Rodrigo
Constantino, Revista Voto
A
América Latina caminha para ficar dividida em dois blocos muito distintos. De
um lado, o Mercosul, com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, sendo que a
Venezuela aguarda aprovação do Parlamento paraguaio. Do outro, a Aliança do
Pacífico, que foi assinada recentemente entre México, Colômbia, Peru e Chile,
com Costa Rica e Panamá na fila de espera.
A
intenção da Aliança do Pacífico é criar uma zona de livre circulação de bens,
serviços, capitais e pessoas. Os quatro países membros representam 40% do PIB
da América Latina e 55% das exportações da região ao resto do mundo. O bloco
pretende buscar formas mais rápidas e pragmáticas de avançar nos temas
comerciais e de integração, sem impedimentos ideológicos.
Se
o Mercosul sofre cada vez mais influência do “socialismo bolivariano”,
encabeçado por Hugo Chávez, a Aliança do Pacífico promete ser uma alternativa
bem mais interessante. O Chile, afinal, representa o país latino-americano mais
desenvolvido em termos econômicos e políticos, com uma renda per capita bem
acima da média e a primeira colocação no ranking de IDH na vizinhança.
O
grupo que o Brasil faz parte aponta para Cuba com crescente admiração. O grupo
do Chile prefere apontar na direção do livre comércio, incluindo acordo
bilateral com o próprio “Satã”, os Estados Unidos. A Argentina tem ignorado
inúmeras cláusulas comerciais. Até mesmo confiscar propriedade estrangeira o
governo Kirchner fez recentemente. O Brasil é um dos países que mais tem
apelado para medidas protecionistas nos últimos meses.
Se
a Venezuela finalmente entrar no Mercosul, isso será sua pá de cal definitiva,
rasgando a cláusula que exige instituições democráticas para ser membro.
Brasil, Argentina e Uruguai já ratificaram a adesão, restando apenas a
aprovação final do Paraguai. Talvez isso explique a reação dos líderes da
Unasul e Mercosul, sob a liderança de Hugo Chávez, ao impeachment do presidente
Fernando Lugo nos últimos dias.
Não
resta dúvida de que o processo foi acelerado demais, mas tudo leva a crer que
foi feito dentro das regras constitucionais. Ou seja, não faz sentido falar em
golpe. Além disso, a forma com a qual o presidente Lugo lidou com a questão
agrária mostrou extrema incompetência, para dizer o mínimo. Há claros indícios
de que ele foi até conivente com o bando de criminosos invasores de terra, que
matou seis policiais em confronto sangrento.
Sempre
que figuras como Chávez, Evo Morales e Rafael Correa falam em democracia, pode
estar certo de que planejam alguma ação autoritária. É lamentável ver o Brasil
liderando este tipo de movimento. O Paraguai foi suspenso do Mercosul, o que
acende sinais de alerta quanto ao respeito do bloco às leis internas dos
países-membros.
A
postura do Itamaraty desde o governo Lula tem se mostrado invariavelmente
incorreta, sempre mergulhada em ranço ideológico. A subserviência ao ditador
iraniano é prova disso, assim como a negligência no caso da Síria. A
aproximação aos ditadores africanos foi outra bola fora, sempre com a meta de
conseguir o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O então
presidente Lula até chegou a perdoar a dívida destes países em busca deste
objetivo, sacrificando os pagadores de impostos brasileiros.
Um
estudo feito pelo Instituto Acende Brasil, examinando 11 incidentes em que
intervenções ou pleitos de nossos parceiros alteraram as condições
originalmente pactuadas em contratos ou tratados, calculou em R$ 6,7 bilhões as
perdas para o Brasil só no setor energético. Olhando para o futuro, as
intervenções já realizadas poderiam elevar esta cifra para mais de R$ 21
bilhões.
Bolívia,
Argentina, Venezuela e Paraguai, todos com governantes aliados ideologicamente
ao PT, tomaram decisões unilaterais que representaram, de alguma forma, quebra
de contrato com empresas brasileiras do setor de energia. Conforme diz o
relatório do instituto:
“O
Brasil tem sistematicamente ignorado ou menosprezado – com base numa postura de
baixa transparência – os prejuízos ocasionados pelos seus acordos para os
próprios brasileiros. Tais prejuízos têm sido causados pelo rompimento ou
alteração de contratos por ações voluntaristas de governos.”
Traduzindo:
o populismo dos camaradas tem sido pago pelos brasileiros. O ex-presidente Lula
expressou a mentalidade por trás desta atitude passiva e negligente: “O Brasil
é a maior economia e tem que ser generoso, aquele que ajuda o avanço dos
outros”. É o PT usando o governo, ou seja, o dinheiro da “viúva”, para fazer
“caridade” aos companheiros de ideologia.
Ao
julgar pela tendência até aqui, a América Latina acabará dividida em dois
blocos muito diferentes. Um deles será pragmático e deverá contribuir para o
progresso de seus membros. O outro acabará como um palco para discursos
populistas e demagógicos dos governantes mais autoritários da região. É uma
pena que o governo brasileiro, sob a liderança do PT, tenha optado pelo lado
fracassado.
Boa noite Rodrigo!
ResponderExcluirVoce não acha que este episodio ocorrido no Paraguai não pode ter sido planejado pelos países que estão pressionando o Paraguai, a fim de que eles aceitem o governo provisorio em troca do voto a favor da Venezuela? abs
Três países da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia e Peru) condenaram o processo de impechment do Lugo. Não é correto a informação que somente os "bolivarianos" que condenam o Paraguai
ResponderExcluirBom dia!
ResponderExcluirDa Colombia eu sabia, o Santos que em campanha o Chaves afirmava ser o diabo, hoje são amigos, traindo os eleitores colombiano. O Peru não é surpresa, o Chile ainda não li sobre condenar o impechmente, para mim é surpresa.
O artigo do Rodrigo se mostrará correto no médio prazo quando as posições dos governos se tornarem mais precisas. Por ora é apenas o primeiro ímpeto. Aguardemos.
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