domingo, outubro 14, 2012

O uso da ciência

João Luiz Mauad, O GLOBO


Pouca gente sabe, mas há bons indícios de que a teoria da relatividade esteja sendo revista. Cientistas do CERN – Organização Européia para Pesquisa Nuclear – estão analisando evidências de que algumas partículas subatômicas são capazes de locomover-se em velocidades superiores a da luz, algo que seria impossível, segundo Einstein. Caso confirmada, tal descoberta viria atestar, mais uma vez, que a verdadeira ciência é um processo contínuo, raramente conclusivo e, acima de tudo, despolitizado.

Ciência não é matéria sujeita a consensos ou escrutínios. Ao contrário, espera-se que as teorias sejam constantemente testadas e, se for o caso, falseadas. Imagine como seria a física hoje se Galileu não tivesse questionado a teoria aristotélica, se Newton não tivesse estendido e generalizado o trabalho de Galileu e Einstein estivesse plenamente satisfeito com as conclusões de Newton. Na verdade, o esforço para “negar” as teorias científicas é tão antigo e saudável quanto a própria ciência.

É assim que as ciências da natureza trabalham. Observações levam a hipóteses. Hipóteses são testadas através de experimentos. Os resultados são divulgados, examinados e duplicados antes que uma boa teoria seja divulgada. Certezas são raras, leis são muito poucas. Ciência não é fonte de autoridade, mas de conhecimento.

Cientistas não são deuses. São seres humanos sujeitos aos mesmos impulsos que todos nós. Einstein, por exemplo, queria tanto demonstrar que a teoria quântica era determinística e não probabilística que chegou a invocar o Todo-Poderoso: “Deus não joga dados com o universo”, teria dito o alemão, gerando a resposta jocosa de seu colega Nils Bohr: “Einstein, pare de dizer a Deus o que fazer”.

Esses mesmos impulsos humanos quase sempre nos levem a acreditar que estamos certos, ou pelo menos do lado certo. No entanto, isso não é desculpa para endossar métodos e comportamentos não científicos. Muitos cientistas subscrevem a teoria do Aquecimento Global Antropogênico sem que tenham feito qualquer pesquisa ou estudo mais aprofundado a respeito. Adotam tal postura simplesmente porque este seria o lado “in” da questão. Na maioria dos casos, é assim que o chamado “consenso” científico é estabelecido.

Infelizmente, estamos cercados de gente que diz saber muito mais do que realmente sabe. Quando essas pessoas sonham e fazem projetos contando com seu próprio tempo e dinheiro, tudo bem. O problema é que muitas dessas pessoas confiam tanto na própria sabedoria que pretendem impor aos demais os seus planos, utilizando-se para isso da força dos governos. Esses indivíduos sentem-se capazes de planejar cada detalhe de nossas vidas, não importa quão bem (ou mal) planejem as suas.

O antídoto contra o uso político da ciência é realçar a própria falibilidade científica, além de
estimular o ceticismo. Não é justo, nem inteligente, sair por aí chamando de herético quem
desconfia da atividade humana como causa do aquecimento global, ou duvida das catastróficas previsões dos computadores. Heresia tem a ver com fé, e ciência não é assunto de fé. A ciência não prescreve dogmas, nem evolui conforme a opinião da maioria.

8 comentários:

  1. Anônimo4:57 PM

    Por isso mesmo é impossível fazer ciência de forma privada. Como impedir que outros tenham acesso aos resultados de experimentos e ao mesmo tempo permitir que esses tenham seus resultados contestados? Quem fizer os experimentos apenas vai jogar dinheiro fora e beneficiar a todos os que possam vir a usar esse conhecimento. Os anarcos conseguiriam, na prática, impedir o desenvolvimento da ciência, embora esse seja um efeito não intencional.

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    1. Anónimo das 4:57, poderia explicar melhor como os "anarcos" conseguiram, 'na prática', impedir o desenvolvimento da ciência.

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  2. Anônimo8:16 PM

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  3. Este texto começa bem, conclui bem mas erra em seus objetivos.

    Certamente todo consenso deve ser questionado. Toda afirmação, de fato, deve.

    Aquecimento global acelerado pela ação humana? É claro que isso deve ser questionado! E é.

    O problema é que não existem "dois lados". O consenso da existência do aquecimento global vem das evidências colhidas que indicam que ele exista. São poucos os que afirmam e menos ainda os que conseguem reunir dados que coloquem à prova a existência do fenômeno.

    O pessoal do Fronteiras da Ciência (um programa de rádio) fez um programa [1] falando exatamente sobre a "farsa da farsa do aquecimento global" que é justamente a atitude de alguns de querer gerar uma discussão que não leva a lugar algum sobre a existência ou não do fenômeno, inclusive apelando para teorias conspiracionistas (é uma invenção dos comunistas visando acabar com o livre mercado!) para fortalecer seu argumento.

    Minha opinião? É claro que alguém que seja prejudicado com ações que sejam tomadas para conter problemas ecológicos causados pelo homo sapiens vá se opor à ideia da existência destes. Um pecuarista certamente se sentirá melhor ao saber que devastar uma área de flora nativa para criar animais não prejudica o ambiente, por exemplo. Mas isso não afeta o fato de o fenômenos existir ou não! E é claro que aqueles que se entitulam salvadores do planeta vão fazer de tudo para fazer sua ideia seja verdade. Do lado do meio, e ao meu ver correto está o lado da ciência, que, embora influenciada pelas vontades humanas, como bem lembradas no presente texto, se conforma em simplesmente indicar se um fato é real ou não, sem atribuir à eles valores morais ou econômicos.

    Ou seja, antes de criticarmos se alguém está sendo influenciado, nas suas opiniões, por interesses próprios, cabe à nós que nos dizemos céticos (ceticismo não signofica negacionismo) analizarmos se estamos fazendo isso também.

    [1] http://dstats.net/download/http://www6.ufrgs.br/frontdaciencia/arquivos/Fronteiras_da_Ciencia-T03E16-AquecimentoGlobal2-18.06.2012.mp3

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  4. Na fisica nuclear, sistemas relativamente simples são realmente complicados de se extrair algum resultado, por exemplo, 2 prótons 2 neutros e 2 eletrons. Isso por que esbarra-se em dificuldades técnicas, não dá pra resolver as equações "à mão" e o poder computacional é baixo, só se consegue trabalhar com modelos simplificados desses sistemas - chamados não-lineares.

    Dito isso, existe sistema mais não-linear que os sistemas climáticos?
    Exatamente por isso que é tão complicado fazer a previsão do tempo para amanhã, existem tantas variáveis relevantes nesse estudo, mas é impossível computar todas elas. Ainda assim, indivíduos aquecimentistas entram nos seus escritórios e aplicam modelinhos bem simples do clima, extraem resultados espúrios e condenam aqueleles que duvidam dos resultados.

    Acho que vale a pena ressaltar que a notícia do CERN é do ano passado, esse ano encontraram um erro na medição da velocidade das partículas.

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  5. Anônimo2:42 PM

    Acho que o anônimo das 4:57 pensa que o INCENTIVO pro cientista trabalhar tem que vir do governo, e que a culpa do anarco é em defender um mundo sem governo, consequentemente sem ciência

    Eu não sei porque teria que ser assim.A ciência poderia ser como uma ONG, vivendo de doações, +- como o pessoal do linux.

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  6. Anônimo2:44 PM

    Einstein era o cara.Física quântica é mambo jambo + matemática.

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  7. Márcio Astrachan4:11 PM

    Em 02 de maio de 2012, o Prof. Ricardo Augusto Felicio, deu uma entrevista no programa do Jô Soares bastante esclarecedora sobre o assunto. (You Tube)

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