Por Ron Prosor, Valor Econômico
No clássico de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas", a heroína cai em uma toca de coelho onde encontra um mundo confuso de fantasias. Se estivesse escrevendo essa mesma história hoje, Carroll poderia ter colocado Alice na 66 ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, onde o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, busca o reconhecimento da ONU para um Estado Palestino. Se Alice ficou perplexa com o Chapeleiro Louco ou a Rainha de Copas, seria interessante ver a reação da jovem diante da ação de um presidente, cujo mandato expirou há muito tempo, pedindo a criação de um Estado em um território que ele mesmo tem medo de visitar certas áreas. A confusão da personagem seria agravada ao descobrir que muitos dos países que fazem parte da Organização estão felizes em ceder a essa fantasia.
A proposta da Autoridade Palestina tem grande possibilidade de passar na Assembleia Geral, onde a dinâmica da votação efetivamente garante que quase todos os caprichos dos palestinos sejam validados. A verdade é que o chefe da Autoridade Palestina não possui, absolutamente, nenhuma autoridade na Faixa de Gaza. Abbas não pôs os pés em Gaza desde que a organização terrorista Hamas realizou um sangrento golpe e tomou o controle da área em 2007. Fazendo um paralelo, seria como se o prefeito eleito da cidade de Nova York fosse incapaz de andar pelas ruas do Brooklyn.
Cada Estado reconhecido pelas Nações Unidas tem a obrigação de estar disposto e apto a exercer sua autoridade sobre seu próprio território. Abbas está disposto a exercer essa autoridade e é capaz de controlar o Hamas? Talvez os cidadãos do sul de Israel, semipermanentes residentes de abrigos antibomba, possam oferecer uma resposta para essa questão. A chuva contínua de foguetes, morteiros e mísseis do Hamas contra casas, hospitais e escolas israelenses nos fornece uma vívida ilustração de que a Autoridade Palestina não quer e é incapaz de sustentar esse requisito básico.
Ao apoiar essa iniciativa, muitos na comunidade internacional parecem dispostos a varrer para debaixo do tapete as questões sobre o terrorismo palestino, o incitamento e a falta de uma governança coerente. Estão apenas cedendo a uma marcha da insensatez. A Assembleia Geral não pode criar um Estado Palestino pois uma ação unilateral não seria apenas maléfica para a paz, mas para a região e, acima de tudo, para o avanço nas aspirações dos palestinos de um Estado genuíno.
Muitos líderes palestinos, incluindo o primeiro-ministro Salam Fayyad, entendem que, como resultado direto de uma forte cooperação econômica e de segurança entre israelenses e palestinos, a economia palestina experimentou um crescimento de 10% em 2010. A única região do mundo que pode ostentar esses números é a Cisjordânia. Aqueles que conseguem compreender o esforço necessário para a criação de um verdadeiro estado não desejam colocar em risco esse progresso com uma declaração prematura e fantasiosa de um estado imaginário.
O que aconteceria com a decisão favorável à criação de um Estado Palestino na Assembleia Geral da ONU?
Em primeiro lugar, isso iria alimentar uma fantasia de que compromissos alcançados nas negociações podem ser ignorados. John F. Kennedy descreveu uma vez a impossibilidade de trabalhar com aqueles que dizem "o que é meu é meu e o que é seu é negociável". A premissa básica do apelo palestino nas Nações Unidas é a seguinte: Nos dê tudo, sem negociação, e depois vamos negociar o resto.
Os verdadeiros amigos dos palestinos na comunidade internacional devem incentivá-los a retomar imediatamente as conversações diretas com Israel. Ninguém, além de israelenses e palestinos, por conta própria, na mesa de negociações, pode enfrentar os grandes desafios que devem ser abordados para que a paz seja alcançada. Essa ação unilateral faz o oposto, permitindo que a Autoridade Palestina contorne o caminho das negociações, enquanto viola todos os acordos bilaterais entre líderes palestinos e israelenses desde os acordos realizados em Oslo.
Além disso, incentiva comportamentos imprudentes em uma região já fragilizada. Aprovar essa manobra unilateral é uma receita para a instabilidade, o colapso das cooperações e, potencialmente, a violência. Aprovar resoluções na Assembleia Geral não requer concessões, não demanda liderança e também não cobra responsabilidade por parte dos palestinos. As conversas inevitáveis com Israel não serão tão fáceis e implicarão em um trabalho árduo, frustrações e muitas noites sem dormir, porém, as negociações continuam a ser única forma para conseguir avanços.
Enquanto os líderes palestinos clamam pelo reconhecimento unilateral, aqueles que apoiam essa medida podem, em breve, estar chorando por suas consequências.
A busca de um Estado virtual incide na mesma esfera de fantasia que Alice descobre no país das maravilhas, todos os coelhos brancos e arenques vermelhos. Apenas no mundo real, com o diálogo direto permeado de verdades difíceis e compromissos sérios, israelenses e palestinos podem tecer uma paz viável, segura e duradoura.
Ron Prosor é embaixador de Israel na Organização das Nações Unidas.
O embaixador esta correto,os que pensam diferente vivem em um mundo que não é real.
ResponderExcluirEsses aí vão se matar pra sempre.Esse é um problema sem solução que felizmente não é problema meu.
ResponderExcluirntsr.