Carlos Alberto Di Franco - O Estado de S.Paulo
O crescimento dos casos de aids, o aumento da violência e a escalada das drogas castigam a juventude na velha Europa. A crise econômica, dramática e visível a olho nu, exacerba o clima de desesperança. Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. A juventude não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da frustração.
A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores.
Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela crise econômica e pela ausência de expectativas.
Os pais da geração transgressora têm grande parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falência da autoridade familiar. É, muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo - imaginam, na insanidade do seu egoísmo - pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos seus filhos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e certa dose de injusta generalização, "a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos". Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo, menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, que cresceu à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face criminosa.
Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch - autor do livro A Rebelião das Elites - sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: "Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas".
O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.
O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. Pena que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas oscilações do Ibope, tem na violência uma de suas alavancas. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de TV crescem à sombra da exploração das paixões humanas. Ao subestimar a influência perniciosa da violência ficcional, levam adolescentes ao delírio em shows de auditório que promovem uma grotesca sucessão de quadros desumanizadores e humilhantes. A guerra pela conquista de mercados passa por cima de quaisquer balizas éticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o marketing do entretenimento com conteúdo violento está apontando as baterias na direção do público infantil.
A onipresença de uma televisão pouco responsável e a transformação da internet num descontrolado espaço para a manifestação de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado Democrático de Direito) estão na origem de inúmeros comportamentos patológicos.
É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas na Europa. Escarmentemos em cabeça alheia. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.
O autor é doutor em Comunicação, professor de Ética e diretor do Master em Jornalismo.
Rodrigo- peço permissão para divulgar estes quatro excelentes videos paar seus leitores
ResponderExcluirvale a pena serem vistos
Este é o método emrpegado pelo PT para conquista e domíno das mentes
Yuri é um ex-agente da KGB e, fala sobre como é o processo de subversão em um país. Entenda como o mundo está infiltrado de destruidores da paz, contando com o apoio do próprio povo !!!
Qualquer semelhança com o que acontece em "certos países".... não é mera coincidência !!!
Brilhante a conclusão no final da palestra, sobre religião e subversão !!!! Vale a pena ver ... até o fim.
http://www.youtube.com/watch?v=GAPbfjXJNUc
http://www.youtube.com/watch?v=j4PFS3XvKCg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=oI3jhyxq6F8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=OAv9DODnGFc&feature=related
Qual Europa? A dos católico ou a dos muçulmanos?
ResponderExcluirOu eu entendi errado, ou o autor, ao comentar sobre um problema observado na velha Europa acaba por culpar os EUA: o pragmatismo (que aqui no Brasil foi deturpado a ponto de ser sinônimo de malandragem), o marketing do entretenimento, a sociedade de consumo, a internet (diabólica invenção dos EUA), o inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade (em suma, o individualismo capitalista opondo-se à camaradagem socialista). O mesmo anti-americanismo de sempre e a “irresponsabilização” das pessoas!
ResponderExcluirPaultruc
Acho que o autor atirou pra vários lados e errou o alvo. Essa geração irresponsável é fruto da diminuiução da responsabilidade individual em troca da "responsabilidade coletiva". Essa coletivização de todos os aspectos da vida está permitindo tudo que é tipo de avanço contra as liberdades individuais e o respeito a essas liberades. Quando você diz para uma geração de jovens que a riqueza do país deve ser dividida de forma igualitária, que devemos procurar uma "justiça social" e que esses jovens tem DIREITO a uma renda, saúde, emprego etc, não fique surpreso se esses mesmos jovens se revoltarem contra o sistema quando não conseguirem obter os bens e serviços que eles foram ensinados a acreditar que são deles por direito natural.
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