Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Turistas
Rodrigo Constantino
“Facts do not cease to exist because they are ignored.” (Aldous Huxley)
Vem aí o filme Turistas, que conta a história de um grupo de turistas que chega ao Brasil e sofre o golpe “Boa Noite Cinderela”. Eles acordam sozinhos e sem seus pertences, após uma noite de festa exótica numa praia. É apenas o começo do seu pesadelo. Eles precisam escapar de uma perseguição implacável e de crimes horrendos, lutando pela sobrevivência diante das mais terríveis armadilhas. Antes mesmo do filme estrear, uma onda de protestos tomou conta do país, puxada pelos ufanistas que não admitem que gringos falem mal do seu país, ainda que a ficção, nesse caso, não seja muito distante da realidade.
Não demorou muito e recebi um daqueles emails de protesto infantil, incitando os brasileiros ao boicote do “perverso” filme. Dizem esses “patriotas” que a película “queima o nosso filme” e pode prejudicar o nosso mercado de turismo. Não obstante tratar-se de um filme de ficção, é preciso explicar a estas pessoas que nosso filme já está bastante queimado – eu diria esturricado até. E não por conta de filmes de ficção, tampouco por alguma conspiração de Hollywood, mas sim pela simples exposição dos fatos. Como disse Diogo Mainardi no programa Manhattan Conection, não há nada que a indústria cinematográfica possa produzir sobre o Brasil pior que nossa própria realidade. Creio que isso seja o verdadeiro fator de ódio por parte dos falsos “nacionalistas”. Precisam xingar os bodes expiatórios para não terem que encarar a dura realidade.
Num país com mais de 50 mil homicídios anuais, onde não há império da lei, onde a cultura do “jeitinho” é predominante, onde políticos claramente corruptos ficam impunes e são reeleitos, onde o setor aéreo é caótico, onde o próprio presidente tenta expulsar um jornalista estrangeiro apenas por este falar a verdade sobre seus hábitos etílicos, onde casos e mais casos de turistas roubados surgem na mídia, onde os golpes aos turistas começam já nos aeroportos, parece piada a revolta dos brasileiros ser voltada para um filme trash em vez da própria realidade. Se a atração de turistas é mesmo um objetivo – e deveria ser, pelo potencial que o Brasil tem nesse setor – atacar os reais problemas brasileiros que afugentam os gringos parece infinitamente mais sábio que ficar de picuinha com um filme de terror, provavelmente de quinta categoria. Será que um pai que ama de verdade seu filho com problemas com as drogas ficaria mais revoltado com alguém que constatasse o problema do que com o próprio problema em si? Tampar o sol com a peneira não ajuda. Ocultar os problemas não faz com que eles desapareçam. Matar o mensageiro da má notícia não faz ela sumir. E a verdade é que o Brasil foi escolhido como cenário do filme porque a trama dele seria factível em nossas terras.
Mas nada disso passa pela cabeça desses “nacionalistas”, que em alguns casos realmente patéticos chegam até a condenar o Helloween como prejudicial à nossa cultura. O antiamericanismo no Brasil chegou a patamares patológicos, e a patologia pode cegar para os fatos. Alguns chegaram ao absurdo de afirmar que os americanos não fazem filmes criticando o próprio quintal. Eu devo viver mesmo em outro planeta, pois poderia jurar que o filme Beleza Americana, por exemplo, era uma ácida crítica ao “american way of life”. Poderia jurar ainda que Michael Moore é americano, e vive “metendo o pau” – mesmo através de enormes falácias – nos Estados Unidos. Na verdade, são tantos filmes americanos denegrindo a imagem dos Estados Unidos que alguns autores chegam a questionar se existe uma agenda “hollywoodiana” contra o país.
O filme O Albergue, dirigido por Quentin Tarantino e que parece ter inspirado os autores de Turistas, se passa na Europa, e não creio que muitos deixarão de visitar a região por conta do filme. Logo, não parece razoável alguém realmente voltar suas energias para condenar um filme. Se nossa realidade fosse de fato tão distante do retratado no filme, ninguém iria se importar. O turismo iria florescer aqui independente de qualquer filme idiota de ficção. Portanto, o que incomoda de verdade nesse caso é o fato de que o filme não se afasta tanto assim da realidade. Ora, para os que amam de verdade seu país, mudar a realidade deve ser a meta, e não condenar o filme.
Não gosto deste tipo de filme trash, e não tinha a menor intenção de vê-lo no cinema. Mas agora pretendo ir logo na estréia. Só para não colaborar com o boicote boboca dos ufanistas. O pseudo-nacionalismo faz muito mais mal para nosso país que um filme de terror.
Se fossemos levar a serio todos os filmes e seriados produzidos sobre os EUA, que retratam um pouco a mentalidade e a realidade daquele país, chegaríamos a conclusão de que aquilo é uma terra de malucos!
ResponderExcluirO espírito tupiniquim é muito medíocre mesmo...
Falta auto-estima e vergonha na cara aos nacionalistas brasileiros.
Ótimo artigo Constantino.
O Albergue é dirigido por Eli Roth.
ResponderExcluirQuentin Tarantino não é diretor de Hostel. Ele é um dos produtores executivos.
ResponderExcluirEu recebi esse email convidando a boicotar o filme. Respondi nas mesmas linhas e ainda complementei que não recomendo visitas ao Brasil a nenhum amigo ou cliente estrangeiro. Semrpe aparece alguém para reclamar, a diferença é a maneira: muitos são idiotas e respondem na grosseria e uma minoria, que ao menos valoriza as diferenças de opinião, me escreveu com críticas à minha maneira de ver o Brasil atual.
ResponderExcluirEnfim, o filme desse ser mesmo uma porcaria, mas pretendo assisti-lo só para não contribuir com esse boicote.
Ora bolas, eu vou assistir este filmaço. Se ainda não vi não ouso acusa-lo. Porém, só pela abordagem já o presumo no mínimo bom. Se atentarmos para a idéia que o filme pretende passar, talvez tenha uma grande mensagem, por pior que seja a fotografia e demais firulas que há num filme, é bem possivel que seja bom no conteúdo ...quiçá uma obra prima que se revela naquilo que não se percebe com os olhos e ouvidos, mas com a mente (o que chamo de sexto sentido, ou sétimo se dando bola para misticos).
ResponderExcluir...Talvez seja bom ...CARAMBA!!!!
Abraços
C. Mouro
¨Ora, para os que amam de verdade seu país, mudar a realidade deve ser a meta, e não condenar o filme.¨
ResponderExcluirPerfeito!
É isso mesmo, você consegue transmitir em palavras o sentimento dos que pensam um pouco.
ResponderExcluir"Não mate o mensageiro se você não gostou da mensagem"
ResponderExcluirCompartilho das mesmas opiniões que você e a propósito postei em meu blog uma crônica a cerca do mesmo tema, juro que não foi plágio.
ResponderExcluir"O Brasil é uma república de árvores e gente dizendo adeus" Drumond
rapaz, agora eh que eu qeuro msm ver esse filme
ResponderExcluirespero que aqui em recife esteja passando :D
ótimo texto
ResponderExcluirSe o filme é lixo ou não, pouco importa. Ele não é um documentário e nem se propõe a ser, porque poderia ter como locação Bangladesh, Alemanha ou Vanuatu, que seria a mesma coisa: uma ficção sobre o tráfico de órgãos humanos.
ResponderExcluirA gente já sabe muito bem quem faz esse tipo de objeção a toda e qualquer referência que porventura desabone esse feudo em que se transformou o Brasil. São os mesmos que querem calar a imprensa livre, que querem unanimidade para governar, que querem paz para “o homem” trabalhar e que assaltam o Estado sem piedade em busca de mais poder.
Stalin, através de seu guru “intelectual” Andrei Zhdanov conseguiu, apartir de 1946, instituir uma tal de “teoria dos dois campos” que simplificou bastante o raciocínio(?) limitado do comunismo. Ficou estabelecido que quem era a favor, era “do bem”, sendo que os contrários e até mesmo os indiferentes eram “do mal”. Sem tirar nem pôr, é exatamente isso que esse governinho de mequetrefes tem em mente. Sem dúvida, reduz a zero a necessidade de pensar, coisa que obviamente não é comum em 99% dos petistas. Os outros 1% tentam, mas têm diarréia quando o fazem.
É mais fácil culpar os grincos pelos problemas do reino da Banânia, do que resolver os problemas reais. Quando do acidente do vôo 1907, segundo o senhor Waldir Pires, aquele que é (sem nunca ter sido!) ministro do não sei o quê, quem foram os culpados? Ora, bolas! Dos pilotos americanos! Por que não? Os gringos sempre serão culpados por tudo de ruim que acontece por estas plagas. Agora que a verdade veio a público e que o ministro está se danando, os petralhas estão tentando emplacar a idiotice de que os problemas aconteceram porque os milicos não o querem ministro. Ora, ora! Tudo balela! Os milicos são brasileiros que, como nós, querem mesmo é se dar bem. Como o ministro e os petralhas que os defendem.
ResponderExcluirkkkkkkk
ResponderExcluirtava só esperando vc escrever esse artigo. A coisa ta feia mesmo, o povo está aderindo ao "boicote" ridículo.
Parabéns, ótimo texto!
ResponderExcluirCidade de Deus, Carandiru e outras m*... feitas com o dinheiro público (livres da concorrência e da bilheteria) são muito mais nocivos a imagem do Brasil do que esse filme Turistas... Alem é claro que a realidade nossa é muito pior do que esse filme!
e pior: e o Pan 2007?
ResponderExcluirto até vendo os atletas sendo assaltados....
lamentável, mas o filme mostra a realidade brasileira!
Acabei de assistir ao filme. Não é uma estória lá muito boa e nem tem muita sequência, mas é bom para quem gosta desse gênero trash.
ResponderExcluirAviso: quem for ver o filme no Brasil, cuidado com o que eu comento abaixo. Pode estragar alguma surpresa.
Recomendo só uma parte do filme que pode até servir para uma segunda crítica: o médico-louco, responsável pelas extrações de órgãos, diz que está cansado dos estrangeiros que vem ao Brasil para roubar as terras, o ouro, as riquezas e que ultimamente eles vem atrás de sexo, e por isso ele agora vai tirar os órgãos dos "gringos" para ajudar as pessoas no "Hospital Popular do Rio"(O Brasil é comunista e tem hospital "do povo"?!?)
Enfim, a mesma balela muito bem descrita no livro "Perfeito Idiota Latino Americano".
Detalhe muito sem importância: o médico é branco, logo descendente de europeus, logo produto dessa "pilhagem" de que ele fala.. enfim, só um detalhe sem importância, certo?
PETRALHAS, GO HOME ! RAÚL WAITS FOR YOU WITH OPEN ARMS (HIS "BRO" FIDEL IS PROBABLY DEAD ALREADY ANYWAY..)
Na verdade o Brasil está cheio de nacionalistas, e da pior espécie possível.
ResponderExcluirO que falta no Brasil?
Patriotismo e vergonha na cara.