Rodrigo Constantino, O GLOBO
“Não consigo
entender o ponto de vista deles. É um maldito mistério para mim. Não conheço a
União Soviética o suficiente”. Estas foram as palavras de JFK há exatos 50
anos, no dia 16 de outubro de 1962, quando soube dos mísseis que os soviéticos
enviaram para Cuba.
Aqueles foram
os dias mais tensos da Guerra Fria. Uma versão hollywoodiana pintou os irmãos
Kennedy como heróis corajosos que impediram a grande desgraça. O que pouca
gente sabe é o papel de Fidel Castro no episódio, e a profunda incompetência das
autoridades americanas durante os acontecimentos.
O presidente
americano, em 11 de setembro daquele ano, decidiu restringir os vôos do U-2
para inspeções na ilha caribenha. Quatro dias depois, os primeiros mísseis
soviéticos chegaram ao porto de Mariel, em Cuba. A CIA rejeitou categoricamente
a possibilidade de que os soviéticos estivessem instalando áreas nucleares no
país.
Em “Legado de
Cinzas”, Tim Weiner relata as peripécias da agência de espionagem americana. As
transcrições das reuniões sobre a crise dos mísseis só foram divulgadas 40 anos
depois. Por todo esse período, “o mundo acreditou que somente a calma
determinação do presidente Kennedy e o firme compromisso de seu irmão com uma
solução pacífica haviam salvado a nação de uma guerra nuclear”.
Na verdade, JFK
cedeu às chantagens soviéticas e aceitou retirar os mísseis americanos da
Turquia, exigindo segredo total sobre o acordo, pois sabia que seria humilhante
torná-lo público. Outra parte do trato foi aceitar jamais invadir Cuba. Era o
fim do sonho de libertação do povo cubano, escravizado até hoje.
Kruschev
chegou a escrever que seria ridículo entrar em guerra por causa de Cuba. A
guerra era impensável para o líder soviético. A superioridade nuclear dos
americanos era gigantesca na época: 5 mil ogivas contra 300 dos soviéticos.
Kruschev usou Cuba como instrumento para negociar a retirada dos mísseis da
Turquia, e JFK, perplexo, caiu no blefe. Mas nem todos blefavam...
Conforme
relata Humberto Fontova em “Fidel: o tirano mais amado do mundo”, o ditador
cubano teria ”enlouquecido” após Kruschev retirar os mísseis de Cuba. Fidel
“chutou paredes e quebrou vidros, janelas e espelhos”.
Seu comparsa
Che Guevara revelava o motivo da fúria: “Se os mísseis permanecessem, nós os
teríamos utilizado contra o coração dos Estados Unidos, incluindo Nova York.
Não devemos jamais estabelecer uma coexistência pacífica. Nessa luta até a
morte de dois sistemas, devemos conquistar a vitória definitiva. Devemos andar
pelo caminho da libertação, mesmo que isso custe milhões de vidas”.
Se Kruschev
encarava Cuba como moeda de barganha diplomática, Fidel e Che, por outro lado,
levavam muito a sério a ideia de mandar Nova York pelos ares, sonho patológico de
muito antiamericano concretizado por Bin Laden em setembro de 2001.
Ironia das
ironias, muitos “pacifistas” gostam de estampar a foto de Che em suas
camisetas. Os Estados Unidos costumam ser o alvo predileto desses ativistas,
enquanto o regime iraniano, cujo líder autoritário propaga abertamente seu
desejo de “varrer Israel do mapa”, segue tranquilamente seu avanço rumo ao
poderio nuclear.
Certos
idealistas realmente chocam pelo quanto de violência estão dispostos a aceitar
como meio para seu “nobre” fim. O recém-falecido Eric Hobsbawm, por exemplo,
respondeu “sim” ao canadense Michael Ignatieff, quando este perguntou se 20
milhões de mortes seriam justificáveis caso a utopia comunista tivesse sido
criada.
Não custa
lembrar que a pomba foi eternizada como símbolo da paz por um cartaz impresso
com uma litografia de Picasso para um congresso patrocinado pelos assassinos de
Moscou. O pintor foi vencedor por duas vezes do Prêmio Lênin da Paz. Lênin, que
deliberadamente usou a guerra civil e a fome como armas para sua consolidação do
poder, e que declarou: “Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores – uma bala na
cabeça, imediatamente – não chegaremos a lugar algum!”
O pior é que,
apesar de tudo, ainda tem quem defenda o socialismo. Nelson Rodrigues foi
direto ao ponto: “Quem é a favor do mundo socialista, da Rússia, ou da China,
ou de Cuba, é também a favor do Estado Assassino”.
Com isso em
mente, é alvissareira a condenação pelo STF de José Dirceu, “soldado” treinado
em Cuba que liderou o maior ataque à democracia da nossa história. Pela reação
dos petistas, fica claro que o ranço autoritário, inspirado no nefasto modelo
cubano, ainda sobrevive neles. Os brasileiros agradecem ao STF por renovar as
esperanças em um país melhor.
You have to ask what you can do for your country and not what your country can do for you"
ResponderExcluirFrase dita pelo primeiro presidente “políticamente correto” da série com ápice em Obama.
Quem foi ele?
another hint: Deixou os liberais cubanos serem massacrados na Baía dos Porcos e quase levou seu país à 3a. guerra mundial em conseqüência dessa decisão.
E por falar em Utopia...
ResponderExcluirRodrigo,
Estive pensando em uma nova maneira de escolher os candidatos a governador e presidente.
Em primeiro lugar o país deveria ter um órgão nacional para definição de metas orçamentárias e de indicadores de serviços públicos e um sistema de acompanhamento destas metas.
Os candidatos a governador deveriam ser obrigatoriamente escolhidos entre os prefeitos em final de mandato e os candidatos a presidente seriam escolhidos entre os governadores.
Não se eliminaria a política mas ficaria muito mais fácil para a população avaliar os candidatos.
Só mais uma Utopia, mas as vezes é bom pensarmos em voz alta.
BBDC