Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
terça-feira, novembro 29, 2011
Você é liberal?
Rodrigo Constantino, O GLOBO
Rótulos servem para simplificar o mundo, mas também podem gerar confusão. É o caso de direita e esquerda no debate político. Como saber exatamente onde se encaixar? Um liberal seria de esquerda ou de direita? O termo “neoliberal”, aliás, passou a ser sinônimo dos piores adjetivos imagináveis, após décadas de propaganda socialista que buscou monopolizar as virtudes. Mas será que os liberais realmente são insensíveis diante da miséria alheia? O que defende um liberal, afinal?
Em primeiro lugar, o liberal coloca seu foco sempre no indivíduo, que é visto como um fim em si mesmo, e não um meio sacrificável para algum bem maior. O liberalismo é contrário ao coletivismo, seja de raça, classe ou nação. O racialismo, o socialismo ou o nacionalismo, portanto, são opostos ao liberalismo, que busca defender as liberdades individuais acima de tudo.
Como conseqüência, o liberal preza muito o direito de propriedade privada. O homem só pode ser livre se for dono do seu próprio corpo e for capaz de preservar aquilo que produz com seu esforço. O liberal respeita o conceito de meritocracia, ou seja, ele reconhece que os resultados serão desiguais em uma sociedade livre, pois os indivíduos são sempre diferentes em suas habilidades, objetivos ou mesmo sorte. O sucesso, se honesto, não é pecado algum. Muito pelo contrário.
Isso não quer dizer que o governo não possa exercer importantes tarefas na melhoria das oportunidades gerais. Uma melhor educação básica e uma infraestrutura decente, por exemplo, podem ajudar a equilibrar o ponto de partida. Mas o liberal rejeita a noção de igualdade de resultados, pois ele entende que homens não são insetos gregários. A única igualdade que o liberal deseja é aquela perante as leis. Para um liberal, ninguém deve ter privilégios ou ser tratado como um “homem incomum”, acima das leis.
Além disso, o liberal sabe que quando o governo concentra muito poder em nome da “justiça social” ele acaba produzindo maiores desigualdades ainda. Brasília, não custa lembrar, possui a maior renda per capita do país, produzindo basicamente leis absurdas e muita corrupção. Os países socialistas sempre foram os mais desiguais de todos: quase toda a população igualmente miserável, e uma pequena casta usufruindo de todas as regalias.
A democracia é extremamente valorizada pelos liberais, não por ser infalível, e sim por ser o modelo mais pacífico para eliminar erros políticos sem derramamento de sangue. Mas o liberal compreende que a democracia jamais deve se tornar uma simples ditadura da maioria, e por isso defende limites constitucionais claros ao poder estatal. O liberal também abomina a tutela paternalista. Cada um deve ser livre e assumir a responsabilidade por seus atos.
Para um liberal, a economia deve funcionar livremente, sem tanta intervenção estatal. O liberal é cético quando se trata das boas intenções dos políticos ou dos empresários, e entende que o melhor mecanismo de incentivos está na livre concorrência da economia de mercado. Em busca do lucro, as empresas precisam atender à demanda dos consumidores da melhor maneira possível, o que acaba favorecendo a maioria. A Apple de Steve Jobs é prova disso.
O que o liberal condena é justamente a socialização dos prejuízos, ou seja, o governo não deve usar recursos públicos para salvar empresas falidas ou para subsidiar grupos ineficientes. Quando o governo se arroga esta tarefa, temos o capitalismo de compadrio, contrário ao modelo liberal. Um Estado produtor é ainda pior. Basta pensar na ineficiência da maioria das estatais, muitas vezes transformadas em cabide de emprego, palco de corrupção ou moeda de troca política. O liberal aplaude as privatizações, e não sente saudade alguma da antiga Telebrás.
De forma bastante resumida, temos acima as principais bandeiras liberais. Diante disso, fica fácil constatar que o Brasil nunca chegou perto do modelo liberal, apesar dos mitos que culpam o “neoliberalismo” por nossos males. Nosso estado é um monstro gigantesco que ainda concentra poder demais, intromete-se em demasia na economia e em nossas vidas. Um Leviatã assistencialista, mercantilista e paternalista.
Por fim, não temos nada parecido com a igualdade perante as leis que os liberais pregam. Somos o país dos privilégios concedidos pelo governo para grupos organizados, a começar pelos próprios políticos. Nada menos liberal que isso!
Gostaria de aproveitar para convidá-los ao lançamento do meu novo livro, “Liberal com orgulho”, hoje às 19h na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.
Excepcional seu esclarecimento sobre
ResponderExcluiro que é ser liberal e a falacia esquerdista que requer a identidade de pura e incorruptível! Tá aí pra comprovar, a realidade de nosso país que mais uma vez não deixa a desejar sobre a corruptibilidade da esquerda socialista! Se o Brasil fosse uma pátria liberal, ao invés de um elefante branco capitalista de estado estaríamos bem melhor servidos!
quero comprar, tananã, quero comprar, tananã...
ResponderExcluirO que o Brasil precisa é de mais liberalismo. O brasileiro é empreendedor e entende competição. Quer ambiente mais identificado com esse que o futebol? Valorizamos os craques e que vença o melhor. O que não pode é sacanagem por parte da arbitragem (Estado). Ou colocar alguém pra jogar só porque é amigo de outrem, algo tão comum no Governo brasileiro hoje em dia...
ResponderExcluirAdorei o texto e fiquei com água na boca com relação ao livro. Infelizmente modo a algumas centenas de quilômetros do local de lançamento do livro :-(
ResponderExcluirQuando ele estará disponível nas livrarias? E sabes qual será seu valor? (digo isso pq paguei R$ 20,00 num Crepúsculo e R$ 45,00 num Dawkins).
Leandro,
ResponderExcluirJá à venda nas principais livrarias virtuais.
www.saraiva.com.br ou www.livrariacultura.com.br
e custa R$ 42,00.
Já está na cesta. Obrigado pela excelente leitura que espero ter :-)
ResponderExcluirParabéns, Rodrigo. Conseguiu, de forma bem resumida, expor os fundamentos do pensamento liberal. O que os esquerdistas - principalmente aqueles com boas intenções - não entendem é que a principal divergência entre eles e os liberais é a dos meios e não dos fins.
ResponderExcluirEntão Rodrigo, acho que é óbvio que tu não quer que todo mundo baixe teu livro de graça sem tu ganhar um centavo, que é uma safadeza mesmo.Não é bastante razoável o raciocínio de quem defende a propriedade intelectual?
ResponderExcluirEu defendo a propriedade intelectual.
ResponderExcluirParabéns pelo texto, claro, preciso e esclarecedor. É obvio que vc deve ter um séquito de esquerdistas querendo comer seu fígado.
ResponderExcluirHá muitos anos combato o socialismo moreno. É muito fácil fazer bonito com o chapéu dos outros. Gosto de igualdade para todos que batalham. Seria isso JUSTIÇA?
Na cesta da Saraiva esse e outro que ainda vou definir. "As trapalhadas do PT" tem me atraído...mas vou pensar com carinho!
Muito bom e esclarecedor o texto, Rodrigo. Já li seu livro Prisioneiros da Liberdade, que foi quando conheci seu trabalho e comecei a acompanhar seu blog. Vou procurar seu novo livro nas livrarias!( ainda não sou adepta das compras online, hehe)
ResponderExcluirBoa sorte com mais esse novo lançamento!
Rodrigo voce descreveu com opinião o que se passa aqui, também concordo parabéns e sucesso com o livro; eu já desistir deste formato presidencialista me engana que eu gosto; só nós falamos portuques para ninquém; parlamentarismo não resolve mas ajuda bastante a espurgar esses politicos mal intencionados, maioria.
ResponderExcluirExcelente esclarecimento. No Brasil, por ignorância e manipulação "político-ideológica-cultural", liberal virou sinônimo de antipatriota e egoísta. O liberal é entendido como quem abomina as questões sociais, ignora a miséria e a fome do povo e só pensa em bolsa de valores, em ações e no próprio enriquecimento, se lixando para o próximo. Foi essa imagem que os intelectuais de esquerda do Brasil incutiram na cabeça do povo, como se o liberal fosse um monstro egoísta e o socialista o "santo" que veio nos defender e nos salvar.
ResponderExcluirEu li o seu texto no jornal do Globo e realmente você está de parabéns.Um texto que resume bem o que é ser liberal e derruba a falácia socialista de que os liberais são pessoas "ruins" e que não se importam com o desenvolvimento do país, mas sim pessoas que acreditam que para um país se desenvolver é preciso, antes de tudo, ter uma economia sadia e livre de populismo e de demagogias.
ResponderExcluirEu só acho que você deveria ter acrescentado no texto que os liberais também são defensores do Estado laico e mostrar a importância de separar Estado e religião.
Rodrigo, aproveitando esse espaço eu gostaria de saber qual é a sua opinião sobre as Organizações Sociais?Você é a favor ou contra que o governo contrate OSs para administrar escolas e hospitais?
Olá, Rodrigo.
ResponderExcluirAcredito que você fez uma explanação significante, como atestam os argumentos e mesmo a sua clareza de ideias.
No entanto, compartilho de um pensamento diferente do que foi explicitado.
Gostaria de respostas simples para essas questões: como lidar com a liberdade de escolha - como você tanto enfatizou - em um ambiente em que o próprio sistema faz com que as decisões sejam tomadas por outros, para outros? Há democracia aí? O leviatã é só para a esquerda falida, ou para os ornitorrincos liberais em geral? A socialização das dívidas(não no caso do Estado, como acontece atualmente) não seria apenas o óbvio frente a acumulação?
Por último, seria interessante saber a sua visão sobre a maneira como a nossa sociedade se organiza.
Quero saber se a organização causa incômodo aos liberais, afinal, o que vem do Estado, depois de legitimado e rubricado, não pode ser questionado? Liberdades fundamentais são, como o nome diz, fundamentais.
Digo que o Direito ( a lei mesmo) em si não fecha a conta da diversidade e das liberdades.
Assim como a ditadura da maioria suprime as liberdades individuais, a atomização do indivíduo, por si só, também exerce o mesmo papel.
Uma retira a culpa dos indivíduos por esconder sua decisão na coletividade, enquanto a outra faz a mesma coisa, porém distancia o átomo das consequências de suas ações em uma realidade paralela.
Enfim, há um Q de utopia para todos os lados. Mas, qual é o desfecho disso? Vamos aprofundar o mérito, a acumulação, a diminuição de oportunidades iguais? Vamos continuar produzindo um sistema que não produz o que realmente consome, de dinheiro de mentira e exclusão de pessoas que são 'iguais'?
Enfim, é um comentário com perguntas, observações, outras perguntas, avanços, e não necessariamente sobre o texto.
Só não quero generalizar mesmo.
Obrigado
Espero que o comentário do Gustavo seja respondido. Apesar de compreender (e experenciar) que o modelo do estado social que passou a preponderar após a segunda guerra não conseguiu atingir ao que se propôs, igualmente não vejo como resposta o "retorno" ou a adoção de um sistema (neo)liberal.
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