Rodrigo
Constantino, para a revista Voto
A
imprensa brasileira sempre se refere aos Republicanos americanos como
“ultraconservadores”. Quando Paul Ryan foi escolhido como vice na chapa de Mitt
Romney, o destaque em nossa mídia foi o mesmo em todo lugar: um
“ultraconservador” fora apontado para satisfazer os anseios da direita radical
do “Tea Party”. Os membros deste movimento chegaram a ser chamados de
“fascistas” pelo colunista Arnaldo Jabor em artigo recente.
Faz
sentido usar este rótulo? O que defende, via de regra, o Partido Republicano?
Quais são as ideias de Paul Ryan? Há alguma semelhança entre tais ideias e o
fascismo, cujo ícone máximo foi Mussolini?
Antes
de entrar na questão, vale dizer que não nutro muita simpatia pelos
conservadores americanos. Considero-me um liberal, não no sentido americano,
cuja esquerda “progressista” usurpou até mesmo o termo, que em seu conceito
clássico quer dizer mais liberdade individual (entendida como ausência de
coerção estatal). E os liberais clássicos possuem importantes divergências com os
neoconservadores americanos, que ignoram em boa parte a tradição conservadora
inglesa, que data de Edmund Burke.
Dito
isso, quais são as principais bandeiras conservadoras nos Estados Unidos hoje?
Se dependesse de nossa imprensa, a imagem pintada seria a de um neandertal.
Nossos colunistas e jornalistas olham para a direita americana como se esta
fosse formada basicamente por fundamentalistas religiosos, saudosistas da era
medieval, que adorariam puxar suas mulheres pelo cabelo e manter escravos
negros.
Naturalmente,
uma pequena parcela da ala mais reacionária pode até se encaixar neste
estereótipo, mas não faz nenhum sentido generalizar desta forma. Seria como
dizer que todos os Democratas são comunistas que sonham com o modelo soviético,
porque eles sem dúvida existem no partido.
Portanto,
quando nossos “especialistas” pintam este quadro medonho, de criacionistas que
abominam a ciência e de individualistas insensíveis que não ligam para os
pobres, podemos estar certos de que se trata de uma caricatura absurda e
injusta, feita deliberadamente ou por ignorância. Ao colocarem todos no mesmo
saco, pretendem contaminar uma direita legítima com os excessos de um extremo
numericamente insignificante.
E o
que prega a direita então? Podemos usar até mesmo os radicais do “Tea Party”
como exemplo. Sim, há gente extremista ali, manipulada por populistas de
plantão. Mas, na essência, a mensagem libertária do movimento não guarda
absolutamente nenhuma similaridade com aquilo que poderia ser chamado de
“ultraconservador”, muito menos “fascista”. Na verdade, trata-se da antítese do
fascismo!
Ora,
o “Tea Party” defende muito menos estado, até mesmo um estado mínimo, que
interfere muito pouco na vida dos indivíduos. O que há em comum com o fascismo,
onde tudo é dentro do estado, para o estado? A visão autoritária, que trata
cidadãos como súditos incapazes que necessitam da tutela estatal, está
justamente representada pela esquerda democrata americana, cada vez mais
intervencionista, a ponto de alguns falarem em “fascismo de esquerda”.
Lembremos que o próprio Mussolini foi socialista.
Tentando
resumir as principais bandeiras da direita americana, sabendo que vou pecar
pelo simplismo, elas seriam: maior autonomia individual, sem tanto controle paternalista
estatal; livre mercado, sem tantos resgates e subsídios por parte do governo;
uma visão de papel predominante dos Estados Unidos como nação que lidera o
mundo pelo exemplo (e pela força, quando necessário); o resgate de valores
familiares tradicionais.
O
resumo acima é muito reducionista e não abrange a complexidade da política
americana. Mas acredito ter abordado os principais pontos, e justamente aqueles
que tanto incomodam a nossa esquerda. Você é contra a tentativa de Obama de
criar o SUS americano? Você acha que o estado não deve ser empresário nem
arrecadar quase a metade do que é produzido pela iniciativa privada em nome da
“justiça social”? Você rejeita o aborto e não acha legal ter um filho gay,
ainda que respeite as escolhas no âmbito individual? Você não abraça o
multiculturalismo sem restrições, por considerar que os valores da civilização
Ocidental são superiores ao do Islã? Você é contra a legalização de todas as
drogas?
Então
parabéns: você é um “ultraconservador” pela ótica de nossa imprensa. Claro que
é possível discordar de parte dessas crenças conservadoras sem ser um
socialista. Eu mesmo tenho discordâncias com algumas posturas da direita
americana, como já disse. Mas isso é bem diferente de rotular alguém de
“ultraconservador” só porque não aderiu ao credo politicamente correto dos
“progressistas”, defensores de altos impostos, tutela paternalista do estado e
total relativismo moral.
Temo
o dia em que uma pessoa que discorda da ideia “progressista” de que manter um
harém de meninas, meninos e até cabras, ou de tirar à força 75% do ganho dos
mais ricos, seja tachado por nossa mídia de “ultraconservador”. O termo perdeu
totalmente seu sentido.
Tenho alguma dificuldade em enxergar como se concilia essa posição da liberdade individual com a legalização das drogas. Dá pra ficar indignado com as leis contra o fumo e ao mesmo tempo querer bater em quem quer fumar outras coisas? Um mercado da maconha, por exemplo, não seria mais prático do que querer coibir seu uso, e tão moral quanto o comércio do tabaco?
ResponderExcluirOutro ponto: talvez minha visão esteja errada, Rodrigo, mas não me parece que nem mesmo a maioria da direita seja "contra o aborto, mas a favor da escolha individual". Parece é que eles são contra o aborto pra todo mundo mesmo. Estou errado?
Oi Rodrigo! Nesse seu texto você soou mais conservador (dado seus outros textos) do que você realmente é. Infelizmente, o Partido Republicano se afastou completamente do Liberalismo clássico, que nós defendemos, e se tornou um celeiro de religiosos querem impor sua visão de mundo não apenas aos cidadãos americanos como também ao resto do mundo. A maioria dos republicanos se afastou dos ideais dos Founding Fathers e se aproximou da visão do William Buckley, que iniciou essa guinada já na década de 1960, na candidatura Goldwater. A visão deles sobre aborto se aproxima da de um Olavo de Carvalho. Os Democratas ainda são mais laicos, pena que tenham se tornado tão intervencionistas. Abs
ResponderExcluirPermitam-me repetir aqui a frase com que os Republicanos americanos brindaram a nomeação de Paul Ryan visto como oponente mais acirrado de Obama para vice na chapa de Mitt Romney,
ResponderExcluirNão é a cor da pele, não é porque OBAMA vem de uma religião exótica (Islã), não é porque não nasceu nos EUA,
IT IS THE IDEOLOGY STUPID!
A imagem de inocentes "granted" aos americanos está em mudança depois de OBAMA. De agora em diante a luta será ideológica. Os progressistas democratas impuseram essa luta. Para os "tea-partyers" e para o movimento liberal é uma luta pela sobrevivência!
Samuel,
ResponderExcluirPesquisa divulgada ontem à noite:
Obama leva uma vantagem de 5 pontos percentuais. Nota de rodapé: a pesquisa é da FOX!! Dado complementar da pesquisa: Obama tem uma chance de reeleição de 88%.
A ver...
rafernandes, Gostaria de dizer: "fuck USA" mas não posso. It is a turning point for the whole globe.
ResponderExcluirWe all are going to be fucked!
Samuel,
ResponderExcluirAinda bem que vc refrained quanto ao "fuck USA". Seria um insulto à sua inteligência e um insulto à mim. Emigrei há muitos anos para os EUA e optei pela cidadania americana com muito orgulho, pois é um lugar maravilhoso para se viver. Não é o paraíso: há desigualdades, há corrupção e até, ocasionalmente, miséria. Mas, ressalvados alguns países da Europa Ocidental (a Alemanha em especial) é um dos melhores lugares do mundo para se viver. Nem por isso, deixei de ser brasileiro e muito patriota, embora prefira manter uma prudente distância do Bananão.
Outro dia disse aqui que votaria relutantemente no Romney porém tenho oscilado pendularmente: a cada semana mudo meu voto. Isso serve para mostrar como esta eleição é complicada, tamanha a quantidade de coisas fundamentais que estão em jogo. Porém os dois candidatos fazem uma tal camuflagem de suas intenções e cuidam de manter o público devidamente apavorado com as consequencias advindas da vitória do outro, de tal forma que até um eleitor razoavelmente instruido, como o titio aqui, oscila em sua decisão, num desesperado flip-flop. Pelo menos em 06 de novembro isso acaba! Um abraço.
Vamos ver se serei limado dos comentários novamente por discordar do Rodrigo, vamos lá:
ResponderExcluir1 - Não é verdade que 'a imprensa brasileira' (como se houvesse essa homogeneidade toda) refere-se aos republicanos como ultraconservadores; isto ocorre em alguns casos, como Sarah Palin e agora o Paul Ryan.
2 - você critica uma suposta caricaturização da direita americana pela mídia, mas faz o mesmo em relação à esquerda (americana, brasileira e de qualquer lugar); neste próprio o texto agora em comento você, além de colocar toda a imprensa no mesmo saco, diz coisas dos democratas (e por tabela da 'esquerda') como autoritários que querem fazer dos cidadãos súditos incapazes que precisam de tutela estatal - e assim você cai no erro simplificar/demonizar, erro que vc aponta na 'imprensa brasileira'
3 - embora se diga liberal/libertário, levanta a bandeira, dá exemplos tipicamente conservadores ao pintar a real face bondosa da 'direita', como ser contra o aborto e pelos valores familiares (em oposição à maléfica esquerda que cai num'total relativismo moral'.
Enfim, Rodrigo, você caricaturiza e/ou demoniza quem pensa diferente de você - exatamente o que estaria criticando na 'imprensa brasileira'.
Vamos ver se serei limado dos comentários novamente por discordar do Rodrigo, vamos lá:
ResponderExcluir1 - Não é verdade que 'a imprensa brasileira' (como se houvesse essa homogeneidade toda) refere-se aos republicanos como ultraconservadores; isto ocorre em alguns casos, como Sarah Palin e agora o Paul Ryan.
2 - você critica uma suposta caricaturização da direita americana pela mídia, mas faz o mesmo em relação à esquerda (americana, brasileira e de qualquer lugar); neste próprio o texto agora em comento você, além de colocar toda a imprensa no mesmo saco, diz coisas dos democratas (e por tabela da 'esquerda') como autoritários que querem fazer dos cidadãos súditos incapazes que precisam de tutela estatal - e assim você cai no erro simplificar/demonizar, erro que vc aponta na 'imprensa brasileira'
3 - embora se diga liberal/libertário, levanta a bandeira, dá exemplos tipicamente conservadores ao pintar a real face bondosa da 'direita', como ser contra o aborto e pelos valores familiares (em oposição à maléfica esquerda que cai num'total relativismo moral'.
Enfim, Rodrigo, você caricaturiza e/ou demoniza quem pensa diferente de você - exatamente o que estaria criticando na 'imprensa brasileira'.
Thiago, basta argumentar com educação que eu não veto.
ResponderExcluirEu não faço tal caricatura. Ao contrário, consigo respeitar algumas pessoas da social-democracia e do lado conservador, apesar de ser liberal.
Leia novamente com calma e isenção. Eu disse que poderia fazer justamente o que fazem com os Republicanos, que é pegar a ala mais radical e tratar como a regra.
Obama, infelizmente, atende cada vez mais à ala mais radical. Ele É um esquerdista e tanto. Pena, pois há quadros melhores e mais moderados entre os Democratas.
Rodrigo, só de você usar constantemente a expressão 'esquerda' colocando no mesmo saco o sujeito mais radical/comuna com um cara de centro-esquerda,um socialdemocrata(a 'canalha' que vc desenhou no texto do Nelson Rodrigues), já coloca em xeque seu suposto respeito. Seu texto, que li sim com atenção e isenção, faz ressalvas quanto a caricaturar os democratas, eu sei; mas o que segue após a definição sumária do que seria a direita em oposição à esquerda 'autoritária' do 'estado paternalista' e do 'total relativismo moral' é sim caricatura. Por fim, volto a dizer que sua menção às questões do aborto e do homossexualismo foram problemáticas, porque embaçam inclusive a diferenciação que,salvo engano, você mesmo faz entre liberais como vc e conservadores como Olavo de Carvalho - sim, querer que o estado (mínimo?) interfira na minha vida sexual/afetiva e me obrigue a parir mesmo sem condições financeira/emocionais para tanto é...'neandertal'.
ResponderExcluirReconheço que fui rude em outros comentários...mas a verdade é que vc só os vetou porque não foram rudezas (como eu vejo aqui aos montes) favoráveis a suas opiniões. 'Educação', neste caso, virou 'concordância comigo'.
Rodrigo, só de você usar constantemente a expressão 'esquerda' colocando no mesmo saco o sujeito mais radical/comuna com um cara de centro-esquerda,um socialdemocrata(a 'canalha' que vc desenhou no texto do Nelson Rodrigues), já coloca em xeque seu suposto respeito. Seu texto, que li sim com atenção e isenção, faz ressalvas quanto a caricaturar os democratas, eu sei; mas o que segue após a definição sumária do que seria a direita em oposição à esquerda 'autoritária' do 'estado paternalista' e do 'total relativismo moral' é sim caricatura. Por fim, volto a dizer que sua menção às questões do aborto e do homossexualismo foram problemáticas, porque embaçam inclusive a diferenciação que,salvo engano, você mesmo faz entre liberais como vc e conservadores como Olavo de Carvalho - sim, querer que o estado (mínimo?) interfira na minha vida sexual/afetiva e me obrigue a parir mesmo sem condições financeira/emocionais para tanto é...'neandertal'.
ResponderExcluirReconheço que fui rude em outros comentários...mas a verdade é que vc só os vetou porque não foram rudezas (como eu vejo aqui aos montes) favoráveis a suas opiniões. 'Educação', neste caso, virou 'concordância comigo'.