quinta-feira, abril 06, 2006

A Perfídia de Veríssimo



Rodrigo Constantino

O cronista Luís Fernando Veríssimo usa e abusa de seu espaço na mídia para propaganda ideológica, sempre defendendo o fracassado socialismo. Recentemente, chamou de "detalhe" a forma pela qual o governo conseguiu as informações sigilosas da conta do caseiro que denunciou o ex-ministro Palocci. Até à Abin foi pedida uma investigação ilegal do caseiro por Palocci.

Caro Veríssimo, não estamos em Cuba, ilha-presídio que o senhor parece admirar, de longe e do seu conforto. Vivemos num país com democracia e Estado de direito. A forma pela qual as informações foram obtidas não é um simples detalhe, mas algo da maior gravidade. Mostra bem a face autoritária desse governo que o senhor tanto defendeu. Tente evitar o proselitismo que lhe é tão característico.

Agora o colunista ataca novamente, com bastante retórica sensacionalista e zero de conteúdo lógico. Escreve em artigo que tanto a “direita” como a “esquerda” sentem saudades do século XIX. Os motivos da saudade esquerdista seriam os ideais revolucionários que iriam transformar o mundo, a crença da inevitabilidade histórica do socialismo. A nostalgia direitista viria dos tempos em que trabalhadores eram explorados, segundo a estranha ótica do autor. Ou seja, de um lado a saudade pelo sonho lindo, do outro a saudade da exploração. E Veríssimo ainda conclui que foi a pregação socialista que estragou a “perfeição” direitista, calcada nessa suposta exploração. Considero difícil achar algum outro texto com tanta baboseira e inversão em tão poucas palavras!

Veríssimo usa o recente caso francês, país cuja mentalidade elitista ele adora, mostrando a luta de alguns barulhentos jovens pela manutenção das conquistas trabalhistas. Diz que aqueles que propõem a flexibilização trabalhista hoje “babariam” com a realidade do velho século, com crianças e mulheres trabalhando até 15 horas por dia. Alguém precisa avisar ao “ilustre” colunista que antes da revolução industrial estas crianças e mulheres morriam como moscas, de inanição. Será que Veríssimo não sabe que esse trabalho era voluntário, posto que a alternativa era a fome? Será que alguém com a erudição de Veríssimo desconhece que foi o avanço da técnica nesta época que possibilitou que a população inglesa dobrasse de tamanho em menos de um século, enquanto havia permanecido estagnada por vários séculos? Será que o autor ignora que a situação da Polônia, por exemplo, era caótica nesta época, e que tudo que as mulheres e crianças polonesas gostariam naqueles duros anos era das oportunidades criadas na Inglaterra? Veríssimo tem que saber disso tudo. O que ele faz é manipular as informações, comparando a situação atual com aqueles complicados anos. Assim é fácil. Podemos até mesmo concluir que a situação no Haiti não é tão grave, comparada às condições de vida dos babilônicos sob Hamurabi. Fica faltando apenas honestidade intelectual nesta “análise”...

Fora isso, o que possibilitou uma grande melhora na qualidade de vida e condições de trabalho dos mais pobres não foi a “pregação socialista”, nem de perto. Basta ver que onde mais influência teve tal pregação, mais miséria o povo teve. Na verdade, o que garantiu um progresso acelerado para essa gente foi justamente a lógica capitalista, com avanços tecnológicos e competição entre empregadores. Os funcionários da Dell vivem melhor que os cubanos por esta razão, diferente do que Veríssimo tenta nos convencer. Onde a produtividade do trabalho é maior, os salários tendem a ser maiores. Onde o progresso capitalista é maior, as condições do trabalho tendem a ser melhores. E onde há maior competição entre empresas, com flexibilidade de contratos, as reais conquistas dos trabalhadores tendem a ser maiores.

Mas o autor finge não ver nada disso, que é bastante óbvio. Ele finge crer que são leis escritas, sem quaisquer ligações com a realidade do mercado, que garantem a vida mansa para os trabalhadores. As tais “conquistas” na marra, “protegendo” os trabalhadores contra o desemprego e tudo mais. Se fosse tão simples, bastaria colocar no papel salários milionários e garantia de emprego eterno. Até mesmo a felicidade plena poderia ser imposta por lei. Mas a realidade é chata para os românticos sonhadores. E a realidade é que quanto maior a flexibilidade das leis trabalhistas, melhor para os trabalhadores, principalmente os mais pobres. Afinal, a proteção na marra do emprego de alguns significa a exclusão de outros, que aceitariam trabalhar por menos. Não é por acaso que a taxa de desemprego francesa já é o dobro da americana, passando de 20% no segmento dos jovens, justamente os “protegidos” pela bela lei.

Desconfio muito que tanta inversão por parte de Veríssimo não seja apenas ignorância. Trata-se de alguém que escreve bem e leu bastante. Fico com outra opção. Afinal, são artigos e mais artigos onde o cronista sempre encontra um jeito de condenar o “neoliberalismo” e enaltecer o socialismo, nunca com sólidos argumentos, sempre apelando para uma retórica vazia. Na minha opinião, é mesmo pura perfídia.

7 comentários:

  1. Anônimo11:30 AM

    Rodrigo,

    Não sei se será possível discutir contigo, tudo dependerá se és um moderado ou não na argumentação.

    Primeiro gostaria que você citasse a fonte histórica que te usas para falar dos fatos históricos aos quais te referes (Inglaterra, Polônia, trabalho voluntário).

    Segundo gostaria que você me explicasse, se possível, se o capitalismo atual dito neoliberal ou o modelo econômico neoliberal atual não seria justamente uma tentativa de destruir a concorrência e a busca pela formação de monopólios. Hayek já tinha medo desse fenômeno, e será que não estamos vivendo esse modelo que visa acabar com a concorrência?

    Não houveram as grandes fusões de empresas nos anos 90? Esse tipo de fenômeno dentro do capitalismo é saudável na sua opinião?

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  2. Daniel,

    os dados sobre expectativa de vida nessa época e tamanho populacional são conhecidos, por várias fontes. Ortega y Gasset aborda alguns desses dados em A Rebelião das Massas, e Mises fala disso em As Seis Lições.

    Sobre as fusões, não vejo problema. O ponto é a possibilidade de entrada de novos players estar sempre presente. Normalmente, é o próprio governo que cria barreiras para isso. Vide o mais famoso cartel de todos, a OPEC, existente somente pelo aval do governo desses países.

    Rodrigo

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  3. É transparente a revolução social que o capitalismo industrial aportou à Inglaterra,lançando-a no rol das grandes nações no prazo de um século,com consequente melhoria nas condições de saúde e alimentação de sua população,faminta e doente numa estrutura centralizada e agrária pré industrial.Quanto aos monopólios,a própria liberdade e representatividade democrática representa o maior fator de contrapeso aos seus avanços,assim como a plena possibilidade do estabelecimento de concorrência com outros "players".Desde que haja determinação de liberdade econômica e política.Não como aqui e hoje,onde se possibilita a cartelização da ponta da cadeia produtiva,para,gramscianamente,serem detonadas as genuínas forças produtivas básicas desta nação,mostrando com clareza a intencionalidade da concentração do capital em determinados setores corporativados,como forma de se combater a própria economia de livre mercado.

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  4. Concordo com quase tudo, só vale notar que a revolução industrial não foi tão voluntária assim.
    Ah, eu perdi a fonte agora, então vocês vão ter que acreditar na minha bela palavra, mas existem muitos relatos de que o governo inglês confiscava terras de camponeses para criar um "exército industrial" artificial. (calando a boca de Marx, diga-se de passagem, mostrando que tais exércitos não se formam naturalmente).

    E numa época de tanta miséria como você descreve, o trabalho industrial certamente não é tão voluntário. Não que os capitalistas tivessem direta culpa ou que a presença deles não tivesse realmente melhorado a qualidade de vida, mas "trabalhe ou morra de fome" não é bem uma opção (indiferente de quem seja a culpa).

    Hoje as coisas mudaram, lógico, os jovens franceses não vão morrer de fome por causa da reforma trabalhista, mas em um Estado tão burocratizado quanto o Francês é de se esperar que seja altamente corporativizado também; o que me espanta nos liberais é o quanto bravamente defendem tais reformas contra a maré vermelha e o senso comum e bla bla bla; mas esquecem, muito e muito frequentemente, de criticar corporações que só tem seu espaço graças a subsidios e a impossibilidade de entrada de novos "players".
    Eu não estou familiarizado com a situação na França, mas se Mises está certo e a liberdade do mercado pode ser medida pela entrada de novas empresas (o que faz perfeito sentido), então no Brasil (e possivelmente na França), falar em livre mercado é uma piada (porque abrir qualquer empresa de qualquer coisa no Brasil é uma tarefa heróica).
    Se não há livre mercado, então a retórica de "num livre mercado" também cai; claro, num livre mercado, os trabalhadores voluntariamente se unem a empresas e coisa do tipo; mas se não vivemos em um livre mercado, mas sim numa coleção de oligarquias, podemos usar a mesma retórica?
    Acabar com leis trabalhistas é certamente um passo importante para um mundo realmente liberal, mas quando liberais se concentram apenas nesse aspecto, se "esquecendo" de lutar contra todas as distorções que garantem monopólios a poucas oligarquias, então não estamos advogando liberalismo, mas sim fascismo.

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  5. Exato.Para corrigir o que descrevi no comentário anterior,pretendi dizer que,sómente a realidade agrícola não atendia as demandas de alimentação e saúde da Inglaterra,a industrialização trouxe sim,uma alternativa de vida e um acréscimo de renda para cada família envolvida.
    Quanto aos mono e oligopólios,eles existem por falta de organização social amadurecida na liberdade de produção,comércio e mercado.No nosso decantado caso,eles são instrumentos de enriquecimento corporativo e ativos(e intencionais)destruidores do nosso sistema de livre comércio e consumo,ao adulterar,destruir as regras jogo.
    É como se vivêssemos num estado oficialmente totalitário...
    Bom domingo.

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