Rodrigo Constantino
"A multidão sempre me incomodou e me emudeceu." (Alexis de Tocqueville)
Em clima crescente de anomia, caos, desordem e anarquia, com vândalos "revolucionários" atuando impunemente pelo país todo, tudo isso sob a blindagem de manifestações legítimas, porém difusas e contra "tudo isso que está aí", nada melhor do que manter a serenidade e buscar sabedoria nos antepassados. Eles já passaram por situações semelhantes, por revoluções, por convulsão social, quando a política em si passa a ser vista como o grande inimigo.
Resolvi reler vários trechos de Edmund Burke, e publiquei alguns no meu artigo "Brincando de Revolução". Agora foi a vez de revisitar outro gigante, Alexis de Tocqueville. Com percepção extremamente acurada de quem viveu tensões revolucionárias de perto e de dentro do poder, Tocqueville fez o possível para preservar o bom senso e as liberdades básicas do povo. Seu relato consta no imperdível livro Lembranças de 1848. Abaixo, alguns trechos que merecem destaque:
Falo aqui sem amargura; falo-vos, creio eu, até sem espírito de partido; ataco homens contra os quais não tenho cólera, mas, enfim, sou obrigado a dizer a meu país qual é minha convicção profunda e meditada. Pois bem: minha convicção profunda e meditada é que os costumes públicos estão se degradando; é que a degradação dos costumes públicos vos levará, em curto espaço de tempo, brevemente talvez, a novas revoluções. [...] Sim, o perigo é grande! Conjurai-o enquanto ainda é tempo; corrigi o mal por meios eficazes, não atacando seus sintomas mas o próprio mal.
Assim, os principais líderes do partido radical, que acreditavam que uma revolução seria prematura e que ainda não a desejavam em absoluto, sentiram-se obrigados a pronunciar nos banquetes discursos muito revolucionários e a insuflar o fogo das paixões insurrecionais, para se diferenciarem dos seus aliados da oposição dinástica. Por sua vez, a oposição dinástica, que não queria mais banquetes, viu-se forçada a perseverar no mau caminho, para não dar a idéia de que retrocedia diante dos desafios do poder; por fim, a massa dos conservadores, que acreditava na necessidade de grandes concessões e desejava fazê-las, foi forçada, pela violência de seus adversários e pelas paixões de alguns de seus líderes, a negar o direito de reunião em banquetes privados e a recusar ao país mesmo a esperança de uma reforma qualquer. É preciso ter vivido muito tempo em meio aos partidos e no turbilhão mesmo em que se movem para compreender até que ponto os homens impelem-se mutualmente para fora de seus próprios desígnios e como o destino do mundo caminha pelo efeito, mas com freqüência a contrapelo, dos desejos de todos que o produzem, tal como a pipa que se eleva pela ação do vento e da linha.
São os moleques de Paris que costumam empreender insurreições, e em geral alegremente, como escolares que saem em férias.
A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido; é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva de nosso governo; é esse mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá todos os novos.
Se Paris for entregue à anarquia, e todo o reino à confusão, pensam que só o rei sofrerá com isso? Nada consegui e outra coisa não obtive, além desta surpreendente tolice: o governo era o culpado, ele que arcasse com o perigo; não queriam ser mortos defendendo pessoas que haviam conduzido tão mal as coisas. No entanto, lá estava a classe média, cujas cobiças havia dezoito anos eram acariciadas: a corrente da opinião pública tinha acabado por arrastá-la e lançava-a contra os que a haviam lisonjeado até corrompê-la.
[...] é sobretudo em tempos de revoluções que as menores instituições do direito - e mais: os próprios objetos exteriores - adquirem a máxima importância, ao recordar ao espírito do povo a idéia da lei; pois é principalmente em meio à anarquia e ao abalo universais que se sente a necessidade de apego, por um momento, ao menor simulacro de tradição ou aos laivos de autoridade, para salvar o que resta de uma Constituição semidestruída ou para acabar de fazê-la desaparecer completamente.
Embora percebesse que o desenlace da peça seria terrível, nunca pude levar os atores muito a sério; tudo me parecia uma desprezível tragédia representada por histriões de província.
A inquietude natural do espírito do povo, a agitação inevitável de seus desejos e pensamentos, as necessidades, os instintos da multidão formaram, de alguma maneira, o tecido sobre o qual os inovadores desenharam tantas figuras monstruosas e grotescas.
[...] mesmo nos mais sangrentos de nossos motins encontra-se sempre uma multidão de gente meio velhaca e meio basbaque, que se leva a sério no espetáculo.
Como sempre acontece nos motins, o ridículo e o terrível misturavam-se.
Opus-me ao parágrafo que declarara Paris em estado de sírio - mais por instinto que por reflexão. Sinto, por natureza, um tal desprezo e um horror tão grande pela tirania militar que, ao ouvir falar do estado de sítio, esses sentimentos sublevaram-se tumultuosamente em meu coração, e dominaram inclusive os sentimentos que o perigo fazia nascer. Com isso, cometi um erro que, afortunadamente, teve bem poucos imitadores.
[...] as grandes massas humanas movem-se em virtude de causas quase tão desconhecidas à humanidade quanto as que regem os movimentos do mar; nos dois casos, as razões do fenômeno ocultam-se e perdem-se, de alguma maneira, em sua imensidão.
São alertas importantes no momento atual. Precisamos de muita calma nessa hora, não de paixões revolucionárias atiçadas por agitadores. Vejamos o que diz nossa Constituição:
Art. 137 da CF de 1988: "O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa".
Estão criando, com boas intenções na maioria dos casos, um ambiente que pode justificar uma ditadura militar sob um governo de esquerda! E o pior: vai contar com o apoio de muita gente da classe média, cansada da baderna toda, da insegurança, da impossibilidade de ir e vir. Não queremos isso! Escutemos as palavras de Tocqueville, e reflitamos com calma sobre tudo isso.
ResponderExcluirund hiperligação permanente
22 Junho, 2013 01:16
bien toque vil tem umas experiências no capítulo o poder e a corrupção
a aristocracia e a democracia acusam-se mutuamente de facilitar a corrupção
e faz a seguir umas distinções muito simplex próprias da sua época
apesar de na sua época haver aristocratas empobrecidos que fazem da política um modo de vida
ele escolhe apenas os aristocratas ricos como exemplomovidos apenas pela ambição do pouvoir
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und hiperligação permanente
22 Junho, 2013 01:18
é o capítulo XIII SOBRE ALGUNS instintos e inclinações próprias da democracia
logo citar toque vil….in completamente num dá não
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und hiperligação permanente
22 Junho, 2013 01:27
DA interpretação dos sinais en toques vis
desencadeou-se, porém, a revolução americana e o dogma da soberania do povo saiu da comuna e apoderou-se do governo
combateu-se e triunfou-se em seu nome, tornou-se a lei das leis
umas vezes é o povo em peso que faz as leis como em atenas
as leis e as revoluções que as validam
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und hiperligação permanente
22 Junho, 2013 01:58
lá por o aristocrata não gostar de turbas mal cheirosas
como a dom carlos a chusma ingovernável e a piolheira aborreciam
não quer isso dizer que a visão destes santos homens seja a vera e a língua sábia ou sábia
e as visões de lenine ou as do pedras contra canhões sejam retrógradas e inválidas para o XXIº
Se um país parado no tempo canta Grândola Vila Morena quando ela já é cidadela de autarca e grita que o povo é quem mais ordena quando o povo é impotente contra autarcas que até comem papel e que se sabe à partida que só serão julgados daqui a dezenas de anos
se um país faz isso é mais como exorcismo contra o poder e contra os que cavalgam o poder
do que por uma fé inabalável na mudança
pois nas palavras que ardem nos fogos da simplificação
as revoluções são próprias das gentes novas que ignoram que o fracasso é certo
o brasil é um país jovem cheio de jovens
portucale é um velho país ou um país de velhos dá no mesmo
que cita um velho que já era velho mesmo quando era jovem
um velho enformado por fantasmas gregos
um velho com sonhos velhos sobre o futuro
o futuro não é a democracia grega ou americana prenhe de escravos
o futuro não é uma Acádia bucólica ou uma Suméria teocrática afundada em mitos
o futuro pertence às multidões e às moscas semi-mortas que as cavalgam
neste inverno carioca que abre o nosso frio verão
EM vez de estado de sítio, está estado de sírio o que é um pouco exagerado.
ResponderExcluirRodrigo,
ResponderExcluirConcordo com você que as manifestações estão na contra mão do estado de direito, porém não seria um pecado aproveitar o momento.
Alguma coisa diferente esta acontecendo. Os militantes partidários estão sendo enxotados das passeatas. Isso é sintomático.
A esquerda é hábil em mobilizar as pessoas devido ao fato de conseguirem criar uma causa de fácil assimilação, uma causa clara, objetiva, com um nome de efeito e resultado no curto prazo.
Existe uma pauta que esta circulando nas redes sociais que é #5 causas.
Dessas #5 causas, no mínimo 2 exigem que o governo de uma resposta no curto prazo.
Se #5 causas pegar no gosto do pessoal, não terá sentido o governo chamar os lideres dos movimentos, por exemplo.
O difícil é dar velocidade na disseminação das #5 causas.
Adenda de Leitura sobre 1848: «A Educação Sentimental», de Gustave Falubert.
ResponderExcluirMANIFESTAÇÕES TIPO "ENXUGA GELO", "CHOVER NO MOLHADO"?
ResponderExcluirQUEM, QUAIS SÃO OS LÍDERES?
Se não aparecerem líder(es) ou partido(s) se apresentando como ALTERNATIVOS ao regime comunista para assumir os movimentos de rua, por sinal muito justos, seria como acima o título: quase perda de tempo; o governo até atenderia os manifestantes mas o perverso modelo econômico comunista, radicalmente anti cristão católico e de sua ética-moral seria o mesmo - PÉSSIMO - mais do que provado que não funciona, é obsoleto; os 20 países donde saiu, repudiam-no.
Estaríamos a níveis apenas dos animais, como as galinhas, a que se dá alimento e satisfazem-se?
Trouxe aonde se instala o comunismo: DESTRUIÇÃO, VIOLENCIA, ATRASO, MISERIA E MORTES, os 2 remanescentes fracassos totais ilha-prisão Cuba dos Castro e fazenda da familia Kim Coreia do Norte quase se nivelam ao Haiti.
A Russia baniu o comunismo do país: educação religiosa nas escolas, extinguiu o gayzismo; comunismo: esterco, só para exportação a idiotas!
Sabe porque a China sobrevive? Porque é mantida pelas empresas dos CAPITALISTAS DO OCIDENTE, pois nesse ponto os comunistas chineses abriram mão devido à miséria do país, APENAS PARA O MERCADO; comunismo lá só o político - extremamente repressivo - e muitos não sabem que se a CHINA APENAS SOBREVIVE É GRAÇAS AOS CAPITALISTAS DO OCIDENTE, SENÃO PERECERIA DE FOME!
Comunismo só dá certo para os donos do partido e associados a eles
Sem compreender o sentimento, não há como compreender o problema. A decretação de estado de sítio fará com que a presidente seja gentilmente retirada do poder. Trata-se de uma impossibilidade absoluta, a não ser que ela comece a ter surtos suicidas. O ambiente não permite semelhante medida. O controle de movimentos de massa é uma utopia. Quem conduz esse tipo de movimento são os que dele tiram proveito, sem pretender organizá-los demais, não os que os criam. No Brasil, faltam a liberais e conservadores essa visão. Aliás, quem cria revoluções é quem está no poder. O povo nas ruas é consequência de cansaço transformado em indignação e, ao fim, revolta. No Brasil, isso tudo pode dar em Marina, pode dar em Lula de novo, mas os nomes não são assim tão importantes. Quem quer que seja o próximo (e eu acho que não será nem Lula, nem Marina), vai ter que se portar um pouco diferente. Ênfase em "um pouco", por favor. Mas o Ministério Público estará forte, e a imprensa, também. A oposição, como conceito, não como partido, estará mais forte. A atenção será um pouco maior. Na última Veja, há uma frase na matéria sobre o movimento (não me lembro atribuída a quem), de que o povo está melhor da porta de casa para dentro, mas muito pior dela para fora. Definição precisa, acho que de alguém do próprio PT. Há uma outra frase, nas mãos de uma manifestante, que é algo mais ou menos assim: "País desenvolvido não é aquele onde o pobre tem carro, mas aquele onde o rico anda de transporte público." Enquanto o atual estado de coisas permanecer, não haverá ambiente para estado de sítio, nem para salvacionismo. Isso diferencia o atual movimento daqueles do passado, mormente o de 1964. É a segunda vez que o Brasil vai às ruas pela legalidade em menos de 20 anos. Esse povo ama a sua Constituição. Os melhores analistas estão caindo na tentação de comparar as semelhanças (e o conhecimento histórico serve é para isso mesmo) e esquecer as diferenças entre o passado e o presente. Mas é importante estar atento. Não custa nada alguém de dentro fomentar a parcela violenta da revolta para justificar atos autoritários. Mas até isso eu acho que seria impraticável. Por esses tempos, não há muito como esconder as coisas.
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