Cortesia de André Leite, segue mais uma excelente carta da MP Advsirors. Recomendo a todos também a leitura de "A rebelião das massas", de Ortega y Gasset.
"O
Superego, que é gradualmente formado no "Ego", se comporta como um
vigilante moral. Contém os valores morais e atua como juiz moral. Inconscientemente,
o Superego faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao
Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos.
É o órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se na consciência
indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres."
Sigmund Freud, em "O Ego e o
Id" de 1923.
O
que um texto tão antigo de psicologia tem a ver com a economia? Partindo do pressuposto que a economia é a
soma das ações e desejos de indivíduos (nem sempre racionais), eu diria que tem
tudo a ver.
Para entender melhor a
profunda transformação que o mundo passa, é necessário analisar a profunda
transformação (para pior) que os valores das sociedades ocidentais vêm sendo
submetidos. Começando pelo sintoma em
si, a dívida. O mundo ocidental vive hoje sob o peso de uma dívida impagável. Parte no setor privado, parte no setor
público, ambas igualmente impagáveis.
O que levou a este crescimento
brutal do endividamento? Simples. O crescimento
dos gastos de pessoas e governos ter sido bem superior ao incremento das
receitas.
O
gráfico ao lado, das despesas do governo americano (poderia ser de qualquer
país ocidental) desde o pós-guerra, ilustra bem o crescimento contínuo ao longo
dos anos das despesas públicas. O fato é
que, nos últimos 60 anos, nos tornarmos cada vez mais mimados e gastões
enquanto sociedade. Os valores tradicionais de poupança, sacrifício e estoicismo
definitivamente não fazem parte do nosso repertório. O mantra dos dias atuais é: "o importante é ser feliz, deu vontade? Então faça". Vivemos
a ausência do superego como um freio aos nossos impulsos. Deu vontade de
comprar aquele carro novo? Que se danem as 72 parcelas com juros
gordinhos. O verão está chegando e você
não vai fazer aquele cruzeiro com o Rei Roberto Carlos? O cartão de crédito
está aí para isso mesmo; depois se dá um jeito de pagar. Ou não.
Será
que virei um “socialista chatinho”? Não!
Tudo a favor do capitalismo, da inovação e do livre mercado, mas me parece que há
algo errado nas longas filas de pessoas trocando o seu Iphone X (comprado há
meses) pelo novíssimo Iphone X+1. Não vejo problema com o consumo, quem sou eu
para julgar se é excessivo ou não? O problema está quando quem financia esse
consumo é a dívida e não um eventual incremento de receita.
Esta
geração de superego castrado parece não entender que a conta chega. Pode demorar, mas chega. Por hora, essa gente se enamorou do estado
super provedor que está em alta por toda parte.
Ou seja, a responsabilidade por gastar menos do que ganho não é minha.
Quem equilibra as minhas contas no fim do dia é o estado babá. É bolsa disso, cota daquilo, subsídio aqui e
financiamento barato acolá. Até nos
Estados Unidos, o maior sucesso da liberal democracia mundial, parece que a
demografia transformou essas pessoas estado-dependentes em maioria.
Este
declínio de valores está destruindo o mundo ocidental (que um dia teve valores
judaico-cristãos). Em algum tempo, a China ultrapassará os Estados Unidos como a maior
economia do mundo. Estudos apontam
que a Rússia, por volta de 2020, passará a Alemanha.
Receio
que a hegemonia econômica acabará nas
mãos de povos com valores muito distintos dos nossos. Pior do que perder uma partida disputada é entregar
o jogo de bandeja. E através desta inversão, vamos assistindo o mundo ocidental abrir mão
de seus valores e adotar valores estranhos em nome de conceitos absurdos como o
multiculturalismo.
Vejamos
o caso europeu. O casal moderno mal tem
um filho, que será educado e após ingressar no mercado de trabalho será taxado
entre 50% e 70% de sua renda. Esses
impostos irão sustentar os quatro (ou mais) filhos do casal muçulmano (que
sabemos, mal irão trabalhar). Não há
economia que resista a isso. A conta não
fecha. Alguns moderninhos irão dizer que este pensamento é xenófobo. Se uma
família de imigrantes paraguaios se instala na casa de um brasileiro e essa
pessoa concorda em sustentá-los, é simplesmente burrice e não multiculturalismo,
em minha opinião.
Está claro que o
ocidente está descendo a ladeira, e não por conta da crise de 2008. Trata-se um longo processo em curso. E neste ambiente de desconstrução como ficam
os nossos investimentos?
Começando
pelas moedas, que são, ou deveriam ser, nossa reserva de valor. A supremacia de uma moeda não ocorre da noite
para o dia e nem é fruto da vontade de alguém.
Trata-se de um processo que reflete um domínio econômico, tecnológico e
mercantil. Que por sua vez teve como base uma cultura e valores sólidos. O que
está em curso é a redução da relevância do dólar e do euro. E notem que a recente desvalorização, por
conta da impressão desenfreada de numerário, não é a causa e sim o sintoma de
algo maior em curso.
Sabemos quem está
perdendo relevância, mas ainda não está claro quem ocupará esses espaços. A moeda chinesa é um candidato provável, mas
é um processo muito longo e com muita volatilidade no meio do caminho. Nestes tempos de grandes mudanças nada melhor
que um bom consultor de investimentos, que pode lhe ajudar até na escolha de
ativos não financeiros. O que nos parece
prudente é que o investidor, neste desarranjo de referências de reserva de
valor, comece a considerar uma parcela cada vez maior de ativos reais em sua
carteira. Afinal, em tempos de
incerteza, para onde flui o dinheiro? Porém,
deve-se notar que esse processo deve ser feito com sabedoria pois não faltam
ativos reais caros por aí.
Quando
se analisa os títulos governamentais de países como Estados Unidos, França e
até mesmo Alemanha, causa espanto ver que investidores aceitem juros reais negativos
para carregar papéis de países bem endividados.
Já falamos aqui que essa conta
será paga preferencialmente via uma maior inflação global. Quando isto ocorrer, os títulos de renda fixa
(governamentais e corporativos) irão sofrer bastante em termos de preço para
que se ajustem aos novos patamares de taxa de juros.
Alguns
olham para a bolsa como ativo real. Embora
eu ache as ações, como classe de ativo, mais atrativas que os títulos de renda
fixa, devemos lembrar que uma ação nada mais é que um fluxo de caixa descontado
a uma taxa. Tendo isso em mente, vemos
um fluxo de caixa que tende a piorar, tanto pelo aumento de taxação pelo mundo
(começando com o Obama), quanto pela menor atividade (lembre-se, o mundo ainda
está desalavancando). E teremos também
uma maior taxa de desconto, afinal os juros não ficarão no chão para
sempre. Nesta classe de ativos a seleção
também será importante.
Nesta
carta falamos dos ativos e da economia em termos globais, deixaremos as
desventuras de Dilma e seus meninos para depois. Por
hora é bom saber que estamos no meio de uma complexa transformação que não
deixará o mundo como nós o concebemos.
Perfeita a análise. Por ignorância, muitos acham que o excesso de consumo é causado por um defeito no capitalismo, quando é justamente o contrário. Caso os bancos centrais ocidentais não fossem tão keynesianos, sempre que houvesse aumento no endividamento, naturalmente os juros iriam aumentar para novos financiamentos, isso é básico no estudo econômico. Ou seja, num mundo verdadeiramente liberal, não haveria essa farra tresloucada a cada lançamento de iphone x+1. O problema é que cada vez mais estão postergando o ajuste verdadeiro dessa farra, que vem desde os anos 90. E a cada postergação, mais doloroso e prolongado será o ajuste, quando ele vier. As esquerdas têm um grande mérito, que é o de associar a crise ao capitalismo, quando o problema é justamente o das políticas propagadas pela a esquerda, que vão sendo cada vez mais utilizadas. Temos dois problemas, portanto: estamos aliando os sintomas a doença errada e estamos prescrevendo um remédio errado ao paciente. Tudo isso aliado às políticas progressistas que vêm sendo efetuadas em todos os países do ocidente e por todos os partidos políticos (até pelos ditos de direita), o ocidente aos poucos vai morrendo. Espero que a civilização ocidental, que moldou um mundo livre e próspero, com base em valores que foram sendo aprimorados durante milênios, não seja morta por seus próprios filhos.
ResponderExcluirSó leio, inclusive na atual páginas amarelas da Veja q o capitalismo está em crise. É um absurdo! O q está em crise é o socialismo do capitalismo! É de lascar!
ResponderExcluir“O que um texto tão antigo de psicologia tem a ver com a economia?”
ResponderExcluirA psicanalhice é falta de economia, um artifício custoso, e seu uso, muitas vezes, é uma tentativa de dar profundidade para um texto que não se sustenta por si. Mas não é o caso, porém, da interessante postagem da MP Advisors (errinho de digitação no post - MP ‘Advsirors’).
Recomendo Imposturas Intelectuais de Bricmont e Sokal.
KISS principle: Keep It Simple Sir (na versão moderada :))
Já andou de bugue em alguma praia do nordeste? O cara pergunta: com emoção ou sem emoção? Na economia, e isso faz décadas, o pessoal sempre prefere com emoção. O destino é o mesmo, mas com emoção. Ciclos, com crises e euforias. Houve um tombo, parece que em 29, tem gente q nao concorda ou duvida. E talvez havera outro(s). Mas o ser humano prefere com emoção, apesar de eu tbém discordar.
ResponderExcluirExcelente carta. Ela explora valores, política, economia e trajetórias institucionais para tentar apontar as principais causas do declínio do Ocidente.
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