sexta-feira, setembro 09, 2011

O samba do BC

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

A Ata do Copom foi uma grande decepção para aqueles que tinham esperanças de ver explicações mais embasadas para o corte inesperado na taxa básica de juros. Reforçou a tese de que a medida teve como pilar a deterioração do cenário externo, mas ficou mais evidente que se trata de uma ousadia arriscada e provavelmente prematura. A inflação acumulada de 12 meses já passa dos 7%, e a esperada pelo mercado (Focus) para 2012, acima de 5,3%, se afasta cada vez mais da meta (já elevada) de 4,5%.

A decisão do Copom gerou mais reações negativas do que positivas. Mas alguns economistas vieram em defesa do BC. Delfim Netto foi um deles, alegando que a economia é mais arte que ciência, e que os economistas costumam ser prepotentes com seus modelos econométricos. O problema é que o próprio BC faz uso destes modelos para justificar suas decisões, digamos, artísticas. Para quantificar o efeito da piora do cenário externo, a autoridade monetária fez uso de um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico, denominado SAMBA (Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach).

Este modelo possui nada menos do que 118 parâmetros, sendo 37 calibrados e 81 estimados. Para piorar, a amostra é muito reduzida, pois teve início apenas em 1999 e conta com 48 observações. Cinco variáveis externas são consideradas: importações mundiais, preços relativos das importações brasileiras, inflação americana, a taxa de juros do Fed e o VIX, que mede a volatilidade dos mercados (proxy da aversão ao risco). O BC não informa de maneira objetiva o cenário adotado para a economia mundial, deixando os analistas no escuro quanto ao impacto esperado dessas variáveis na economia brasileira.

Como fica claro, quem tenta dar um verniz científico à arte de definir a taxa “correta” de juros é o próprio BC. Mas o tiro sai pela culatra, pois faltam argumentos sólidos para sustentar a decisão, ficando a impressão de que foi mesmo uma medida política. A imagem que o BC passa é a de que utiliza o modelo SAMBA... do crioulo doido!

4 comentários:

  1. Guilherme Azevedo4:05 PM

    Bom artigo Rodrigo.
    Tenho a impressão de que esses modelos econométricos são utilizados apenas para travestir os interesses políticos em uma fantasia de autoridade, decisão pautada na ciência, etc. A verdadeira ciência econômica está sendo negligenciada. Já dizia um grande economista do século XX: "Economia boa é a economia básica". Esse excesso de intervencionismo só consegue distorcer os fatos e, obviamente, favorecer poucos em detrimento de muitos.
    Abs,
    Guilherme Azevedo

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  2. Prof. Constantino, Gesundheit! Se é para desestimular a entrada de dólares, fica-me uma dúvida:
    Como as Letras do Tesouro (site TESOURO DIRETO) remuneram a soma de: taxa juros selic + inflação, FICA TUDO IGUAL para o investidor estrangeiro. Diminui a taxa dos juros, mas aumenta a da inflação. Para o investidor estrangeiro o que interessa é a soma das duas parcelas da remuneração da LTN em comparação com o dólar e se este está baixando, o seu rendimento é ainda melhor.
    Para os analistas, o ano vai terminar com inflação de 8%. Inflação é aquele imposto que o governo tem vergonha de declarar.
    Com o maior índice de imposto do mundo, 40%, a maior taxa de juros pagos no mundo por um governo, agora 12%, mais uma inflação de 8% e ainda estão procurando mais imposto (CPMF?) Isso, eu acho, ainda vai acabar é muito mal.

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  3. GUSTAVO MIQUELIN FERNANDES10:55 PM

    Como diz o Millôr "quando um técnico vai tratar com imbecis, deve levar um imbecil como técnico."

    Abraço, Rodrigo.

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  4. "...deve levar um imbecil como técnico." SE esta observação é para minha pergunta, MEU DESAFIO É UM PEDIDO DE EXPLICAÇÃO e não frases de efeito.

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