou nenhum grande conhecedor do assunto, mas o filosofo enlouquecido tinha uma grande fixação pelo assassinato sem motivo, segundo ele, o ato mais libertário. Ocorre que o assassinato sem motivo é o roubo supremo, roubar a vida de outro na vã tentativa de dar algum significado à minha própria.

    Ela tentou basear uma doutrina de liberdade no pensamento de alguém fixado no roubo. Precisa-se de mair coerência que isso para enfrentar as hostes do totalitarismo.

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  14. Ainda é um aprendiz mesmo. Não entendeu nada!

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  15. Samuel, penso que o capitalismo não deverá sobreviver. A página modernista que lhe deu vida extá sendo passada, sem saudades.

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  16. 'Samuel, penso que o capitalismo não deverá sobreviver. A página modernista que lhe deu vida extá sendo passada, sem saudades'

    Com certeza, Venezuela que o diga, tem que ficar inventando besteira de guerra pro povo nao ver a lama em que se atolou

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  17. ntsr, o paralelismo que você estabelece em relação ao capitalismo e a antítese que a Venezuela representaria demonstram que você nem sabe exatamente o que é o capitalismo.

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  18. Rodrigo, não lí a obra da Sra. Rand, mas dá para perceber o quanto ela era egoísta, autoritária e amarga. Esses valores, para mim, não são positivos. Gente assim produz "bolcheviques" e revoltas. São os pais de gente assim que constroem fábricas às custas da exploração dos outros e depois as perdem, pensando que foram injustiçados. Há maneiras de crescer com e na sociedade de humanos. Humanos legítimos.

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  19. Everaldo, se você não leu não pode opinar.

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  20. Zeca

    Pois queira escalrecer, então. Como eu disse não sou especialista nenhum. O pouco que lí do filósofo maluco, entendi assim.

    Quanto ao Everardo, não tenha esperança. Se aparecer outro Stalin, haverá milhões de Everardos para apoia-lo. Imagine alguém que tenha crido em TODAS as mentiras que já tenha ouvido da boca dos intelectuais orgânicos e professores engajados. Esse é o Everardo.

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  21. Zeca, eu não comentei a obra, apenas o "post". É ele que diz que ela passou a ser intransigente e arrogante, pregando o egoísmo. Aplicando a sua lógica ninguém poderá comentar o que os analistas dizem das obras alheias sem que leia, primeiro, essas obras. Seria assim?

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  22. Quer dizer, então que, antes de comentar um post do Rodrigo voce ja leu o foi ler todas as obras que ele cita no artigo, Zeca?

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