sexta-feira, setembro 09, 2011

A última estação


Rodrigo Constantino

Para quem quer ver um bom filme em casa neste fim de semana, fica aqui a dica: "A Última Estação", um filme de Michael Hoffman com ótimas atuações de Anne-Marie Duff, Christopher Plummer, James McAvoy e Paul Giamatti. Trata-se dos últimos dias de vida de Tolstoi, quando este começa a ficar meio senil e, influenciado por seu pupilo Chertkov (Paul Giamatti), decide deixar todos os seus bens para o "povo russo". Sua esposa, após mais de 40 anos de casados, fica evidentemente revoltada. Não apenas pelos bens materiais, mas principalmente pela traição, por tal decisão a colocar num papel insignificante dentro da obra do grande romancista russo. Ela se sentia, com razão, parte daquilo tudo, e não aceitava ver seu velho marido, encantado com a nova religião que criaram em torno dele, simplesmente apagar o passado.

O filme retrata de forma muito clara aquilo sintetizado na frase de Nelson Rodrigues: "Amar a Humanidade é fácil; difícil é amar o próximo". Chertkov "ama" Tolstoi, ou, na verdade, a imagem que faz do mestre. Está inclusive disposto a deixá-lo morrer sem ver a própria mulher, tudo em nome do legado de sua obra. Tolstoi pertencia ao povo russo, segundo seus seguidores. Mas a esposa sabia que não. Ela sabia quem era o homem de carne o osso por trás do mito. Se Tolstoi quis ensinar ao mundo sobre o amor, antes ele teve que conhecer o amor. Não o amor platônico reverenciado por Chertkov, mas aquele verdadeiro, por outro ser humano, imperfeito.

Paul Johnson costuma chamar de "intelectual" aquele que ama mais as idéias do que os seres humanos. Se aceitarmos esta definição, então Chertkov representa o típico intelectual na história, enquanto o novo pupilo, encarregado de anotar tudo que se passa na casa de Tolstoi, no excelente papel de James McAvoy, representa o homem que descobre o amor verdadeiro, sempre imperfeito, mas muito mais real do que aquele "amor" pela Humanidade, pelo "povo". Vejam o filme!

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