Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Lendo os jornais hoje para escolher um tema para este comentário, a lista de opções pareceu vasta: o agravamento da crise mundial com a queda abrupta dos mercados acionários; a “comissão da verdade” que busca revanchismo ideológico e não a verdade histórica; o discurso repleto de clichês da presidente Dilma na ONU; a questão Israel x Palestina que está na ordem do dia; o descaso dos hospitais públicos enquanto o governo demanda mais recursos para o setor. Todos eles assuntos sérios, que merecem comentários.
Mas fiquei com uma alternativa mais suave, talvez por ser sexta-feira. O editorial do jornal O Globo fala sobre a Lei Geral da Copa, que foi enviada pelo governo federal para o Congresso. Entre as providências para o país receber milhares de pessoas de forma razoavelmente organizada, consta a possibilidade de a União, o Distrito Federal, estados e municípios decretarem feriado nos dias de jogos. Como diz o editorial, a medida causa apreensão, pois sinaliza o “reconhecimento prévio de inaptidão do poder público, notadamente o governo federal, diante de um compromisso assumido com a sociedade”.
Este compromisso, vale lembrar, seria “aproveitar a chance histórica de utilizar o fantástico aporte de recursos no país, carreados pelo Mundial, para enfrentar com ações duradouras demandas urbanísticas e administrativas”. Claro que, em se tratando de Brasil, isso era apenas sonho. Eis o que teremos, na verdade: obras tocadas em cima da hora, com pouco escrutínio e muito roubo; elefantes brancos que ficarão sem grande utilidade após os eventos; e uma pesada conta pública para ser paga pelos “contribuintes”.
Ah sim, já ia me esquecendo: e teremos também os feriados, que o povo adora! Ao ler o editorial, pensei imediatamente em Nelson Rodrigues. O dramaturgo dizia que “o brasileiro é um feriado, temos alma de feriado”. E quem pode negar? Brasileiro gosta mesmo é disso: samba, futebol, domingão do Faustão e praia. Pelo brasileiro típico, o ano teria uns cem feriados! E não faltaria um economista keynesiano, com PhD e tudo, para afirmar que isso gera riqueza, pois estimula o comércio dos shoppings.
Era apenas esta a mensagem de hoje: o brasileiro é um feriado. E fico por aqui, pois milhares de brasileiros estão eufóricos com a abertura hoje a tarde do Rock in Rio, que tem de tudo, até mesmo um pouquinho de rock. Segundo Roberto Medina, organizador do evento, o público pode ficar tranqüilo, pois não deve chover. Quem afirma é o cacique Cobra Coral, que presta serviços até para a Prefeitura. O que me remete a Nelson Rodrigues novamente, para finalizar. Ele também dizia que o brasileiro é um povo extremamente religioso. Tão religioso que é capaz de manter umas cinco religiões simultâneas.
Façamos então uma macumba e uma reza para que o feriado nos dias de jogos seja aprovado, sem chuva graças às danças do cacique, e tudo com muito samba, se Deus quiser! Amém.
Recordo com saudade, os bons velhos tempos em que o Brasil era de facto um país religioso. O país trocou os valores morais pela "consciência trabalhadora". Para a Copa, vamos ter muitas celebrações petistas e no meio algumas foices e martelos. O apogeu da festa vai ser quando os petralhas cantarem o "Lula Lá" e quando o Lula chorar de emoção e disser "nunca antes na história deste país."
ResponderExcluirAnseio pelo dia que as religiões atuais vão todas fazer parte do que chamamos de mitologia (estudo das religiões que ninguém leva mais a sério).
ResponderExcluirMuito bom o texto, rodrigo. Os keynesianos realmente adoram feriados. Fazem o povo gastar seu dinheiro e mover a economia.
Mas pra que o Brasil seja considerado um país com muitos feriados, tem que ser relativamente a outros países. Pelo que já li, não confirmei ainda, o Brasil teria menos feriados que os EUA, por exemplo.
http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=5030
Em resumo: país de merda, a cara do Lula.
ResponderExcluirÉ chegada a hora da nação decidir o que quer ser: o país do samba,das novelas (sem desmerecer a alta cultura), da prostituição, dos feriados, do futebol, das praias, OU DO PLENO EMPREGO, DA GERAÇÃO DE RENDA ENFIM DA JUSTIÇA SOCIAL.
ResponderExcluirOu estaremos fadados a sermos o "eterno país do futuro"; dum futuro que nunca chega.
"Pelo brasileiro típico, o ano teria uns cem feriados! E não faltaria um economista keynesiano, com PhD e tudo, para afirmar que isso gera riqueza, pois estimula o comércio dos shoppings. "
ResponderExcluirFaltou colocar a CUT nessa parte, com o seu discurso de que com menos horas de trabalho e mais feriados o brasileiro teria mais tempo para "estudar" e se profissionalizar.
Talvez a própria defenda uma espécie de bolsa-coçar-o-saco, onde o indivíduo recebe dinheiro do governo, nos dias de feriados, para "estudar" e se "profissionalizar".