Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
A esquerda é uma praga da qual não nos livramos. Egressa da tradição judaico-cristã messiânica, traz consigo a tara do fanatismo daquela. Mas ela tem várias faces.
No Brasil, após a ditadura, a esquerda tinha o absoluto controle da universidade e, por tabela, de muitas das instâncias de razão pública, como escolas de nível médio, mídia, tribunais e escolas de magistratura. Coitadinha dela.
Neste caso, do aparelho jurídico, sente-se o impacto quando vemos a bem-sucedida manobra da esquerda em fazer do Código Penal uma província ridícula do politicamente correto, para quem, como diz a piada, entre matar um fiscal do Ibama e um jacaré, é menos crime matar o fiscal.
Com a crise da Europa e a Primavera Árabe, a esquerda se sente renovada. Interessante como, no caso árabe, ela flerta com os movimentos islamitas. A razão é, antes de tudo, sua ignorância completa com relação ao Oriente Médio. A esquerda sempre foi provinciana. Ela confunde o fanatismo islamita com o fanatismo revolucionário. Lá, não existe “povo em busca de igualdade democrática”, mas sim fiéis em busca de tutela absoluta.
Antes de tudo, devo dizer que há uma forma de esquerda que respeito: os melancólicos de Frankfurt. Para estes, como Adorno e Horkheimer, vivemos o “échec” (impasse, fracasso) da modernidade, devido à mercantilização das relações. Para mim, isso é um fato. E, enfim, a melancolia sempre me encanta. Os melancólicos têm razão.
Desde Deleuze, Derrida e Foucault (três chifres da mesma cabra), a esquerda assumiu ares de revolução de campus universitário, que encampa desde movimentos como o engodo do Maio de 68, passando pela crítica da gramática como forma de opressão (risadas…), até a ideia boba de que orientação sexual seja atitude revolucionária. Que tal sexo com pandas? Por falar em pandas…
Outra forma é a esquerda-melancia. Verde por fora, vermelha por dentro. Essa se traveste de preocupação com os pandas para querer roubar o dinheiro e o esforço alheios, além de refundar a união das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas com obrigação de comida orgânica no cardápio.
Existe também a esquerda “de classe executiva” que vai a jantares inteligentes. O mais perto que ela chega de qualquer coisa vermelha é do vinho que gosta de discutir, marca de sua falsa “finesse”. Nada mais “fake” do que falar de vinhos como modo de elegância afetada.
Há também a religiosa, que se divide em duas. A budista “light”, aquela que acha que o budismo é uma espiritualidade “progressista”. A outra, a católica, pensou que Marx precisava de um Che Jesus e se deu mal. Nem a esquerda a leva a sério, nem a igreja a considera mais.
Claro, não podemos esquecer do feminismo, aquele que acha que o patriarcalismo é responsável por todos os males e afirma que Shakespeare era uma menina vestida de menino. Outra forma é a esquerda multicultural. Essa confunde o mundo com uma praça de alimentação étnica de um shopping center de classe média, achando que “culturas” (esse conceito “pseudo”) se misturam como molhos.
Outra forma é a esquerda “aborígene”, aquela que entende que a vida pré-descoberta da roda é a forma plena de habitar o cosmo.
Há também a esquerda da psicologia social, composta basicamente de psicólogas, pedagogas e assistentes sociais a favor da educação democrática e da ideia de que tudo é construído no diálogo. Essas creem que se pode dialogar com serial killers, culpando a escola, o capital e a igreja pelas mulheres que eles cortam em pedaços nas redondezas.
Todos esses tipos têm um traço em comum: são todos frouxos, como diria Paulo Francis.
Mas existe uma outra esquerda, a bolchevique “traveco”. Os bolcheviques eram cabras que gostavam de violência e a praticaram em larga escala. Hoje, para a esquerda, pega mal pregar violência. Ela sofre com um problema que é a imagem de si mesma como um conjunto de seres puros, dóceis e pacíficos.
Então, para os simpatizantes da violência revolucionária bolchevique, a saída é se travestir de gente dócil e falar em “violência criadora”. O amor e a violência são os mesmos, mas a saia confunde.
O principal problema da esquerda é que seus simpatizantes olham tudo nesta ótica. E, assim, de esquerda em esquerda, não percebem que andam em círculos. Ou seja, não saem do lugar e vivem pregando sempre os mesmos conceitos, mesmo utilizando às vezes uma grossa maquiagem para tocar em frente suas diversas vertentes.
ResponderExcluirD.F.B.
Quanto mais textos de Pondé eu leio, mais o respeito. Muito bom.
ResponderExcluirMarxistas, cristãos, muçulmanos e outros rebanhos que não enumero aqui por falta de espaço: no fundo, a mesma coisa, a mesma mentalidade, a mesma visão dualista e atrasada de mundo.
Esquerda = hipocrisia.
ResponderExcluirEsquerda= sociopatas
ResponderExcluirAh, esse Pondé, o Schopenhaeur de Banânia (brincando com o estereótipo do filósofo alemão): "...a melancolia me encanta. Os melancólicos têm razão." Eu, que sou melancólico, tenho razão....rsss
ResponderExcluirE, se a "esquerda" é onipresente, forçoso reconhecer que, pelo menos em termos de discurso, ela é mais competente que a "direita", pois não? Dizer que as pessoas aderem às ideias ditas de esquerda porque são simplesmente tacanhas e fanáticas soa apenas arrogante.
Por fim, e essa história de budismo light que o Pondé inventou!? Budismo nunca é light, sempre é heavy. Gostaria de saber o que ele quer dizer com o tal budismo light. Se alguém tiver mais informações do que se trata, agradeço a informação.
Concordo com a Míriam...
ResponderExcluirPor que tanto ódio nesses coraçõezinhos, rapazes? rs
Taxar a todos, generalizar, "disso" ou "daquilo" é muito prematuro e simplista... a massificação de qualquer idéia/ideal é preocupante, perigoso e atesta uma burrice(foi o Nelson Gonçalves quem afirmou isso, ok? ehehehe)
É preciso um pouquinho mais de tolerância e paciência(não, não são sinônimos)para que seja possivel encontrar os "erros de programação"... as idiossincrasias são benéficas, isso promove o debate, o questionamento...sempre... o que não quer dizer que todos estejam certos ou errados, aliás, "certos ou errados" sobre que prisma?
Mas que sobra hipocrisia por todos os lados, isso sim, é inquestionável!
"Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer." - Nelson Rodrigues
ResponderExcluirEsse Pondé... não existe essa conversa de tradição 'judaico cristã', as duas coisas são tão diferentes que só uma visão muito superficial ou desonesta bota tudo no mesmo saco
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