Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
terça-feira, maio 31, 2011
Dia mundial sem tabaco
No "Dia mundial sem tabaco", eis a mensagem que eu gostaria de deixar: O FASCISMO FAZ MAIS MAL À SAÚDE QUE O CIGARRO! Quem tinha verdadeira obsessão pela "saúde perfeita" era Hitler. Muitas coisas fazem mal à saúde, como fritura, gordura, ócio e marxismo. Nem por isso vamos defender a proibição destas substâncias. O critério não pode ser esse, de fazer mal à saúde. Muito mais importante é a LIBERDADE DE ESCOLHA INDIVIDUAL. Cada um deve viver à sua maneira. O fascismo moderno, sob o manto do politicamente correto, representa um perigo mil vezes maior que o tabaco. Lembrem disso na data de hoje.
O Ódio a Israel
Rodrigo Constantino, O GLOBO
“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.” (Karl Popper)
As recentes declarações do presidente Obama reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas gostaria de colaborar com o debate pela via econômica. Do meu ponto de vista, há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.
O antissemitismo é tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em seu clássico “O Mercador de Veneza”, em que Shylock representa o típico agiota insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o ponto máximo do ódio contra judeus.
Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir. Culpa-se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão terrível para que mereça ser “varrido do mapa”, como os fanáticos defendem?
Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de Israel. O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A tecnologia da “caixa postal” foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.
O PIB de Israel, acima de US$ 200 bilhões por ano, é muito superior ao de seus vizinhos islâmicos. A renda per capita é de quase US$ 30 mil. Apesar da pequena população e da ausência de recursos naturais, as empresas israelenses exportam mais de US$ 50 bilhões por ano. A penetração da internet é uma das maiores do mundo. Israel possui a maior proporção mundial de títulos universitários em relação à população. Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que qualquer outro país. Israel possui o maior IDH do Oriente, e o 15º do mundo.
Não custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista por parte dos vizinhos, forçando um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.
Quando comparamos a realidade israelense com a situação miserável da maioria dos vizinhos, fica mais fácil entender parte do ódio que é alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam, assim como o interesse de autoridades islâmicas no clima de guerra. Nada como um inimigo externo para justificar atrocidades domésticas. Mas as gritantes diferenças econômicas e sociais sem dúvida adicionam lenha à fogueira.
Como agravante, Israel é uma democracia parlamentar, enquanto a maioria dos vizinhos vive sob regimes autoritários que ignoram os direitos humanos mais básicos. Isso para não falar das gritantes diferenças quanto às liberdades femininas.
Israel não é um paraíso. Longe disso. Seu governo comete abusos que merecem repúdio. Mas perto da realidade de seus vizinhos islâmicos, o contraste é chocante. Será que isso tem alguma ligação com o ódio a Israel e o constante uso de critérios parciais na hora de julgar os acontecimentos na região? O sucesso costuma despertar a inveja nas almas pequenas, vide o antiamericanismo patológico que ainda sobrevive na esquerda latino-americana.
Em tempo: O ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia deveria aprender com Israel como produzir tecnologia de ponta, com ampla abertura econômica e investimento em educação, em vez de tentar resgatar o fracassado protecionismo, no afã de estimular a indústria nacional.
“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.” (Karl Popper)
As recentes declarações do presidente Obama reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas gostaria de colaborar com o debate pela via econômica. Do meu ponto de vista, há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.
O antissemitismo é tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em seu clássico “O Mercador de Veneza”, em que Shylock representa o típico agiota insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o ponto máximo do ódio contra judeus.
Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir. Culpa-se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão terrível para que mereça ser “varrido do mapa”, como os fanáticos defendem?
Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de Israel. O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A tecnologia da “caixa postal” foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.
O PIB de Israel, acima de US$ 200 bilhões por ano, é muito superior ao de seus vizinhos islâmicos. A renda per capita é de quase US$ 30 mil. Apesar da pequena população e da ausência de recursos naturais, as empresas israelenses exportam mais de US$ 50 bilhões por ano. A penetração da internet é uma das maiores do mundo. Israel possui a maior proporção mundial de títulos universitários em relação à população. Lá são produzidos mais artigos científicos per capita que qualquer outro país. Israel possui o maior IDH do Oriente, e o 15º do mundo.
Não custa lembrar que tudo isso foi conquistado sob constante ameaça terrorista por parte dos vizinhos, forçando um pesado gasto militar do governo. Ainda assim, o país despontou no campo científico e tecnológico, oferecendo enormes avanços para a humanidade.
Quando comparamos a realidade israelense com a situação miserável da maioria dos vizinhos, fica mais fácil entender parte do ódio que é alimentado contra os judeus. Claro que fatores religiosos pesam, assim como o interesse de autoridades islâmicas no clima de guerra. Nada como um inimigo externo para justificar atrocidades domésticas. Mas as gritantes diferenças econômicas e sociais sem dúvida adicionam lenha à fogueira.
Como agravante, Israel é uma democracia parlamentar, enquanto a maioria dos vizinhos vive sob regimes autoritários que ignoram os direitos humanos mais básicos. Isso para não falar das gritantes diferenças quanto às liberdades femininas.
Israel não é um paraíso. Longe disso. Seu governo comete abusos que merecem repúdio. Mas perto da realidade de seus vizinhos islâmicos, o contraste é chocante. Será que isso tem alguma ligação com o ódio a Israel e o constante uso de critérios parciais na hora de julgar os acontecimentos na região? O sucesso costuma despertar a inveja nas almas pequenas, vide o antiamericanismo patológico que ainda sobrevive na esquerda latino-americana.
Em tempo: O ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia deveria aprender com Israel como produzir tecnologia de ponta, com ampla abertura econômica e investimento em educação, em vez de tentar resgatar o fracassado protecionismo, no afã de estimular a indústria nacional.
segunda-feira, maio 30, 2011
Triste tango sem fim
Hoje, o caderno especial do jornal Valor Econômico traz matérias sobre a caótica situação argentina. A socialista Kichner está seguindo cada vez mais os passos do tiranete venezuelano Hugo Chávez. Se as políticas irresponsáveis do governo produzem inflação galopante, qual a solução mágica? Congelar os preços e manipular os índices de inflação, claro! Eis que agora até o Big Mac sumiu das prateleiras do McDonald's. Segue uma das reportagens abaixo. Volto depois.
Sem reajuste, Big Mac 'desaparece' das lojas argentinas do McDonald's
Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e um lugar muito bem escondido na lanchonete. O Big Mac continua sendo vendido como antes e os atendentes fazem a indefectível pergunta: refrigerante e batata frita grandes por alguns pesos a mais? Paradoxalmente, no entanto, o sanduíche mais famoso do planeta não é mais visto em uma única foto nas lojas do McDonald's na Argentina. O que nenhum publicitário entenderia é explicado pela sutil intervenção do governo nas empresas.
Mantido em 16 pesos (cerca de R$ 6,50) apesar da inflação elevada, o preço do Big Mac ficou defasado em relação aos seus concorrentes. Os demais sanduíches da rede têm preços até 80% maiores. O McChicken chega a 21 pesos. Seu equivalente do Burguer King, o Whopper Duplo, custa 23 pesos. Ninguém confirma oficialmente, mas poucos duvidam que essa distorção seja resultado do "morenismo" - os acordos informais patrocinados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.
Moreno é responsável pela intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), em janeiro de 2007, que divulga desde então um índice de preços ao consumidor desacreditado pelo mercado e pela opinião pública. O Big Mac faz parte da lista de produtos pesquisada todo mês pelo Indec. Embora o peso que tenha no IPC seja mínimo, essa é uma das razões alegadas frequentemente para explicar sua defasagem de preço.
A outra tem a ver com o índice Big Mac, que a revista britânica "The Economist" prepara para comparar a competitividade das moedas. Na última medição, houve um constrangimento para a Casa Rosada. A Argentina liderava o ranking de países em que o sanduíche mais havia subido (19%) além da inflação oficial (10%). Isso foi apontado como evidência inequívoca de maquiagem da alta de preços pelo Indec. Também ajudava a desfazer um dos mitos cultivados pelo governo e eixo do modelo econômico dos governos Cristina e Néstor Kirchner: o de competitividade da taxa de câmbio. Com a elevada inflação em dólares, o índice da "Economist" mostrava que o peso deixava de tornar-se uma moeda muito barata, apesar de nominalmente desvalorizado.
O ex-ministro da Economia Martín Lousteau, que teve uma discussão pública com Moreno e hoje critica a política econômica do governo, explicou a situação em um artigo: "Em 2003, o Big Mac custava 4,1 pesos na Argentina e US$ 2,71 nos EUA. Dessa forma, um americano podia vir com seus US$ 2,71, comprar 7,62 (pelo câmbio da época) e comer 1,85 Big Macs. A Argentina lhe resultava barata. Mas a situação muda quando sobem os preços ou o dólar. Hoje o famoso sanduíche vale 16 pesos aqui e US$ 3,8 lá. Ao aterrissarem em Buenos Aires, esses dólares viram 15,5 pesos. Com esses valores, o visitante dos EUA já não consegue comer um sanduíche inteiro. E isso significa que a Argentina deixou de ser barata".
A versão corrente, alimentada por economistas e defendida ao Valor por dois gerentes de lojas do McDonald's no centro de Buenos Aires, é que a rede tem um acordo informal com Moreno: mantém artificialmente baixo o valor do Big Mac, ajudando a imagem do governo, enquanto tem liberdade para mexer nos demais preços.
Procurada pelo Valor, a empresa negou o esquema. "O McDonald's Argentina opera no país de acordo com a prática de livre mercado, entre as ofertas dos diversos competidores, formando seus preços exclusivamente de acordo com sua estratégia comercial em cada um dos países onde atua", afirmou sua assessoria, por meio de nota.
De acordo com a assessoria, o preço do Big Mac na Argentina é "equivalente ao de outros países da América do Sul, a exemplo do Chile, e um pouco mais do que em países onde está oferecido promocionalmente, como Uruguai e Brasil". A rede disse ainda que está fazendo uma campanha com "produtos premium do cardápio a preços bastante convidativos". Essa estratégia, segundo a rede, tem sido bem-sucedida em "consolidar a liderança" na Argentina e em "facilitar o acesso dos consumidores a uma experiência completa do cardápio e manter forte conexão com seus públicos".
Independentemente das versões, o fato é que não há divulgação do Big Mac, dentro ou fora das lojas. É como se ele simplesmente não existisse, para efeito de propaganda, embora seja comercializado normalmente. "Dos cem países nos quais o McDonald's está presente, só em um o Big Mac tem menos presença promocional do que na Argentina: trata-se da Índia, onde o produto foi substituído pelo Mac Maharaja de frango, já que os hindus não consomem carne bovina", diz Lousteau. Sem Big Mac, ganham destaque outros sanduíches, como o Angus, que a rede afirma ser elaborado com carne nobre e é vendido a 29 pesos. Diante da situação peculiar, surgiu até o Triple Mac, que tem uma fatia de hambúrguer mais. (D.R.)
Comentário: O caso argentino deve servir de lição para o Brasil. Afinal, trata-se de um país que foi rico para padrões mundiais! Há décadas, porém, tem sido literalmente destruído pelo peronismo, o câncer populista que assola a região. A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo. Nada disso foi capaz de impedir sua desgraça sob seguidos governos populistas. Quando os brasileiros repetem que nada disso poderia acontecer por aqui, tenho arrepios, lembrando daqueles jovens que enchem a cara e dirigem feito loucos, jurando que acidentes acontecem apenas com "os outros". A sensação de "blindagem" é terrível, pois gera negligência, a arma preferida dos populistas. Acorda, Brasil!
Sem reajuste, Big Mac 'desaparece' das lojas argentinas do McDonald's
Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial e um lugar muito bem escondido na lanchonete. O Big Mac continua sendo vendido como antes e os atendentes fazem a indefectível pergunta: refrigerante e batata frita grandes por alguns pesos a mais? Paradoxalmente, no entanto, o sanduíche mais famoso do planeta não é mais visto em uma única foto nas lojas do McDonald's na Argentina. O que nenhum publicitário entenderia é explicado pela sutil intervenção do governo nas empresas.
Mantido em 16 pesos (cerca de R$ 6,50) apesar da inflação elevada, o preço do Big Mac ficou defasado em relação aos seus concorrentes. Os demais sanduíches da rede têm preços até 80% maiores. O McChicken chega a 21 pesos. Seu equivalente do Burguer King, o Whopper Duplo, custa 23 pesos. Ninguém confirma oficialmente, mas poucos duvidam que essa distorção seja resultado do "morenismo" - os acordos informais patrocinados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.
Moreno é responsável pela intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), em janeiro de 2007, que divulga desde então um índice de preços ao consumidor desacreditado pelo mercado e pela opinião pública. O Big Mac faz parte da lista de produtos pesquisada todo mês pelo Indec. Embora o peso que tenha no IPC seja mínimo, essa é uma das razões alegadas frequentemente para explicar sua defasagem de preço.
A outra tem a ver com o índice Big Mac, que a revista britânica "The Economist" prepara para comparar a competitividade das moedas. Na última medição, houve um constrangimento para a Casa Rosada. A Argentina liderava o ranking de países em que o sanduíche mais havia subido (19%) além da inflação oficial (10%). Isso foi apontado como evidência inequívoca de maquiagem da alta de preços pelo Indec. Também ajudava a desfazer um dos mitos cultivados pelo governo e eixo do modelo econômico dos governos Cristina e Néstor Kirchner: o de competitividade da taxa de câmbio. Com a elevada inflação em dólares, o índice da "Economist" mostrava que o peso deixava de tornar-se uma moeda muito barata, apesar de nominalmente desvalorizado.
O ex-ministro da Economia Martín Lousteau, que teve uma discussão pública com Moreno e hoje critica a política econômica do governo, explicou a situação em um artigo: "Em 2003, o Big Mac custava 4,1 pesos na Argentina e US$ 2,71 nos EUA. Dessa forma, um americano podia vir com seus US$ 2,71, comprar 7,62 (pelo câmbio da época) e comer 1,85 Big Macs. A Argentina lhe resultava barata. Mas a situação muda quando sobem os preços ou o dólar. Hoje o famoso sanduíche vale 16 pesos aqui e US$ 3,8 lá. Ao aterrissarem em Buenos Aires, esses dólares viram 15,5 pesos. Com esses valores, o visitante dos EUA já não consegue comer um sanduíche inteiro. E isso significa que a Argentina deixou de ser barata".
A versão corrente, alimentada por economistas e defendida ao Valor por dois gerentes de lojas do McDonald's no centro de Buenos Aires, é que a rede tem um acordo informal com Moreno: mantém artificialmente baixo o valor do Big Mac, ajudando a imagem do governo, enquanto tem liberdade para mexer nos demais preços.
Procurada pelo Valor, a empresa negou o esquema. "O McDonald's Argentina opera no país de acordo com a prática de livre mercado, entre as ofertas dos diversos competidores, formando seus preços exclusivamente de acordo com sua estratégia comercial em cada um dos países onde atua", afirmou sua assessoria, por meio de nota.
De acordo com a assessoria, o preço do Big Mac na Argentina é "equivalente ao de outros países da América do Sul, a exemplo do Chile, e um pouco mais do que em países onde está oferecido promocionalmente, como Uruguai e Brasil". A rede disse ainda que está fazendo uma campanha com "produtos premium do cardápio a preços bastante convidativos". Essa estratégia, segundo a rede, tem sido bem-sucedida em "consolidar a liderança" na Argentina e em "facilitar o acesso dos consumidores a uma experiência completa do cardápio e manter forte conexão com seus públicos".
Independentemente das versões, o fato é que não há divulgação do Big Mac, dentro ou fora das lojas. É como se ele simplesmente não existisse, para efeito de propaganda, embora seja comercializado normalmente. "Dos cem países nos quais o McDonald's está presente, só em um o Big Mac tem menos presença promocional do que na Argentina: trata-se da Índia, onde o produto foi substituído pelo Mac Maharaja de frango, já que os hindus não consomem carne bovina", diz Lousteau. Sem Big Mac, ganham destaque outros sanduíches, como o Angus, que a rede afirma ser elaborado com carne nobre e é vendido a 29 pesos. Diante da situação peculiar, surgiu até o Triple Mac, que tem uma fatia de hambúrguer mais. (D.R.)
Comentário: O caso argentino deve servir de lição para o Brasil. Afinal, trata-se de um país que foi rico para padrões mundiais! Há décadas, porém, tem sido literalmente destruído pelo peronismo, o câncer populista que assola a região. A Argentina tinha uma classe média razoável, educação decente, uma das maiores quantidades de livrarias per capita do mundo. Nada disso foi capaz de impedir sua desgraça sob seguidos governos populistas. Quando os brasileiros repetem que nada disso poderia acontecer por aqui, tenho arrepios, lembrando daqueles jovens que enchem a cara e dirigem feito loucos, jurando que acidentes acontecem apenas com "os outros". A sensação de "blindagem" é terrível, pois gera negligência, a arma preferida dos populistas. Acorda, Brasil!
"Leave the kids alone"
LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP
DE FATO existem pessoas racistas. Homofóbicas, antissemitas (que hoje em dia se escondem atrás do antissionismo), que não gostam de pobres e de nordestinos. Pessoas assim barateiam o debate contemporâneo, assim como as que simplificam as trincheiras teóricas em que vivemos nos últimos anos, jogando tudo no mesmo saco do "reacionarismo". Como se o mundo permanecesse nos limites de um "centro acadêmico em guerra contra a repressão da ditadura".
Acho que muita gente tem saudades dos tempos da ditadura porque se sabia onde estava o mal. Será mesmo? Nem tanto. Muita gente ainda não sabe que a luta armada no Brasil foi feita por pessoas que queriam fazer do país uma ditadura de esquerda. Tivessem eles vencido, estaríamos hoje numa grande Cuba.
Mas como seria bom se o mundo fosse simples assim, preto no branco, amigos e inimigos, bons e maus. Não é. Na maior parte do tempo é cinza e confuso.
O debate ao redor do "politicamente (in)correto" incendeia a mídia. Pessoas querendo "mudar" Monteiro Lobato, querendo "curar" gays e "decretar" que não devemos corrigir o português dos pobres porque isso é ruim pra autoestima deles.
Tenho preconceito contra essa gente que vive pensando na "economia da autoestima", sorry...
Tomemos como exemplo o debate sobre a luta pelos "direitos gays".
O STF aprovou a união civil dos homossexuais. Vou mais longe: acho que deveriam ter o direito de se casar também e de ter filhos. E de ir às reuniões chatas de "pais e mestres". E de ficar pobres como os héteros por causa dos filhos. E de descobrir que pouco importa sua "visão de mundo", você estará sempre errado diante de um filho que cresceu.
Acho que quem "bate em gay" deve pagar não porque bateu num gay, mas porque gay é gente como todo mundo. Sou contra leis especiais que protejam gays. Complicado? Sinto muito.
Se um professor interrompe um menino e uma menina que se beijam na sala de aula é ok, mas, se fossem dois meninos, seria "homofobia"?
Hoje os jovens (e todo mundo) têm medo de dizer qualquer coisa que não seja "gay é lindo". Não há nada de revolucionário em ser gay, nem existe uma "comunidade gay". Gays são pessoas atoladas nas mesmas misérias e erros humanos. Neuróticos, como todo mundo, com sofrimentos específicos.
E aí chegamos a uma questão que me parece muito representativa dos equívocos do debate ao redor da "questão gay" (um belo exemplo do fascismo do politicamente correto): o pretenso direito de o Estado querer discutir "a heterossexualidade como normatividade sexual".
Intenções como essas representam a tendência totalitária do Estado moderno em querer se meter em assuntos que não são da sua competência.
O governo não tem que se meter a dizer a ninguém o que é "sexualidade normal". Isso é um crime contra a liberdade. E isso vai acabar "batendo" na sala de aula. E, como ninguém sabe direito o que está fazendo na sala de aula, essa nova "modinha" vai pegar.
Já disse em outras ocasiões que sou contra a tal da educação sexual quando pretende discutir "ideologias sexuais". Como pai, tenho todo o direito de suspeitar da sanidade mental de uma professora de educação sexual, porque em matéria de sexo todo mundo é mal resolvido.
Se as famílias são um lixo e por isso exigem das escolas o que elas não podem dar, as famílias das professoras também são um lixo.
Imaginemos uma aula de educação sexual na qual vá se "questionar a normatividade" (ou normalidade) da heterossexualidade. Como seria uma aula dessas?
Que tal assim? Meninos e meninas colocando com a boca uma camisinha num pênis de plástico para, quem sabe, perceberem que meninos também podem gostar de fazer sexo oral em meninos.
Ninguém tem o direito de fazer isso. Nem pai, nem mãe e muito menos professores que, provavelmente, ao se dedicarem a isso, "provam" suas pequenas taras.
O Estado deve dar o direito aos gays de viverem como os héteros e mais nada. Não deve se meter a dizer o que é normal. As pessoas têm o direito de sentir o mal estar "que quiserem". E deixem os filhos dos outros em paz.
Comentário: Nada a declarar. O artigo está sublime.
DE FATO existem pessoas racistas. Homofóbicas, antissemitas (que hoje em dia se escondem atrás do antissionismo), que não gostam de pobres e de nordestinos. Pessoas assim barateiam o debate contemporâneo, assim como as que simplificam as trincheiras teóricas em que vivemos nos últimos anos, jogando tudo no mesmo saco do "reacionarismo". Como se o mundo permanecesse nos limites de um "centro acadêmico em guerra contra a repressão da ditadura".
Acho que muita gente tem saudades dos tempos da ditadura porque se sabia onde estava o mal. Será mesmo? Nem tanto. Muita gente ainda não sabe que a luta armada no Brasil foi feita por pessoas que queriam fazer do país uma ditadura de esquerda. Tivessem eles vencido, estaríamos hoje numa grande Cuba.
Mas como seria bom se o mundo fosse simples assim, preto no branco, amigos e inimigos, bons e maus. Não é. Na maior parte do tempo é cinza e confuso.
O debate ao redor do "politicamente (in)correto" incendeia a mídia. Pessoas querendo "mudar" Monteiro Lobato, querendo "curar" gays e "decretar" que não devemos corrigir o português dos pobres porque isso é ruim pra autoestima deles.
Tenho preconceito contra essa gente que vive pensando na "economia da autoestima", sorry...
Tomemos como exemplo o debate sobre a luta pelos "direitos gays".
O STF aprovou a união civil dos homossexuais. Vou mais longe: acho que deveriam ter o direito de se casar também e de ter filhos. E de ir às reuniões chatas de "pais e mestres". E de ficar pobres como os héteros por causa dos filhos. E de descobrir que pouco importa sua "visão de mundo", você estará sempre errado diante de um filho que cresceu.
Acho que quem "bate em gay" deve pagar não porque bateu num gay, mas porque gay é gente como todo mundo. Sou contra leis especiais que protejam gays. Complicado? Sinto muito.
Se um professor interrompe um menino e uma menina que se beijam na sala de aula é ok, mas, se fossem dois meninos, seria "homofobia"?
Hoje os jovens (e todo mundo) têm medo de dizer qualquer coisa que não seja "gay é lindo". Não há nada de revolucionário em ser gay, nem existe uma "comunidade gay". Gays são pessoas atoladas nas mesmas misérias e erros humanos. Neuróticos, como todo mundo, com sofrimentos específicos.
E aí chegamos a uma questão que me parece muito representativa dos equívocos do debate ao redor da "questão gay" (um belo exemplo do fascismo do politicamente correto): o pretenso direito de o Estado querer discutir "a heterossexualidade como normatividade sexual".
Intenções como essas representam a tendência totalitária do Estado moderno em querer se meter em assuntos que não são da sua competência.
O governo não tem que se meter a dizer a ninguém o que é "sexualidade normal". Isso é um crime contra a liberdade. E isso vai acabar "batendo" na sala de aula. E, como ninguém sabe direito o que está fazendo na sala de aula, essa nova "modinha" vai pegar.
Já disse em outras ocasiões que sou contra a tal da educação sexual quando pretende discutir "ideologias sexuais". Como pai, tenho todo o direito de suspeitar da sanidade mental de uma professora de educação sexual, porque em matéria de sexo todo mundo é mal resolvido.
Se as famílias são um lixo e por isso exigem das escolas o que elas não podem dar, as famílias das professoras também são um lixo.
Imaginemos uma aula de educação sexual na qual vá se "questionar a normatividade" (ou normalidade) da heterossexualidade. Como seria uma aula dessas?
Que tal assim? Meninos e meninas colocando com a boca uma camisinha num pênis de plástico para, quem sabe, perceberem que meninos também podem gostar de fazer sexo oral em meninos.
Ninguém tem o direito de fazer isso. Nem pai, nem mãe e muito menos professores que, provavelmente, ao se dedicarem a isso, "provam" suas pequenas taras.
O Estado deve dar o direito aos gays de viverem como os héteros e mais nada. Não deve se meter a dizer o que é normal. As pessoas têm o direito de sentir o mal estar "que quiserem". E deixem os filhos dos outros em paz.
Comentário: Nada a declarar. O artigo está sublime.
domingo, maio 29, 2011
A última tentação de Palocci
GUILHERME FIUZA, Revista ÉPOCA
Finalmente a verdade veio à tona. Foram cinco meses de doce hipnose. Muita gente que detesta Lula e não vota no PT nem amarrado declarou-se entusiasmado com Dilma Rousseff. Por que, afinal? Porque ela é mulher. Porque ela fala pouco. Porque ela não faz bravatas. O Brasil avalia presidentes como se avaliasse ator de novela: “está muito bem no papel”, “acertou no figurino”, “não me incomoda na hora do jantar”. Só uma pessoa poderia cortar esse estranho devaneio coletivo: Lula.
E ele o fez com uma única frase, sincera e definitiva: “Se tirarem o Palocci, o governo dela (Dilma) vai se arrastar até o final”.
Não deixa de ser um grande alívio. Já estava ficando aflitiva a catalepsia geral. Até o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – uma espécie de recreio dos governantes, onde notáveis se reúnem para fazer nada em grande estilo – vinha sendo exaltado como ponto positivo da administração Dilma. O próximo passo seria a indicação do Ministério da Pesca ao Nobel da Paz. O país deve ser grato a Lula pelo esclarecimento providencial: sem Palocci, o governo Dilma não anda – se arrasta. Com todo respeito à laranjada de mitos feministas e esquerdistas que o sustenta.
Lula disse isso a senadores do PT, na já famosa reunião SOS Palocci. Sua intenção era nobre: lembrar aos distraídos que o ministro-chefe da Casa Civil não é importante para o governo – ele é o governo. O ex-presidente sabe bem do que está falando. Em 2002, quando foi eleito sucessor de Fernando Henrique, Lula tinha nas mãos nada mais que as bandeirolas xiitas do PT e uma alegoria de marketing chamada Fome Zero. O único de seu time que compreendia a diferença entre bater panela e governar era Antonio Palocci.
Quem mais naquela turma entenderia que o Banco Central não era exatamente um lobo mau a ser abatido com slogans populistas? Quem entenderia que responsabilidade fiscal não era palavrão da direita? Quem mais entenderia, política e tecnicamente, o que eram metas de inflação e superavit primário? Ninguém mais – tanto que a assembleia petista bombardeia esses conceitos até hoje. Acreditam que eles foram a “concessão neoliberal de Lula”, e nem de longe desconfiam que aí estava a galinha dos ovos de ouro, que os alimentou fartamente de votos.
Palocci foi um excelente ministro da Fazenda, e Lula teve seu momento de estadista ao lhe dar poder. Mas Palocci caiu, e Lula teve de inventar Dilma para suceder-lhe. Sabendo da aventura em que estava se metendo, o ex-presidente fez o óbvio: escalou Palocci para governar Dilma, na campanha e na Presidência. Tinha plena consciência de que sua sucessora, que mal consegue completar um raciocínio em público, não teria estatura para construir uma liderança de fato.
É o que se viu nesses cinco meses. A inflação soltando suas labaredas, Dilma e Mantega dando ordens-unidas que o mercado ignora, e Palocci segurando as pontas sozinho do combate à gastança pública – e sendo, naturalmente, sabotado pelo PT por causa disso. Mas permaneceu forte, porque o mundo político respeita quem sabe o que faz. Só quem não respeita Palocci é ele mesmo.
Um dos políticos mais promissores do país, capaz de se reerguer depois de cair em desgraça por causa de uma casa de tolerância, o médico de Ribeirão Preto calibrou mal suas ambições pessoais. Fraquejou no lema que parece religioso na escola petista: usar o Estado para arrecadação privada. Palocci não resistiu à tentação de converter sua influência política em cachê. Mesmo no comando da campanha vitoriosa de Dilma, com seu futuro atrelado ao futuro do país, achou que era hora de faturar uns milhões por fora. Ou, no caso, por dentro.
A notícia é muito pior para o país do que para o governo. Este, como disse Lula, vai só se arrastar. O outro talvez ande para trás.
Finalmente a verdade veio à tona. Foram cinco meses de doce hipnose. Muita gente que detesta Lula e não vota no PT nem amarrado declarou-se entusiasmado com Dilma Rousseff. Por que, afinal? Porque ela é mulher. Porque ela fala pouco. Porque ela não faz bravatas. O Brasil avalia presidentes como se avaliasse ator de novela: “está muito bem no papel”, “acertou no figurino”, “não me incomoda na hora do jantar”. Só uma pessoa poderia cortar esse estranho devaneio coletivo: Lula.
E ele o fez com uma única frase, sincera e definitiva: “Se tirarem o Palocci, o governo dela (Dilma) vai se arrastar até o final”.
Não deixa de ser um grande alívio. Já estava ficando aflitiva a catalepsia geral. Até o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – uma espécie de recreio dos governantes, onde notáveis se reúnem para fazer nada em grande estilo – vinha sendo exaltado como ponto positivo da administração Dilma. O próximo passo seria a indicação do Ministério da Pesca ao Nobel da Paz. O país deve ser grato a Lula pelo esclarecimento providencial: sem Palocci, o governo Dilma não anda – se arrasta. Com todo respeito à laranjada de mitos feministas e esquerdistas que o sustenta.
Lula disse isso a senadores do PT, na já famosa reunião SOS Palocci. Sua intenção era nobre: lembrar aos distraídos que o ministro-chefe da Casa Civil não é importante para o governo – ele é o governo. O ex-presidente sabe bem do que está falando. Em 2002, quando foi eleito sucessor de Fernando Henrique, Lula tinha nas mãos nada mais que as bandeirolas xiitas do PT e uma alegoria de marketing chamada Fome Zero. O único de seu time que compreendia a diferença entre bater panela e governar era Antonio Palocci.
Quem mais naquela turma entenderia que o Banco Central não era exatamente um lobo mau a ser abatido com slogans populistas? Quem entenderia que responsabilidade fiscal não era palavrão da direita? Quem mais entenderia, política e tecnicamente, o que eram metas de inflação e superavit primário? Ninguém mais – tanto que a assembleia petista bombardeia esses conceitos até hoje. Acreditam que eles foram a “concessão neoliberal de Lula”, e nem de longe desconfiam que aí estava a galinha dos ovos de ouro, que os alimentou fartamente de votos.
Palocci foi um excelente ministro da Fazenda, e Lula teve seu momento de estadista ao lhe dar poder. Mas Palocci caiu, e Lula teve de inventar Dilma para suceder-lhe. Sabendo da aventura em que estava se metendo, o ex-presidente fez o óbvio: escalou Palocci para governar Dilma, na campanha e na Presidência. Tinha plena consciência de que sua sucessora, que mal consegue completar um raciocínio em público, não teria estatura para construir uma liderança de fato.
É o que se viu nesses cinco meses. A inflação soltando suas labaredas, Dilma e Mantega dando ordens-unidas que o mercado ignora, e Palocci segurando as pontas sozinho do combate à gastança pública – e sendo, naturalmente, sabotado pelo PT por causa disso. Mas permaneceu forte, porque o mundo político respeita quem sabe o que faz. Só quem não respeita Palocci é ele mesmo.
Um dos políticos mais promissores do país, capaz de se reerguer depois de cair em desgraça por causa de uma casa de tolerância, o médico de Ribeirão Preto calibrou mal suas ambições pessoais. Fraquejou no lema que parece religioso na escola petista: usar o Estado para arrecadação privada. Palocci não resistiu à tentação de converter sua influência política em cachê. Mesmo no comando da campanha vitoriosa de Dilma, com seu futuro atrelado ao futuro do país, achou que era hora de faturar uns milhões por fora. Ou, no caso, por dentro.
A notícia é muito pior para o país do que para o governo. Este, como disse Lula, vai só se arrastar. O outro talvez ande para trás.
Not So Cool Rules
Editorial do WSJ
In the 1982 film "Fast Times at Ridgemont High," the character Jeff Spicoli expresses the Jeffersonian thesis that American democracy required "cool rules . . . pronto," lest our polity become just as "bogus" as the British rule it replaced. Where's Spicoli when you need him in Washington?
The closest thing we have is White House regulatory czar Cass Sunstein, who this week delivered a progress report on Mr. Obama's January announcement that the feds were going to review and then kill unnecessary rules across the bureaucracy. Mr. Sunstein reported some anecdotal success, including the fact that the Environmental Protection Agency has agreed to stop treating milk spills as "oil" spills for the purpose of regulating farms.
You read that right. It took a Presidential-level review to get the EPA to stop treating spilled milk like an oil slick. After we wrote about this folly on January 27 ("Land of Milk and Regulation"), EPA Administrator Lisa Jackson assailed us at a Congressional hearing. We can only imagine the protest she put up against Mr. Sunstein.
More broadly, Mr. Sunstein reports that his review has resulted in "immediate steps to save individuals, businesses, and state and local governments hundreds of millions of dollars every year in regulatory burdens."
Alas, this doesn't begin to ease the economic burden of regulation. In research sponsored by the federal Small Business Administration, Lafayette College economists Mark and Nicole Crain have estimated that Americans were spending more than $1.7 trillion annually just to comply with federal regulations—and that was before Mr. Obama took office.
The best measure of the overall regulatory burden comes from Wayne Crews of the Competitive Enterprise Institute in his annual "Ten Thousand Commandments" scorecard. Mr. Crews recently reported that there are more than 4,000 new regulations now in the pipeline, and he notes that in 2010 the bureaucrats set an all-time record by churning out 81,405 pages in the Federal Register, where new and proposed rules are published.
In Mr. Sunstein's own 2011 report to Congress, his office admits that of the 66 new major rules that the Obama Administration imposed on Americans in 2010, the issuing executive-branch agencies calculated both costs and benefits for only 18. That's less than 30% but it's still better than so-called independent agencies like the Federal Reserve, which were a perfect 0 for 17 in failing to estimate costs as well as benefits.
And all of this comes before the hundreds of huge rule-makings still to come under the Dodd-Frank and ObamaCare laws. Dodd-Frank alone requires 243 new regulations, according to the analysts at the Davis-Polk law firm.
A recent report from the Inspector General of the Commodity Futures Trading Commission (CFTC) illustrates the lack of bureaucratic concern about economic harm. Dodd-Frank gave the CFTC the lead role in writing new rules for derivatives markets, and the IG examined the commission's process for measuring the impact. The IG reports a series of recent incidents in which the staff of the agency's general counsel bulldozed the CFTC's economists to minimize the cost estimates for new derivatives rules.
Wrote the IG staff, "For the four rules we reviewed, the cost-benefit analyses were drafted by Commission staff in divisions other than the Office of Chief Economist. Staff from the Office of Chief Economist did review the drafts, but their edits were not always accepted." In one case, the lawyers even insisted that the only costs they needed to count were what a company would have to spend to find out if a rule applied to it, but not the costs of actually complying with the rule.
We appreciate Mr. Sunstein's effort, but in modern Washington he's less Spicoli and more like Sisyphus pushing the rock up the hill.
Comentário: É mesmo uma lástima ver o que estão fazendo com os Estados Unidos, que já foi a "terra da liberdade", e cada vez mais se parece com um típico país europeu, repleto de burocracia e com um estado-babá asfixiante. Obama apenas acelerou este processo socializante por lá. Triste.
In the 1982 film "Fast Times at Ridgemont High," the character Jeff Spicoli expresses the Jeffersonian thesis that American democracy required "cool rules . . . pronto," lest our polity become just as "bogus" as the British rule it replaced. Where's Spicoli when you need him in Washington?
The closest thing we have is White House regulatory czar Cass Sunstein, who this week delivered a progress report on Mr. Obama's January announcement that the feds were going to review and then kill unnecessary rules across the bureaucracy. Mr. Sunstein reported some anecdotal success, including the fact that the Environmental Protection Agency has agreed to stop treating milk spills as "oil" spills for the purpose of regulating farms.
You read that right. It took a Presidential-level review to get the EPA to stop treating spilled milk like an oil slick. After we wrote about this folly on January 27 ("Land of Milk and Regulation"), EPA Administrator Lisa Jackson assailed us at a Congressional hearing. We can only imagine the protest she put up against Mr. Sunstein.
More broadly, Mr. Sunstein reports that his review has resulted in "immediate steps to save individuals, businesses, and state and local governments hundreds of millions of dollars every year in regulatory burdens."
Alas, this doesn't begin to ease the economic burden of regulation. In research sponsored by the federal Small Business Administration, Lafayette College economists Mark and Nicole Crain have estimated that Americans were spending more than $1.7 trillion annually just to comply with federal regulations—and that was before Mr. Obama took office.
The best measure of the overall regulatory burden comes from Wayne Crews of the Competitive Enterprise Institute in his annual "Ten Thousand Commandments" scorecard. Mr. Crews recently reported that there are more than 4,000 new regulations now in the pipeline, and he notes that in 2010 the bureaucrats set an all-time record by churning out 81,405 pages in the Federal Register, where new and proposed rules are published.
In Mr. Sunstein's own 2011 report to Congress, his office admits that of the 66 new major rules that the Obama Administration imposed on Americans in 2010, the issuing executive-branch agencies calculated both costs and benefits for only 18. That's less than 30% but it's still better than so-called independent agencies like the Federal Reserve, which were a perfect 0 for 17 in failing to estimate costs as well as benefits.
And all of this comes before the hundreds of huge rule-makings still to come under the Dodd-Frank and ObamaCare laws. Dodd-Frank alone requires 243 new regulations, according to the analysts at the Davis-Polk law firm.
A recent report from the Inspector General of the Commodity Futures Trading Commission (CFTC) illustrates the lack of bureaucratic concern about economic harm. Dodd-Frank gave the CFTC the lead role in writing new rules for derivatives markets, and the IG examined the commission's process for measuring the impact. The IG reports a series of recent incidents in which the staff of the agency's general counsel bulldozed the CFTC's economists to minimize the cost estimates for new derivatives rules.
Wrote the IG staff, "For the four rules we reviewed, the cost-benefit analyses were drafted by Commission staff in divisions other than the Office of Chief Economist. Staff from the Office of Chief Economist did review the drafts, but their edits were not always accepted." In one case, the lawyers even insisted that the only costs they needed to count were what a company would have to spend to find out if a rule applied to it, but not the costs of actually complying with the rule.
We appreciate Mr. Sunstein's effort, but in modern Washington he's less Spicoli and more like Sisyphus pushing the rock up the hill.
Comentário: É mesmo uma lástima ver o que estão fazendo com os Estados Unidos, que já foi a "terra da liberdade", e cada vez mais se parece com um típico país europeu, repleto de burocracia e com um estado-babá asfixiante. Obama apenas acelerou este processo socializante por lá. Triste.
sábado, maio 28, 2011
Política e ambiente
Kátia Abreu
O LONGO processo de votação do novo Código Florestal, que só em sua fase final se arrasta por um ano, serviu para tornar claras as diferenças entre os produtores rurais brasileiros e os políticos que se definem como ambientalistas.
Não seria impróprio reconhecer que, de um modo geral, os ambientalistas são conservadores em sua visão do mundo e autoritários na sua ação política.
Além disso, só levam em conta aspectos ambientais, fechando os olhos para a rica complexidade da vida moderna que nos obriga a tratar com equilíbrio os fatores econômicos, sociais e culturais.
Os produtores rurais são otimistas em relação ao futuro e desejam o aumento da produção e da renda como aspiração legítima da sociedade. Para atingir seus propósitos, acreditam nos mecanismos da democracia representativa.
Por imaginar que os recursos da terra chegaram ao limite de utilização, os ambientalistas defendem a contenção e a modificação imediata do consumo das pessoas.
Tornaram-se o que se pode chamar de conservadores da era pós-moderna. Para eles, o que importa é recriar ambientes naturais que existiam antes do capitalismo moderno.
No fundo, a atual luta dos ambientalistas contra os produtores brasileiros é apenas um capítulo de sua guerra contra as formas de viver e de produzir que a ciência e a tecnologia permitiram, e que os homens naturalmente escolheram.
Essa visão tem graves consequências éticas, uma vez que implica limitar o jogo do consumo quando a grande maioria da humanidade ainda vive com baixa qualidade de vida e bem-estar.
Os produtores do Brasil, e grande parte da sociedade que os apoia, filiam-se a uma tradição mais otimista na capacidade que tem o homem de adaptar-se às mudanças no mundo material.
Desde os primórdios, a história não tem sido uma narrativa de fracassos e de desastres, mas, pelo contrário, de adaptação criativa e de superação.
Apesar de alguns insucessos, a marcha geral da civilização, invariavelmente, é positiva. No caso brasileiro, a adaptação da produção agrícola à evidente finitude dos recursos naturais já vem ocorrendo há tempos.
Nas últimas três décadas, a produção de grãos no país passou de 47 milhões de toneladas para 159 milhões de toneladas, enquanto a área plantada cresceu apenas de 37 para 49 milhões de hectares, com elevação de 151% na produtividade.
Se, em 2010, tivéssemos a mesma produtividade de 1977, teriam sido necessários, para a mesma produção agrícola, uma área total de 122 milhões de hectares, 73 milhões de hectares a mais do que efetivamente utilizamos.
O que poupa recursos e preserva o mundo natural de utilização não são normas, burocratas e retórica ambiental, mas a ação dos produtores e o apoio do avanço científico. Na prática, a política ambientalista não confia nas instituições da democracia representativa.
Longe dos principais partidos, seus integrantes exilam-se em pequenas siglas, em que desfrutam da comodidade do pensamento único, dispensando-se das canseiras do debate e do convencimento.
Com o apoio financeiro de empresas que se apropriam da natureza como ingrediente de marketing, procuram influir na burocracia do Estado para impor à sociedade sua visão restrita do mundo. E fogem da luta parlamentar -não propõem emendas nem projetos alternativos. No Brasil, até aqui, tiveram êxito.
Há 46 anos, o Congresso vem sendo privado de votar normas ambientais. A legislação em vigor foi criada ou modificada por meio de decretos, de resoluções e de portarias, decididas sem transparência e longe dos olhos da sociedade.
Os produtores rurais dependem da democracia para viver, produzir e progredir. Por isso, sua arena é o Parlamento e suas razões precisam ser compartilhadas pela maioria.
Como se vê, estamos diante de duas visões de mundo e de dois modos de ação política. O que prevalecer vai ditar os próximos rumos da sociedade, da economia e da política brasileiras.
O LONGO processo de votação do novo Código Florestal, que só em sua fase final se arrasta por um ano, serviu para tornar claras as diferenças entre os produtores rurais brasileiros e os políticos que se definem como ambientalistas.
Não seria impróprio reconhecer que, de um modo geral, os ambientalistas são conservadores em sua visão do mundo e autoritários na sua ação política.
Além disso, só levam em conta aspectos ambientais, fechando os olhos para a rica complexidade da vida moderna que nos obriga a tratar com equilíbrio os fatores econômicos, sociais e culturais.
Os produtores rurais são otimistas em relação ao futuro e desejam o aumento da produção e da renda como aspiração legítima da sociedade. Para atingir seus propósitos, acreditam nos mecanismos da democracia representativa.
Por imaginar que os recursos da terra chegaram ao limite de utilização, os ambientalistas defendem a contenção e a modificação imediata do consumo das pessoas.
Tornaram-se o que se pode chamar de conservadores da era pós-moderna. Para eles, o que importa é recriar ambientes naturais que existiam antes do capitalismo moderno.
No fundo, a atual luta dos ambientalistas contra os produtores brasileiros é apenas um capítulo de sua guerra contra as formas de viver e de produzir que a ciência e a tecnologia permitiram, e que os homens naturalmente escolheram.
Essa visão tem graves consequências éticas, uma vez que implica limitar o jogo do consumo quando a grande maioria da humanidade ainda vive com baixa qualidade de vida e bem-estar.
Os produtores do Brasil, e grande parte da sociedade que os apoia, filiam-se a uma tradição mais otimista na capacidade que tem o homem de adaptar-se às mudanças no mundo material.
Desde os primórdios, a história não tem sido uma narrativa de fracassos e de desastres, mas, pelo contrário, de adaptação criativa e de superação.
Apesar de alguns insucessos, a marcha geral da civilização, invariavelmente, é positiva. No caso brasileiro, a adaptação da produção agrícola à evidente finitude dos recursos naturais já vem ocorrendo há tempos.
Nas últimas três décadas, a produção de grãos no país passou de 47 milhões de toneladas para 159 milhões de toneladas, enquanto a área plantada cresceu apenas de 37 para 49 milhões de hectares, com elevação de 151% na produtividade.
Se, em 2010, tivéssemos a mesma produtividade de 1977, teriam sido necessários, para a mesma produção agrícola, uma área total de 122 milhões de hectares, 73 milhões de hectares a mais do que efetivamente utilizamos.
O que poupa recursos e preserva o mundo natural de utilização não são normas, burocratas e retórica ambiental, mas a ação dos produtores e o apoio do avanço científico. Na prática, a política ambientalista não confia nas instituições da democracia representativa.
Longe dos principais partidos, seus integrantes exilam-se em pequenas siglas, em que desfrutam da comodidade do pensamento único, dispensando-se das canseiras do debate e do convencimento.
Com o apoio financeiro de empresas que se apropriam da natureza como ingrediente de marketing, procuram influir na burocracia do Estado para impor à sociedade sua visão restrita do mundo. E fogem da luta parlamentar -não propõem emendas nem projetos alternativos. No Brasil, até aqui, tiveram êxito.
Há 46 anos, o Congresso vem sendo privado de votar normas ambientais. A legislação em vigor foi criada ou modificada por meio de decretos, de resoluções e de portarias, decididas sem transparência e longe dos olhos da sociedade.
Os produtores rurais dependem da democracia para viver, produzir e progredir. Por isso, sua arena é o Parlamento e suas razões precisam ser compartilhadas pela maioria.
Como se vê, estamos diante de duas visões de mundo e de dois modos de ação política. O que prevalecer vai ditar os próximos rumos da sociedade, da economia e da política brasileiras.
Marxista pop e o novo comunismo
Rodrigo Constantino
A esquerda festiva carioca entrou em polvorosa estes dias, com a visita do filósofo marxista Slavoj Zizek, que atacou a democracia representativa liberal em palestra no Odeon. O caderno Proza & Verso do jornal O Globo entrevistou o filósofo esloveno e traz matéria de capa hoje com o título “A novidade do comunismo”. Como se a mais ultrapassada ideologia de todas pudesse ter realmente alguma novidade...
Zizek defende as “causas perdidas”, e lamenta a perda do espírito revolucionário da esquerda. Ele não tem tempo para angústias e dúvidas, típicas dos liberais que reconhecem a complexidade da vida em sociedade: “Penso que existe a verdade, que existe a verdade universal, e que ela pode mesmo ser vista politicamente”. Claro que esta verdade seria... a sua. Como disse Bertrand Russell, o problema no mundo é que os tolos e fanáticos estão sempre tão certos de si mesmos, mas as pessoas mais sábias estão repletas de dúvidas.
Para Zizek, o problema de Hitler é que ele não foi violento o bastante. Calma, ele explica: não é que ele deveria ter matado mais judeus; é que ele não foi violento o bastante na revolução, em que violência significa “transformação das relações sociais”. Gandhi é que teria sido mais violento como revolucionário, pois organizou um movimento de massa com o objetivo de impedir o funcionamento do Estado colonial inglês na Índia. Alguém sente o cheiro, ainda que de leve, do duplipensar orwelliano aqui? Paz é guerra. Verdade é mentira.
O filósofo não defende, portanto, a violência. A revolução deve vencer no “dia seguinte”. Agora, como ninguém é de ferro, ele confessa: “Se aqueles no poder resistem, é claro que deve haver alguma violência, mas apenas como forma de defesa”. Entenderam? Sou contra a violência, mas se os demais não concordarem com minha revolução, que afinal de contas é a pura encarnação da verdade absoluta, e disso tenho certeza, então sim, posso usar violência como meio, em legítima defesa. Não é fantástico?
Revolução, para Zizek, não é um estado de emergência, mas apenas “mudança radical”. Ele explica melhor: “Revolução para mim é mudança nas relações sociais de poder”. O filósofo acredita que esta “revolução” não se dá com eventos isolados, midiáticos, com massas nas ruas tacando fogo em carros, mas sim de forma lenta e gradual. Um trabalho árduo, diário, paciente. Quem compreendeu isso foi o comunista italiano Antonio Gramsci, que criou um verdadeiro estratagema de tomada de poder em doses homeopáticas, pelas vias culturais principalmente. Nada novo aqui também.
Como em toda seita, há a esperança no dia da redenção. Para Zizek, “o comunismo vai vencer ou estaremos todos na merda” (na verdade, todos onde o comunismo venceu é que ficaram sempre na merda). Ele reconhece que o resultado geral do comunismo no século XX foi um fiasco, e que a social-democracia está hoje em crise. Mas Zizek ainda defende o comunismo, pois o capitalismo liberal global, em que ele curiosamente inclui a China, não tem condições de resolver os problemas atuais, como a questão ambiental, biogenética e propriedade intelectual. E ele não se considera um utópico. Para Zizek, a única utopia é “acreditar que as coisas podem seguir indefinidamente seu curso atual”.
Aqui ele resgata o pessimismo malthusiano para justificar seu ponto: “É claro por exemplo que se a China continuar se desenvolvendo na escala atual haverá uma demanda materialmente impossível de atender”. Será mesmo? Desde muito tempo que os pessimistas alegam que o crescimento populacional não será acompanhado pelo progresso material, mas os dados insistem em prová-los errados. A qualidade de vida material aumentou e muito no mundo de forma geral, e graças justamente ao progresso capitalista. O mercado tem essa mania de inovar, de aumentar a eficiência e produtividade, ou seja, fazer mais com menos. Os recursos naturais não mudaram muito no planeta, mas atualmente temos bilhões de habitantes, e o petróleo não vai acabar em breve! O problema da China não é o crescimento acelerado, mas a falta de liberdade econômica. O lado ruim é justamente a herança comunista, não as pitadas de capitalismo que fizeram milhões saírem da miséria.
Por fim, resta mencionar quem foi o “filósofo” brasileiro que ajudou a divulgar o evento com Zizek: Emir Sader. Para quem não lembra, Sader é aquele que até hoje defende o regime cubano, a mais longeva ditadura do mundo, responsável pela morte de milhares de inocentes. Talvez seja a tal violência necessária para as mudanças sociais, que um dia ainda hão de chegar! Sader escreveu um artigo para enaltecer a vinda de Zizek, em que diz: “Sua nova vinda ao Brasil será, sem dúvida, um grande acontecimento intelectual e político. É um provocador, no melhor sentido da palavra – de provocar o debate, a revisão de clichês, de saber se situar contra a corrente, de enfrentar temas que outros abandonaram, sob a pressão da mídia conservadora. Vale sempre a pena ler e ouvir Zizek, interlocutor obrigatório de quem não tem medo da realidade do presente, do passado e do futuro”.
Como vocês podem ver, é o “novo comunismo”, sem nenhuma ligação com aquele velho, carcomido e putrefato junto com os milhões de cadáveres que produziu. Quem for louco o suficiente que compre estas novas embalagens para os mesmos sonhos utópicos de antes, que deixaram apenas um enorme rastro de sangue e miséria. De minha parte, fico com este “maldito” liberalismo democrático, que tem seus defeitos sim, como qualquer modelo de sociedade com seres humanos imperfeitos, mas que é infinitamente mais justo e eficiente, como a história mostrou. Reformas e mudanças, sempre! Afinal, trata-se de um modelo vivo, uma sociedade aberta, que deve progredir gradualmente, por tentativa e erro. Mas “soluções” mágicas, ainda mais o resgate do mais que ultrapassado comunismo, isso nem pensar!
O filósofo e psicanalista Zizek costuma encantar as esquerdas. É o marxista pop, como alguns já o chamaram. Ser popular com a esquerda festiva que adora viajar a Paris e com jovens revolucionários que odeiam “tudo que está aí” e querem destruir o “sistema” não é mérito algum para mim. Prefiro todos os anônimos ou impopulares que lutam diariamente para construir, de fato, um mundo melhor e mais justo, com respeito às liberdades alheias e, por tabela, repúdio ao comunismo, novo ou velho.
quinta-feira, maio 26, 2011
Explicar que é bom, nada!
Rodrigo Constantino
O ministro Palocci “explicou” nesta quinta-feira a senadores petistas o seu aumento patrimonial e também teria acusado a oposição de tentar desestabilizar o governo com “informações despropositadas”. A presidente Dilma entrou no embalo e reclamou que agora todos focam no conteúdo das acusações, e não no vazamento delas. Dilma ainda teria acusado a oposição de desejar o “terceiro turno” das eleições.
São tantos absurdos juntos que é difícil saber por onde começar. Para começo de conversa, por que Palocci perdeu a voz em público e resolve, depois de vários dias, “explicar” somente para seus aliados petistas seu recém-adquirido toque de Midas? O povo brasileiro quer saber, ministro! Como se ganha tantos milhões em tão pouco tempo prestando “consultoria”? Tenho certeza que uma dica dessas não seria ignorada nem pelo bilionário Eike Batista.
Além disso, falar em “informações despropositadas” é mesmo o cúmulo da cara-de-pau. Ora, despropositado é ganhar tanto dinheiro assim em poucos dias por meio de “consultoria”, ministro! Se alguém desconfiar de tráfico de influência, não poderemos acusá-lo de paranóico, não é mesmo?
Os petistas parecem perdidos mesmo, e já atacaram os tucanos e a imprensa. O mensageiro precisa ser morto para abafar a notícia, assim como o sofá precisa ser jogado fora para eliminar o adultério. A presidente fala de oposição, mas qual? Se não fosse o trabalho justamente da imprensa que tanto incomoda governos corruptos, já éramos uma Argentina, quiçá uma Venezuela. Parece o sonho dos petistas mesmo.
A presidente fala em “terceiro turno”, mas legítimo seria questionar um possível “terceiro mandato” do presidente Lula. O “cara” está de volta, dando pito em senadores e distribuindo ordens no governo. Quem é que manda, presidente Dilma? Quem foi eleito pelo povo? Será que temos um governo de marionetes, que apenas segue ordens de um civil sem cargo público? A postura do ex-presidente Lula, com a permissividade da presidente Dilma, é uma afronta à democracia.
Sobre focar no conteúdo das informações reveladas, que absurdo, não é mesmo? Onde já se viu o povo focar no conteúdo das coisas? Vejamos um exemplo: o sujeito descobre que sua mulher o está traindo, mas eis que quem mostra a prova contundente é o vizinho que tem interesse na mulher. Claro que o marido traído deve focar na forma como a prova surgiu, e não na traição em si, certo? Tem coisas que só os petistas conseguem dizer com a maior tranqüilidade!
Até agora, vimos apenas baratas tontas, mas explicar que é bom, nada! Também, pudera: não há como explicar tantos milhões em tão pouco tempo com “consultoria” de ex e futuro ministro. Ao menos não sem chamar o povo de imbecil.
Faith and the markets
Buttonwood - THE ECONOMIST
The religious rituals of the finance sector
HAROLD CAMPING, the radio preacher who inaccurately forecast that the Apocalypse would begin on May 21st, made a rookie’s mistake. Any pundit could have told him that when you forecast an event, you should not name a date. But if you are forced into doing so, choose a date so far in the future that you will not be around to be proved wrong.
Religion is largely a matter of faith, rather than scientifically testable propositions. But even in the financial markets, where participants worship Mammon rather than God, faith plays a larger role than its hard-headed participants would like to admit.
When it comes to assessing the prospects of a company like LinkedIn, a newly floated online business-networking firm, investors rely entirely on the assumption that the company’s future growth can justify the stratospheric level of its current valuation. They have to assess the management’s strategy, the level of competition, changes in customer habits, the economic outlook and many other factors that are extremely difficult to forecast. Buying shares in such a company is a leap of faith by any standard.
During the lead-up to the establishment of the European single currency, investors bought the bonds of weaker governments on the ground that all would converge on the high standing of Germany. They had faith that countries like Greece and Portugal would use the breathing space of lower interest rates to usher in economic reform. That belief proved sadly misplaced.
Finance even has its own high priests in the form of the analysts and fund managers who promise their clients heavenly rewards if only they listen to their advice. They preach regular sermons in the form of brokers’ notes and quarterly reports, and they house themselves in vast cathedral-like buildings that dominate the skyline. Each day also has its canonical hours as traders pray for profitable opportunities at the European, American and Asian market openings. Finance has its annual calendar, too, marked with festivals known as results seasons in which the lucky participants receive their temporal (rather than spiritual) dividends.
And like any self-respecting religion, finance has its doctrinal schisms as well. Active fund managers are a bit like the medieval Catholic church, offering eternal salvation to those willing to pay the appropriate sum, which are known in modern parlance as performance fees rather than indulgences. The active-investment sect has its elaborate rituals and language, with a liturgy (“information ratios” and “alpha generation”) as baffling to the layman as the Latin mass was to the medieval peasant. Clients are supposed to listen to their presentations in a reverential hush, trusting that all the mumbo-jumbo will deliver superior results.
The passive fund managers, or index-trackers, are akin to early Lutherans. Investors have no need for priestly intermediaries between them and the market, say the index-trackers. All they require is the full text of those companies that are included in the benchmark.
Finance also has its equivalent of holy men, the gurus who pronounce on the market outlook. Not for nothing is Warren Buffett known as the “sage of Omaha”. The faithful conduct an annual pilgrimage to Nebraska every year to attend the annual meeting of his company, Berkshire Hathaway. His folksy demeanour would surely make him the ideal neighbourhood priest, bringing comfort through life’s ups and downs. Those made of sterner stuff prefer the more puritanical oratory of Nouriel Roubini, forever preaching hellfire and damnation for those (particularly the Federal Reserve) who fail to repent.
Finance seems to be a polytheistic rather than a monotheistic faith. The objects of veneration change on a regular basis from emerging markets through internet companies to commodities. These enthusiasms often have a cultlike quality with adherents inclined to pour scorn on unbelievers who “just don’t get it”. It is striking that the cults often involve asset classes that do not deliver much in the way of immediate cashflow. Dividends will be paid far into the future, long after the likely holding period of the average investor. It is a little bit like the promise of an afterlife.
Even when these cults prove to be built on sand, investors show a remarkable willingness to forget their disappointment and move on. Mr Camping clearly hopes his followers will be equally forgiving. He has revised his doomsday forecast to October 21st.
Palestra aborda situação econômica no mundo e no Brasil
Diário do Comércio
Economista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RJ, com MBA em Finanças pelo Ibmec, Rodrigo Constantino foi o primeiro palestrante do Jantar de Negócios do DIÁRIO DO COMÉRCIO em 2011. Ele trabalha no mercado financeiro desde 1997. Escritor, já publicou os livros "Prisioneiros da Liberdade", "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", "Egoísmo Racional - o individualismo de Ayn Rand" e, ainda, "Uma Luz na Escuridão". Demonstrou grande conhecimento e visão clara e apartidária, ao discorrer sobre a situação econômica mundial e brasileira.
Ele iniciou a palestra recomendando o estudo dos teóricos da escola austríaca de economia, considerada por ele "uma das mais sólidas que existe". Segundo Constantino, essa escola se baseia na teoria de ciclos econômicos, que podem ser divididos em momentos de pico e de queda do nível de atividade.
Para o economista, esses ciclos têm sido substancialmente agravados pela ação dos governos, via interferência dos bancos centrais dos países. "O governo inunda o mercado com moeda e os bancos expandem crédito de forma irresponsável, impactando o preço dos produtos", afirmou.
Nesse contexto, acrescentou o economista, os empresários entram no "jogo" do governo e acabam errando em bloco porque, no final das contas, o recurso prometido não existe de fato, o que força os preços para baixo. Em outras palavras, o resultado dessa operação são as perigosas "bolhas". Em 2000/2001 explodiu a primeira, das empresas de tecnologia e internet.
Segundo Constantino, naquela época havia a necessidade de medidas de ajustes que não foram tomadas pelos governos, seja por receio do desgaste político que esse tipo de atitude gera ou mesmo pela dificuldade de restringir, "do dia para a noite", facilidades que vinham sendo concedidas há algum tempo. "Em economia não existe almoço grátis", destacou.
A inoperância dos governos contribuiu para a formação de uma segunda "bolha", a imobiliária, que explodiu no final de 2008. Para Constantino, no epicentro daquela crise estão as digitais do governo norte-americano, via estímulo ao crédito para pessoas de baixa renda que, em algum momento, não poderiam arcar com essa conta. A insegurança do mercado fez com que o ouro, até então considerado uma opção conservadora de investimento, apresentasse expressiva rentabilidade, saltando de US$ 500 para US$ 1,5 mil a onça.
A situação da Europa não é diferente da vivenciada pelos Estados Unidos. As medidas adotadas para conter o desemprego e garantir a produtividade acabaram rendendo mais demissões e um período de letargia do qual os países de economia mais frágil ainda não se recuperaram, apesar de milhões de euros disponibilizados para auxílio.
"Os países não querem enfrentar o problema e todos ainda praticam taxas de juros abaixo do nível considerado saudável", advertiu.
No caso do Japão, o país se arrasta há 20 anos com taxas de juros também próximas de zero, exportando capital para o restante do mundo.
China - Segundo o economista, a China, que tem servido de exemplo para tantos países em desenvolvimento, também é um case marcado pela falta de sustentabilidade. "Eles colocaram 1,3 bilhão de trabalhadores baratos no mercado de consumo mas as decisões estão concentradas nas mãos do governo, o que é um risco", avaliou.
Neste contexto, a situação brasileira é positiva, segundo o economista. A relação entre importações e exportações deu um salto nos últimos oito anos, principalmente pela valorização das commodities, que incrementaram fortemente o valor das exportações nacionais. A desvalorização do dólar frente ao real também tem criado um sistema de importações barato que, estrategicamente utilizado, pode incrementar a economia do país.
Dos Brics, o Brasil é o que está na frente, com melhoria dos dados macroeconômicos, crescimento da oferta de crédito ao percentual de 20% ao ano, nos últimos quatro anos. "Só agora isso está impactando o índice inflacionário", argumentou. O cenário de estabilidade econômica também tem incentivado as empresas a abrirem capital.
Entretanto, permanecem os mesmos gargalos de sempre. Entre eles, o "manicômio tributário" nacional e o problema previdenciário, considerado uma bomba-relógio que está prestes a explodir se não for definitivamente solucionado. A legislação trabalhista praticada pelo país também já deveria ter sido modernizada, ressaltou o economista. Completando, as questões que envolvem a logística e a infraestrutura "capenga" do país são temas que aparecem diariamente, mas que não têm sido enfrentadas com a devida energia.
"O governo arrecada quase 40% do PIB para sustentar a máquina que está bastante inchada. A oferta de bolsas para tudo e todos, incluindo-se aí os empresários, via BNDES, também não é um cenário duradouro e/ou sustentável", afirmou. Soma-se a isso a falta de mão de obra qualificada, que prejudica o andamento de investimentos em infraestrutura.
Para o economista, embora o cenário seja de crescimento, é imprescindível que o governo federal assuma a parte que lhe cabe na solução de tantos problemas, pois só assim o processo de desenvolvimento do país será sustentável no longo prazo, o que realmente se deseja, e não mais um ciclo de alta que será substituído por outro, de queda.
Palocci e a hidra de duas cabeças
Demétrio Magnoli - O Estado de S.Paulo
Antônio Palocci não estará alheio à coincidência de que os lucros fabulosos de sua firma de consultoria tenham vindo à tona precisamente quando o governo Dilma Rousseff enfrenta uma encruzilhada crucial. De novo, mas numa conjuntura internacional diferente, eclode no núcleo do poder a disputa sobre o lugar do Estado na economia brasileira. Atrás do "fogo amigo" contra o chefe da Casa Civil está o projeto de radicalização do pacto lulista esboçado após a queda de Palocci, em 2006.
No primeiro mandato de Lula, a dupla Palocci-Henrique Meirelles funcionou como âncora da ortodoxia herdada, expressa nos três mandamentos oriundos do Plano Real: metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal. O escândalo do caseiro abriu a oportunidade para o avanço dos "desenvolvimentistas" e, no segundo mandato, sob o comando ambivalente de Guido Mantega e Meirelles, surgiram os traços de um desenho alternativo, que tendia a suprimir o equilíbrio fiscal do tripé de política econômica. A quebra do Lehman Brothers, em 2008, rompeu o dique de contenção do Banco Central, propiciando a articulação do pacto lulista destinado a eleger Dilma Rousseff. Os vagalhões do tsunami seriam reduzidos a uma "marolinha" pela ressurreição do "Estado provedor".
No princípio, era necessidade. À estiagem global de liquidez o governo Lula contrapôs uma torrente de crédito e investimento que, em menos de um ano, reativou o crescimento interno. Depois, a necessidade foi retraduzida como virtude: o frenesi de gastos públicos aqueceu a caldeira da demanda interna, produzindo a fogueira de 2010. No ano eleitoral, a economia entrou em desabalada carreira, à custa de contratação de dívida pública, apreciação cambial e deterioração das contas externas.
Economia é política concentrada. O pacto lulista aliou o governo à fração principal do grande empresariado por intermédio do BNDES, das estatais e dos fundos de pensão. A inflexão de política econômica alicerçou-se sobre a convergência de duas motivações. Lula, que não se importa com ideias, consolidava uma aliança de poder que tornaria viável a transição para um governo destituído de seu carisma. Os arautos do capitalismo de Estado, representantes de uma doutrina, visualizavam a oportunidade para destruir alguns pilares da ortodoxia vigente. Fruto da convergência, surgiu a hidra de duas cabeças: uma política econômica que almeja conciliar voluntarismo desenvolvimentista e controle da inflação na moldura restritiva do câmbio flutuante.
Dilma montou seu governo à luz de um desejo continuísta, revigorando o poder de Mantega na equipe econômica, mas, simultaneamente, traçando um limite para as aventuras desenvolvimentistas pela nomeação de Palocci para o cargo fantasmagórico de primeiro-ministro. A hidra bifronte deveria seguir sua marcha, espalhando inconsistências ao longo de uma vereda providencialmente aberta pelos elevados fluxos externos de investimentos no Brasil. O repique inflacionário atual, num cenário de apreciação da moeda rodeado por incertezas externas, assinala a encruzilhada: cedo ou tarde, será preciso cortar uma das cabeças da hidra.
Decepar a cabeça desenvolvimentista exige a recuperação do equilíbrio fiscal por meio da redução dos gastos públicos, que possibilitaria mais à frente uma queda sustentada da taxa de juros. No curto prazo, porém, a inflação precisaria ser contida por aumentos inclementes dos juros. Em vários cenários externos malignos, a combinação de apertos fiscais e monetários provocaria uma recessão doméstica. A hipótese é politicamente dolorosa, talvez intragável, pois uma presidente sem carisma estaria declarando nulo o pacto lulista que a conduziu ao Planalto.
A alternativa, acalentada por figuras influentes, dentro e fora do governo, é decepar a cabeça ortodoxa, renunciando ao câmbio flutuante e ao sistema de metas de inflação. Num ambiente de aumento de preços internos, o governo usaria sua artilharia pesada para promover um vasto programa de obras e financiar o grande empresariado associado ao Estado. O real seria desvalorizado e o câmbio, posto sob cabresto. Sob a égide de um protecionismo restaurado, o mercado interno se converteria no eixo de expansão econômica. A hipótese equivale a um passeio às cegas num campo minado pelo retorno da inflação e pela queda dos salários reais.
A presidente pode adiar o desenlace, decidindo nada decidir, numa aposta equilibrada sobre as vultosas reservas internacionais do País e as esperanças numa evolução benigna do cenário mundial. O Ministério da Fazenda atribui as ameaças inflacionárias à especulação internacional nos mercados de commodities, silenciando acerca da orgia fiscal promovida no ano eleitoral. Hoje, num seminário conjunto do governo brasileiro e do FMI, Mantega repetirá sua peça acusatória contra as políticas monetárias dos EUA e da China, a fim de atribuir a fatores externos o impasse brasileiro. Ele tem alguma razão, como costumam ter uma pitada de razão todos os que invocam o espectro do "inimigo estrangeiro" para ocultar insolúveis dilemas internos.
"Não importam os nomes, a responsabilidade pela economia é minha", assegurou Dilma ainda antes da posse. Na política real, feita por pessoas de carne e osso, não por abstrações sociológicas, os nomes importam, sim - como sabem as fontes últimas das suspeitas que cercam o primeiro-ministro. Tais fontes evidenciaram apenas a película pública da história da firma de consultoria (ou de lobby, como sugere Michel Temer?), pois não pretendiam derrubar seu proprietário, mas tomá-lo como refém, provocando uma incapacitação política. O serviço, que contou com o auxílio involuntário do próprio Palocci, já está feito. O dilema econômico subsiste, mas o campo de batalha foi modificado.
Antônio Palocci não estará alheio à coincidência de que os lucros fabulosos de sua firma de consultoria tenham vindo à tona precisamente quando o governo Dilma Rousseff enfrenta uma encruzilhada crucial. De novo, mas numa conjuntura internacional diferente, eclode no núcleo do poder a disputa sobre o lugar do Estado na economia brasileira. Atrás do "fogo amigo" contra o chefe da Casa Civil está o projeto de radicalização do pacto lulista esboçado após a queda de Palocci, em 2006.
No primeiro mandato de Lula, a dupla Palocci-Henrique Meirelles funcionou como âncora da ortodoxia herdada, expressa nos três mandamentos oriundos do Plano Real: metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal. O escândalo do caseiro abriu a oportunidade para o avanço dos "desenvolvimentistas" e, no segundo mandato, sob o comando ambivalente de Guido Mantega e Meirelles, surgiram os traços de um desenho alternativo, que tendia a suprimir o equilíbrio fiscal do tripé de política econômica. A quebra do Lehman Brothers, em 2008, rompeu o dique de contenção do Banco Central, propiciando a articulação do pacto lulista destinado a eleger Dilma Rousseff. Os vagalhões do tsunami seriam reduzidos a uma "marolinha" pela ressurreição do "Estado provedor".
No princípio, era necessidade. À estiagem global de liquidez o governo Lula contrapôs uma torrente de crédito e investimento que, em menos de um ano, reativou o crescimento interno. Depois, a necessidade foi retraduzida como virtude: o frenesi de gastos públicos aqueceu a caldeira da demanda interna, produzindo a fogueira de 2010. No ano eleitoral, a economia entrou em desabalada carreira, à custa de contratação de dívida pública, apreciação cambial e deterioração das contas externas.
Economia é política concentrada. O pacto lulista aliou o governo à fração principal do grande empresariado por intermédio do BNDES, das estatais e dos fundos de pensão. A inflexão de política econômica alicerçou-se sobre a convergência de duas motivações. Lula, que não se importa com ideias, consolidava uma aliança de poder que tornaria viável a transição para um governo destituído de seu carisma. Os arautos do capitalismo de Estado, representantes de uma doutrina, visualizavam a oportunidade para destruir alguns pilares da ortodoxia vigente. Fruto da convergência, surgiu a hidra de duas cabeças: uma política econômica que almeja conciliar voluntarismo desenvolvimentista e controle da inflação na moldura restritiva do câmbio flutuante.
Dilma montou seu governo à luz de um desejo continuísta, revigorando o poder de Mantega na equipe econômica, mas, simultaneamente, traçando um limite para as aventuras desenvolvimentistas pela nomeação de Palocci para o cargo fantasmagórico de primeiro-ministro. A hidra bifronte deveria seguir sua marcha, espalhando inconsistências ao longo de uma vereda providencialmente aberta pelos elevados fluxos externos de investimentos no Brasil. O repique inflacionário atual, num cenário de apreciação da moeda rodeado por incertezas externas, assinala a encruzilhada: cedo ou tarde, será preciso cortar uma das cabeças da hidra.
Decepar a cabeça desenvolvimentista exige a recuperação do equilíbrio fiscal por meio da redução dos gastos públicos, que possibilitaria mais à frente uma queda sustentada da taxa de juros. No curto prazo, porém, a inflação precisaria ser contida por aumentos inclementes dos juros. Em vários cenários externos malignos, a combinação de apertos fiscais e monetários provocaria uma recessão doméstica. A hipótese é politicamente dolorosa, talvez intragável, pois uma presidente sem carisma estaria declarando nulo o pacto lulista que a conduziu ao Planalto.
A alternativa, acalentada por figuras influentes, dentro e fora do governo, é decepar a cabeça ortodoxa, renunciando ao câmbio flutuante e ao sistema de metas de inflação. Num ambiente de aumento de preços internos, o governo usaria sua artilharia pesada para promover um vasto programa de obras e financiar o grande empresariado associado ao Estado. O real seria desvalorizado e o câmbio, posto sob cabresto. Sob a égide de um protecionismo restaurado, o mercado interno se converteria no eixo de expansão econômica. A hipótese equivale a um passeio às cegas num campo minado pelo retorno da inflação e pela queda dos salários reais.
A presidente pode adiar o desenlace, decidindo nada decidir, numa aposta equilibrada sobre as vultosas reservas internacionais do País e as esperanças numa evolução benigna do cenário mundial. O Ministério da Fazenda atribui as ameaças inflacionárias à especulação internacional nos mercados de commodities, silenciando acerca da orgia fiscal promovida no ano eleitoral. Hoje, num seminário conjunto do governo brasileiro e do FMI, Mantega repetirá sua peça acusatória contra as políticas monetárias dos EUA e da China, a fim de atribuir a fatores externos o impasse brasileiro. Ele tem alguma razão, como costumam ter uma pitada de razão todos os que invocam o espectro do "inimigo estrangeiro" para ocultar insolúveis dilemas internos.
"Não importam os nomes, a responsabilidade pela economia é minha", assegurou Dilma ainda antes da posse. Na política real, feita por pessoas de carne e osso, não por abstrações sociológicas, os nomes importam, sim - como sabem as fontes últimas das suspeitas que cercam o primeiro-ministro. Tais fontes evidenciaram apenas a película pública da história da firma de consultoria (ou de lobby, como sugere Michel Temer?), pois não pretendiam derrubar seu proprietário, mas tomá-lo como refém, provocando uma incapacitação política. O serviço, que contou com o auxílio involuntário do próprio Palocci, já está feito. O dilema econômico subsiste, mas o campo de batalha foi modificado.
Primeira enquete
Na busca de maior interatividade no blog, realizei a primeira enquete, cuja pergunta foi "por que um socialista chefiava o FMI?" Foram 90 votos no total, e a resposta vencedora, com 52% do total, foi "porque coerência e política não se misturam". De fato, existem coisas que só vemos mesmo na política...
Palestra do Zingales
Acabei de chegar da palestra do professor Luigi Zingales, de Chicago. Muito boa! O evento foi realizado pela Vale, com o apoio do Instituto Millenium. Zingales defende o livre mercado com regras claras e isonômicas. "O livre mercado não é uma selva". Sua defesa de instituições sólidas para preservar o jogo é muito bem-vinda neste momento, onde a arbitrariedade de governos atinge níveis alarmantes. O economista chegou a fazer uma analogia com o jogo Monopólio, que jogava com seus filhos: quando o garoto resolvia ser seletivo nas regras, ou mudá-las no meio do jogo, a menina mais nova chorava e desestia de jogar. É natural quando as pessoas se recusam a "jogar o jogo" do capitalismo, se ele não está dentro das regras pré-estabelecidas, respeitando a meritocracia.
Zingales frisa também a diferença entre a agenda "pró-mercado", que ele defende, e a agenda "pró-negócios", que nem sempre é aliada do livre mercado. Grandes empresas não necessariamente são defensoras do livre mercado. Raramente são. Preferem a arena política, via lobby, para conquistar privilégios e criar barreiras à livre competição. Concentração demasiada de poder econômico, como ocorreu nos EUA no setor bancário (Wall Street), pode ser prejudicial ao livre mercado.
Escrevi uma resenha de seu ótimo livro, que recomendo.
A 62% Top Tax Rate?
By STEPHEN MOORE, WSJ
Media reports in recent weeks say that Senate Democrats are considering a 3% surtax on income over $1 million to raise federal revenues. This would come on top of the higher income tax rates that President Obama has already proposed through the cancellation of the Bush era tax-rate reductions.
If the Democrats' millionaire surtax were to happen—and were added to other tax increases already enacted last year and other leading tax hike ideas on the table this year—this could leave the U.S. with a combined federal and state top tax rate on earnings of 62%. That's more than double the highest federal marginal rate of 28% when President Reagan left office in 1989. Welcome back to the 1970s.
Here's the math behind that depressing calculation. Today's top federal income tax rate is 35%. Almost all Democrats in Washington want to repeal the Bush tax cuts on those who make more than $250,000 and phase out certain deductions, so the effective income tax rate would rise to about 41.5%. The 3% millionaire surtax raises that rate to 44.5%.
But payroll taxes, which are income taxes on wages and salaries, must also be included in the equation. So we have to add about 2.5 percentage points for the payroll tax for Medicare (employee and employer share after business deductions), which was applied to all income without a ceiling in 1993 as part of the Clinton tax hike. I am including in this analysis the employer share of all payroll taxes because it is a direct tax on a worker's salary and most economists agree that though employers are responsible for collecting this tax, it is ultimately borne by the employee. That brings the tax rate to 47%.
Then last year, as part of the down payment for ObamaCare, Congress snuck in an extra 0.9% Medicare surtax on "high-income earners," meaning any individual earning more than $200,000 or couples earning more than $250,000. This brings the total tax rate to 47.9%.
But that's not all. Several weeks ago, Mr. Obama raised the possibility of eliminating the income ceiling on the Social Security tax, now capped at $106,800 of earnings a year. (Never mind that the program was designed to operate as an insurance system, with each individual's payment tied to the benefits paid out at retirement.) Subjecting all wage and salary income to Social Security taxes would add roughly 10.1 percentage points to the top tax rate. This takes the grand total tax rate on each additional dollar earned in America to about 58%.
Then we have to factor in state income taxes, which on average add after the deductions from the federal income tax roughly another four percentage points to the tax burden. So now on average we are at a tax rate of close to 62%.
Democrats have repeatedly stated they only intend to restore the tax rates that existed during the Clinton years. But after all these taxes on the "rich," we're headed back to the taxes that prevailed under Jimmy Carter, when the highest tax rate was 70%.
Taxes on investment income are also headed way up. Suspending the Bush tax cuts, which is favored by nearly every congressional Democrat, plus a 3.8% investment tax in the ObamaCare bill (which starts in 2014) brings the capital gains tax rate to 23.8% from 15%. The dividend tax would potentially climb to 45% from the current rate of 15%.
Now let's consider how our tax system today compares with the system that was in place in the late 1980s—when the deficit was only about one-quarter as large as a share of GDP as it is now. After the landmark Tax Reform Act of 1986, which closed special-interest loopholes in exchange for top marginal rates of 28%, the highest combined federal-state marginal tax rate was about 33%. Now we may be headed to 62%. You don't have to be Jack Kemp or Arthur Laffer to understand that a 29 percentage point rise in top marginal rates would make America a highly uncompetitive place.
What is particularly worrisome about this trend is the deterioration of the U.S. tax position relative to the rest of our economic rivals. In 1990, the highest individual income tax rate of our major economic trading partners was 51%, while the U.S. was much lower at 33%. It's no wonder that during the 1980s and '90s the U.S. created more than twice as many new jobs as Japan and Western Europe combined.
It's true that the economy was able to absorb the Bush 41 and Clinton tax hikes and still grow at a very rapid pace. But what the soak-the-rich lobby ignores is how different the world is today versus the early 1990s. According to the Organization for Economic Cooperation and Development, over the past two decades the average highest tax rate among the 20 major industrial nations has fallen to about 45%. Yet the highest U.S. tax rate would rise to more than 48% under the Obama/Democratic tax hikes. To make matters worse, if we include the average personal income tax rates of developing countries like India and China, the average tax rate around the world is closer to 30%, according to a new study by KPMG.
What all this means is that in the late 1980s, the U.S. was nearly the lowest taxed nation in the world, and a quarter century later we're nearly the highest.
Despite all of this, the refrain from Treasury Secretary Tim Geithner and most of the Democrats in Congress is our fiscal mess is a result of "tax cuts for the rich." When? Where? Who? The Tax Foundation recently noted that in 2009 the U.S. collected a higher share of income and payroll taxes (45%) from the richest 10% of tax filers than any other nation, including such socialist welfare states as Sweden (27%), France (28%) and Germany (31%). And this was before the rate hikes that Democrats are now endorsing.
Perhaps there can still be a happy ending to this sad tale of U.S. decline. If there were ever a right time to trade in the junk heap of our federal tax code for a pro-growth Steve Forbes-style flat tax, now's the time.
Mr. Moore is a member of the The Journal's editorial board.
Comentário: Sem comentários. São os Estados Unidos de Obama no caminho do socialismo. Lamentável.
quarta-feira, maio 25, 2011
Oposição fajuta
Entrevista para a Revista Viver Brasil
A oposição política brasileira está ausente, passiva.” A análise é do economista Rodrigo Constantino, um dos mais atuantes articulistas do país da nova geração. Colunista da revista Voto, do caderno Eu&Investimentos do Valor Econômico, do jornal O Globo e do site OrdemLivre.org, ele mantém ainda um blog, onde discorre com doses carregadas de críticas sobre questões ligadas à economia e política brasileira. Autor de cinco livros, Constantino falou à coluna sobre temas em destaque hoje no Brasil, como risco da volta da inflação, os preparativos para Copa de 2014, além de fazer uma análise dos primeiros meses do governo da presidente Dilma Rousseff. Membro-fundador do Instituto Millenium, ele vê avanços no governo Dilma, mas poucos.
Como avalia a atuação das lideranças políticas de oposição desde a era Lula?
A oposição está ausente, passiva e não respeita os 44 milhões de votos das últimas eleições. Mesmo o senador Aécio Neves (PSDB) não demonstra ser uma liderança efetiva da oposição. Críticas pontuais não são suficientes no momento. É preciso ter uma oposição ativa. Em vez disso, nossa oposição está se digladiando entre si, desmoronando ou pensando em aderir parcialmente ao governo. Fica a sensação de que querem apenas o poder e seus vastos recursos, sem um projeto verdadeiro para o país.
Qual a sua análise dos primeiros quatro meses do governo Dilma?
Ocorreram mudanças positivas em relação ao governo anterior, especialmente no que diz respeito à política externa, com maior aproximação dos Estados Unidos e menor negligência em relação aos regimes opressores que desrespeitam os direitos humanos. Mas foi só. O governo não apresentou uma única reforma estrutural nos primeiros meses, quando o capital político é maior. A economia encontra-se superaquecida e a inflação dá sinais de perda de controle, enquanto o governo parece brincar com fogo. O anúncio do corte de gastos públicos foi tímido demais, e ainda representa crescimento em comparação ao ano anterior. O crédito continua sendo estimulado pelo governo, principalmente através do BNDES. E o Banco Central, que não tem independência, está mantendo as taxas de juros em patamar abaixo do necessário para conter a inflação. O governo brasileiro pode estar despertando o velho dragão inflacionário, o que, para um país indexado como o nosso, representa risco inadmissível.
Quanto à Copa de 2014, acredita que o país dará conta de concluir as obras a tempo?
Talvez. Mas sem dúvida será feito de maneira inadequada, na correria e sem os devidos mecanismos de fiscalização. Os investimentos em elefantes brancos custam caro e não trazem retorno para a sociedade. Como brasileiro preocupado com as contas públicas num país que já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, sem falar do alto índice de corrupção, não posso celebrar a Copa somente com base em ufanismo tolo.
Como vê a postura do governo em relação à gestão da Vale?
Vejo com extrema preocupação. O PT nunca aceitou a privatização da Vale, apesar de seu estrondoso sucesso. O estado brasileiro ainda é muito intervencionista, partindo da falsa premissa de que cabe a ele ser a locomotiva do crescimento econômico. É uma visão claramente ultrapassada, e conhecemos seus elevados custos da era Vargas e era Geisel. O governo não deveria ser gestor de empresas, pois conta com incentivos totalmente inadequados para tanto.
China's Growth Risks
Editorial do WSJ
The Chinese economy is coming in for some sort of landing, and everyone is speculating whether it will be hard or soft. After HSBC on Monday released a purchasing managers index barely in positive territory, Goldman Sachs yesterday lowered its growth forecast for the year to 9.4% from 10%. But the determining factor in the hard vs. soft debate, and one reason global markets have fallen out of bed this week, is that Chinese inflation continues to accelerate. Goldman predicts an annual rate of 5.6% in June, up from 5.3% in April.
If you believe the government and some independent analysts, this isn't a big deal because inflation will peak this quarter. A couple more hikes in bank reserve ratios and perhaps one more quarter-point rise in lending rates and prices will stabilize.
Maybe that will prove true, and the world will breathe a sigh of relief. Yet it's also worth considering the possibility that Beijing has backed itself into a monetary corner. The central bank has already used up most of its ammunition for fighting inflation, yet money continues to pour in on both the current and capital accounts. As a result, a chunk of the People's Bank of China's intervention in the forex markets to keep the yuan's value stable is unsterilized, meaning it goes straight into the money supply. The fact that real interest rates remain negative shows that for all its alleged tightening, monetary policy remains loose.
When the economy is growing quickly, that's not such a problem, as the new money has increasing amounts of goods to buy. But slowing output leaves more money chasing fewer goods, the classic cause of inflation. The conventional wisdom that governments stop overheating by constraining growth is turned on its head here.
The fragility of the global economy only adds to the angst. Asia-Pacific nations especially have become dependent on China for much of their growth. The last time China's growth slowed significantly, in the late 1990s, its trade was still too small to exert much of an impact beyond its shores. Now it is the world's second-largest economy and second-largest trader.
This means the world must pay close attention to Chinese fundamentals, including the stability of its banking system. Beijing will no doubt continue to insist on the principle of noninterference in its internal affairs, but there is a pressing need for greater transparency. As the Journal reports, China is the biggest player in the global steel market, yet nobody has a clear picture of how much it produces and consumes. The financial system is even more opaque, as official data are suspect and information that would be public elsewhere is still considered a state secret.
Officially, the large state-owned banks have reduced their nonperforming loans dramatically, to 300 billion yuan ($44 billion) in 2010 from more than one trillion yuan in 2005. But the government spurred the banks to lend 1.4 trillion yuan in 2009, and even the optimists concede that some portion of these loans are starting to go south. There are many ways to disguise this fact, as Japanese bankers can testify, and so the question is whether investors can trust the balance sheets of banks that are simultaneously arms of the state and listed companies.
Beijing may engineer another growth spurt by calling on the banks again to spur lending. But it's clear that China's growth model is reaching the limit of its usefulness. Sooner or later the central bank will have to halt its accumulation of reserves and the expansion of the money supply. That will deal a shock to the economy, but it will be better than continuing down this road toward a bigger crisis and recession.
The Chinese economy is coming in for some sort of landing, and everyone is speculating whether it will be hard or soft. After HSBC on Monday released a purchasing managers index barely in positive territory, Goldman Sachs yesterday lowered its growth forecast for the year to 9.4% from 10%. But the determining factor in the hard vs. soft debate, and one reason global markets have fallen out of bed this week, is that Chinese inflation continues to accelerate. Goldman predicts an annual rate of 5.6% in June, up from 5.3% in April.
If you believe the government and some independent analysts, this isn't a big deal because inflation will peak this quarter. A couple more hikes in bank reserve ratios and perhaps one more quarter-point rise in lending rates and prices will stabilize.
Maybe that will prove true, and the world will breathe a sigh of relief. Yet it's also worth considering the possibility that Beijing has backed itself into a monetary corner. The central bank has already used up most of its ammunition for fighting inflation, yet money continues to pour in on both the current and capital accounts. As a result, a chunk of the People's Bank of China's intervention in the forex markets to keep the yuan's value stable is unsterilized, meaning it goes straight into the money supply. The fact that real interest rates remain negative shows that for all its alleged tightening, monetary policy remains loose.
When the economy is growing quickly, that's not such a problem, as the new money has increasing amounts of goods to buy. But slowing output leaves more money chasing fewer goods, the classic cause of inflation. The conventional wisdom that governments stop overheating by constraining growth is turned on its head here.
The fragility of the global economy only adds to the angst. Asia-Pacific nations especially have become dependent on China for much of their growth. The last time China's growth slowed significantly, in the late 1990s, its trade was still too small to exert much of an impact beyond its shores. Now it is the world's second-largest economy and second-largest trader.
This means the world must pay close attention to Chinese fundamentals, including the stability of its banking system. Beijing will no doubt continue to insist on the principle of noninterference in its internal affairs, but there is a pressing need for greater transparency. As the Journal reports, China is the biggest player in the global steel market, yet nobody has a clear picture of how much it produces and consumes. The financial system is even more opaque, as official data are suspect and information that would be public elsewhere is still considered a state secret.
Officially, the large state-owned banks have reduced their nonperforming loans dramatically, to 300 billion yuan ($44 billion) in 2010 from more than one trillion yuan in 2005. But the government spurred the banks to lend 1.4 trillion yuan in 2009, and even the optimists concede that some portion of these loans are starting to go south. There are many ways to disguise this fact, as Japanese bankers can testify, and so the question is whether investors can trust the balance sheets of banks that are simultaneously arms of the state and listed companies.
Beijing may engineer another growth spurt by calling on the banks again to spur lending. But it's clear that China's growth model is reaching the limit of its usefulness. Sooner or later the central bank will have to halt its accumulation of reserves and the expansion of the money supply. That will deal a shock to the economy, but it will be better than continuing down this road toward a bigger crisis and recession.
terça-feira, maio 24, 2011
O mérito, as cotas e o racismo
DEMÓSTENES TORRES, FOLHA DE SÃO PAULO
Em audiência no STF, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem dela precisa: os pobres de todas as cores
O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, me acusa de um delito, o racismo, que teria sido cometido em audiência no Supremo Tribunal Federal, em 2010.
Nela, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem realmente precisa: os pobres de todas as cores.
Em nenhum trecho falei o que Vicente alega em artigo publicado nesta Folha no dia 19 de abril ("É o racismo, estúpidos!", "Tendências/Debates").
Naquele e em outros debates sobre cotas me vali das ciências, como a biologia e a história. Citei dados para embasar afirmações como a de que só existe uma raça, a humana. Nas vagas de cotas, qual critério usar? A cor da pele?
Pesquisa do projeto Raízes Afro-brasileiras mostrou que os genes do sambista Neguinho da Beija-Flor são 67,1% europeus e 31,5% africanos. O país inteiro é assim. O sangue é tão misturado que um laboratório é incapaz de identificar a coloração da epiderme que picou para extraí-lo. Só sabe que foi bombeado por um coração brasileiro.
Há filhos do mesmo pai, da mesma mãe, em que um é negro e o outro é branco. Gêmeos idênticos, cor de pele igual, foram divididos por universidade cotista: "Esse é negro, esse é branco". É a diversidade de um país que celebra Pelé e Clarice Lispector, Machado de Assis e Patrícia Pillar. Isso acabou evitando, no texto de que fui relator e do qual resultou o Estatuto da Igualdade Racial, a implantação de uma guerra que o povo nunca travou.
Ao contrário. A legislação, ao longo dos anos, tem sido implacável com o racismo. No artigo, Vicente me acusa de "destilar em praça pública os venenos que reservava para ambientes privados". Membros de ONGs acreditaram na matéria e a distribuíram via e-mail e em sites, blogs e perfis nas redes sociais. Começou com premissa não checada por um reitor, e o efeito viral tornou um parlamentar o racista da vez.
Quem, então, "destila veneno"?
O rosário vai do jogador Roberto Carlos aos brutamontes que brigam em estacionamento.
O propósito da colagem de manchetes é dar a impressão de que a apologia ao mérito tem o efeito de formar gangues. E sou eu o acusado de usar "retórica dissimulada".
Ao abrir, do alto do prestígio do jornal e da massificação da internet, o travesseiro com as penas das inverdades, Vicente me obriga a recolhê-las, uma a uma, como no tradicional exemplo dos crimes contra a honra. E sou eu quem "faz mau uso do direito de expressão pra fins pessoais inconfessáveis".
Nos comentários dos leitores virtuais, sobraram xingamentos raivosos. E sou eu quem "fomenta, de modo irresponsável, o ódio racial".
Os dados sem checagem o fizeram errar nome de congressista (confunde o deputado Júlio Campos com o senador Jayme Campos) e enxergar ligação entre a defesa do mérito e a "perseguição, a agressão e a eliminação de negros, de judeus e de homossexuais". Não há qualquer relação com esses absurdos. O que celebrei foi o painel multicor que torna tão belo e rico este Brasil heterogêneo.
A intolerância se disfarça dos mais nobres sentimentos, nutre-se do senso comum e, espalhando-se pelo politicamente correto, "tateia sutilmente pelas frestas e se mistura sinuosamente com naturalidade cotidiana". A saída é a educação.
Inclusive na Zumbi, mas quando se trabalhar para tirá-la do 1.568º lugar entre as faculdades e da nota 2 no índice de cursos.
Melhorar dá trabalho, mas é mais eficiente que achincalhar honra, crime que devemos "repudiar e combater sem trégua e sem piedade, sem diminuí-lo e sem ignorá-lo", exatamente como agimos nos casos de racismo.
Em audiência no STF, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem dela precisa: os pobres de todas as cores
O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, me acusa de um delito, o racismo, que teria sido cometido em audiência no Supremo Tribunal Federal, em 2010.
Nela, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem realmente precisa: os pobres de todas as cores.
Em nenhum trecho falei o que Vicente alega em artigo publicado nesta Folha no dia 19 de abril ("É o racismo, estúpidos!", "Tendências/Debates").
Naquele e em outros debates sobre cotas me vali das ciências, como a biologia e a história. Citei dados para embasar afirmações como a de que só existe uma raça, a humana. Nas vagas de cotas, qual critério usar? A cor da pele?
Pesquisa do projeto Raízes Afro-brasileiras mostrou que os genes do sambista Neguinho da Beija-Flor são 67,1% europeus e 31,5% africanos. O país inteiro é assim. O sangue é tão misturado que um laboratório é incapaz de identificar a coloração da epiderme que picou para extraí-lo. Só sabe que foi bombeado por um coração brasileiro.
Há filhos do mesmo pai, da mesma mãe, em que um é negro e o outro é branco. Gêmeos idênticos, cor de pele igual, foram divididos por universidade cotista: "Esse é negro, esse é branco". É a diversidade de um país que celebra Pelé e Clarice Lispector, Machado de Assis e Patrícia Pillar. Isso acabou evitando, no texto de que fui relator e do qual resultou o Estatuto da Igualdade Racial, a implantação de uma guerra que o povo nunca travou.
Ao contrário. A legislação, ao longo dos anos, tem sido implacável com o racismo. No artigo, Vicente me acusa de "destilar em praça pública os venenos que reservava para ambientes privados". Membros de ONGs acreditaram na matéria e a distribuíram via e-mail e em sites, blogs e perfis nas redes sociais. Começou com premissa não checada por um reitor, e o efeito viral tornou um parlamentar o racista da vez.
Quem, então, "destila veneno"?
O rosário vai do jogador Roberto Carlos aos brutamontes que brigam em estacionamento.
O propósito da colagem de manchetes é dar a impressão de que a apologia ao mérito tem o efeito de formar gangues. E sou eu o acusado de usar "retórica dissimulada".
Ao abrir, do alto do prestígio do jornal e da massificação da internet, o travesseiro com as penas das inverdades, Vicente me obriga a recolhê-las, uma a uma, como no tradicional exemplo dos crimes contra a honra. E sou eu quem "faz mau uso do direito de expressão pra fins pessoais inconfessáveis".
Nos comentários dos leitores virtuais, sobraram xingamentos raivosos. E sou eu quem "fomenta, de modo irresponsável, o ódio racial".
Os dados sem checagem o fizeram errar nome de congressista (confunde o deputado Júlio Campos com o senador Jayme Campos) e enxergar ligação entre a defesa do mérito e a "perseguição, a agressão e a eliminação de negros, de judeus e de homossexuais". Não há qualquer relação com esses absurdos. O que celebrei foi o painel multicor que torna tão belo e rico este Brasil heterogêneo.
A intolerância se disfarça dos mais nobres sentimentos, nutre-se do senso comum e, espalhando-se pelo politicamente correto, "tateia sutilmente pelas frestas e se mistura sinuosamente com naturalidade cotidiana". A saída é a educação.
Inclusive na Zumbi, mas quando se trabalhar para tirá-la do 1.568º lugar entre as faculdades e da nota 2 no índice de cursos.
Melhorar dá trabalho, mas é mais eficiente que achincalhar honra, crime que devemos "repudiar e combater sem trégua e sem piedade, sem diminuí-lo e sem ignorá-lo", exatamente como agimos nos casos de racismo.
The Return of Stagflation
By RONALD MCKINNON, WSJ
'Stagflation" is an ugly word for an ugly situation: persistent high inflation combined with high unemployment and stagnant demand in a country's economy. The term was coined by British politician Iain Mcleod in a speech to Parliament in 1965. We haven't experienced it here in the United States since the bad old days of the 1970s.
Yet with prices on the rise and unemployment still high, the U.S. economy again seems to be entering stagflation. April's producer price index for finished goods, which excludes services and falling home prices, rose 6.8%. The Bureau of Labor Statistics reports that intermediate goods prices for April were rising at a 9.4% annual clip. Meanwhile the official nationwide unemployment rate is mired close to 9%, without counting a large backlog of discouraged workers who are no longer officially in the labor force. So stagflation it is.
Although many forces buffet the U.S. economy, the near-zero interest rate policy of the Federal Reserve is the prime contributor to the current bout with stagflation.
Since 1945, most of the world has been on a dollar standard. Today, for emerging markets outside of Europe, the dollar is used for invoicing both exports and imports; it is the intermediary currency used by banks for clearing international payments, and the intervention currency used by governments. To avoid conflict in targeting exchange rates, the rule of the game is that the U.S. remains passive without an exchange-rate objective of its own.
Not having an exchange-rate constraint, the Fed can conduct a more independent monetary policy than other central banks can. How it chooses to exercise this independence is crucial to the stability of the international monetary system as a whole. For more than two years, the Fed has chosen to keep short-term interest rates on dollar assets close to zero and—over the past year—applied downward pressure on long rates through the so-called quantitative easing measures to increase purchases of Treasury bonds. The result has been a flood of hot money (i.e., volatile financial flows that are subject to reversals) from the New York financial markets into emerging markets on the dollar's periphery—particularly in Asia and Latin America, where natural rates of interest are much higher.
Wanting to avoid sharp appreciations of their currencies and losses in international competitiveness, many Asian and Latin American central banks intervened to buy dollars with domestic base monies and lost monetary control. This caused a surge in consumer price index (CPI) inflation of more than 5% in major emerging markets such as China, Brazil and Indonesia, with the dollar prices of primary commodities rising more than 40% world-wide over the past year. So the proximate cause of the rise in U.S. prices is inflation in emerging markets, but its true origin is in Washington.
There is a second, purely domestic avenue by which near-zero interest rates in U.S. interbank markets are constricting the economy. Since July 2008, the stock of so-called base money in the U.S. banking system has virtually tripled. As part of its rescue mission in the crisis and to drive interest rates down, the Fed has bought many nontraditional assets (e.g., mortgage-backed securities) as well as Treasurys. Yet these drastic actions have not stimulated new bank lending. The huge increase in base money is now lodged as excess reserves in large commercial banks.
In mid-2011, the supply of ordinary bank credit to firms and households continues to fall from what it had been in mid-2008. Although large corporate enterprises again have access to bond and equity financing, bank credit is the principal source of finance for working capital for small and medium-sized enterprises (SMEs) enabling them to purchase labor and other supplies. In cyclical upswings, SMEs have traditionally been the main engines for increasing employment, but not in the very weak upswing of 2010-11, where employment gains have been meager or nonexistent.
Why should zero interest rates be causing a credit constraint? After all, conventional thinking has it that the lower the interest rate the better credit can expand. But this is only true when interest rates—particularly interbank interest rates—are comfortably above zero. Banks with good retail lending opportunities typically lend by opening credit lines to nonbank customers. But these credit lines are open-ended in the sense that the commercial borrower can choose when—and by how much—he will actually draw on his credit line. This creates uncertainty for the bank in not knowing what its future cash positions will be. An illiquid bank could be in trouble if its customers simultaneously decided to draw down their credit lines.
If the retail bank has easy access to the wholesale interbank market, its liquidity is much improved. To cover unexpected liquidity shortfalls, it can borrow from banks with excess reserves with little or no credit checks. But if the prevailing interbank lending rate is close to zero (as it is now), then large banks with surplus reserves become loath to part with them for a derisory yield. And smaller banks, which collectively are the biggest lenders to SMEs, cannot easily bid for funds at an interest rate significantly above the prevailing interbank rate without inadvertently signaling that they might be in trouble. Indeed, counterparty risk in smaller banks remains substantial as almost 50 have failed so far this year.
That the American system of bank intermediation is essentially broken is reflected in the sharp fall in interbank lending: Interbank loans outstanding in March 2011 were only a third of their level in May 2008, just before the crisis hit. How to fix bank intermediation is a long story for another time. But it is clear that the Fed's zero interest-rate policy has worsened the situation. Without more lending to SMEs, domestic economic stagnation will continue even though inflation is taking off.
The stagflation of the 1970s was brought on by unduly easy U.S. monetary policy in conjunction with attempts to "talk" the dollar down, leading to massive outflows of hot money that destabilized the monetary systems of America's trading partners. Although today's stagflation is not identical, the similarities are striking.
Mr. McKinnon is a professor at Stanford University and a senior fellow at the Stanford Institution for Economic Policy Research.
'Stagflation" is an ugly word for an ugly situation: persistent high inflation combined with high unemployment and stagnant demand in a country's economy. The term was coined by British politician Iain Mcleod in a speech to Parliament in 1965. We haven't experienced it here in the United States since the bad old days of the 1970s.
Yet with prices on the rise and unemployment still high, the U.S. economy again seems to be entering stagflation. April's producer price index for finished goods, which excludes services and falling home prices, rose 6.8%. The Bureau of Labor Statistics reports that intermediate goods prices for April were rising at a 9.4% annual clip. Meanwhile the official nationwide unemployment rate is mired close to 9%, without counting a large backlog of discouraged workers who are no longer officially in the labor force. So stagflation it is.
Although many forces buffet the U.S. economy, the near-zero interest rate policy of the Federal Reserve is the prime contributor to the current bout with stagflation.
Since 1945, most of the world has been on a dollar standard. Today, for emerging markets outside of Europe, the dollar is used for invoicing both exports and imports; it is the intermediary currency used by banks for clearing international payments, and the intervention currency used by governments. To avoid conflict in targeting exchange rates, the rule of the game is that the U.S. remains passive without an exchange-rate objective of its own.
Not having an exchange-rate constraint, the Fed can conduct a more independent monetary policy than other central banks can. How it chooses to exercise this independence is crucial to the stability of the international monetary system as a whole. For more than two years, the Fed has chosen to keep short-term interest rates on dollar assets close to zero and—over the past year—applied downward pressure on long rates through the so-called quantitative easing measures to increase purchases of Treasury bonds. The result has been a flood of hot money (i.e., volatile financial flows that are subject to reversals) from the New York financial markets into emerging markets on the dollar's periphery—particularly in Asia and Latin America, where natural rates of interest are much higher.
Wanting to avoid sharp appreciations of their currencies and losses in international competitiveness, many Asian and Latin American central banks intervened to buy dollars with domestic base monies and lost monetary control. This caused a surge in consumer price index (CPI) inflation of more than 5% in major emerging markets such as China, Brazil and Indonesia, with the dollar prices of primary commodities rising more than 40% world-wide over the past year. So the proximate cause of the rise in U.S. prices is inflation in emerging markets, but its true origin is in Washington.
There is a second, purely domestic avenue by which near-zero interest rates in U.S. interbank markets are constricting the economy. Since July 2008, the stock of so-called base money in the U.S. banking system has virtually tripled. As part of its rescue mission in the crisis and to drive interest rates down, the Fed has bought many nontraditional assets (e.g., mortgage-backed securities) as well as Treasurys. Yet these drastic actions have not stimulated new bank lending. The huge increase in base money is now lodged as excess reserves in large commercial banks.
In mid-2011, the supply of ordinary bank credit to firms and households continues to fall from what it had been in mid-2008. Although large corporate enterprises again have access to bond and equity financing, bank credit is the principal source of finance for working capital for small and medium-sized enterprises (SMEs) enabling them to purchase labor and other supplies. In cyclical upswings, SMEs have traditionally been the main engines for increasing employment, but not in the very weak upswing of 2010-11, where employment gains have been meager or nonexistent.
Why should zero interest rates be causing a credit constraint? After all, conventional thinking has it that the lower the interest rate the better credit can expand. But this is only true when interest rates—particularly interbank interest rates—are comfortably above zero. Banks with good retail lending opportunities typically lend by opening credit lines to nonbank customers. But these credit lines are open-ended in the sense that the commercial borrower can choose when—and by how much—he will actually draw on his credit line. This creates uncertainty for the bank in not knowing what its future cash positions will be. An illiquid bank could be in trouble if its customers simultaneously decided to draw down their credit lines.
If the retail bank has easy access to the wholesale interbank market, its liquidity is much improved. To cover unexpected liquidity shortfalls, it can borrow from banks with excess reserves with little or no credit checks. But if the prevailing interbank lending rate is close to zero (as it is now), then large banks with surplus reserves become loath to part with them for a derisory yield. And smaller banks, which collectively are the biggest lenders to SMEs, cannot easily bid for funds at an interest rate significantly above the prevailing interbank rate without inadvertently signaling that they might be in trouble. Indeed, counterparty risk in smaller banks remains substantial as almost 50 have failed so far this year.
That the American system of bank intermediation is essentially broken is reflected in the sharp fall in interbank lending: Interbank loans outstanding in March 2011 were only a third of their level in May 2008, just before the crisis hit. How to fix bank intermediation is a long story for another time. But it is clear that the Fed's zero interest-rate policy has worsened the situation. Without more lending to SMEs, domestic economic stagnation will continue even though inflation is taking off.
The stagflation of the 1970s was brought on by unduly easy U.S. monetary policy in conjunction with attempts to "talk" the dollar down, leading to massive outflows of hot money that destabilized the monetary systems of America's trading partners. Although today's stagflation is not identical, the similarities are striking.
Mr. McKinnon is a professor at Stanford University and a senior fellow at the Stanford Institution for Economic Policy Research.
segunda-feira, maio 23, 2011
Flagelo da classe média
LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP
NÃO SOU BEM RESOLVIDO, tenho muitos preconceitos. Um deles é contra a classe média.
Além disso, sou cheio de maus hábitos: charutos, cachimbos, álcool, comida com sangue e não ando de bike. Para mim, o vício e a culpa são o centro da vida moral.
Enfim, não sou uma pessoa muito saudável. Por isso, não sou de confiança. Mas não pense que sofro do fígado; sou apenas um fraco.
Tenho uma amiga, muito inteligente, que costuma me chamar de "flagelo da classe média".
Quando falo "classe média", não olhe para seu saldo bancário, olhe para dentro de si mesmo. Classe média é um estado de espírito, e não apenas uma "alíquota" do imposto de renda ou o tipo de cartão de crédito que você tem.
Uma das marcas da classe média é pensar que, quando se fala de classe média, pensa-se essencialmente em saldo bancário.
Você pode ter muita grana e pensar como classe média, quer ver? Vou dar um exemplo de um surto de classe média em alguém que não era da classe média.
O sociólogo húngaro radicado na Inglaterra Frank Furedi, em seu livro "Therapy Culture", comenta como a Lady Di (morta tragicamente em 1997), a "princesa da classe média inglesa" ou a "princesa do povo", lamentou para a mídia o fato de seu então marido, príncipe Charles (herdeiro do trono da Inglaterra), ter uma amante.
Podemos imaginar uma mulher do East End londrino se sentindo irmã da então princesa porque ambas sofreriam da mesma maldição: a infidelidade em um casamento infeliz. Choravam juntas, uma na frente da TV, outra na frente das câmeras.
Lady Di nunca entendeu o que é ser da aristocracia, confundiu-se com a classe média e seus anseios de que casamento, amor e felicidade sejam uma coisa só.
Mas não há muito o que fazer com relação à realeza hoje em dia, porque vivemos no mundo da opinião pública e "ter opinião sobre tudo" é um fetiche típico do espírito de classe média. Alexis de Tocqueville (1805-1859) já dizia que a democracia é tagarela.
Quando se depende da opinião pública já não há mais saída para escapar das "redes sociais" típicas do mundo contemporâneo, no qual as pessoas têm opinião sobre tudo a partir de seus apartamentos de dois quartos com lavabo.
Basta ver o tanto de bobagens que se fala no Facebook, tipo "fui ao banheiro" ou "vomitei". Além de "revoluções diferenciadas", as redes sociais potencializam a banalidade humana.
Quando a classe média sonha, ela sempre pensa como Cinderela. "Querer ser feliz" é coisa de classe média.
Você pode ser milionário e ter cabeça de classe média, por exemplo, quando faz algo preocupado com o que os outros vão pensar. Nada mais típico do espírito da classe média do que citar um restaurante numa ruazinha em Paris para mostrar que conhece a cidade.
Por outro lado, você pode ser uma pessoa que "batalha" pela vida e não pensar como Cinderela. Basta não criar de si mesmo uma imagem de "reduto do bem e da honestidade". O bom-mocismo social é o novo puritanismo hipócrita do início deste século.
Uma clara semelhança de espírito entre "aristocracia" e as classes sociais mais pobres (aparente absurdo) é a pouca ilusão com relação à hipocrisia social, substância da moral pública.
A primeira porque está acima da hipocrisia social (não precisa dela porque tem poder), e a segunda porque está abaixo da mesma hipocrisia social (não pode bancar a hipocrisia porque hipocrisia é um pequeno luxo).
O que caracteriza o espírito da classe média é pensar mais de si mesma do que ela é. Já que não tem nada, mas não morre de fome, fabrica de si mesma uma história de grandeza que não existe.
Por exemplo, inventa para si mesma uma "história de dignidade familiar", quando ninguém sobrevive sendo "digno", acha que educa bem seus filhos sempre "brilhantes", calcula cada proteína que come, num movimento de ganância travestido de preocupação com a vida, diz coisas como "não minto", quando, sabemos, a vida se afoga em mentiras necessárias à própria vida.
A classe média adora ter uma família de pobres como "amigos" para exibir por aí. Enfim, a classe média sofre de avareza espiritual.
NÃO SOU BEM RESOLVIDO, tenho muitos preconceitos. Um deles é contra a classe média.
Além disso, sou cheio de maus hábitos: charutos, cachimbos, álcool, comida com sangue e não ando de bike. Para mim, o vício e a culpa são o centro da vida moral.
Enfim, não sou uma pessoa muito saudável. Por isso, não sou de confiança. Mas não pense que sofro do fígado; sou apenas um fraco.
Tenho uma amiga, muito inteligente, que costuma me chamar de "flagelo da classe média".
Quando falo "classe média", não olhe para seu saldo bancário, olhe para dentro de si mesmo. Classe média é um estado de espírito, e não apenas uma "alíquota" do imposto de renda ou o tipo de cartão de crédito que você tem.
Uma das marcas da classe média é pensar que, quando se fala de classe média, pensa-se essencialmente em saldo bancário.
Você pode ter muita grana e pensar como classe média, quer ver? Vou dar um exemplo de um surto de classe média em alguém que não era da classe média.
O sociólogo húngaro radicado na Inglaterra Frank Furedi, em seu livro "Therapy Culture", comenta como a Lady Di (morta tragicamente em 1997), a "princesa da classe média inglesa" ou a "princesa do povo", lamentou para a mídia o fato de seu então marido, príncipe Charles (herdeiro do trono da Inglaterra), ter uma amante.
Podemos imaginar uma mulher do East End londrino se sentindo irmã da então princesa porque ambas sofreriam da mesma maldição: a infidelidade em um casamento infeliz. Choravam juntas, uma na frente da TV, outra na frente das câmeras.
Lady Di nunca entendeu o que é ser da aristocracia, confundiu-se com a classe média e seus anseios de que casamento, amor e felicidade sejam uma coisa só.
Mas não há muito o que fazer com relação à realeza hoje em dia, porque vivemos no mundo da opinião pública e "ter opinião sobre tudo" é um fetiche típico do espírito de classe média. Alexis de Tocqueville (1805-1859) já dizia que a democracia é tagarela.
Quando se depende da opinião pública já não há mais saída para escapar das "redes sociais" típicas do mundo contemporâneo, no qual as pessoas têm opinião sobre tudo a partir de seus apartamentos de dois quartos com lavabo.
Basta ver o tanto de bobagens que se fala no Facebook, tipo "fui ao banheiro" ou "vomitei". Além de "revoluções diferenciadas", as redes sociais potencializam a banalidade humana.
Quando a classe média sonha, ela sempre pensa como Cinderela. "Querer ser feliz" é coisa de classe média.
Você pode ser milionário e ter cabeça de classe média, por exemplo, quando faz algo preocupado com o que os outros vão pensar. Nada mais típico do espírito da classe média do que citar um restaurante numa ruazinha em Paris para mostrar que conhece a cidade.
Por outro lado, você pode ser uma pessoa que "batalha" pela vida e não pensar como Cinderela. Basta não criar de si mesmo uma imagem de "reduto do bem e da honestidade". O bom-mocismo social é o novo puritanismo hipócrita do início deste século.
Uma clara semelhança de espírito entre "aristocracia" e as classes sociais mais pobres (aparente absurdo) é a pouca ilusão com relação à hipocrisia social, substância da moral pública.
A primeira porque está acima da hipocrisia social (não precisa dela porque tem poder), e a segunda porque está abaixo da mesma hipocrisia social (não pode bancar a hipocrisia porque hipocrisia é um pequeno luxo).
O que caracteriza o espírito da classe média é pensar mais de si mesma do que ela é. Já que não tem nada, mas não morre de fome, fabrica de si mesma uma história de grandeza que não existe.
Por exemplo, inventa para si mesma uma "história de dignidade familiar", quando ninguém sobrevive sendo "digno", acha que educa bem seus filhos sempre "brilhantes", calcula cada proteína que come, num movimento de ganância travestido de preocupação com a vida, diz coisas como "não minto", quando, sabemos, a vida se afoga em mentiras necessárias à própria vida.
A classe média adora ter uma família de pobres como "amigos" para exibir por aí. Enfim, a classe média sofre de avareza espiritual.
Dia da Liberdade de Impostos
O Dia da Liberdade de Impostos no Rio está chegando!
Na próxima quarta-feira, dia 25, o Instituto Millenium promoverá a terceira edição do Dia da Liberdade de Impostos e quem passar pelo posto Ale que fica em frente ao Canecão, em Botafogo, das 11h às 14h, poderá abastecer até 20 litros de gasolina sem os 53,03% de impostos.
Confiram e divulguem!
Dia da Liberdade de Impostos - Rio de Janeiro
Data: quinta-feira, dia 25/05
Endereço: Posto Ale, que fica na Rua Gen. Goes Monteiro, 195, Botafogo
Horário: Distribuição de senhas a partir das 10h30. Abastecimento: entre 11h e 14h.
Pagamento: Apenas dinheiro.
Observação: Cada senha dá direito a compra de 20 litros (o litro custará R$1,44 ao consumidor, a diferença de R$1,63 referente aos impostos será paga pelo Instituto Millenium)
Na próxima quarta-feira, dia 25, o Instituto Millenium promoverá a terceira edição do Dia da Liberdade de Impostos e quem passar pelo posto Ale que fica em frente ao Canecão, em Botafogo, das 11h às 14h, poderá abastecer até 20 litros de gasolina sem os 53,03% de impostos.
Confiram e divulguem!
Dia da Liberdade de Impostos - Rio de Janeiro
Data: quinta-feira, dia 25/05
Endereço: Posto Ale, que fica na Rua Gen. Goes Monteiro, 195, Botafogo
Horário: Distribuição de senhas a partir das 10h30. Abastecimento: entre 11h e 14h.
Pagamento: Apenas dinheiro.
Observação: Cada senha dá direito a compra de 20 litros (o litro custará R$1,44 ao consumidor, a diferença de R$1,63 referente aos impostos será paga pelo Instituto Millenium)
Democratas fundamentalistas
Meu novo artigo para o OrdemLivre.org, sobre a irracionalidade dos eleitores e como a democracia pode potencializá-la. Resenha do livro "The Myth of Rational Voter", de Bryan Caplan.
sábado, maio 21, 2011
O caseiro do Piauí e a camareira da Guiné
Augusto Nunes, Veja
Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda.
Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto arrumava o apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França.
Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o que disse desde sempre era verdade.
Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris ─ e para a impunidade perpétua.
Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e engavetaram a história.
Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Embora jurasse que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi recolhido a uma cela.
Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo. Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial.
Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho. Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica.
Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do equador. O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.
Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana incumbida de arrumá-lo.
Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro do Piauí e a camareira da Guiné gritam o contrário.
Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci teria estacionado no primeiro item do prontuário. Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar o Banco Central. O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova York. A sorte de Nassifatou foi ter escapado de um Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.
Comentário: Perfeita a análise de Augusto Nunes, mostrando a discrepância entre o império da lei nos Estados Unidos e a impunidade que rola solta na República das Bananas brasileira. A melhor síntese para capturar esta diferença foi feita por Roberto Da Matta certa vez. Nos EUA, se alguém é visto tentando furar fila, logo escuta um "quem você pensa que é?". No Brasil, se o mesmo acontece e alguém reclama com o malandro, escutará dele um "você sabe com quem está falando?". É isso, gente. Mas os petralhas insistem que é lá nos States que o pobre é explorado, enquanto aqui é a terra da "justiça social".
Nascido no Piauí, Francenildo Costa era caseiro em Brasília. Em 2006, depois de confirmar que Antonio Palocci frequentava regularmente a mansão que fingia nem conhecer, teve o sigilo bancário estuprado a mando do ministro da Fazenda.
Nascida na Guiné, Nafissatou Diallo mudou-se para Nova York em 1998 e é camareira do Sofitel há três anos. Domingo passado, enquanto arrumava o apartamento em que se hospedava Dominique Strauss-Kahn, foi estuprada pelo diretor do FMI e candidato à presidência da França.
Consumado o crime em Brasília, a direção da Caixa Econômica Federal absolveu liminarmente o culpado e acusou a vítima de ter-se beneficiado de um estranho depósito no valor de R$ 30 mil. Francenildo explicou que o dinheiro fora enviado pelo pai. Por duvidar da palavra do caseiro, a Polícia Federal resolveu interrogá-lo até admitir, horas mais tarde, que o que disse desde sempre era verdade.
Consumado o crime em Nova York, a direção do hotel chamou a polícia, que ouviu o relato de Nafissatou. Confiantes na palavra da camareira, os agentes da lei descobriram o paradeiro do hóspede suspeito e conseguiram prendê-lo dois minutos antes da decolagem do avião que o levaria para Paris ─ e para a impunidade perpétua.
Até depor na CPI dos Bingos, Francenildo, hoje com 28 anos, não sabia quem era o homem que vira várias vezes chegando de carro à “República de Ribeirão Preto”. Informado de que se tratava do ministro da Fazenda, esperou sem medo a hora de confirmar na Justiça o que dissera no Congresso. Nunca foi chamado para detalhar o que testemunhou. Na sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou o caso, ele se ofereceu para falar. Os juízes se dispensaram de ouvi-lo. Decidiram que Palocci não mentiu e engavetaram a história.
Depois da captura de Strauss, a camareira foi levada à polícia para fazer o reconhecimento formal do agressor. Só então descobriu que o estuprador é uma celebridade internacional. A irmã que a acompanhava assustou-se. Nafissatou, muçulmana de 32 anos, disse que acreditava na Justiça americana. Embora jurasse que tudo não passara de sexo consensual, o acusado foi recolhido a uma cela.
Nesta quinta-feira, Francenildo completou cinco anos sem emprego fixo. Palocci completou cinco dias de silêncio: perdeu a voz no domingo, quando o país soube do milagre da multiplicação do patrimônio. Pela terceira vez em oito anos, está de volta ao noticiário político-policial.
Enquanto se recupera do trauma, a camareira foi confortada por um comunicado da direção do hotel: “Estamos completamente satisfeitos com seu trabalho e seu comportamento”, diz um trecho. Nesta sexta-feira, depois de cinco noites num catre, Strauss pagou a fiança de 1 milhão de dólares para responder ao processo em prisão domiciliar. Até o julgamento, terá de usar uma tornozeleira eletrônica.
Livre de complicações judiciais, Palocci elegeu-se deputado, caiu nas graças de Dilma Rousseff e há quatro meses, na chefia da Casa Civil, faz e desfaz como primeiro-ministro. Atropelado pela descoberta de que andou ganhando pilhas de dinheiro como traficante de influência, tenta manter o emprego. Talvez consiga: desde 2003, não existe pecado do lado de baixo do equador. O Brasil dos delinquentes cinco estrelas é um convite à reincidência.
Enlaçado pelo braço da Justiça, Strauss renunciou à direção do FMI, sepultou o projeto presidencial e é forte candidato a uma longa temporada na gaiola. Descobriu tardiamente que, nos Estados Unidos, todos são iguais perante a lei. Não há diferenças entre o hóspede do apartamento de 3 mil dólares por dia e a imigrante africana incumbida de arrumá-lo.
Altos Companheiros do PT, esse viveiro de gigolôs da miséria, recitam de meia em meia hora que o Grande Satã ianque é o retrato do triunfo dos poderosos sobre os oprimidos. Lugar de pobre que sonha com o paraíso é o Brasil que Lula inventou. Colocados lado a lado, o caseiro do Piauí e a camareira da Guiné gritam o contrário.
Se tentasse fazer lá o que faz aqui, Palocci teria estacionado no primeiro item do prontuário. Se escolhesse o País do Carnaval para fazer o que fez nos Estados Unidos, Strauss só se arriscaria a ser convidado para comandar o Banco Central. O azar de Francenildo foi não ter tentado a vida em Nova York. A sorte de Nassifatou foi ter escapado de um Brasil que absolve o criminoso reincidente e castiga quem comete o pecado da honestidade.
Comentário: Perfeita a análise de Augusto Nunes, mostrando a discrepância entre o império da lei nos Estados Unidos e a impunidade que rola solta na República das Bananas brasileira. A melhor síntese para capturar esta diferença foi feita por Roberto Da Matta certa vez. Nos EUA, se alguém é visto tentando furar fila, logo escuta um "quem você pensa que é?". No Brasil, se o mesmo acontece e alguém reclama com o malandro, escutará dele um "você sabe com quem está falando?". É isso, gente. Mas os petralhas insistem que é lá nos States que o pobre é explorado, enquanto aqui é a terra da "justiça social".
sexta-feira, maio 20, 2011
Boibrás: A vaca vai pro brejo
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A JBS anunciou que debêntures no valor de quase R$ 3,5 bilhões serão convertidas pelo BNDES, que passará a ter mais de 30% de participação acionária na empresa. O banco estatal já tinha emprestado para a empresa rios de dinheiro. A JBS faturava pouco mais de R$ 4 bilhões em 2006, já em termos consolidados. Com a “mãozinha” do governo, o conglomerado agora fatura quase R$ 60 bilhões!
Mais complicado, porém, tem sido transformar esta montanha de faturamento em lucro. A empresa, que lucrou quase R$ 160 milhões em 2006, apresentou um prejuízo acima de R$ 300 milhões em 2010. Entrementes, a gigante da agropecuária acumulou quase R$ 20 bilhões de dívida líquida no período. O governo, por meio do BNDES, resolveu criar uma “vencedora” no setor, na marra, e concedeu crédito quase ilimitado para este fim. Será que houve algum critério técnico para emprestar tanto dinheiro a uma empresa que não consegue nem lucrar?
O mercado de capitais acusa o golpe. As ações da JBS acumulam queda de quase 30% no ano. Nos últimos 24 meses, enquanto o CDI subiu 20%, a JBS caiu quase 15%. E esta empresa que o governo agora, por meio do BNDES, resolveu ser grande acionista. É a criação da Boibrás, a estatal dos bois. As tetas do governo são fartas para os “amigos do rei”. De tetas o governo entende!
O caso da JBS é escandaloso e sintomático, demonstrando como o BNDES foi transformado pelo PT num veículo promíscuo de “desenvolvimentismo nacionalista”. Roberto Campos, que ajudou a criar o BNDE (antes do S de “social”), ainda em vida chegou a lamentar sua transformação: “Acompanhei, com atenção, ao longo dos anos, a trajetória dessa organização, que ajudara a criar. Graças ao recrutamento por concurso público, o BNDE manteve uma saudável tradição meritocrática, com nível técnico bastante satisfatório. Não escapou, naturalmente, ao vício do burocratismo e complacência com a irrupção do nacional-estatismo”.
O Ibovespa segue patinando, sem ir a lugar algum
Rodrigo Constantino, jornal Valor Econômico
O Ibovespa atingiu os 65 mil pontos em outubro de 2007. Mais de 40 meses depois, eis que o índice mais importante de ações brasileiras se encontra no mesmo patamar. No período, o CDI rendeu mais de 40% e a inflação subiu mais de 20%.
O investidor que decidiu assumir um risco de bolsa no final de 2007, mesmo com horizonte de longo prazo, não tem motivo para celebrar. Não só teve um custo de oportunidade elevado, como teve que aturar uma volatilidade de 35% ao ano!
Alguns podem argumentar que o Ibovespa não é o instrumento mais adequado, pois tem distorções, como o excessivo peso da Petrobras. Mas o IBr-X 100 apresentou desempenho idêntico no período. Dentro do Ibovespa há muita discrepância de desempenho, naturalmente. Algumas empresas subiram bastante, outras despencaram.
O "stock picking" e o "timing" da entrada se mostram, como sempre, essenciais para o bom desempenho do investidor. Mas, em linhas gerais, a conclusão parece inequívoca: a bolsa brasileira está patinando há quase quatro anos.
O que pode explicar desempenho tão medíocre? De fato, o período engloba a grande crise de 2008, uma das mais graves da história financeira. Mas também conta com o forte rali de 2009, após maciça injeção de liquidez pelos principais bancos centrais do mundo. O índice de commodities CRB oscilou muito no período, e está praticamente no mesmo nível do começo.
O petróleo, que estava perto de US$ 90 por barril no final de 2007, desabou durante a crise, mas já voltou tudo e mais um pouco, passando da barreira dos US$ 100. Não obstante, a Petrobras, maior empresa brasileira, perdeu aproximadamente 25% de seu valor no período. Sem dúvida essa queda merece uma explicação especial.
A gigante estatal realizou em 2010 a maior capitalização da história do mercado de capitais brasileiro. Foram dezenas de bilhões de dólares para financiar seus agressivos projetos de crescimento. O mercado, entretanto, questiona a rentabilidade desses projetos.
Como a empresa pretende investir uma nova Petrobras nos próximos anos, a taxa de retorno desses investimentos é fundamental para analisar seu valor presente. Investimentos com baixo retorno, como aqueles destinados ao refino, prejudicam a geração futura de caixa, e os investidores punem as ações.
Além disso, há o grande risco político, com a intervenção do governo na empresa para manipular a inflação, ainda que isso signifique bilhões de prejuízo aos seus acionistas.
A Petrobras não foi o único dreno do Ibovespa. A Vale, maior empresa privada do país, perdeu mais de 10% desde outubro de 2007, apesar de o valor do minério de ferro ter quase triplicado nesse período. A Vale nunca ganhou tanto dinheiro, e mesmo assim suas ações patinam sem sair do lugar.
O risco político parece ser novamente o grande culpado aqui. O governo demonstrou apetite por maior ingerência na empresa, chegando a lutar abertamente pela demissão de seu CEO. Os investidores temem novas medidas arbitrárias que destruam valor para os acionistas. O anúncio de que a Vale teria interesse em investir em Belo Monte, feito pouco depois da saída de Roger Agnelli, produziu calafrios legítimos nos acionistas.
Outro setor importante da bolsa, o financeiro, apresentou desempenho pífio. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil subiram, na média, algo perto de 10% nesse longo período, abaixo da inflação. Isso apesar de um crescimento estrondoso da carteira de crédito desses bancos.
Como o governo não fez reformas estruturais e os gargalos da economia continuaram intactos, o acelerado crescimento do crédito bateu nos dados de inflação. O governo resolveu apelar para medidas macroprudenciais, que afetam diretamente os bancos. A inflação continua sendo a grande ameaça para o cenário dos investidores - e, enquanto o governo não agir de forma dura para domar o dragão, essa espada continuará pendurada sobre a cabeça dos investidores.
Poderíamos continuar com os exemplos, mas o recado está claro: quem apostou de forma genérica no sucesso da economia brasileira por meio da bolsa perdeu bastante dinheiro nos últimos anos, em termos relativos.
Claro que quem acertou na escolha específica dos papéis ganhou muito dinheiro, assim como quem soube entrar e sair nas horas certas. Mas isso é muito mais fácil de falar do que fazer.
A bolsa brasileira tem sido veículo bom apenas para especuladores ágeis ou aqueles que sabem garimpar muito bem os ativos. Para o típico investidor médio, que compra as "blue chips" e "casa" com elas, tem sido puro sofrimento. O CDI tem dado um banho no Ibovespa, graças basicamente ao governo.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital
O Ibovespa atingiu os 65 mil pontos em outubro de 2007. Mais de 40 meses depois, eis que o índice mais importante de ações brasileiras se encontra no mesmo patamar. No período, o CDI rendeu mais de 40% e a inflação subiu mais de 20%.
O investidor que decidiu assumir um risco de bolsa no final de 2007, mesmo com horizonte de longo prazo, não tem motivo para celebrar. Não só teve um custo de oportunidade elevado, como teve que aturar uma volatilidade de 35% ao ano!
Alguns podem argumentar que o Ibovespa não é o instrumento mais adequado, pois tem distorções, como o excessivo peso da Petrobras. Mas o IBr-X 100 apresentou desempenho idêntico no período. Dentro do Ibovespa há muita discrepância de desempenho, naturalmente. Algumas empresas subiram bastante, outras despencaram.
O "stock picking" e o "timing" da entrada se mostram, como sempre, essenciais para o bom desempenho do investidor. Mas, em linhas gerais, a conclusão parece inequívoca: a bolsa brasileira está patinando há quase quatro anos.
O que pode explicar desempenho tão medíocre? De fato, o período engloba a grande crise de 2008, uma das mais graves da história financeira. Mas também conta com o forte rali de 2009, após maciça injeção de liquidez pelos principais bancos centrais do mundo. O índice de commodities CRB oscilou muito no período, e está praticamente no mesmo nível do começo.
O petróleo, que estava perto de US$ 90 por barril no final de 2007, desabou durante a crise, mas já voltou tudo e mais um pouco, passando da barreira dos US$ 100. Não obstante, a Petrobras, maior empresa brasileira, perdeu aproximadamente 25% de seu valor no período. Sem dúvida essa queda merece uma explicação especial.
A gigante estatal realizou em 2010 a maior capitalização da história do mercado de capitais brasileiro. Foram dezenas de bilhões de dólares para financiar seus agressivos projetos de crescimento. O mercado, entretanto, questiona a rentabilidade desses projetos.
Como a empresa pretende investir uma nova Petrobras nos próximos anos, a taxa de retorno desses investimentos é fundamental para analisar seu valor presente. Investimentos com baixo retorno, como aqueles destinados ao refino, prejudicam a geração futura de caixa, e os investidores punem as ações.
Além disso, há o grande risco político, com a intervenção do governo na empresa para manipular a inflação, ainda que isso signifique bilhões de prejuízo aos seus acionistas.
A Petrobras não foi o único dreno do Ibovespa. A Vale, maior empresa privada do país, perdeu mais de 10% desde outubro de 2007, apesar de o valor do minério de ferro ter quase triplicado nesse período. A Vale nunca ganhou tanto dinheiro, e mesmo assim suas ações patinam sem sair do lugar.
O risco político parece ser novamente o grande culpado aqui. O governo demonstrou apetite por maior ingerência na empresa, chegando a lutar abertamente pela demissão de seu CEO. Os investidores temem novas medidas arbitrárias que destruam valor para os acionistas. O anúncio de que a Vale teria interesse em investir em Belo Monte, feito pouco depois da saída de Roger Agnelli, produziu calafrios legítimos nos acionistas.
Outro setor importante da bolsa, o financeiro, apresentou desempenho pífio. Itaú, Bradesco e Banco do Brasil subiram, na média, algo perto de 10% nesse longo período, abaixo da inflação. Isso apesar de um crescimento estrondoso da carteira de crédito desses bancos.
Como o governo não fez reformas estruturais e os gargalos da economia continuaram intactos, o acelerado crescimento do crédito bateu nos dados de inflação. O governo resolveu apelar para medidas macroprudenciais, que afetam diretamente os bancos. A inflação continua sendo a grande ameaça para o cenário dos investidores - e, enquanto o governo não agir de forma dura para domar o dragão, essa espada continuará pendurada sobre a cabeça dos investidores.
Poderíamos continuar com os exemplos, mas o recado está claro: quem apostou de forma genérica no sucesso da economia brasileira por meio da bolsa perdeu bastante dinheiro nos últimos anos, em termos relativos.
Claro que quem acertou na escolha específica dos papéis ganhou muito dinheiro, assim como quem soube entrar e sair nas horas certas. Mas isso é muito mais fácil de falar do que fazer.
A bolsa brasileira tem sido veículo bom apenas para especuladores ágeis ou aqueles que sabem garimpar muito bem os ativos. Para o típico investidor médio, que compra as "blue chips" e "casa" com elas, tem sido puro sofrimento. O CDI tem dado um banho no Ibovespa, graças basicamente ao governo.
Rodrigo Constantino é sócio da Graphus Capital