Rodrigo
Constantino, para a revista VOTO
Não
é novidade para ninguém: as prisões brasileiras são cheias de ratos,
goteiras e não têm banheiro; as celas nas cadeias e delegacias superlotadas
são insalubres, os esgotos ficam a céu aberto, a alimentação fornecida é de
péssima qualidade, a violência entre presos é comum e o abuso de autoridade
dos agentes penitenciários, recorrente.
Todos nós estamos cansados de ver
nos jornais e na TV imagens de superlotação nas prisões brasileiras,
com frequentes rebeliões e motins, colchões queimados e protestos que os presos
fazem para chamar a atenção da sociedade às condições desumanas a que eles se
encontram submetidos.
Mais
uma vez, vale imaginar: e se, em vez do estado, uma empresa particular
cometesse horrores como esse? A televisão estamparia o rosto dos donos da
empresa, que seriam processados e talvez presos, milhares de jovens se
mostrariam eufóricos no
Facebook reivindicando a justa e rigorosa punição dos culpados por esse
sistema.
Mas,
como o culpado são os governos, paira uma aura de que sempre foi assim, de que
um dia a situação vai melhorar. Mas nunca melhora.
Claro
que prisões não devem ser como hotéis cinco estrelas. Tampouco podem
funcionar como escolas do crime, onde quase sempre a pessoa sai pior do que
entrou. Ninguém pode considerar isso algo positivo, nem mesmo a ala mais
radical da direita, que encara a prisão, acima de tudo, como instrumento de
punição (vingança) e afastamento do bandido da vida em sociedade. Também
nesse problema, a privatização pode ajudar.
Alguns
críticos do modelo privado de presídios temem que uma indústria do crime
seja criada e inicie um poderoso lobby para o aumento das penas e da população
carcerária, o que representaria maiores lucros. São preocupações legítimas
que devem ser respondidas pelos defensores da privatização nesse setor.
Em
seu livro “Privatização do Sistema Prisional Brasileiro”, Grecianny Carvalho
Cordeiro levanta essas e outras questões interessantes sobre o assunto. Ela
também aborda alguns casos empíricos de privatização, incluindo o Brasil. Uma
vez que sua conclusão é desfavorável ao modelo privado, acredito que utilizar
seu livro como base para lidar com o tema parece bastante adequado aqui. Nada
como o embate de ideias contrárias.
A
privatização dos presídios se tornou realidade nos Estados Unidos, na
Inglaterra, na Austrália, na África do Sul, na França
e até no Brasil. Invariavelmente, os motivos para essa experiência foram
os mesmos, sendo o principal deles a superlotação das cadeias geridas
pessimamente pelo estado.
Sobre
as instalações da Penitenciária Industrial Regional do Cariri, no Ceará, que
foi o segundo caso de parceria público-privada com transferência da gestão
para uma empresa voltada ao lucro, a autora afirma que “são diferentes de tudo
aquilo que passou a ser sinônimo de prisão, pois ali não há celas superlotadas,
com presos se revezando para poderem dormir; não há alimentação de péssima
qualidade; não se verificam condições insalubres nos alojamentos ou vivências;
tampouco faltam espaços para os encontros íntimos”.
Ela
ainda acrescenta: “A Penitenciária Industrial Regional do Cariri é um
estabelecimento penitenciário com biblioteca, salas de aula, espaços para a
recreação e serviços de assistência médico-odontológica, jurídica e psicológica,
assim como oficinas que propiciam trabalho e câmeras de vídeo espalhadas em
todos os recintos”.
De
acordo com o censo do IBGE de 2000, a população carcerária brasileira era de
quase 240 mil, sendo que havia um déficit de vagas de quase 60 mil. Seria
necessária a construção de 116 estabelecimentos penitenciários com
capacidade para 500 vagas, número recomendado como limite desejável pela ONU.
Alguém consegue imaginar o governo construindo isso tudo, em prazo razoável,
e por custo aceitável?
Por
falar em custo, eis outro argumento favorável à privatização. Apesar da melhor
qualidade das instalações, estudos mostram que os presos custam menos nas
prisões privadas. Segundo o analista policial americano Geoffrey Segal, do
Reason Public Policy Institute, as prisões privadas operam a um custo até 15%
menor que as prisões públicas. Já a estimativa do custo do preso na França,
segundo a própria Grecianny Carvalho Cordeiro, chega a ser 40% menor no setor
privado.
A
Penitenciária Industrial de Guarapuava, no Paraná, que foi a primeira a
contar com gestão privada no Brasil, abriga uma fábrica de móveis, onde a
maioria dos detentos trabalha, recebendo um salário mínimo mensal. Além
disso, o índice de reincidência é de apenas 6%, enquanto no restante do país
esse índice chega a 70%, segundo a própria autora. Ela alerta que esse
índice em Guarapuava é discutível, pois ela começou a funcionar em 2000. Mas
os sinais não são desanimadores.
Para
aqueles cegados pela ideologia, é difícil enxergar as evidências a favor da
privatização.
O texto foi retirado do livro “Privatize
Já!”, lançado recentemente pela editora LeYa.
Como a iniciativa privada obteria seu lucro? mesada do governo?
ResponderExcluircriaria condições especiais, como celas separadas, mais tempo no banho de sol, visitas intímas extras, tudo tendo o seu preço?
Quais seriam os limites éticos para atuação das empresas na geração de dividendos?
Sob a lógica puramente empresarial, tendo como suporte o modelo econômico do ser humano racional - modelo este, coitado
tão surrado pelo seu primo mais moderno, a economia comportamental - parece uma meio viável para criar uma plataforma
para se atenuar os problemas do sistema prisional.
Realmente, estamos caminhando a passos cada vez mais largos para uma sociedade de mercado, onde tudo se compra, como diz
michael sandel.
É uma boa discussão para ser levantada, mas eu sou legalista e não acho que a privatização total seja um caminho adequado. Nenhum cidadão, ainda que preso, está obrigado a submeter sua liberdade às ordens de um particular. No Brasil, a iniciativa privada só poderia gerenciar alguns serviços do presídio (alimentação, limpeza e coisas secundárias). O Poder de Polícia só pode ser exercido pelo estado, conforme definição do art.78, do Código Tributário Nacional. Acho bom que seja assim, porque até imagino o tipo de carcereiro companheiro que as empresas e ONGs brasileiras colocariam. Mas talvez terceirizar alguns serviços secundários seja bom.
ResponderExcluirMario.
Mario, privatizar presídios já trouxe bons resultados em outros países. Independente da constituição e justiça, eu sou a favor tanto de privatizar os presídios, como de trabalhos forçados para os presos.
ResponderExcluirAcreditar que os carcereiros de prisões privadas seriam maus é acreditar que os carcereiros que trabalham pro governo são magicamente imbuídos de bondade.
ResponderExcluirLi um artigo em um site informando que a taxa de reincidência na Noruega é de 20%, que é a menor do mundo. Se o modelo privado for copiar esse modelo, não vejo problema algum.
ResponderExcluirNoruega é um país com 5 milhões de pessoas educadas, que DEPOIS ainda descobriu muito petróleo. É complicado comparar o Brasil com a Noruega.
ResponderExcluirDepois de muito pensar sobre o assunto, hoje sou favorável, em termos, à privatização de presídios. Realmente, como o texto deixa claro, não dá nem para comparar as instalações de prisões privadas com as instalações de prisões públicas.
ResponderExcluirNo entanto, receio que o Rodrigo deixou de responder a principal objeção dos anti-privatistas, que é o temor da "industria do crime", com lobby para aumento de penas privativas de liberdade (já que, em tese, mais pessoas presas representaria mais lucro para as empresas).
Enfim, penso que se deve conciliar a gestão privada de presídios com a tendência da moderna criminologia de só se punir com pena de prisão os crimes verdadeiramente graves (normalmente aqueles praticados com grave violência contra a pessoa).