Aproveitando o clima de carnaval, que coloca a Cidade Maravilhosa em evidência mundial, e também a quebra de mais um tabu ideológico dos petistas, gostaria de lançar aqui a campanha pela privatização do Galeão. Por que Garulhos, Brasília e Campinas, e não o nosso "querido" Galeão, por onde circulam quase 15 milhões de passageiros por ano? Com a expansão da classe média, turbinada pelo crescimento chinês e regada a crédito, a quantidade de passageiros que usam o Galeão cresceu 11% ao ano nos últimos cinco anos. A gestão da Infraero não foi capaz de acompanhar este ritmo. Qualquer viajante que precisa utilizar o Galeão com frequência sabe o martírio que é enfrentar tal desafio.
A privatização de aeroportos não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o processo em 1987. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México, Malásia e Tailândia foram países que seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que experimentaram expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos também existem vários aeroportos privados.
Não é difícil compreender por que a gestão estatal acaba sendo ineficiente. O governo não é bom empresário, pois lhe faltam os mecanismos adequados de incentivo. A burocracia estatal busca a rotina, não a inovação. O uso de recursos da "viúva" faz com que não exista preocupação com a rentabilidade do negócio. Logo, satisfazer o cliente não é um foco relevante. A estabilidade dos empregados faz com que fique impossível punir a ineficiência e premiar a competência com base na meritocracia, típica do setor privado.
Nas estatais, os interesses políticos sobrepujam os interesses econômicos, fundamentais para se prestar bons serviços. Qualquer cidadão acostumado com a visita rotineira às repartições públicas sabe bem do que estou falando. Para piorar as coisas, no Brasil é crime o "desacato a funcionário público", com pena de até dois anos de detenção ou multa. Como desacato é algo um tanto arbitrário, se o cliente elevar o tom da voz já pode ser enquadrado na lei. Todo cuidado é pouco, viajante!
O ranço ideológico, especialmente do PT, sempre foi uma enorme barreira contra a privatização. O setor privado era visto com enorme desconfiança, o lucro era obra de algum pacto mefistofélico, e os interesses nacionais eram confundidos com a necessidade de controle estatal. Foi com esta mentalidade retrógrada que o governo brasileiro resolveu atuar como empresário em diversos setores.
Após décadas de serviços ruins, bilhões em prejuízos, muita corrupção e atraso tecnológico, teve início a era da desestatização. Justiça seja feita, os tucanos partiram para este caminho a contragosto, por necessidade e não por convicção (como faz falta um partido realmente liberal no Brasil). Tanto que nunca souberam defender abertamente o sucesso das privatizações. Quem esqueceu a cena patética de Alckmin em 2006 posando de outdoor ambulante das estatais, para negar a "acusação" de privatista?
O PT sempre fez de tudo para impedir esta etapa crucial para o progresso do país. Se dependesse dos petistas, a Embraer ainda faria sucatas voadoras, as ferrovias estariam abandonadas, a Telebrás estaria na era analógica e a Vale jamais seria o ícone de excelência que é hoje. Em toda eleição o partido apelava para o "terrorismo" ideológico, alegando que os adversários iriam cometer este terrível pecado que é a privatização.
Nada como o pragmatismo do poder. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas chegando, e a falta de recursos para investimentos (não sobra muito depois de tantos gastos assistencialistas e com pessoal), eis que o próprio PT resolveu privatizar aeroportos! Está certo que houve grande atraso por culpa do ex-presidente Lula. Está certo também que o modelo escolhido foi repleto de falhas, dependeu do BNDES (sempre ele) para garantir financiamento, e foi realizado às pressas.
Ainda assim, antes tarde do que nunca. Mesmo com a forte presença dos fundos de pensão nos grupos vencedores, o fato é que R$ 25 bilhões serão arrecadados pelo governo, e a gestão sairá da Infraero. Quanto valeria o Galeão em um leilão programado com calma, sob forte concorrência internacional?
Aproveitemos que o Brasil está na moda e que os investidores do mundo todo estão desesperados em busca de oportunidades. Nós nem nos importamos com a discussão semântica se é privatização ou não, desde que a gestão fique com a iniciativa privada, em busca de lucros. É a melhor garantia que os usuários têm para melhorias do serviço. Até porque pior do que está não fica!
Rodrigo Constantino
Está certo que o modelo de "privatização" adotado não é o ideal, mas com certeza representa uma grande melhora.
ResponderExcluirNão é uma questão de semântica mas de conceito de direito administrativo. O que aconteceu nos aeroportos foi uma concessão para uma entidade privada. Assim como ocorreu com as teles. O aeroporto continua sendo uma ativo do governo. E aliás, o primeiro a dizer que era concessão e não privatização foi o Serra em 2010, como noticiado na Folha de SP.
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