Deu, nesta quarta-feira (26), no Valor: Carência de leitos demanda R$ 5 bi em cinco anos
O Brasil precisa investir R$ 5 bilhões nos próximos cinco anos para suprir a carência de 14 mil leitos hospitalares, segundo estimativa da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Se a legislação brasileira permitisse, grande parte desses recursos poderiam ser supridos por investimentos estrangeiros, já que não há disponibilidade interna de um volume de capital dessa magnitude. O projeto de lei 259/2009, do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), amplia as possibilidades do recebimento de investimentos estrangeiros na assistência à saúde, abrindo a perspectiva de melhoria do atendimento e de expansão do setor.
O projeto altera a artigo 23 da Lei 8080/90 para permitir a participação de empresa ou de capital estrangeiro na assistência à saúde como pessoa jurídica, sob a forma de sociedade anônima, com o máximo de 49% do capital votante.
O número de leitos é uma variável importante no segmento hospitalar para a obtenção de ganhos de produtividade e poder de barganha. No Brasil, a média é de 71 leitos por hospital, segundo a Anahp. Nos Estados Unidos, a média é de 162 leitos por hospital. De acordo com a entidade, enquanto o número de usuários de planos de saúde cresceu, em média, 4,1% ao ano desde 2007, foram fechados cerca de 11,2% dos leitos privados no mesmo período, um total de 18.322 leitos.
"Nossa expectativa é de que haja simetria entre os diversos atores do setor de saúde, ou seja, regras iguais para todos", diz Francisco Balestrin, presidente do conselho de administração da Anahp. Hoje, apenas os planos e seguros de saúde admitem a entrada de capital estrangeiro, inclusive na compra de hospitais.
Segundo Balestrin, o setor tem registrado o interesse de vários players internacionais em investir no país, tanto da parte de privaty equities, quanto de investidores institucionais e de empresas proprietárias de redes hospitalares. Não que esses investidores possam suprir toda a necessidade de investimentos, que é muito alta, mas seu ingresso também estimularia a entrada de outros players nacionais. "Quando você tem players internacionais, o mercado fica mais profissional e mais atraente inclusive para empresas locais. Abre-se um círculo virtuoso no mercado, que se torna mais profissional", diz Balestrin.
O projeto estabelece restrições parciais ao capital estrangeiro nas áreas de cirurgia cardiovascular, hemodinâmica, quimioterapia, radioterapia, hemodiálise, transplantes e bancos de órgãos ou tecidos, por considerá-las passíveis de controle por oligopólios. Também impede que o investidor estrangeiro opere apenas em nichos de grande rentabilidade, em detrimento da exploração de outros serviços. O objetivo dessa restrição é desestimular, com a limitação do número de leitos, qualquer investimento estrangeiro na saúde voltado exclusivamente para a alta complexidade, como um hospital especializado em cirurgia cardíaca.
O hospital até pode ser especialista, mas terá que atuar também na média complexidade e na atenção básica. Além disso, o investidor estrangeiro também será obrigado a se associar a um parceiro local, que deverá ser o sócio majoritário do empreendimento, com participação mínima de 51%.
O principal argumento do senador Flexa Ribeiro é o aumento da concorrência que a entrada do capital estrangeiro propiciaria no mercado de saúde, com a consequente redução de preços para os compradores de serviços. Segundo Balestrin, o projeto havia ficado parado por algum tempo mas o assunto voltou a ter destaque depois da audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, realizada no início de junho. "Temos que trabalhar com a preocupação de que a vinda desses recursos sirva principalmente para investimentos, para a construção de novos hospitais, laboratórios, enfim, para melhorar a qualidade do atendimento aos usuários desse setor de saúde suplementar", disse o senador Humberto Costa durante o debate. Para ele, a vinda de recursos externos pode favorecer a tendência de incorporar mais equipamentos, tratamentos sofisticados, muitas vezes desnecessários.
Já o diretor do Departamento de Regulamentação, Avaliação e controle de Sistemas do Ministério da Saúde, Fausto dos Santos, não considera que a vinda do capital estrangeiro seja a solução, "mas uma alternativa importante que permitirá a chegada de novos recursos". A seu ver, trata-se de investimento de maturação tardia, ou seja, com perspectiva de retorno do capital empregado a longo prazo.
Comento: Será que as pessoas pensam que os administradores estrangeiros de hospitais são todos como a bicha má da novela "Amor à vida", da Globo? Como explicou um amigo, analista do setor:
É muito visível a diferença entre o setor de laboratórios e seguradoras/operadoras e o de hospitais. Não deveria ser assim, pois apesar de algumas diferenças, todos eles estão expostos aos mesmos drivers (geração de emprego formal, aumento da renda, envelhecimento da população, etc...). A entrada de capital estrangeiro é a responsável por isso.
DASA e Fleury vieram a mercado, captaram e investiram bastante para expandir a rede de atendimento. Outros laboratórios como o Pardini e o Alliar receberam investimentos de private equity do Gávea e Pátria, respectivamente. Como sabemos que o mercado de PE (Private Equity) na maioria das vezes tem como estratégia de saída a bolsa, esses investimentos também estão indiretamente ligados a possibilidade de entrada de capital estrangeiro.
Para o setor de plano de saúde o exemplo é a Amil, que foi listada e "deslistada". Já rebatendo as potenciais críticas dos nacionalistas a respeito da venda de uma líder de mercado para um gringo, não faltam comentários de reguladores e políticos sobre os benefícios que a United vai trazer ao mercado brasileiro em termos de upgrade tecnológico com investimentos em sistemas de TI que façam uma melhor gestão de sinistro. Ela faz isso há décadas nos EUA.
Voltei: O Brasil é mestre nessas maluquices xenófobas. Sabemos, por exemplo, que a Azul existe, tendo pressionado a concorrência oligopolizada de TAM e Gol e capturado em pouco tempo quase 20% do mercado de aviação nacional, só porque seu dono, por acidente, nasceu no Brasil. Seus pais eram gringos e estavam de passagem por aqui. Caso contrário, o dono da JetBlue não poderia abrir sua empresa brasileira. O setor de educação sofre barreiras parecidas. E hospital idem. Faz sentido? Qual o nexo de o país abrir mão do capital e da expertise estrangeira nessas importantes áreas? Claro que as desculpas nacionalistas são apenas cortina de fumaça para proteger empresários locais. É uma xenofobia corporativista...
É o velho modo de pensar terceiro-mundista aplicado a todos os setores.
ResponderExcluirConstantino, pode comentar essa notícia?:
Comissão aprova criar vagão exclusivo para as mulheres em SP
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1302226-comissao-aprova-criar-vagao-exclusivo-para-as-mulheres-em-sp.shtml
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