Vivemos na era da Geração 0800, do "tudo grátis". Após tanto tempo de welfare state, quase todos passaram a crer que os bens e serviços caem dos céus, que "alguém" deve bancar isso tudo em nome do bem-geral, e esse alguém é sempre o governo, como se seus recursos não viessem de cada um de nós.
Por isso esse discurso insistente de "direitos", como se, ao nascermos, já tivéssemos "direito" a inúmeros bens e serviços que dependem do esforço alheio. O nosso "direito" a um transporte público "gratuito" significa o dever de outros trabalharem e pagarem por isso. Normalmente, essa forma de ofertar esse importante serviço é cara (nada tão caro quanto serviços gratuitos do governo) e ineficiente.
O Movimento Passe Livre representa essa visão boba e ignorante sobre o funcionamento da economia, com seu viés socialista. O socialismo não funciona! Ele dura até acabar o dinheiro dos outros, como dizia Thatcher. A Geração 0800 precisa acordar para essa realidade, e demandar menos estado, não mais. Trabalhar dá trabalho. Mas viver à custa de benesses estatais é muito pior!
Segue um artigo meu de 2006 sobre o assunto, para elucidar melhor meus pontos.
Dos Direitos
Os direitos
constituem um conceito moral aplicável aos indivíduos num contexto social. Não
faz sentido falar em direito no caso de um ser isolado numa ilha. Direitos
estão ligados ao relacionamento entre indivíduos, protegendo a liberdade de
cada pessoa dentro do grupo. É fundamental atentar para o fato de que não há
algo como um direito da sociedade, dado que esta nada mais é que o somatório de
indivíduos. Será, portanto, o guia moral determinante dos direitos, a liberdade
individual, permitindo que cada ser humano seja dono de si, livre para pensar e
agir, e protegido da coerção física externa.
Essa visão é bastante
recente, e praticamente inexistente na história da humanidade. Desde os
direitos divinos dos reis, a teocracia do Egito, o ilimitado poder da maioria
em Atenas, o poder arbitrário dos imperadores romanos, a monarquia francesa, o welfare
state de Bismark na Prússia, as câmaras de gás dos nazistas na Alemanha e
os gulags dos comunistas russos, algum tipo de “ética”
altruísta-coletivista dominava os sistemas políticos. O “bem público” ofuscava
a liberdade individual. Foi apenas na criação dos Estados Unidos que tivemos a
primeira sociedade moral da história, eliminando a idéia de que o homem é algo
sacrificável para algum fim maior. A Declaração da Independência Americana iria
introduzir a idéia de que cada indivíduo deve ser livre, e o governo deve
existir apenas para garantir essa liberdade.
O direito para cada
indivíduo deve ser de natureza positiva, garantindo sua liberdade para agir de
acordo com seu próprio julgamento, seus objetivos particulares, sua escolha
voluntária e sem coerção. Para seus vizinhos, os seus direitos não impõem
nenhuma obrigação exceto de caráter negativo: a proibição de violarem os seus
direitos. Existe basicamente um método para se violar o direito individual, que
é via força física. E são dois os potenciais agentes para isso: os criminosos e
o governo. A grande conquista americana foi justamente separar ambos, proibindo
o segundo de se tornar uma versão legalizada do primeiro. O Bill of Rights não
foi escrito para proteger os indivíduos dos demais indivíduos, mas sim do
governo. Em qualquer civilização existente, os criminosos sempre foram uma
minoria. É o governo que pode causar um mal incalculável, e por isso precisa
ter seu poder limitado. O próprio guardião dos direitos individuais pode se
transformar na maior ameaça ao indivíduo.
Mas com o tempo, até
nos Estados Unidos esse conceito de direito foi sendo deturpado. Os políticos
foram conquistando mais poder, e através do populismo, foram garantindo
“direitos” que ferem diretamente a liberdade individual, pois demandam
necessariamente a escravidão de alguma contraparte. A plataforma política do
Partido Democrata em 1960, por exemplo, explicitava uma lista de “direitos”
como emprego bem remunerado, salário adequado para prover comida e roupas
decentes, preço justo para os produtos agrícolas, casa decente para as
famílias, saúde adequada, boa educação e seguro desemprego. Enfim, uma nobre
lista, mas ignorando uma simples pergunta: às custas de quem? Empregos, comida,
roupas, casas, medicamentos e educação não nascem do nada na natureza, são bens
e serviços produzidos por homens. Quem deve então assumir o dever de
produzi-los gratuitamente para que outros tenham tal “direito”? Milton Friedman
já dizia que “não existe almoço grátis”, e para o governo prometer “direitos”
desse tipo, precisa arbitrariamente escravizar uma parcela da população, coisa
claramente rejeitada pelos “pais fundadores” da nação americana. O “direito” de
um homem que exige a violação dos direitos de outro não pode ser considerado um
direito.
Outros exemplos
tornam essa distinção mais clara. O direito a liberdade de expressão diz que
cada homem tem o direito de expressar suas idéias sem o risco de repressão ou
punição, mas não significa que outros são obrigados a oferecer uma estação de rádio,
um palco ou um jornal para que o indivíduo expresse suas idéias. O direito a
vida significa que cada um pode se sustentar pelo seu esforço pessoal, mas não
diz que outros devem provê-lo com suas necessidades básicas. Qualquer ato que
envolva mais de uma pessoa necessita de consentimento voluntário de cada
participante. Cada indivíduo tem a liberdade de fazer sua própria decisão, mas
nenhum tem a liberdade de forçar sua decisão aos demais. Não há algo como
“direito” a emprego, mas sim à troca livre, ou seja, o direito de alguém
aceitar um emprego se outro decidir lhe oferecer tal emprego. Não pode existir
um “direito” a um salário ou preço justo, apenas o direito de cada cidadão
escolher quanto pretende pagar pelo trabalho ou produto do outro.
As duas grandes
vantagens de se viver em sociedade são o conhecimento e a troca. O homem é o
único animal que transmite e expande seu estoque de conhecimento de geração
para geração. Todo indivíduo desfruta de um benefício incalculável pelo
conhecimento descoberto por outros. E o outro enorme ganho é a divisão de
trabalho, que permite que um homem devote seu esforço a um campo particular de
trabalho e troque com os demais que se especializaram em outras áreas. Essas
são, basicamente, as vantagens da sociedade, e é condição necessária para o
desenvolvimento delas a presença da liberdade individual. Não foi por acaso que
os americanos avançaram em dois séculos o que outras nações não conseguiram em
milênios.
A função precípua do
governo deve ser somente a de garantir os direitos individuais. Saindo da
teoria para a prática, isso significa dizer que o governo deve ter o monopólio
da força para impor as leis, que serão impessoais e objetivas. Uma sociedade
não pode viver direito com leis subjetivas, que dependem da arbitrariedade do
burocrata, que seja aplicável ex post facto. O indivíduo pode fazer
qualquer coisa que não esteja legalmente proibido, enquanto o oficial do
governo não deve fazer nada que não esteja legalmente permitido. O povo deve
ser governado por leis, não por homens. Fora isso, o governo será o árbitro em
disputas entre indivíduos de acordo com as leis objetivas, forçando o
cumprimento dos contratos. Em resumo, se o homem possui o direito moral de ser
livre, deverá caber ao governo o papel de polícia, para proteger os indivíduos
dos criminosos, de forças armadas, para proteger os cidadãos de invasores
estrangeiros, e de juiz, para arbitrar disputas entre indivíduos baseadas nas
leis objetivas. E nada mais!
Por favor RT. Vamos acabar com a mamata
ResponderExcluirhttp://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2013N41643
Rodrigo, li seu texto, porque fiquei interessado na sua posição pública contra a insurgência de junho. Também sou contrário a ela, mas por razões diametralmente opostas.
ResponderExcluirO seu texto parte de uma premissa equivocada, no meu modo de ver. Em síntese, é a ideia de que um governo liberal à la Bill of Rights garantiria aos homens "sua liberdade para agir de acordo com seu próprio julgamento".
O governo liberal interfere sim na sociedade na medida em que ele respalda a propriedade privada. Ou você diria que a propriedade é uma situação natural? Ela, me parece, é uma ficção jurídica avalizada pelo Estado. Uma ficção que acaba garantindo a uns que parte dos rendimentos produzidos por outros em determinados bens lhes seja obrigatoriamente destinado. Existe sim uma espécie de cercamento dos outros, que não tem o mesmo privilégio de ter bens "seus". Em suma, o Estado liberal acaba assim garantindo a uns um "direito" ao rendimento do trabalho dos outros.
Gostaria de saber como você supera na teoria essa dificuldade.
Abraço
Perfeito e digo mais, é uma geração acostumada a conseguir o que quer com click de um mouse, pirateando aquilo que não é seu, usando identidades fakes, copiando trabalhos escolares dos outros e, sobretudo, se afogando na mediocridade personalista das redes sociais, esse é o tipo de gente que estamos lidando.
ResponderExcluirRoberto Picelli, a "situação natural" do ser humano é a mais absoluta miséria. Foi assim que a civilização viveu durante milênios. Posso te colocar numa ilha deserta e você terá todos os frutos do seu trabalho. Só quero ver sobreviver assim. Sentirá saudades do tempo que era "explorado". Quanta ignorância marxista...
ResponderExcluirRodrigo, parabens pelo texto. Quanta ignorancia e quantos idiotas uteis...
ResponderExcluirAlexandre R., sua raiva anti-marxista o está cegando. Em nenhum momento o Roberto Picelli defendeu que cada um só deve ter acesso ao que é fruto do próprio trabalho. O que ele levantou foi a questão teórica relativa à intromissão ou não do estado na vida do cidadão a depender do modelo adotado. Ele questionou que não houvesse intromissão no modelo liberal, dizendo que o respaldo à propriedade é uma forma de intromissão, já que esta não é um direito natural - o que absolutamente não significa dizer que devemos implodir o sistema capitalista e cortar a cabeça de senhores ricos egoístas e exploradores e passar a viver cada um das frutas que colhe das árvores.
ResponderExcluirQuanta cegueira liberal!