Rodrigo Constantino, O Globo
(02/01/2010)
Roboão, filho de Salomão, sucedeu a seu pai no reino dos judeus aproximadamente em 930 a.C. As dez tribos do norte, coletivamente denominadas Israel, se relatavam descontentes com as pesadas taxações impostas já no tempo do Rei Salomão. Roboão foi procurado por uma delegação de representantes de Israel, que solicitou o abrandamento da ríspida servidão imposta por seu pai. Entretanto, ele não aceitou a proposta e, ao contrário, endureceu ainda mais com as tribos. Estava declarada a guerra, que durante décadas não teve um dia de intervalo sequer. Essas lutas prolongadas enfraqueceram os dois lados, abrindo caminho para a invasão dos egípcios. A ganância de um governante abriu uma cicatriz de quase três mil anos no povo judeu, como relata a historiadora Barbara Tuchman em “A Marcha da Insensatez”.
Ao longo da história, inúmeras rebeliões ocorreram como reação à tentativa de governos expandirem seus tentáculos sobre o bolso e as liberdades dos indivíduos. A mais famosa e bem-sucedida delas foi a Revolução Americana, desencadeada pela revolta com o aumento de impostos. A abusiva lei do Selo, de 1765, foi o estopim para tal conflito. Os ingleses seguiram com novos impostos, como o imposto Townshend e o imposto sobre o chá, que levou à famosa Festa do Chá, em Boston, 1773. O espírito de liberdade do povo americano acabou falando mais alto, e em 1776 eles finalmente conquistaram a independência.
Atualmente, esse espírito adormecido pode estar despertando como reação ao avanço do governo Obama. As crises sempre foram usadas por governantes como pretexto para a expansão do Leviatã. Durante o governo Bush não foi diferente, e a ameaça terrorista serviu para a criação do “Patriot Act”, um claro desrespeito às liberdades individuais. Obama aproveitou a crise financeira, em boa parte criada por medidas do próprio governo, para expandi-lo de forma assustadora. Os planos multibilionários de resgates, a estatização de empresas, o aumento da regulação e a explosão do déficit fiscal, tudo isso despertou a revolta de muitos americanos cientes de que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Os Estados Unidos, afinal, foram construídos com base na desconfiança em relação ao governo.
A derrota humilhante dos Democratas em Massachusetts, tradicional reduto dos defensores do “big government”, pode ter representado um ponto de virada. A gota d’água foi a proposta de reforma na saúde, que vai custar caro ao povo. Coincidiu com o primeiro aniversário do governo Obama, marcado por acentuada queda de popularidade. A força política mais vibrante no momento é justamente um movimento contra impostos que resgata a lembrança da Festa do Chá. Será que os americanos finalmente acordaram da ilusão de que o governo pode resolver todos os problemas através de mais gastos? Será que uma carga tributária perto de 30% da produção nacional disparou o alerta?
Os brasileiros também já se rebelaram contra o abuso de impostos no passado. A Inconfidência Mineira foi o mais famoso movimento desta natureza. A “derrama” era uma taxação compulsória que obrigava a população a completar uma cota de ouro determinada pela coroa portuguesa. Os mineiros eram obrigados a pagar o quinto real sobre a produção de ouro, ou seja, 20% de imposto. Tiradentes acabou enforcado e a metrópole conseguiu abortar a revolta separatista. Hoje, os brasileiros não são mais súditos de Portugal, mas sim de Brasília. Somos obrigados a pagar quase 40% de imposto. Bem que poderíamos escutar os ecos de Massachusetts...
erro sério no seu texto , erro cometido por todos que falam sobre a carga tributária brasileira que não entendem patavinas de matemática e são pró governo
ResponderExcluir40% é quanto o governo arrecada do PIB não o quanto as pessoas que pagam impostos pagam. falar em 40% é esquecer a sonegação é como falar de valores no passado e esquecer a inflação
De fato, a carga EFETIVA é maior para os pagadores de impostos, por causa da economia informal.
ResponderExcluirMas num artigo com apenas 3.500 caracteres (com espaço), faz-se necessário escolher o foco.
Não foi um erro. Foi uma omissão deliberada, para não complicar o texto ou desviar o foco.
A carga OFICIAL é 40%. Usei isso mesmo, sabendo das falhas desse cálculo.
Rodrigo
Rodrigo, já viu o seriado da HBO John Adams? É muito bom e são 7 episódios de 1 hora de duração cada.
ResponderExcluirVale a pena!
Abraços.
Rodrigo,
ResponderExcluirRecomendo: Pondé na Folha de ontem
RT da Agência Sebrae:
http://www.agenciasebrae.com.br/noticia.kmf?canal=36&cod=9466601
Rodrigo,
ResponderExcluirVárias vezes li você criticando a média dando o exemplo de uma pessoa que está com a cabeça no fogo e os pés congelando como exemplo de quanto a média é ruim. Então não a use.
Você poderia evitar isso simplesmente escrevendo que o governo se apropria de 40% de toda a riqueza criada no país. O texto não fica mais longo nem mais complicado e fica mais correto.
Rodrigo, qual sua opinião sobre a propriedade intelectual?Parece um ponto não pacífico entre os libertários
ResponderExcluirEu n entendo como alguém acha justo que o programador que ralou meses pra fazer um jogo tenha que ter prejuízo por causa da pirataria
O resultado do trabalho dele não pertence a ele?
Gabriel, ainda não vi o seriado sobre John Adams, mas várias pessoas recomendaram. Preciso comprar isso logo!
ResponderExcluirPerplexo, o artigo do Pondé ontem estava maravilhoso! Sou cada vez mais fã dele.
ntsr, não tenho forte opinião formada sobre propriedade intelectual ainda. Conheço bons argumentos de ambos os lado. Kinsella entre os austríacos bate bastante nesse conceito. Mas não estou tão convencido. É meu lado mais utilitarista falando.
Rodrigo
Rodrigo, ao contrário do que muitos pensam, a Revolução Farroupilha de 1835 não foi uma revolta separatista, mas também uma rebelião de parte dos gaúchos contra a carga tributária imposta sobre o charque. Abs.
ResponderExcluirVolta, quinto real. meu sonho seria pagar só 20%!
ResponderExcluirduduqa, talvez você não sabe, mas paga também o quinto real: chamam de "royalties".
ResponderExcluirO fenômeno vem aglutinando cada vez mais cidadãos de lá que se opõem à expansão do estado e afirmam com veemência os valores da Constituição, no Estadão há alguns dias David Brooks mostrou que se o Tea Party fosse um partido ganharia dos Democratas e Republicanos (Onda Conservadora Volta aos EUA) meritório esse processo. A salvação está nas consciências individuais cuja força é a opinião pública esclarecida. Tal caminho está dando certo: pode ser um modelo pra nós. Como poderemos catalisar essas consciências, essa força hoje desagregada?
ResponderExcluirO mundo inteiro mistura o povo americano com o governo americano.O povo não quer saber de guerra nenhuma, só votou no Obama pra sair do Iraque.Cadê, saiu? Ele tá é mandando mais gente pro afeganistão, e gastando o dinheiro que nao tem pra isso
ResponderExcluirImagino que criar um partido por lá seja bem mais difícil que aqui