Em sua coluna de hoje na Folha, Luiz Carlos Bresser-Pereira fala sobre a "banalidade do mal", tema ressuscitado pelo filme em cartaz sobre Hannah Arendt (que ainda não tive a oportunidade de ver). De fato, o grande mal é possível quando parece banal, e essa foi a sacada da filósofa. Como resume o colunista:
Em vez de simplesmente retratar Eichmann como o gênio do mal, como esperavam seus leitores, em vez de descrevê-lo como um homem violento e racista, ela o descreveu como um medíocre burocrata que cumpria ordens, um homem normal sem capacidade de avaliar o mal que praticava.
E faz então uma descoberta fundamental: identificou a banalidade do mal, o fato de que ele só se torna imenso quando se torna banal e, por isso, compartilhado por muitos.
Até aqui vamos bem. Mas eis que Bresser-Pereira resolve dar exemplos dessa "banalidade do mal" mais modernos. E aí ele sai pela tangente. Coloca o terrorismo islâmico ao lado da Guerra do Iraque e da guerra civil na Síria. Ele diz:
Não há nada que justifique as mortes causadas pelo terrorismo islâmico, assim como pela Guerra do Iraque, e pela guerra na Síria, apoiada pela Arábia Saudita e por potências ocidentais. Nos três casos, vemos a banalidade do mal.
Existem inúmeros motivos para se discordar da Guerra do Iraque. Mas colocá-la no mesmo barco do terrorismo islâmico é absurdo. Ignora-se que antes dessa guerra o país era dominado por uma cruel ditadura, que já havia banalizado o mal totalmente. Ignora-se que Saddam Hussein não cumpria os acordos firmados com a ONU de inspeção, e que o ditador financiava terroristas. Enfim, ignora-se completamente que derrubar um ditador sanguinário não pode ser comparado a explodir um prédio repleto de civis com o intuito deliberado de matá-los.
Mas a tática é conhecida. Ayn Rand foi perspicaz ao descrevê-la em seus livros. Quando você quer atacar sua sogra, você diz que repudia igualmente o veneno das cobras, a mordida do rato, e o sermão da sogra. O alvo fica evidente. O mesmo faz a esquerda sempre: há críticas a serem feitas contra o socialismo, o nazismo e o capitalismo. O que se quer com isso? Difamar o capitalismo, claro!
Como nada nesse mundo é perfeito, tudo será passível de crítica sempre. Quem tenta jogar no mesmo saco coisas tão diferentes por conta disso, parece ter um alvo específico. Ninguém é perfeito, logo... o estuprador, o pedófilo e o sujeito que mentiu para a mulher são todos "pecadores". Quem se quer condenar com esse tipo de discurso?
Espero ter deixado claro que colocar a Guerra do Iraque ao lado dos ataques terroristas islâmicos e o que se passa na Síria só pode ter uma intenção: atacar a Guerra do Iraque e seu principal responsável, o governo americano. Bush e Osama bin Laden acabam retratados como igualmente terríveis. Não faz o menor sentido.
Ao término do artigo, Bresser-Pereira ainda dá um deslize final:
O trecho por mim grifado diz tudo: quer dizer que a violência e o desrespeito contra os pobres é condenável e representa a "banalidade do mal", mas contra os mais ricos não? Roubar da classe média pode? Violentar uma moça de família abastada não tem problema? Nota-se a demagogia e o sensacionalismo, típicos da esquerda. O mal de Bresser-Pereira é (ser) seletivo.
Novamente perfeito, Rodrigo!
ResponderExcluirAssino embaixo.
Caro Rodrigo
ResponderExcluirNos últimos parágrafo vc diz:"claro que os excessos consumistes devem ser condenados"Condenados por quem?.Quem tem algo contra EU consumir em excesso com meu dinheiro ganho honestamente.Alem do mais quem define o que é consumo excessivo,senão eu mesmo.
A liberdade individual ainda não foi revogada.Vamos criar cupões ? Como em Cuba.
Izaac Voldman
P
O que ele quis dizer que quando acontece alguma coisa contra o pobre, é ignorado. E isso é verdade
ResponderExcluirO Sr. Bresser Pereira de sempre, com seu costumeiro proselitismo (muito parecido com o Veríssimo)tenta confundir os desavisados, bem alertado por você, Rodrigo.
ResponderExcluirDepois que o Oscar Niemeyer assinou embaixo, justificando os milhões de mortos pelo comunismo como necessário ao plano marxista, aí sim, meu amigo, o mal é grande.
Continuo apelando que a cegueira do bolso é triste! Porque por idealismo é que não pode ser!
Perfeito RC.
ResponderExcluirFiquei enojado ao ler este artigo de um ex ministro que nos impigiu o mal através de seu plano economico idiota e foi mal na sua saida do grupo do Abilio Diniz sem pagar imposto devido. Uma lástima.