Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
sexta-feira, janeiro 15, 2010
Reflexões sobre a tragédia haitiana
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Em Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith imagina a reação de um humanitário a um terremoto que devasta a longínqua China. Ele iria expressar intensamente sua tristeza pela desgraça de todos esses infelizes. Faria “reflexões melancólicas sobre a precariedade da vida humana e a vacuidade de todos os labores humanos, que num instante puderam ser aniquilados”. Mas quando toda essa bela filosofia tivesse acabado, “continuaria seus negócios ou seu prazer, teria seu repouso ou sua diversão, com o mesmo relaxamento e tranqüilidade que teria se tal acidente não tivesse ocorrido”.
Em contrapartida, o mais frívolo desastre que se abatesse sobre ele causaria uma perturbação mais real. Uma simples dor de dente poderia lhe incomodar de verdade mais que a ruína de dezenas de milhares de pessoas distantes. Em suma, o homem é mesmo um ser voltado para si próprio. Partir de uma premissa diferente, do “novo homem” totalmente abnegado e altruísta, voltado para o “bem-geral”, costuma levar a crenças totalmente contrárias à natureza humana, com resultados catastróficos. O experimento socialista foi todo calcado nesta premissa ingênua, e deu no que deu: miséria, terror e escravidão.
Outra reflexão que surge após a desgraça no Haiti é de cunho metafísico. A natureza é indiferente ao homem; ela não costuma ligar para seus anseios e preces. Parece brincadeira de mau gosto atribuir a algum desígnio sobrenatural tamanha desgraça. Tragédias naturais simplesmente acontecem. O homem tenta buscar um sentido para elas, mas a verdade é que a natureza é hostil mesmo. Jules Renard disse: “Não sei se Deus existe; mas seria melhor para sua reputação que não existisse”. De fato, o mundo parece um lugar estranho para ter sido concebido por um ser perfeito, ao menos para os padrões humanos...
Por fim, resta constatar que maior do que a desgraça natural é sempre a desgraça humana. O Haiti é miserável, e isso é obra de seres humanos, não da natureza. Os efeitos calamitosos do terremoto foram drasticamente ampliados por causa da miséria local, da falta de infraestrutura, de um governo corrupto. Ajudas humanitárias acabam se perdendo no mar de corrupção da ilha. Fica o alerta: governos ruins podem causar mais estrago do que terremotos.
O Haiti é a verdadeira visão do inferno. O Taiti é um verdadeiro paraíso. Quanta diferença uma letra pode fazer!
Falei exatamenteo sobre isso no meu blog. Como fica os religiosos que acreditam num Deus intervencionista numa hora dessas. O nosso mundo é governado pelo ACASO. Shit happens, infelizmente: http://soliveirajr.blogspot.com/2010/01/um-mundo-governado-pelo-acaso.html
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ResponderExcluirUm Deus intervencionista é uma idéia de Deus baseada nas principais religiões cristãs, como por exemplo, as igrejas em geral. Já leram o que outras religiões imaginam de Deus? O Espiritismo, por exemplo, dá uma explicação pra tais fenômenos bem mais lógica e que não exclui o papel da natureza. Para algumas religiões não existe um Deus velhinho, de barba branca e que faz acontecer as coisas ao seu bel prazer. Algumas religiões crêem que Deus (algo que ainda não possuímos capacidade intelectual para conceber uma definição) como uma inteligência lógica que criou leis (leis da física, química, biologia, espirituais e etc.) que regem o universo e que, através dos acontecimentos do mundo e do universo, são colocadas em prática. Pra mim, uma coisa não exclui a outra. Mas é apenas a minha fé. =]]
ResponderExcluirAcho que de um modo geral o problema das religiões é o problema dos homens. Por serem moralmente imperfeitos e suscetíveis a cometerem erros, essas características acabam sendo vistas em todas as atividades humanas, inclusive na religião. E junta isso a um contexto onde a exploração das massas menos esclarecidas é viável, temos o que acontece em algumas regiões do mundo.
Abraços
Exato, Gabriel. Por isso que me considero agnóstico deísta, que apesar de parecer uma contradição, não é. Google it...
ResponderExcluirÉ um país que devorou a si próprio.
ResponderExcluirRodrigo, vc acha que as coisas são tão simples assim? Com tão poucas variáveis? Creio que o assunto Haiti merece uma análise bem mais do que perfunctória! E falar sobre Deus exige muito mais explicações, muitas mais.
ResponderExcluirUma grande parte da humanidade entrega-se à tutela divina, de forma egoísta, como quem faz um plano de assistência privilegiado. Quem faz assim, sente-se traido ou abandonado diante de tragédias como essa. Mas, o erro está na tutela pretendida, a cara do egoísmo humano.
ResponderExcluirFoda que até o renascer daquela sociedade parece difícil, privada de forças produtivas e criativas. Indicadores estruturais desoladores. Analfabetismo em 60%, esperança de vida nos 59 anos, terras férteis, antes a base de tudo que havia – o setor primário - foram esterilizadas por queimadas. Nem a extração de madeira é mais possível visto que pouco sobrou: hoje a floresta ocupa menos de 2% do território. Foram décadas de Guerra Civil.
ResponderExcluirAlém da ausência de economia no Haiti como todo mundo sabe, a ajuda internacional responde pela maior parte do PIB, ou seja, eles vivem literalmente de esmolas, o que mais faz falta ao lugar também não é governo, é política.
Centenas de escravos libertos perambularam pelas ruas das cidades no Brasil, até que a tuberculose ou a fome o matasse. Pássaros de gaiola quando soltos saem em desvantagem, com muitas das suas faculdades prejudicadas. O Haiti, como a maioria das ex-colônias é um quilombo internacional. Como os ex-proprietários de escravos, rezadores, caridosos, penitentes, cumpridores de suas obrigações, os ex-colonizadores não reconhecem qualquer responsabilidades para com aqueles ex-escravos. Uma tragédia como essa expõem uma verdade que não querem ver. Temos que executar um programa de inserção dos pobres no mundo, para que todos fiquem ricos, material e moralmente.
ResponderExcluirEverardo, posso ficar de fora desse programa? Ou quem não quiser parti$$$$$ipar tem ameaça de ser preso com arma apontada pra cabeça?
ResponderExcluirD. Zilda Arns participava de um. Você, duduqa, certamente não participa e não concorda com eles. Você não compreenderia alguma coisa diferente desse negócio de "arma na cabeça". Nem como vítima, nem como autor. O mundo lhe parece hostil e o egoísmo se apresenta como um porto seguro. Fique no programa da TV.
ResponderExcluirCreio sim que Deus existe, e que é pessoal, e que nada impede que ele intervenha. quanto aos seus critérios e objetivos, certamente incluem, pelo menos no presente, deixar que o ser humano enfrente os males da natureza as nossas próprias maldades. Se isso não nos agrada, problema nosso. Esse é o Deus descrito por Moisés e pelos profetas. O resto, é ignorância.
ResponderExcluirObs: Esse também é o Deus descrito no Novo Testamento.
Assim como os efeitos calamitosos do terremoto foram drasticamente ampliados por causa da miséria local, da falta de infraestrutura, de um governo corrupto, os efeitos calamitosos do terremoto seriam drasticamente minimizados se o Haiti fosse o Havaí, isto é, um Estado Americano.O que, aliás, sonho para este meu país, como bom patriota que sou, já que estou convencido que este é o unico caminho para isto aqui se tornar Primeiro Mundo.
ResponderExcluirRodrigo
ResponderExcluirComente sobre isto:
http://octavocercopt.blogspot.com/2010/01/loucura.html
Cada vez mais, cai a máscara do governo genocida da ilha-cárcere.
Ser mendigo no Brasil é melhor que isto:
ResponderExcluirhttp://octavocercopt.blogspot.com/2010/01/onde-esta-meu-frango.html
E ser favelado, no Brasil, seria o paraíso para essa pessoa.
Mas o partido no poder, acha que isso que está descrito aí, é o grande objetivo a ser alcançado.
Vamos lá!! Em Frente!! A Venezuela está mais adiantada que nós no magnífico processo de cubanização. Nossos queridos governantes tiveram de perder algum tempo deixando o mercado funcionar, para melhor enganar os trouxas. Mas com Dilma, avançaremos rapidamente rumo à República Socialista Soviética do Brasil.
Como diz o novo Plano dos "Direitos Humanos" : TODO PODER AOS SOVIETESMST.
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ResponderExcluirMuito bem colocado os dois primeiros parágrafos. É como aquele minuto de silêncio que precede uma partida de futebol em memória às vítimas de uma grande tragédia. Findo o minuto é bola rolando e muita festa. Não é comigo, faço o meu minutinho de silêncio e vamos nos divertir! Que bobagem.
ResponderExcluirClaro que não podemos generalizar. Com certeza existem milhões de pessoas no mundo que realmente sentem e sofrem mais com a tragédia alheia tanto quanto ou mais do que com os próprios sofrimentos. Milhões que devem totalizar quanto? 0,2% da população do planeta? A imensa maioria das pessoas é mesmo voltada para si própria.
Controle de danos
ResponderExcluirO partido democrata americano e as organizações esquerdistas, sempre souberam da desgraça do racismo de estado em Cuba. Mas agora, a informação chegou ao grande público, não tem mais como esconder. Melhor fazer umas criticas aos seus companheiros socialistas cubanos, do que se estreparem frente ao público interno.
http://www.ordemlivre.org/textos/837
Rodrigo
ResponderExcluirVeja aqui as baboseiras sem fim do ratito. O cara não sossega, é uma atrás da outra. Até os Castro se portam com mais decência que ele, numa situação dessas.
O artigo de que falei:
ResponderExcluirhttp://coturnonoturno.blogspot.com/2010/01/onu-e-o-onus.html
A Terra não é um paraíso, ela não se adaptou para os humanos, são os animais que se adaptam ao seu meio. Isso não é reconhecido pelo intelecto humano, o homem não admite, ainda deseja ser o centro das atenções. Somos um monte de símios sem pelos tentando encontrar sentido em tudo, com uma débil imaginação apoiada na ideia de um deus. Em meio aos animais, somos os únicos que aniquila a si próprios.
ResponderExcluirReligiões são as manifestações morais de determinada cultura, dada por histórias e fenomenos físicos. O paragrafo do Constantino foi dado de maneira exemplar.
ResponderExcluirQuanto ao Haiti, a tragedia poderia ocorrer em qualquer região propícia a um terremoto. A diferença é que o Haiti, além de ser um país muito pobre (mais que o Peru nos anos 70 que passou por situação parecida) é um país completamente despreparado para eventos naturais como esse.
A unica coisa que os países tem a ganhar é capital político ajudando esse país, depois vão deixar novamente o estado vver de esmolas.
Certo. Com essa resignação de que "o ser humano é assim", qualquer um faz e justifica o que realiza fugindo da discussõ da ética. O Haiti está repleto da corrupção endêmica, mas o Homem é assim. O Tibet está sendo invadido pela China, mas o Homem é assim. O Brasil invadiu e não quer mais sair do Haiti, mas o Homem é assim. Não sei a intenção principal da citação de Smith, mas fica dificil compreender uma citação dessas, sem a ela se fazer uma crítica (um tanto quanto veemente). No caso do HAiti, um governo ruim (mesmo o de Douvallier) não destruiu tanto quanto o terremoto. Esse quadro atual é o fim da estrutura de Estado, por que o Estado lá foi tb vítima. As imagens, artigos e tudo o que se ve, mostra que o Haiti (como Estado) não responde à estímulos. SE querem discutir a política haitiana, talvez seja uma boa hora para discutir a posição do Estado na sociedade. Lá, ele não tem nenhuma. Nem para os males, nem para remedia-los.
ResponderExcluirMalkav, ainda que entenda que a integridade duma pessoa ao longo de sua vida independe da religião, é fato que esta acaba misturando-se à aquela - e a corrupção começa com a idéia de um Deus prepotente, vingativo e imprevisível. Desde muito. O episódio bíblico do dilúvio, digamos, é pedagógico ou nocivo à formação do caráter ecológico?
ResponderExcluirÉ por aí.
ResponderExcluirArtigo maravilhoso. Todos deveriam ter isso em mente. É a questão principal:
ResponderExcluir''...maior do que a desgraça natural é sempre a desgraça humana. O Haiti é miserável, e isso é obra de seres humanos, não da natureza. Os efeitos calamitosos do terremoto foram drasticamente ampliados por causa da miséria local, da falta de infraestrutura, de um governo corrupto.'' Parabéns, Rodrigo.
'Os efeitos calamitosos do terremoto foram drasticamente ampliados por causa da miséria local, da falta de infraestrutura'
ResponderExcluirRodrigo, sem querer esculhambar mas sim com intenção de fazer uma crítica construtiva, isso não é contraditório ?Pq vc se lembra de uma pergunta que eu fiz no fim do ano passado, (antes do aiti, antes dos deslizamentos ) sobre qual sua opiniao sobre o governo exigir que toda construcao tendo que ter um engenheiro assinando o troço, e vc respondeu que era contra, o mercado que resolva isso
Pq se for pra fazer uma casa tronxa ela desaba até sozinha, e sabendo usar a tecnologia certa, no japao tem até prédios que balançam pra nao cair em terremotos