quarta-feira, maio 29, 2013

Europa atravessa o Rubicão

Rodrigo Constantino

Os governos europeus estão aceitando a flexibilização das metas de austeridade acordadas no Tratado de Maastrich. Até a Alemanha, suposto bastião da austeridade fiscal, tem concordado com essa medida. O ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, ao menos quer condicionar tal afrouxamento às reformas trabalhistas, mas entende que esse é o caminho, até porque o modelo americano, mais liberal, levaria a uma revolução na Europa, segundo ele.

Pode ser que sim. Afinal, décadas de “welfare state” produzem o nefasto costume de esperar sempre mais benesses estatais. Privilégios são fáceis de garantir, basta uma canetada do governo; mas são difíceis de cumprir no longo prazo, pois como sabia Margaret Thatcher, o socialismo dura até durar o dinheiro dos outros. E nesse modelo, com incentivos inadequados para a produção de riquezas, invariavelmente o dinheiro desaparece, foge para locais mais amigáveis aos negócios.

As regras do Tratado de Maastrich serviam como camisa de força para governos perdulários, algo freqüente na Europa. Mas, com uma visão míope voltada apenas para o curto prazo, as autoridades pretendem ignorar tais amarras e usar os gastos públicos para alavancar o crescimento econômico. Falsa dicotomia: o governo não produz riqueza; ele apenas tira do setor privado e transfere para o setor público, que quase sempre gasta mal, seguindo critérios políticos em vez de econômicos, e muitas vezes com desvios corruptos pela ausência do escrutínio dos donos desses recursos.

Logo, acreditar que a gastança estatal produz crescimento é ignorar as leis econômicas e da natureza humana, além da experiência histórica. Ao rasgar as regras de Maastrich, os países da zona do euro podem estar cruzando seu Rubicão, um caminho sem volta. É mais fácil tirar o gênio da garrafa do que recolocá-lo lá dentro. Os keynesianos sempre lembram as medidas anticíclicas quando é para expandir o governo, nunca para retraí-lo. Mas a conta precisa ser paga, inexoravelmente.

Com impostos absurdamente elevados, inúmeros privilégios para o setor público, déficits fiscais fora de controle, endividamento público extremamente elevado, e leis trabalhistas engessadas, a Europa vive uma espécie de esclerose econômica. Não é à toa que o desemprego, especialmente dos mais jovens inexperientes, está em patamares preocupantes. O tecido social fica esgarçado. É um terreno fértil para aventureiros de plantão, para populistas e demagogos que vendem soluções mágicas – e desastrosas.

A Europa tem um legado fantástico para o mundo, e sérias manchas no currículo também, como o fascismo, o nazismo e o comunismo. Espero que a região consiga atravessar essa crise e sobreviver, sem uma decadência muito acentuada. Para adicionar insulto à injúria, há o grave problema da islamização crescente, alimentada pelo multiculturalismo que segrega em vez de assimilar esses imigrantes.


O modelo de estado de bem-estar social precisa ser drasticamente revisto. Os europeus precisam abandonar a visão de que o estado é um ente abstrato, que obtém seus recursos de Marte e distribui benesses de forma altruísta. Nada mais falso. O caminho necessário é doloroso, mas fundamental para salvar a região. A austeridade não é o inimigo; é um remédio amargo, mas crucial. A Europa precisa de mais setor privado e menos estado. Espero que não seja tarde demais para dar essa guinada. 

10 comentários:

  1. Anônimo2:15 PM

    Excelente comentário, Rodrigo, como sempre.
    Pé no chão, realista e lúcido!
    Deve causar ânsia e tremores nos esquerdistas "convictos", por benesses e facilidades, isso sim!

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  2. Marcus Prado3:03 PM

    Boa tarde Rodrigo,

    São 15:00 hs do dia 29.05.2013, véspera de feriado, povão com dinheirinho do "bolsa voto" no bolso, setor público emendando em todo o Brasil e enquanto isso, PIB sobe só 0,6% no 1º trimestre (Mantega e Dilma acharam bom), Bovespa cai mais de 1,5%, dolar vai a 2,10, daqui a pouco o COPOM deve subir a taxa de juros 0,25% - enfim, sabe o que a Europa está dizendo para o Brasil ? - "Eu sou você amanhã". E não é piada, você mesmo vem alertando isso já há algum tempo, não é Rodrigo ?

    Saudações !!!

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  3. Anônimo7:24 PM

    Espanha e Irlanda tinham superávit fiscal antes da crise de 2008. Como então falar que esses países eram perdulários ? Não tem lógica

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  4. Brilhante, meu caro. Tem em mim um novo leitor e fã.

    Abraço

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  5. Anônimo8:49 PM

    Rodrigo, sugiro ler os textos do dep Emanuel Fernandes do padb de paulo. Enfim alguem de extrema direita com honestidade intelectual! Lia.

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  6. Anônimo10:25 PM

    PAISES DA EUROPA COM CRESCIMENTO NEGATIVO! ISSO ANTES DA ERA LULA SIGNIFICAVA BRASIL QUEBRADO. HOJE SIGNIFICA BRASIL CRESCENDO A PASSOS SEGUROS, COM RESERVAS CAMBIAIS, INFLAÇÃO CONTROLADA, JUSTIÇA SOCIAL E PAZ. ESSE É O BRASIL!!

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  7. Anônimo12:25 AM

    canso de ouvir sobre a austeridade (principalmente criticas contra ela fa esquerda) e nunca ouco sobre as reformas estruturais. Liberais deveriam tentar desviar o foco da discussao para as reformas estruturais que, elas sim, irao causar mudancas profundas e beneficas na Europa.

    A esquerda parece dominar a discussao e nao menciona as reformas estruturais (que diminiuiriam o tamanho do governo que eles nao querem) e coloca a discussao como sendo austeridade vs crescimento.

    Reformas estruturais devem ser o centro da discussao. a populacao ira concordar em diminiuir o poder do governo e os esquerdistas terao dificuldade em justificar suas ideias!

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  8. Logo será claro que o problema não é da Europa só por si. Mas do grupo dos países desenvolvidos (nomeadamente os endividados), face aos emergentes.
    Nestes últimos, cresce o nível de vida médio das populações (rendimentos ainda baixos em relação às médias mundiais e muitíssimo baixos em relação às médias nos países desenvolvidos).
    A globalização leva o trabalho para onde o mesmo é mais barato e onde a produção é competitiva.
    Assim, o crescimento global possível nos próximos anos concentrar-se-há nestes últimos países. A taxas bem superiores às médias globais.
    O que terá um efeito evidente sobre as economias nos países desenvolvidos: uma recessão persistente. Ou ajuste (em baixa) como se queira chamar. Aí, a tendência será para o equilíbrio, uns a cair e os outros a subirem.
    O problema dos países desenvolvidos é que a teoria económica vigente suporta-se no crescimento. Sem ele (e será sempre sem ele a partir de agora) tudo se esfuma: o pagamento da dívida, os défices controlados, os níveis de vida e consumo ocidentais, o estado social...
    Porque o esquema de ponzzi suportado pelo tal crescimento (perdido) chegou ao ponto de rotura.
    Contra tudo isto, é preciso mudar muito. Mas há soluções:
    http://existenciasustentada.blogspot.pt/

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  9. Anônimo2:15 PM

    Amigos, alguém sabe se o site do LIBER está com problema? Não estou conseguido visitar, dá ACESSO NEGADO. Aguardo.

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