Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quinta-feira, janeiro 28, 2010
A Bajulação Corrompe
Rodrigo Constantino
“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)
Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade pode nos causar. Gostamos de elogios, mesmo os insinceros, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas duras. O auto-engano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: “o enganador auto-enganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com toda a inocência e boa-fé do mundo. Assim fica mais fácil convencer os demais.
Justamente por conta disso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram mais poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência do povo e, como Cassandras, fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de messias salvador, o governante populista pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.
Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, fez um alerta desse tipo: “Nas cortes de príncipes, nos salões dos grandes, onde sucesso e privilégios dependem, não da estima de inteligentes e bem informados iguais, mas do favor fantasioso e tolo de presunçosos e arrogantes superiores ignorantes; a adulação e falsidade muito freqüentemente prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir”. Quando o mais importante na vida de alguém é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade.
Poucos negariam que a situação brasileira se aproxima deste cenário preocupante. A popularidade do presidente Lula está nas alturas, a imprensa parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele, os intelectuais o tratam com incrível condescendência, e até mesmo um filme foi feito para o “filho do Brasil”. Como diz o editorial do Estado de São Paulo hoje (28/01/2010), há uma espécie de “salvo-conduto que lhe permite, diante dos mais diversos públicos, trafegar sem restrições pelos mundos da retórica, dizendo uma coisa e o seu contrário, construindo verdades de ocasião e exercendo, como já se apontou, o seu notável talento para a quase-lógica”. O presidente adquiriu uma imunidade que nenhum outro cidadão teria em seu lugar. Qualquer outro seria julgado de forma severa por aquilo que Lula diz sorrindo. Há um “efeito Teflon” quando se trata do presidente, já que nenhuma sujeira gruda em sua pessoa.
O problema é que essa bajulação toda ajuda a despertar a megalomania do presidente, alimentando sua vaidade de forma incrível. O poder corrompe, e o excesso de poder concentrado em alguém vaidoso e popular corrompe ainda mais. Nunca antes na história desse país um presidente contou com tanta indulgência dos críticos. Lula está perdoado por qualquer pecado antes mesmo dele acontecer. Ele pode se aliar aos mais antigos caciques da política, beijar a mão deles, rir enquanto afirma ser aquilo uma aula de como se fazer política, e tudo é perdoado pelo povo. Ele pode aderir às piores práticas da política nacional, passar a mão na cabeça dos réus de formação de quadrilha do seu partido, que poucos terão coragem de subir o tom das críticas. Se se trata de Lula, então é tudo parte do “jogo democrático”. Cristo teria que se aliar a Judas para governar o Brasil, não é mesmo?
“O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”, disse Norman Vincent. O antídoto, Schopenhauer já havia dado: “Os amigos se dizem sinceros; os inimigos o são; sendo assim, deveríamos usar a censura destes para nosso autoconhecimento, como se fosse um remédio amargo”. O presidente Lula precisa escutar com mais carinho os seus críticos. Até porque, nesse caso, quem pode ser arruinado não é apenas o presidente, mas todo o povo brasileiro.
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ResponderExcluir"a imprensa parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele"
ResponderExcluirEu não sei o que você anda lendo por aí, mas a Veja, por exemplo, não poupa críticas em relação ao Lula, às vezes de uma forma grosseira e infantil, inclusive.
Mas eu concordo sim com você. Eu votei no Lula na primeira vez, com a esperança de que ele se mantivesse firme aos ideais que um dia ele defendeu. Entretanto, hoje ele está na mesma lama em que a imensa parte dos políticos brasileiros se encontra. E no fim só sobra pra nós mesmo, brasileiros…
Seria interessante você tomar como exemplo o Governador de São Paulo, José Serra. Ele também parece ser intocável. Nenhuma crítica sobre ele é vista em canais de TV importante. E percebo mais o efeito Teflon em Serra que em Lula.
ResponderExcluirSaiu na Economist uma matéria sobre poder/corrupcao :
ResponderExcluirhttp://www.economist.com/sciencetechnology/displaystory.cfm?story_id=15328544
Lailson, a Veja é um dos únicos veículos sérios que restou, e não por acaso alvo dos ataques mais virulentos dos petralhas. É uma revista muito lida, mas mais focada na elite. O que chega para o povão, chega filtrado.
ResponderExcluirClaudio, eu detesto o Serra, mas se ele dissesse METADE das coisas que o Lula diz, ele seria execrado por todos!
A Veja é a única revista de direita do país. Existe alguma outra? Povão não lê a veja, não tem vocabulário pra isso.
ResponderExcluirVeja que é interessante para a esquerda manter o povo na ignorância. Povo inteligente nunca votaria no PT por exemplo. O problema é que realmente não tem partido liberal nenhum no Brasil. Esse país está na mão dos políticos. Leiam o meu blog: http://www.opoderprimario.com.br
A Veja um veículo sério? Seria se assumisse sua parcialidade. Aliás, no Brasil nenhum veículo de comunicação é sério. Todos são parciais, mas ninguém assume suas posições abertamente.
ResponderExcluirSeria muito mais simples e transparente se todos assumissem suas posições ideológicas, que deveriam ser explícitas nos editoriais, repetidos em cada número, em cada programa e não ficarem se colocando como imparciais. Ao fazerem isso só perdem credibilidade.
Por que não o fazem? Por acaso tem vergonha das suas posições?
Falando em Economist, publicaram um artigo muito pertinente sobre a ausência de liberalismo no Brasil: http://www.economist.com/node/15393723
ResponderExcluir“o enganador auto-enganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”.
ResponderExcluirA principal ferramenta esquerdista. A enganação geral. Até deles mesmos. É uma psicose proposital.
“O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica”
Perfeitamente. Uma vergonha. Devemos sempre nos avaliar nessa questão.
Foi justamente a imprensa, que teve seus jornalistas e repórteres endeusando o sindicalista nos anos 77/78, que engordou esse animal que vemos rosnando no governo.
ResponderExcluirE, espantosamente - repito pela milionésia vez - essa mesma imprensa náo divulga nem comenta coisa alguma sobre o passado de sua candidata Dilma.
Fico revoltada com as tentativas de L.I. (o presiMente) impor a censura, mas no fundo (nem táo lá no fundo assim) sinto um certo prazer em ver o perigo de alguns jornais serem calados. Correm o risco de ser devorados por quem alimentaram.
Ju
Jurema, uma das formulas mais eficientes de se impor censura em um país capitalista é o direcionamento dos "patrocínios" do governo e das estatais. Mas, não pense que os empresários poderosos também não utiliam método semelhante, concentrando seus recursos de publicidade na mídia que lhe interessa. Nesse tiroteio, você nunca sabe se uma revista está bajulando ou batendo por causa da generosa presença ou da ausência dos "patrocínios". Outras coisa: voc~e não critica os atos do Presidente. Você tem ódio pessoal ao Lula. Lendo os seus comentários, a gente pensa logo que há interesse pessoal contrariado ou é puro atavismo.
ResponderExcluirEverardo, você tem razão quanto a forma de impor censura através do patrocínio, mas isso não impede que governantes tentem calar por meios ditatoriais.
ResponderExcluirEm relação às críticas que faço mais ao L.I. do que a seus atos, admito que tomei horror - pavor seria mais adequado - a ele. Não por interesse pessoal contrariado
ou atavismo como pode parecer.
Li diversos livros sobre ele. E ele concentra tudo o que há de pior numa pessoa, ao menos para mim. É oportunista, falso, hipócrita, mentiroso , gosta de humilhar os subordinados (isso é intolerável), e vem se tornando um megalômano cada dia mais doentio. Considero o autoritarismo de Luís Inácio um perigo.
Na época de Hittler não havia os meios de comunicação de hoje. Provavelmente o teriam impedido de fazer muita coisa. Mas L.I. passa por cima do TSE, do TCU e de tudo o que estiver à sua frente.
Se quiser exemplos que comprovem as 'qualidades' citadas acima, prometo listar uma por uma.
Qual será o assunto do seu blog?
Um abraçao, Ju
Não obstante o fato do povo "querer" acreditar nisto, alimentar essa esperança de um mito, ainda confunde carisma pessoal do presidente com aceitação de governo. Típico de uma democracia pouco madura.
ResponderExcluirEverardo. gostei do "o tenho como presidente e não como colega de trabalho". Quase me vi trabalhando com capacete na cabeça e furadeira na mão.
ResponderExcluirEstá se tornando difícil separar o presidente do indivíduo, até porque L.I. usa constantemente a primeira pessoa em seus discursos (é o 'eumismo', criado por ele). Só se refere ao governo, com espantoso distanciamento, quando alguma coisa dá errada e ele critica o próprio, como se não fosse o presidente (realmente espantoso!)
Votei nele na primeira vez. E não me conformo por minha irresponsabilidade. Deveria ter me informado antes de escolher gato no lugar de lebre. Fui desleixada. Quem sabe minha revolta seja contra mim mesma?
Um abração, Ju