Editorial do Estadão
Não se negocia com a inflação, assim como não se negocia com uma doença grave. Nenhum brasileiro medianamente informado deveria desconhecer ou menosprezar essa regra. Inflação e doença grave não fazem concessões, não dão trégua e não se ajustam à conveniência de países ou pessoas. A presidente Dilma Rousseff, ministros, líderes do PT e dirigentes sindicais parecem esquecer ou menosprezar a experiência do Brasil e de muitos outros países, quando defendem um combate "cauteloso" à alta de preços. Falam como se a busca da estabilidade fosse opcional e os males causados pelas pressões inflacionárias não fossem crescentes. Mas o quadro fica ainda mais preocupante quando o Banco Central (BC), embora reconhecendo o perigo, decide tratar com condescendência pressões inflacionárias cada vez mais graves.
A presidente já tomou "medidas cautelosas" para conter a inflação sem causar recessão e desemprego, disse o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem falado em cuidar das pressões inflacionárias "sem matar a galinha dos ovos de ouro", isto é, sem prejudicar o mercado interno. Além disso, o Brasil aparece em boas condições, segundo ele, quando comparado com outros países.
Só os muito desinformados - ou muito irresponsáveis - podem levar a sério esse palavrório. A escolha entre inflação e recessão não se impõe às autoridades brasileiras. A situação, neste país, é muito diferente daquela vivida nos Estados Unidos e na maior parte da Europa, onde o nível de atividade é muito baixo e a meta de inflação não passa de uns 2% ao ano. No Brasil, a economia continua em crescimento depois de uma expansão de 7,5% em 2010. O crédito se amplia, apesar das medidas de contenção adotadas pelas autoridades.
A inflação acumulada em 12 meses supera 6% e pode em breve ultrapassar o limite superior da meta, 6,5%. Escritórios independentes projetam uma inflação anual superior a 7% no começo do segundo semestre. Em agosto, o índice atualizado semanalmente pela Fundação Getúlio Vargas, o IPC-S, poderá atingir 7,9% em 12 meses, segundo o coordenador da pesquisa, professor Paulo Picchetti. Além disso, a última apuração mostrou que 67,45% dos itens pesquisados custaram mais. Trata-se de uma onda generalizada de aumentos de preços.
É um contrassenso, nesta altura, falar em combater a inflação com cuidado para não matar a galinha dos ovos de ouro. O mercado interno, essa galinha criada e engordada com muito custo ao longo de vários anos, será sacrificado inevitavelmente se a inflação disparar. Conter a alta de preços é condição incontornável para preservar o salário real, isto é, o poder de compra efetivo da grande massa incorporada recentemente ao mercado de consumo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar para proteger esse poder de compra, mas serão necessárias ações muito mais firmes e menos tímidas para o cumprimento dessa promessa. No campo fiscal, por exemplo, o ajuste proclamado pelo governo ainda não é claro.
Será necessário mais tempo para se confirmar se o resultado obtido no primeiro trimestre se manterá. Ao acrescentar dois meses ao prazo para cancelamento de restos a pagar de 2007 a 2009, a presidente mina a confiança em seu compromisso com a austeridade, especialmente porque sua decisão atende a pressões de parlamentares.
Além disso, o governo deve basear o combate à inflação, segundo a presidente, principalmente na expansão do investimento e da capacidade de oferta. O investimento é fundamental para o longo prazo, mas o combate à inflação se faz com instrumentos de ação conjuntural. Isso não deveria ser novidade para a presidente, formada em economia,
Enquanto o governo e seus aliados fazem retórica sobre o combate "cauteloso" à inflação, a alta de preços ganha impulso e vai contaminando todos os segmentos do mercado. A presidente parece perigosamente inclinada a politizar o tratamento do assunto, seguindo a cartilha do PT, dos sindicatos e dos empresários mais dispostos a aceitar a inflação. Essa complacência poderá em pouco tempo destruir conquistas duramente alcançadas nos últimos 15 anos.
Bom dia Rodrigo!
ResponderExcluirLeio que uma das causas da inflação é o alto valor gasto pela maquina publica. Desde o inicio do plano Real os gastos públicos são crescentes. No governo Lulla o gasto tambem aumentou, mas diferente do FHC houve um aumento grande de financiamentos. O ideal é não exagerar nos dois itens? Ou não exagerando em um já basta? abs
Rodrigo, V está moderado neste artigo. 7,5% de crescimento em 2010 não recompõem o mesmo nível de PIB de 2009. 5% sobre 100 é 105. Agora 7,5% sobre 80 (2010 partiu de um PIB lá embaixo) é 86. A economia ainda não recuperou 2008. A desindustrialização é um fato (Zé Alencar que o diga - ele enviou a produção de todas as suas empresas para China). O modelo deixado por Fernando Henrique e adotado pelo PT está no limite da exaustão: Impostos na casa dos 38%. Juros internos absolutamente ridículos (o banco me avisou em meu c/c que os juros para o limite passou de 173% para 177% aa.)
ResponderExcluirISSO NÃO MERECE UM ARTIGO MAIS RETUMBANTE DE SUA PARTE?
Esclarecimento sobre meu comentário anterior. Rodrigo, V está moderado neste artigo. 7,5% de crescimento em 2010 não recompõem o mesmo nível de PIB de 2009. 5% sobre 1,00 é 1,05. Agora 7,5% sobre menos 0,6% (2010 partiu de um PIB menor que hum 0,94) é 0,954. A economia ainda não recuperou 2008.
ResponderExcluirCorreçao dos cálculos anteriores. Rodrigo, V está moderado neste artigo. 7,5% de crescimento em 2010 apenas recompõem o mesmo nível de PIB de 2008. 5% sobre 1,00 é 1,05. Agora 7,5% sobre menos 0,6% (2010 partiu de um PIB negativo, índice menor que hum 0,94) é 1,0105. A economia apenas recuperou 2008 - 1,05% a mais.
ResponderExcluir3,12 o litro na gasolina no Texaco Nosso Posto, da rua Henrique Lage, em Criciúma.
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