Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
sexta-feira, maio 07, 2010
Tempos Perigosos
Rodrigo Constantino
“Os governos nunca quebram; por causa disso, eles quebram as nações.” (Kennet Arrow)
Estamos vivendo tempos perigosos. O ambiente europeu pode ficar fértil para "aventuras" fascistas novamente. O welfare state irresponsável plantou as sementes do caos. Primeiro, tivemos uma mega bolha de crédito privado, estimulada pelos bancos centrais e governos, que não aceitavam recessões, ajustes necessários para os excessos de antes. Levaram a tal extremo isso, que a bolha estourou e o setor privado teve que reduzir o grau de alavancagem, causando um credit crunch. A única saída para os governos foi assumir o endividamento, expandir ainda mais a base monetária, o estímulo fiscal. Seus balanços ficaram ainda mais vermelhos.
Como os governos já estavam com patamares absurdos de endividamento, déficit fiscal crescente e impostos escorchantes, as contas explodiram, e o grau de endividamento deles foi para níveis jamais vistos. Os credores acusaram o golpe, não mais dispostos a financiar alguns governos por taxas de juros civilizadas. O reflation pode estar chegando ao seu limite. Agora o buraco é mais embaixo. Não estamos falando da quebra de Fannie Mae, AIG ou Citi, mas dos próprios governos dos países ricos. E o governo americano não está livre deste contágio. Como disse Niall Ferguson, os títulos do governo americano são tão "porto seguro" como era Pearl Harbor!
Os "especuladores" são os bodes expiatórios de sempre, alvos dos desesperados, da massa de ignorantes, vítima do sistema que defendeu e agora se esgotou. O maior risco é surgir um clima propício ao retorno do fascismo, de um líder que prometa colocar "ordem" no caos, organizar a massa de vândalos contra os "capitalistas", resgatar o senso de orgulho agora ferido, e coisas do tipo. Crises estruturais costumam servir como fertilizante para projetos autoritários. A falência da República de Weimar contribuiu para a ascensão do nazismo*. Uma Itália dilacerada preparou o terreno para o fascismo de Mussolini. A Grande Depressão levou o demagogo Roosevelt à Casa Branca, com seu New Deal claramente inspirado nas idéias coletivistas do fascismo. Quando o sistema vigente entra em declínio, espalhando a desordem e o pânico, eis que o oportunista de plantão aparece como “messias salvador”.
A Grécia já está quase em ruínas, com a população tomando as ruas de forma violenta contra as reformas dolorosas e necessárias após a ilusão do welfare state. A crise rapidamente contagia os demais países da região, também com graves problemas nas finanças públicas. A própria existência do euro passa a ser questionada. Na Alemanha, a população se revolta contra a pressão para assumir a conta dos privilégios dos gregos. O clima de segregação aumenta, e o sentimento nacionalista pode, com isso, chegar a níveis preocupantes. A própria idéia de uma moeda comum tinha como um dos objetivos, reduzir as chances de guerras, numa região acostumada a viver desde sempre em ininterruptas batalhas.
Medidas drásticas para enfrentar a realidade precisarão ser tomadas na Europa toda. Os governos perdulários terão que ser reduzidos de forma radical. Como um bêbado após grande euforia por conta de muito álcool, a Europa deve entrar na fase da ressaca necessária para limpar o organismo. Resta saber se tais ajustes serão viáveis politicamente, ou se o Banco Central Europeu vai iludir a população, emitindo descontroladamente papel-moeda. Se esta for a escolha – fugir da realidade dura – então o resultado poderá ser muito pior. O colapso do sistema monetário não pode ser descartado neste caso. E a história não traz conforto para o tipo de efeito que isso pode causar.
Vivemos tempos muito perigosos. Espera-se que o bom senso possa prevalecer na Europa. Mas seu histórico não é dos melhores, a começar pela própria irresponsabilidade que levou a esta situação. Melhor apertar os cintos...
* “Here was the president of the Reichsbank, whose principal obligation was supposed be the preservation of the value of the currency, proudly proclaiming to a group of parliamentarians that he now had the capacity to expand the money supply by over 60 percent in a single day and flood the country with even more paper. For many people, it was just one more sign German finance had entered an Alice-in-Wonderland phantasmagoria”. (Lords of Finance, Liaquat Ahamed)
'Na Alemanha, a população se revolta contra a pressão para assumir a conta dos privilégios dos gregos. O clima de segregação aumenta, e o sentimento nacionalista pode, com isso, chegar a níveis preocupantes.'
ResponderExcluirPq isso eh preocupante?A alemanha está certa de n querer pagar a conta dos gregos, eu tb n ia querer pagar n
ntsr,
ResponderExcluirse fossem apenas dois países separados é até justo.
Uma metáforas com pessoas, também pode parecer injusto, se após um casamentos um dos conjuges gasta muito e perde dinheiro, querer que o outro pague por isso. Mas é isso que estabelecem no casamento.
No caso da Alemanha é similar, ao concordarem com os termos do acordo da União Europeia, sabiam do risco de ter que pagar conta de companheiros perdulários.
Rodrigo, o ECB já perdeu credibilidade ao alterar as regras de colateral para continuar aceitando títulos gregos. Isso foi um grande divisor na atitude do ECB até então.
ResponderExcluirAté então o ECB tinha regras, feitas obviamente para colocar todo mundo dentro do barco do euro. Depois que os títulos gregos viraram junk, eles sofreram pressão política e baixaram os requisitos para... junk!
O Fed está cheio de lixo tóxico, e o ECB agora também vai ter em seu livro títulos bons misturados com lixo.
Este artigo do FT vai bem na linha do que você escreveu, apontando líderes europeus importantes acusando o mercado. Eu passei vários anos lá e nunca tinha visto nada parecido. Parece que vão mesmo entrar em uma fase de encontrar bodes expiatórios.
http://blogs.ft.com/brusselsblog/2010/05/ignorant-european-elites-fume-at-financial-markets/
Semana terrível. Espero que as previsões do seu artigo por alguma razão possam ser evitadas.
Um abraço
Welfare State para quem???Para os banqueiros???A Grécia era o país de menor investimento em Ensino Superior da Zona do Euro. Durante a crise, o governo grego ofereceu 28 Bilhões de euros (17 Bilhões de euros no início de abril) para os banqueiros e agora querem passar o trator sobre os trabalhadores? Portanto, Welfare State para quem???
ResponderExcluirRodrigo, agora há pouco estava lendo esta notícia:
ResponderExcluirhttp://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI139031-16357,00-BRASIL+LIBERARA+US+MI+EM+AJUDA+A+GRECIA.html
Record-me do vídeo em que você comenta sobre a fatura que está chegando para o Brasil ... gostaria de saber sua opinião sobre essa medida do governo brasileiro, e se ela pode, ou como pode aumentar o estrago desta fatura, já que nosso querido Petralha Rei está fazendo cortesia com o nosso chapéu!
'se fossem apenas dois países separados é até justo.'
ResponderExcluirE qual o problema se forem mais?Se todos os países do euro quizerem sair, pq eles não deveriam?
Eu sou ateu, mas tem uma frase da bíblia que gosto muito:
'O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado'
A Grécia viveu um "oba-oba", um sonho de expansão econômica e uma festa de consumo. Agora estourou o limite do cartão de crédito e o governo está tentando reduzir as despesas. Mas, como sempre, há mais pessoas indignadas pela perda do supérfluo do que pela pela falta do necessário.
ResponderExcluirO Brasil vai chegar no mesmo ponto. Vai ser no ano de 2011/2012. Na primavera de 2011 vai começar.
Graziela, pegando o espírito do momento eu escrevi um sátira em um blog liberal que escrevo com uns amigos aqui em Florianópolis, mostrando exatamente o que aconteceria se os especialistas econômicos do governo fossem à Grécia dar seus conselhos. Se o Rodrigo permite, gostaria de colocar o link:
ResponderExcluirhttp://trilhaliberal.blogspot.com/2010/05/pacote-de-ajuda-brasileira-para-grecia.html
Aí algumas horas depois, o governo, também pegando este assunto 'no ar' e querendo posar de país desenvolvido, entra seriamente nesta 'ajuda à Grécia'. É inacreditavel.
O governo, como sabemos, trocou a dívida mais barata com o FMI por uma mais cara em Real justamente para fabricar este tipo de factóide, dizer que 'o Brasil agora empresta para eles'. Não sei o que é mais absurdo. Se a delegação do meu artigo ou o Lula real dizendo que 'a europa não agiu a tempo', ou seja, agora vossa excelência, tendo supostamente resolvido os problemas do Brasil, vai querer dar conselhos para o mundo.
Julek, li a sua sátira! Muito boa! É incrível como os petralhas tenham a audácia de bancar os professores, se nem ao menos fizeram seus "deveres de casa" no Brasil!
ResponderExcluirRodrigo,
ResponderExcluirEm relação às eleições na Inglaterra, o partido Liberal condiz com o nome ou é apenas um desses "liberais"? Me parece que os conservadores são os menos nocivos ao país.
Parabéns pelos artigos, estou sempre antenado ao blog.
Filipe Ferraz
As mesmas pessoas que criam as bolhas, provocando distorções gigantescas nos mercados, são aquelas que culpam os mercados por tais distorções. O Estado nunca leva a culpa de nada: quando faz besteiras, na verdade está “corrigindo” falhas do capitalismo; quando tenta consertar as próprias besteiras cometidas, vende seu comportamento como uma atuação “anti-cíclica”. É revoltante.
ResponderExcluirE não há nada no horizonte que dê a entender que uma mudança para melhor está por vir. Muito pelo contrário, a ignorância e a desonestidade intelectual são terreno fértil para mais ignorância e desonestidade intelectual. O governo ganha poder para errar e ganhar mais poder ainda para insistir no erro.
Não há, nesse ponto, diferenças perceptíveis entre políticos ditos liberais e políticos socialistas. Quando no poder, todos aplicam a mesma receita: mais intervenção, mais impostos, mais distorções. Angela Merkel outro dia estava pedindo “mais regulação” na União Européia. É simplesmente ridículo.
E qual seria o incentivo para um governante fazer os ajustes necessários num país irresponsável e demagógico? Se ele o fizer, haverá alguns anos de arrocho, ao final dos quais ele já terá sido apeado do poder. Se, por outro lado, ele resolver injetar dinheiro público na economia, provavelmente terá garantida sua reeleição. Repito: não há incentivo para a decência na política, e a política, assim como a economia, é movida a incentivos.