Rodrigo Constantino
O Globo - 07/09/2010
“O nacionalismo é uma doença infantil; é o sarampo da humanidade.” (Albert Einstein)
No dia de hoje, nada melhor do que fazer algumas reflexões acerca dos rumos do nosso país. O amor à Pátria é um sentimento de união de indivíduos que compartilham uma história, uma cultura e valores comuns. Ele difere bastante do nacionalismo vulgar, uma forma de coletivismo xenófobo que transforma os indivíduos em simples meios sacrificáveis. Foi o patriotismo que alimentou a Revolução Americana; foi o nacionalismo exacerbado que levou ao nazismo.
Não podemos falar de patriotismo sem citar nosso Patriarca da Independência. Sob a influência iluminista, José Bonifácio de Andrada e Silva abraçou os principais pilares da filosofia liberal, compreendendo que a riqueza das nações é produzida pela concorrência e liberdade de empreender, e não pela tutela estatal. O comércio, livre da opressão de minuciosos regulamentos, seria o responsável pela prosperidade da nação.
Ele foi uma das vozes mais importantes contra os abusos de poder da Coroa portuguesa e a escravidão. O Brasil era cada vez mais explorado como colônia. A independência era crucial. Andrada compreendia o que estava em jogo: “Sem liberdade individual não pode haver civilização nem sólida riqueza; não pode haver moralidade e justiça; e sem essas filhas do céu, não há nem pode haver brio, força e poder entre as nações”.
O Brasil deveria ser um país de cidadãos livres, não de escravos. Infelizmente, deixamos de ser súditos de Portugal, mas nos tornamos súditos de Brasília. O governo central foi concentrando cada vez mais poder à custa da liberdade individual, e o dirigismo estatal poucas vezes esteve tão forte.
Neste contexto, o presidente da Fiesp chegou a afirmar que gostaria de “fechar o país”. Isto remete ao que há de mais retrógrado no pensamento econômico. O mercantilismo beneficia poucos empresários próximos ao governo, enquanto prejudica todos os consumidores e pagadores de impostos. Fala-se em “interesse nacional” para ocultar a simples busca por privilégios e monopólios. Na nefasta aliança entre governo e grandes empresários, o povo acaba pagando a conta. Basta lembrar a absurda Lei da Informática para ter idéia do pesado custo imposto aos brasileiros por estas teorias ultrapassadas.
O patriotismo pode ser uma arma poderosa contra a tirania. Unidos por um ideal comum de liberdade, os cidadãos representam uma constante barreira às ameaças despóticas. Se mal calibrado, porém, ele pode dar vida ao nacionalismo coletivista, que serve justamente aos interesses dos oportunistas de plantão sedentos por poder. O “orgulho nacional” deve se sustentar em conquistas legítimas, não em fantasias tolas. O verdadeiro patriota não foge da realidade. Sob a luz da razão, devemos perguntar: qual o motivo para sentir orgulho de nossa trajetória enquanto nação?
Somos recordistas mundiais em homicídios. Nossas estradas federais são assassinas. O transporte público é caótico. A saúde e a educação públicas são vergonhosas. A impunidade e a morosidade são as marcas registradas de nossa Justiça. A corrupção se alastra feito um câncer. A cultura do “jeitinho” tomou conta do país e a ética foi parar no lixo. Nossas instituições republicanas estão ameaçadas. Nossa democracia é vítima do descaso e do escancarado uso da máquina estatal para a compra de votos. O Estado, capturado por um partido, pratica crimes contra o cidadão, como a quebra de sigilo fiscal da Receita. E ainda somos obrigados a trabalhar cinco meses do ano somente para pagar impostos!
Regado a crédito facilitado e com o auxílio dos ventos externos favoráveis, o consumo crescente atua como um poderoso anestésico contra esta dura realidade. O velho “pão & circo” também faz sua parte. Será que devemos celebrar um time de futebol temido mundo afora, enquanto a miséria domina o país? Será que devemos ter orgulho do “nosso” petróleo, quando pagamos um dos combustíveis mais caros do mundo e vemos a Petrobrás ser estuprada pelos donos do poder?
A transformação do patriotismo em nacionalismo está em seu auge quando o povo adere ao infantilismo e passa a encarar seu governante como uma figura paterna. Não se trata do respeito por um estadista, mas de uma forma de idolatria ao “pai do povo”, que não pretende governar, mas sim “cuidar” de sua prole ao lado da “mãe do povo”. É a demagogia em máximo grau. Quando se chega a este estágio decadente, a Pátria já não tem muito de que se orgulhar. É chegada a hora de uma nova independência. Desta vez de Brasília.
Impecável. Poucos resumiram uma idéia com tamanho brilhantismo.Quando temos que usar de todas as luzes para expressar o que aqui expressaste é porque as ciscunstâncias se mostram obscuras. Estamos vivendo tempos negros. Que se acendam os holofotes da razäo para guiar-nos da palermice para a busca por Liberdade. Por RR
ResponderExcluirParabéns, ótimas palavras, um grande mar de ideias.Grande Constantino admiro muito, estamo juntos contra a luta a tirania!!!
ResponderExcluirMais um belo artigo. Parabéns! Que resumão!
ResponderExcluirGrande Constantino. Parabens!! Fazia muito tempo que eu não lia um texto tão bem articulado.
ResponderExcluirOtimo mesmo. Essa matéria deveria ser discutida nas salas de aulas.
Obrigado!!!!
Patriotismo é achar que seu país é melhor simplismente pq ali nascemos. Isso define bem o patriotismo do brasileiro.
ResponderExcluirFutebol, carnaval, "belezas naturais" são as bandeiras que levantam quando falam em patriotismo brasileiro. Enquanto que o patriotismo americano levanta bandeiras como riqueza, liberdade pessoal, self made man...
Olha, acabei de "descobrir" seu blog. E, com preguiça de ler este post, passei primeiro pro anterior, sobre os eco-chatos! Daí assisti o vídeo e te achei um grande babaca! Pensei até em comentar, mas resolvi que seria muita perda de tempo...
ResponderExcluirDaí, qdo fui fechar a janela com aquele sentimento de "mais um blog escroto" eu resolvi ler este texto sobre nacionalismo... Só pra dar mais uma chance e, tb, só pra ter mais um motivo pra não voltar mais aqui!
E eis a minha surpresa! O texto é excelente! Parabéns!
Escrevi isso tudo, pq realmente me surpreendi muito! E de maneira muito positiva!
Ainda vou voltar aqui mais vezes, com certeza!
Patriota = Patridiota
ResponderExcluirO texto é mesmo muito bom, mas acho que ultrapassamos (há muito tempo) o ponto crítico.
ResponderExcluirNão acredito numa saída democrática para o que estamos vivenciando.
Do jeito que as coisas vão tem como piorar - e muito!
Preparem-se para o "reich tupiniquim" de mil anos.
Para o anonymous acima, que deve ser um patridiota de copa do mundo regada a cerveja: as grandes nações de hoje e de ontem só são ou foram grandes por causa do patriotismo e ponto.
ResponderExcluirDebochar do patriotismo (não confundir com patriotada) é tática da esquerda mais ralé que existe.
Há 20 anos um grupo de simpatizantes do Nazismo brasileiro fez uma carta se solidarizando com os grupo neo-nazistas europeus... Sabe qual foi a resposta?
ResponderExcluir"-Não aceitamos solidariedade de sub.raça!"
O PT é um nazismo sem-vergonha. Vê no que deu.
ResponderExcluirO que me ocorre, sempre que ouço falar em nacionalismo, é a mesma dúvida.....será que Hitler estava com um demonio ou ele era o próprio demónio!?
ResponderExcluirÉ duro ter de admitir,mas todas as pessoas que vivem ou viveram na Terra, exceto Jesus eram e são demônios.
ResponderExcluirSerão demônios enquanto forem ignorantes e por esta causa,maus,pecadores,provocadores de todos os crimes..
E Hitler não foi nenhum demônio especial,apenas teve o azar de ser escolhido para representar e assumir o pensamento obsessevivo,no desespero do povo alemão. que cismou serem os judeus os responsáveis pela sujeira que alastrava no mundo.
Ele foi um simples líder nacionalista, ZENARTEZ. Talvez possamos considerá-lo exemplo de apogeu de uma era européia. Seu modelo foi bem copiado e é usado ainda hoje.
ResponderExcluirDeixo à você uma réplica: O problema da Alemanha nazista foi o nacional-socialismo ou o fascismo?
Rodrigo, o que vc acha deste rufar de tambores para tacar bomba na cabeça das pessoas do Irã?
ResponderExcluirDigo, o Iraque tinha "armas de destruição em massa" que só existiam nos relatórios. Ele também tinha começado a vender petróleo atrelado ao euro, passando a ter petroeuros ao invés de petrodolares.
Depois da invasão, voltou a ser negociado em petrodolares.
O Irã também vem sendo acusado estar desenvolvendo "amas de destruição em massa" e vem utilizando os petroeuros.
Esta troca de petrodolares por petroeuros é realmente uma ameaça para a economia dos EUA ou nem tanto assim? Ou de repente medo disto virar uma tendencia e se tornar uma ameaça?
Teria algo a dizer disso, como economista?
Olá!
ResponderExcluirO artigo citou a tosca Lei de Informática dos anos de 1980. Há um interessante artigo criticando tal lei:
A Triste História da Lei de Informática dos Anos de 1980.
A Apple e o seu iPhone contribuíram bem mais para o mundo da computação do que qualquer Lei de Informática seria capaz de fazer.
Aliás, seria interessante saber quantas vezes a Apple recebeu financiamentos ao estilo daqueles que o BNDES dá ao empresariado camarada. Existe esse tipo de coisa nos EUA?
Até!
Marcelo
P.S: Neste link, há o relato de uma pessoa que viveu todo aquele momento dos anos de 1980 quando tal Lei de Informática estava sendo implantada.
Os "empresários" das "indústrias" de "computadores" pegavam o dinheiro do BNDES e compravam os manuais de clonagem dos computadores IBM, se limitando a pirateá-los, sendo que a versão pirata custava bem mais caro do que o original.
Que gente mais maluca essa que apoiou tal lei: não aceitavam a implantação da indústria estrangeira para fabricar/montar o computador original, mas o pirateavam e, ainda por cima, o vendiam a preços bem mais caros do que o original!! Vai entender essa gente! Maluquice total. . .
fejuncor,
ResponderExcluirO "problema" da Alemanha foram os judeus, comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes motores, deficientes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca, russa e de outros países do Leste Europeu, activistas políticos, Testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos e sindicalistas, pacientes psiquiátricos e criminosos de delito comum.
Relacionar nazismo ao fascismo é um equivoco. Nazismo foi um movimento nacionalista voltado para reduzir os graves problemas pelos quais passavam os alemãs.
O partido Nacional Socialista de Adolf Hitler foi um partido de massa. O mais nacionalista de que se tem noticia. O Apogeu do Nacionalismo tem lugar de 1870 a 1945.
ResponderExcluirHitler perdeu, muito fácil chutar cachorro morto, tem nem graça
ResponderExcluirOs 'nazistas' de hoje são apoiados pelo irã, vitimizados pela esquerda e fazem sites como esse:
http://www.holocartoons.com/main/index.php
Por outro lado, quando o GOVERNO de israel faz pérolas como essa:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,israel-expulsara-400-criancas-filhas-de-imigrantes-por-nao-serem-judias,606492,0.htm
aí fica difícil tb
EDINHUG, é exatamente o que me ocorre. O nacional-socialsimo vigora hoje em muitos países. Então porque dizem "nazi-fascismo".
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