sexta-feira, maio 04, 2012

A cruzada contra os juros


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Após negar com veemência que iria mexer na poupança, o governo Dilma mudou (e complicou) as regras de remuneração desta opção popular de investimento. A partir de agora, a remuneração da poupança depende da Selic. O governo tomou esta medida para poder seguir com a trajetória de queda dos juros. Como a poupança, isenta de imposto, tornara-se mais competitiva que os fundos DI, que aplicam nos títulos públicos indexados à taxa Selic, o governo se viu forçado a mexer na poupança para não perder o mercado que financia seus títulos.

O resumo da coisa toda, de forma simplificada, é o seguinte: o cenário externo abriu uma janela de oportunidade para que países como o Brasil reduzam os juros, atraindo poupança externa para fechar a conta. O governo tem aproveitado esta janela com vontade, e já derrubou a taxa Selic para 9% ao ano. Os “spreads” bancários continuam elevados, por vários motivos estruturais, então o governo resolveu impor sua redução por meio dos bancos públicos, que correspondem a 40% do mercado. Mas agora o limite para quedas maiores dos juros está na concorrência com a poupança. Nova marretada para permitir taxa menor.

Só há um pequeno detalhe nesta cruzada do governo contra os juros: o risco inflacionário. É verdade que o quadro mundial, com países desenvolvidos pagando taxa de juro real negativa, permite esta “ousadia” (irresponsabilidade) do governo por algum período. Mas o governo não fez uma única reforma estrutural que aumentasse a produtividade do país, tampouco reduziu seus gastos para permitir o aumento de oferta da poupança doméstica.

Logo, todo o crescimento de crédito, que tem sido acima de 15% ao ano por vários anos, não encontra lastro nos fundamentos econômicos. Quando a economia ameaça desaquecer, o governo resolve então injetar mais crédito de forma artificial, sendo que a inflação já se encontra acima do centro da meta, que por sua vez já é bastante elevada. Para um povo consumista como o nosso, isso é um convite para financiamentos arriscados. A inadimplência, mesmo com todo mundo empregado, já começa a subir de forma preocupante.

Enquanto o cenário externo seguir favorável a países emergentes com vastos recursos naturais, a farra poderá continuar sem grandes impactos negativos. Mas não se enganem: uma bomba-relógio está sendo montada, uma bolha creditícia está sendo inflada pelo próprio governo. Quando ela estourar, lembrem-se de que não foi culpa dos bancos, do mercado ou do capitalismo, mas sim de um governo que deseja estimular o crescimento econômico no curto prazo com medidas artificiais em vez de fazer o duro dever de casa das reformas.   

12 comentários:

  1. Anônimo10:55 AM

    Desculpe minha ignorância, mas porque tal medida irá gerar inflação??

    E porque pode gerar uma bolha??

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  2. Teo O3:38 PM

    Na linha do que foi perguntado acima, na sua opiniao quais sao os varios motivos estruturais que fazem os bancos privados manterem os spreads tao altos?

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  3. Os principais gargalos são:

    - infraestrutura capenga;
    - mão de obra desqualificada;
    - previdência explosiva;
    - leis trabalhistas anacrônicas;
    - carga tributária escorchante;
    - ELEVADOS GASTOS PÚBLICOS, como principal causa que leva a tudo isso, reduzindo a oferta de poupança doméstica.

    Como o governo não faz o dever de casa com reformas estruturas para melhorar tais gargalos (custo Brasil), ele depende apenas da redução da taxa de juros na marra (artificial). Com o tempo, isso vai produzir inflação.

    O spread é alto por vários motivos, entre eles:

    - baixa competição;
    - inadimplência elevada;
    - insegurança jurídica para arresto de bens dos inadimplentes;
    - compulsório alto demais;
    - cunha fiscal;

    Não se mexeu em nada disso. Uma vez mais, o governo quis mudar os fundamentos por decreto. Não funciona.

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  4. E os meios de comunicação estão em coro divulgando a redução da taxa de juros para a realização do sonho do brasileiro: a casa própria.

    Acho que já vi esse filme em algum país do norte...

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  5. Anônimo9:02 PM

    Rodrigo esta farra dura mais uns cinco anos?

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  6. PROFESSOR Constantino. Permita-me colar aqui o trabalho do perito na pagina http://www.paesdebarrosassociados.com.br/juros/ccbancaria/reengenharia_sistemas/acarlos_quest01.pdf A colagem vai para o comentário seguinte

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  7. Colagem em sequencia do anterior
    ...Este signatário manifesta parcialmente sua concordância com a resposta
    prestada pelo D. Perito Judicial, pois, mesmo que não haja elementos nos Autos,
    este assunto poderia ser verificado no Departamento de Estudos e Pesquisas-
    DEPEP, no site Banco Central do Brasil (Juros e Spread Bancário no Brasil), onde
    informa resumidamente que o spread é composto de:
    - Despesa Administrativa;
    - Impostos Indiretos (+ CPMF);
    - Inadimplência;
    - IR/CSLL; e
    - Lucro do Banco.
    Resposta Reformulada pelo Perito do Juízo: Para melhor esclarecer o
    quesito formulado, o perito diz nesta oportunidade concordar com o comentário
    acima, quanto à composição do SPREAD, acrescentando a seguir, como é
    distribuída percentualmente a captação de recursos, chegando a lucro final do
    Banco.
    No entendimento do Quesito pelo perito, o “spread” DE UM BANCO BRASILEIRO é
    composto de CAPTAÇÃO, RISCO, IMPOSTO e MARGEM DO BANCO e o
    COMPULSÓRIO, é como a seguir
    HIPóTESE: O BANCO CAPTARIA DINHEIRO DE OUTROS BANCOS OU DE
    CLIENTES PAGANDO EM VOLTA DE 12,0% ªª
    CAPTAÇÃO
    12,0%
    ANTES DE EMPRESTAR, INCLUI NA TAXA DE JUROS O RISCO DA
    OPERAÇÃO (Inadimplência): 19,0%ªª
    RISCO
    19,0%
    NO CALCULO TAMBEM SERÁ EMBUTIDA A CARGA FISCAL E TRIBUTÁRIA
    DIRETA NÃO REPASSÁVEL, REPRESENTANDO 9,0%ªª DA OPERAÇÃO.

    IMPOSTO
    9,0%
    A MARGEM PARA O BANCO É DE 35,0%ªª, (Despesas administrativas,
    IR/CSLL, Impostos Indiretos e Lucro do Banco).
    MARGEM DO BANCO
    35,0%
    O EMPRÉSTIMO CHEGA AO TOMADOR À TAXA DE 96%ªª
    1,12*1,19*1,09*1,35 = 1,9612 (-) 1,00 = 0,9612
    ou,
    TAXA DA OPERAÇÃO DE EMPRÉSTIMO: 96%ªª

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  8. Ficou faltando apenas o COMPULSÓRIO.
    QUANTO É O COMPULSÓRIO ATUALMENTE?

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  9. Se não me engano está em 40%.

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  10. Com esse compulsório a taxa de empréstimo do Banco sobe a
    O EMPRÉSTIMO CHEGA AO TOMADOR À TAXA DE
    1,12 1,09 1,35 1,4 2,307312 1,307312 130,73
    ou,
    TAXA DA OPERAÇÃO DE EMPRÉSTIMO: 130,73%ªª

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  11. Prof Constantino. DELETAR A ANTERIOR E COLOCAR ESTA QUE É A CORRETA:
    capt risco impsto margB cplsr
    1,12 1,19 1,09 1,35 1,4
    TAXA DA OPERAÇÃO DE EMPRÉSTIMO: 174,57%ªª

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  12. O Banco trabalhando com 0% de margem, O BCB abrir mão do compulsório, e o estado e município abrir mão de todos seus impostos, fica
    Ao mês fica

    % a.a. % a.m.
    33,28 0,33 0,024 2,42

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