João Pereira Coutinho, Folha de SP
A "autoestima" das mulheres depende da estima que elas esperam receber dos homens
LIGO A TV. Notícias tenebrosas sobre os implantes mamários franceses e o risco que representam para milhares de mulheres no mundo inteiro. O meu interesse é cultural, não médico: quem diria que décadas de lutas feministas seriam enterradas por próteses de silicone defeituosas?
As lutas feministas, convém lembrar, tinham uma ambição civilizacional considerável: virar do avesso o mito de Pigmalião, o artista imortalizado pelo poeta Ovídio que, certo dia, esculpiu uma bela figura, apaixonou-se pelas suas formas e, como brinde dos deuses, viu a estátua virar mulher de verdade.
A história sempre me comoveu por motivos essencialmente "românticos": Pigmalião renunciara ao amor antes de esculpir a estátua; mas o destino é irônico e, por vezes, o que consideramos adormecido acaba por despertar novamente. Que a deusa Vênus tenha recebido as preces reprimidas de Pigmalião, concedendo vida à matéria inerte: eis a ideia redentora de que só o amor triunfa sobre a morte.
Mas isso sou eu a falar. Ou a delirar. Porque a sensibilidade feminista é mais literal e menos generosa: o mito de Pigmalião representa apenas a secular submissão da mulher ao homem. E quem é que os homens pensam que são, ao pretenderem "esculpir" a mulher para que ela cumpra os desejos falocêntricos dos machos?
Boa pergunta. George Bernard Shaw, um panfletário com talento, deu a resposta: revisitou o mito de Pigmalião na sua peça homônima e concedeu-lhe um final progressista.
Sim, o prof. Henry Higgins transforma a plebeia Eliza Doolittle numa verdadeira "lady" da retórica e das maneiras. Exatamente como no musical "My Fair Lady", inspirado na peça.
Porém, e ao contrário do que sucede no musical, é legítimo pensar que Eliza dá o seu grito do Ipiranga, abandonando o prof. Higgins no final por não suportar a natureza condescendente e desrespeitosa dele. É o supremo sonho feminista: a criatura liberta-se do criador e decide seguir em frente.
Infelizmente, muitas mulheres não conseguem seguir em frente. Que o digam as mulheres brasileiras, campeãs mundiais em cirurgias estéticas. Motivos do recorde?
Uma parte opta pela cirurgia por razões estritamente médicas: reconstruções do peito depois de doença oncológica ou acidente. São razões compreensíveis e sobre elas nenhuma palavra a dizer.
Mas existe uma vasta legião de mulheres saudáveis que se submete à cirurgia por motivos de "autoestima". A expressão, usada e abusada pelas revistas mentecaptas, pretende iludir uma verdade desconfortável: a "autoestima" das mulheres, sejamos honestos, depende da estima que elas esperam receber dos homens.
Claro que o leitor, e sobretudo a leitora, poderá argumentar que os homens funcionam da mesma maneira em matéria de vaidade física. Quem não conhece casos dramáticos de heterossexuais inseguros que passam horas na academia, em malhação marcial, em busca dos músculos perfeitos?
Verdade. Acontece que não conheço nenhum homem que, para obter o mesmo resultado e conquistar as atenções do sexo oposto (ou até do mesmo sexo), esteja disposto a passar pelo calvário das mulheres siliconadas.
No fundo, não conheço nenhum homem que esteja disposto a deitar-se numa sala de operações; a suportar os rigores da anestesia e do bisturi; a implantar uma qualquer prótese no interior do corpo para simular firmeza ou juventude; e, Deus nos livre, a correr sérios riscos de vida para ficar com aspecto de Adônis. Há limites. Até para conquistar mulheres.
O problema é que não parece haver limites para as próprias mulheres. O que nos leva de volta para o mito de Pigmalião, na sua interpretação literal: foram anos de lutas feministas para que elas deixassem de estar submetidas ao cinzel e ao escopo do escultor falocêntrico.
Mas ninguém esperava que, libertas, as mulheres corressem para o passado e voltassem a se submeter, de forma voluntária, ao escopo e ao cinzel do cirurgião plástico.
Na minha qualidade de homem, admito que tanta dedicação é comovente. Mas, acreditem, minhas senhoras, não vale a pena sofrer e morrer por nós.
Ola´, só não concordo com uma única situação..."autoestima" das mulheres, sejamos honestos, depende da estima que elas esperam receber dos homens.
ResponderExcluirfiz implante sem em nenhum momento pensar nos homens, até porque não iria muda a minha forma por causa de ninguém. Foi tão-somente por causa de mim. Não gostava do que via no espelho.fui muito questionada pelo marido,...enfim hoje adoro o que vejo.
Adorei seu texto. Grande abraço
Claudia Motta
Nenhuma mulher andaria de salto alto numa ilha deserta, ou se preocuparia em fazer a maquiagem todo dia. Isso é preocupação de pessoas que vivem em sociedade. Toda vaidade é fruto da cultura em que a pessoa está inserida. Não há objetividade em padrão de beleza. E o padrão de beleza da mulher ocidental é magreza, bunda grande e peitos grandes. Quem não tem isso, olha pro espelho e sofre.
ResponderExcluirE não há nada de errado nisso. É a natureza humana. As fêmeas (e os machos) vão tentar se sentir desejadas.
Gustavo Sauer
Que diabo é isso Rodrigo?
ResponderExcluirEsse cara só piora, não sei o que tu viu nos artigos dele.Daqui a pouco vai falar de auto estima e frescuras do tipo
Em Portugal, não sei. Mas aqui no Brasil cresce a cada dia o número de homens que frequentam clínicas de estética e cirurgias plásticas em busca de reparos físicos. Nesse caso do silicone francês, por exemplo, fiquei sabendo da existência de prótese masculina até de testículo. As de peitoral já são implantadas há muito tempo.
ResponderExcluirEu mesmo já fiz lipo uma vez.
Enfim, essa teoria do português não se aplica ao Brasil, no meu entendimento.
Muito perspicaz a abordagem do post !
ResponderExcluirEu como homem heterossexual acho que a mais admirável parte de um corpo feminino é um cérebro inteligente. Não há nada que o compense.
Infelizmente ainda não existe prótese que resolva o caso de uma mulher burra!
'Eu como homem heterossexual acho que a mais admirável parte de um corpo feminino é um cérebro'
ResponderExcluirVocê não acha nada, você acredita no que a mídia e a educação politicamente correta mandaram você acreditar, seu macho beta.
O mito de Pigmaleao não representa exatamente o que sugere o autor (muito menos "apenas", como ele coloca), mas ..."traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas.
ResponderExcluirEm Psicologia deu-se o nome de Efeito Pigmaleão ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela[5]." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pigmale%C3%A3o)
Tem gente que gosta de mulher burra. Tudo bem !! Cada um é livre nas suas escolhas.
ResponderExcluirBem, o ideal é uma mulher bonita e inteligente.
ResponderExcluirPorém, entre uma bonita burra e uma feia inteligente, eu como a primeira, faço amizade com a segunda e espero aquela lá de cima. Hehe
Não há nada mais antinatural do que sentir tesão por...cérebro. Hehe
ResponderExcluirEsse comentarista do "cérebro" me fez lembrar de um texto que li uma vez. Salvo engano, foi de Daniel Guérin, um anarquista, no qual ele profetizava e previamente festejava uma era em que as pessoas se relacionariam amorsamente pelas afinidades intelectuais e não pelas físicas. Na época eu estava interessado no anarquismo de esquerda (foi minha primeira fase de ruptura com o marxismo), mas aquilo me soou absurdo e antinatural. É aquela idéia maluca de questionar as "injustiças" da natureza, que gera gente bonita e gente feia.
ResponderExcluirÉ um conceito moral doentio, pois despreza a seleção natural.
Apaixonado por cérebros se manifesta!
ResponderExcluirQuem se sentir bem em discordar da minha posição, não se constranja em defender suas próprias covicções. Fiquem à vontade, pois o espaço é democrático !
Sr apaixonado, vc é apenas o produto de décadas de mentiras politicamente corretas enfiadas goela abaixo na população ocidental.Ninguém escolhe sentir tesão pela gisele bunchen e broxar com uma velha pelancuda acabada.Mas pro lixo esquerdista e pras feminazi é exatamente assim!E vc tem que ser condenado se não sente tesão pelas balofas.
ResponderExcluirDuvida?
http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2012/01/treinando-nosso-olhar-pra-beleza.html
O que mostra bem a energia negativa desse pessoal.