domingo, outubro 28, 2012

A religião do momento


Leandro Narloch, Folha de SP
CARO IRMÃO, você que está vivendo uma situação desesperadora, que se sente esgotado, estressado, sem saída, eis aqui um convite. Junte-se a nós, dê uma chance ao poder divino da política, venha descobrir que o Estado pode salvar a sua vida.
O jovem cheio de esperança, a senhora solitária que veio até aqui nos conhecer, tenham certeza que há um candidato olhando para vocês, um vereador proibindo alguma coisa na cidade, uma presidente com poder e sabedoria guiando o país.
É verdade, irmãos, que os últimos tempos não têm favorecido a crença no Estado. Há séculos pregamos que a educação, a saúde e o transporte público vão funcionar, e o que vemos são enfermeiras de postos de saúde injetando café com leite na veia de senhoras idosas.
Apesar disso, irmãos, o Estado nos pede que ignoremos esses problemas e perseveremos na fé -a fé de que um dia algum político nos conduzirá a um reino de paz e justiça social.
Irmãos, a mensagem mais importante a vocês é sobre dois graves riscos que nós corremos nas eleições deste domingo. O primeiro deles é que religiões influenciem a disputa para a chefia de nossos alvíssimos palácios. Isso é um absurdo, irmãos!
Religiões se baseiam em mundos imaginários, irmãos! Em ideias obscuras! Nós, ao contrário, lidamos com o mundo real! Com princípios científicos! Por exemplo, quando almejamos postos de saúde com a mesma qualidade dos melhores hospitais particulares, ou bancos estatais livres da influência de partidos: é a realidade, senhores! Nossos sonhos são perfeitamente realistas, irmãos!
A outra ameaça é eleger sacerdotes que não creem nos poderes do Estado. Gritem comigo: eles são hereges! Eles são demônios! Eles são neoliberais! Querem privatizar a Entidade Nacional do Reino Estatal! Precisamos atirá-los nos calabouços das derrotas eleitorais, irmãos!
Calma, senhora, não precisa jogar cheques e notas em nossos pés. Os sacerdotes fiscais já trataram de reter parte de seu salário e embutir nos preços do mercado a taxa de manutenção de nossas obras divinas. O valor está passando um pouco do dízimo -beira 40% de sua renda- mas acredite, minha senhora: todo ele é destinado ao bom caminho, à construção do paraíso escandinavo, ao poder infinito e sagrado do Estado.
Leandro Narloch jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" e coautor de "Guia Politicamente Incorreto da América Latina".

5 comentários:

  1. Pior que muita gente é assim.... É impressionante como qualquer problema que acontece, é culpa do "neo liberalismo". Os Keynesianos vivem tentando solucionar as "falhas de mercado", mas nunca vi um keynesiano, defendendo medidas para blindar o estado de interesses de lobistas. Cansei de ver neo keynesianos falando em "desregulamentação", sem citar que setor e que regulamentos, foram revogados e achando que burocratas não erram e nem tem interesses.

    Muita gente tem que entender que imposto de 40% é semi escravidão, reguladores não são santos clarevidências e pessoas, são tanto egoístas, por isto, é melhor que elas inovem, empreguem, produzam e comercializam, para acumular riqueza, que façam "politicagem".

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  2. Anônimo10:20 PM

    "Vamos derrubar o muro da vergonha que separa os ricos e os pobres", afirmou Haddad em seu primeiro discurso.

    Oh, god! O que será de São Paulo?

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  3. Como constatou Bastiat, o estado é aquela ilusão onde as pessoas acreditam ser possivel viver as custas das outras.

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  4. Anônimo10:01 AM

    É mais fácil sair de sp do que sair do brasil

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  5. Anônimo9:47 PM

    Fiquei impressionado com o fato do Pellegrino (PT) ter sido derrotado aqui em Salvador, considerando que a Bahia é o estado que mais recebe bolsa família. Além disso, Lula e Dilma fizeram comícios na periferia daqui. Será que há esperança?

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