sexta-feira, janeiro 05, 2007

Os Catequistas



Rodrigo Constantino

“Os socialistas, e em especial os marxistas, sempre pensaram que existia um estado natural de abundância; nada mais simples, portanto, que a economia de Robin Hood: tirar dos ricos para dar aos pobres.” (Roberto Campos)

Não consigo explicar direito o motivo pelo qual ainda leio o Jornal dos Economistas, bancado pelo sindicato desses profissionais. Sei apenas que preciso sempre de um Engov durante a leitura. Agradeço aos laboratórios capitalistas em busca de lucro pelos santos remédios que tornam mais viável ler o lixo socialista! Na edição de novembro de 2006, entretanto, foi necessário uma dose dupla, que ainda assim não segurou o mal-estar. Afinal, estavam presentes um texto de João Sicsú e uma entrevista com Emir Sader. Não tem Engov que dê jeito nesse caso!

Sicsú fala sobre as mudanças necessárias para o país crescer, e afirma que não tem a menor dúvida de que a principal mudança é a redução da taxa de juros. Ele parece crer que os juros podem ser arbitrariamente definidos, independente do mercado. Sua redução pode se dar por decreto estatal, pela sua ótica. Assim, os juros não seriam um preço como outro qualquer, que depende da oferta e demanda, e que são elevados por conseqüência do inchaço estatal. Eles seriam a causa dos problemas, e bastaria “vontade política” – uma canetada na verdade – para resolver nossos males. Analogamente falando, se um doente tem febre, basta quebrar o termômetro.

Para o economista, “essa situação não é favorável aos trabalhadores, nem aos empresários; ela é extremamente favorável aos banqueiros”. Pronto! O bode expiatório predileto de nossa esquerda vem explicar todos os males. “Só há essa explicação: na disputa pelo orçamento, os banqueiros têm saído vitoriosos”. Ou seja, esqueça o péssimo histórico do governo brasileiro como devedor, os calotes, a ausência de império da lei e confiança nas regras, o excesso de gastos, a dívida trilionária, a falta de perspectivas quanto às reformas estruturais etc. Nada disso tem a ver com nossos altos juros. A causa está num complô de fazer inveja a qualquer cineasta de Hollywood, onde meia dúzia de poderosos banqueiros cruéis controlam o Congresso. O que seria da esquerda sem seus bodes expiatórios? Isso sem falar que o maior banqueiro do Brasil é o próprio governo...

Mas Sicsú não se dá por satisfeito. Ele segue, afirmando que “normalmente, se pensa que inflação se controla cortando gastos, mas, na verdade, talvez seja preciso fazer investimento para manter os preços estáveis”. Por exemplo, “é preciso gastar para aumentar a produtividade dos transportes públicos para que os preços sejam mais estáveis”. Que coisa! Os economistas sérios do mundo todo, os investidores, todos achando que os gastos públicos, que precisam ser financiados pelo setor privado, causariam ou recessão pelo aumento de impostos ou inflação pela emissão de moeda, e nosso brilhante economista afirma o oposto. Na verdade, temos é pouco gasto público! Se aumentarmos a gastança compulsiva do governo, aí sim é que a inflação será menor! Pergunto-me porque Sicsú não tem um Prêmio Nobel...

Justiça seja feita, Sicsú reconhece que “é possível que, realmente, uma taxa de juros muito baixa leve a uma fuga de capitais”. Mas logo depois ele acrescenta que “nós temos que ter o direito de determinar a nossa taxa de juros”. Seria o caso de perguntar: nós quem? Ele afirma que “não podemos aceitar a idéia que é o mercado que determina qual é a taxa de juros mínima”, pois o “mercado não pode se sobrepor às decisões públicas”. Ora, e eu que pensei que o mercado fosse apenas a livre interação dos indivíduos! Por exemplo, o mercado é que determina o preço da banana. De um lado temos a oferta, do outro a demanda. O preço se dá no encontro de ambos. Se o governo arbitrariamente determinar um preço diferente, teremos escassez de bananas, caso este preço seja baixo demais, pois a demanda será então maior que a oferta disponível, ou um mercado negro, caso o governo coloque o preço acima do praticado pelo mercado, induzindo a informalidade. Não tem como fugir dessa realidade, por mais que os esquerdistas tentem ignorá-la. E olha que Sicsú ainda tenta fugir capciosamente do rótulo ideológico, garantindo que “não é uma proposta de esquerda, ou da direita, comunista, nem liberal”. Falso. É de esquerda sim. É comunista sim, pois países comunistas que tentavam este tipo de controle de preços, sempre com resultados catastróficos. Controlar preços não tem nada de liberal.

Sicsú diz que “se estabelecêssemos o controle de capitais, não estaríamos rompendo com nenhum contrato”, e conclui que “a vontade de indivíduos não pode se sobrepor às necessidades da sociedade”. Quem define as tais “necessidades da sociedade”, se ela é exatamente o somatório de indivíduos? Esse coletivismo, essa retórica tola, estava presente também no programa do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista, que levou Hitler ao poder na Alemanha. O programa afirmava ser possível uma recuperação do povo “somente através da colocação do bem comum à frente do bem individual”. Sabemos como a coisa terminou.

Em resumo, Sicsú defende o controle dos preços administrados, o aumento dos gastos públicos, a redução drástica da taxa de juros com o concomitante controle de capitais, uma taxa de câmbio mais desvalorizada na marra e bancos públicos emprestando a taxas subsidiadas para “certos setores” definidos pelo governo. Ou seja, defende tudo aquilo que sempre deu errado mundo afora. Vai na contramão dos países que adotaram reformas liberais e conheceram a prosperidade. Se é o excesso de governo que tanto mal nos causa, Sicsú tem a solução: mais governo! Vamos deixar as sanguessugas curarem nossa leucemia. E isso vem de um professor da UFRJ, que deveria ensinar economia aos seus alunos, não doutriná-los ideologicamente. Como ele, existem vários, a maioria do corpo docente. O socialismo é uma religião, e toda religião precisa dos seus catequistas. Coitados desses alunos...

Sobre a entrevista de Emir Sader, escreverei em outro artigo. Preciso de mais um Engov agora.

15 comentários:

  1. Ótimo artigo, Rodrigo.

    No fundo, a crença de que os juros podem ser alterados com a vontade política é baseada na idéia de que não existe escassez de capital.
    É só fazer mais moeda que dá capital para todo mundo!

    Quem aceita que o governo possa abaixar a taxa de juros do mercado em míseros 0,25% e assim ajudar a economia (pois favorece o investimento e novos negócios), é obrigado logicamente a aceitar que o governo possa levar a taxa de juros a 0, tornando assim o capital um bem não-escasso.

    E isso significa: se aceitamos que o Banco Central tenha papel importante na política monetária, já estamos comprometidos intelectualmente com a inflação absoluta e com as teses da abundância de capital.

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  2. Anônimo6:57 PM

    Ótimo texto! A esquerda é patética...

    Por isso mesmo que não gosta de liberdade de expressão, não gostam do debate!
    Possuem argumentos sem lógica, só misticismo, obscurantismo esquerdista no arquétipo infantil do bem x mal...

    Rodrigo se tiver tempo, de uma força em um tópico sobre economia lá na Fora Lula (orkut):

    http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=73071&tid=2508252280879415777&start=1

    Um abraço

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  3. Anônimo8:38 PM

    Voces deviam comer seu diplomas de economista.

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  4. Anônimo10:37 AM

    Ora, a questão dos juros é bem antiga, a própria Igreja Católica defendeu a "Lei da Usura" contra os juros; cobrar juros é pecado segundo a Igreja, que estabelece que o mal universal é a ganância. Assim, ambicionar uma vida farta é pecaminoso, "ajuntar tesouros na terra" e ser avarento também é. Afinal, quem reclamava dos impostos que lhe eram cobrados pelas "artoridades" tinha que ser demonizado perante os miseráveis que os donos do Poder produziam - coisa de Sun Tzu, dividir o inimigo, faze-lo lutar contra si mesmo. Para assim vence-lo sem ter que enfrenta-lo francamente.
    Essa é a política milenar, a fórmula perfeita para dominar populações estúpidas, insufladas na inveja e nop ódio aos que vivem bem. Pois assim, ao Estado não é preciso remunerar "exércitos" e polícias (feitores estatais) para explorar a população, já que serão remunerados pelo próprio ataque aos "demônios" criados. Tal como Sschopenhauer bem o disse (algo +/- assim): remunera-se o soldado com medalhas e glórias inúteis, pois se fosse pagar para que ele pusesse sua vida em risco, ou mesmo a entregasse, o preço seria alto demais para pagamento em espécie. Assim, melhor remunerar com fantasias: glórias idiotas, homenagens, medalhas e etc..
    As ambições intelectuais/psicológicas, são muito mais poderosas que as ambiçoes materiais, além de infinitas enquanto as materiais são finitas. Talvez isso tenha feito que se desviasse todo o foco para a tal "ganância material", para assim encobrir a verdadeira desgraça que é a ambição psicológica, onde o Poder se destaca.
    Manipular a vaidade é a fórmula do sucesso; o apelo aos "valores sociais", o inventar inimigos para fazer amigos, o exibir a desigualdade material no sentido de inimizar ao sugerir "injustiça social" e o maior valor pessoal do mais rico ante a "moral capitalista" para insuflar frustração e inveja, levando a abominação da tal "moral capitalista". .......manipular frustrados, recalcados, inseguros e insatisfeitos consigo mesmos é o caminho do sucesso. Os tolos não admitem serem "inferiorizados", ultimaente a políticagem tem metido na cabeça dos negros que os brancos os odeiam ou desprezam, para assim controlar os negros fazendo-os odiar os brancos e almejar privilégios sobre estes; da mesma forma fez-se pobres X ricos, proletários X burgueses ou assalariados X empresários. ....é a politicagem de sempre. ...UMA PODRIDÃO MILENAR!
    .
    Abraços
    C. Mouro

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  5. Anônimo10:49 AM

    Ah! ...a MODA, essa coisa estúpida que determina do quê as pessoas devem gostar, pois se não gostam daquilo que está na moda serão "inferiores", serão desqualificadas. O bonito é estar na moda. Ou seja, é não pensar por si mesmo, e sim seguir aquilo que alguém determina. O próprio surrealismo foi o mais gritante exemplo desta absurda estupidez.
    Os inseguros se aterrorizam ante a possibilidade de serem desqualificados pela "opinião pública" (opinião publicada). Os jovens, adolescentes são naturalmente inseguros pela proximidade de sua chegada ao mundo adulto, temem fracassar, "ficar atras dos amigos" e etc.. Essa insegurança leva a que adolescentes se entreguem estupidamente a modismos ou grupos fechados cuja a "valoração social" lhes convenha. Apartam-se da "sociedade" para se trancarem em patotas ou grupos exóticos com moral própria para valoração no grupo.
    As ideologias manipulam a vaidade, criam valores grupais para enaltecer adeptos, onde o que mais valoriza é exatamente a adoção da ideologia>>>toda ideologia atribui valor extremo a seus adeptos pelo simples fato de adota-las. ...simples assim! ...isso corrompe e quanto mais inseguro, mais fanático, pois mais precisa da ideologia como valor postiço.
    Na política o objetivo é manter o Poder como instituição, como direito dos que o ocupam e fazer da obediênmcia a este Poder uma obrigação moral.
    .
    Abraços
    C. Mouro

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  6. Anônimo10:50 AM

    Ah! ...a MODA, essa coisa estúpida que determina do quê as pessoas devem gostar, pois se não gostam daquilo que está na moda serão "inferiores", serão desqualificadas. O bonito é estar na moda. Ou seja, é não pensar por si mesmo, e sim seguir aquilo que alguém determina. O próprio surrealismo foi o mais gritante exemplo desta absurda estupidez.
    Os inseguros se aterrorizam ante a possibilidade de serem desqualificados pela "opinião pública" (opinião publicada). Os jovens, adolescentes são naturalmente inseguros pela proximidade de sua chegada ao mundo adulto, temem fracassar, "ficar atras dos amigos" e etc.. Essa insegurança leva a que adolescentes se entreguem estupidamente a modismos ou grupos fechados cuja a "valoração social" lhes convenha. Apartam-se da "sociedade" para se trancarem em patotas ou grupos exóticos com moral própria para valoração no grupo.
    As ideologias manipulam a vaidade, criam valores grupais para enaltecer adeptos, onde o que mais valoriza é exatamente a adoção da ideologia>>>toda ideologia atribui valor extremo a seus adeptos pelo simples fato de adota-las. ...simples assim! ...isso corrompe e quanto mais inseguro, mais fanático, pois mais precisa da ideologia como valor postiço.
    Na política o objetivo é manter o Poder como instituição, como direito dos que o ocupam e fazer da obediênmcia a este Poder uma obrigação moral.
    .
    Abraços
    C. Mouro

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  7. Anônimo10:59 AM

    Agora ou nunca!

    Precisamos da ajuda de todos! Nosso objetivo:
    melar o projeto do Lula em fazer o presidente da Câmara e assim impedi-lo na sua costumeira prática autoritária em intervir cada vez mais e vergonhosamente no Legislativo, sempre com objetivos espúrios!!!!
    Nem Arlindo Nem Aldo!


    Detalhes:
    http://alkimistasdobrasil.blogspot.com
    http://http://andrewernner.blogspot.com/

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  8. Anônimo12:28 PM

    Prezado Rodrigo,

    Seu artigo é Curso de Economia aos economistas menos avisados. Como sempre, costurou muito bem.
    Parabéns

    Nazaré Braga

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  9. Anônimo1:31 PM

    "O marxismo não é uma religião, é uma cultura" (Olavo de Carvalho)

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  10. Anônimo8:01 AM

    Hm... fzzzz .... scrrcss .... alô, alô? Aqui é um leitor do blog, o ano aqui é 2007, .... alô, tem alguêm aí? Tenho uma notícia .... bzz .... sccrc... fzzz... uma notícia que talvez vocês apreciem... fzz.. fscrrc .... O comunismo acabou, é mais fácil achar um comunista do que um urso polar andando por aí, então, regojizem, e tentem também preservar os ursos polares... câmbio e desligo .... fzzz....

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  11. Anônimo3:20 PM

    Vcs perderam o trem da história,meus amigos!
    Procurem a estação mais proxíma e informem -se sobre novos horários.

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  12. Anônimo9:02 AM

    Rodrigo, excelente artigo (como sempre!).
    Você tocou em um ponto que me preocupa muito: a doutrinação dos alunos nas universidades por "educadores" de mentes tão estreitas como esse.
    Nssos jovens estão pagando para aprender uma montanha de mentiras e falácias que os tornarão únicos no mundo e sem nada, ou seja, sem educação.

    obrigada.

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  13. Anônimo10:01 AM

    A comparação com Hitler foi meio imprópria, Rodrigo. Apesar de ser um ditador totalitário, não foi usando idéias como essas que os nazistas acabaram com a inflação na Alemanha.

    Seria menos mal se tivessem um Sicsú para prestar-lhes consultoria, pois nunca teriam sucedido.

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  14. Anônimo10:14 AM

    Quanto à conspiração dos banqueiros à favor dos juros, imaginemos o seguinte:

    Imagine que a tal 'vontade política' decida abaixar os juros na marra.

    Com isso, o BC passa a inserir mais reservas no sistema financeiro, através da inflação descarada mesmo. Isto facilita a obtenção de reservas bancárias para os bancos.

    Outra opção - apoiada pela Febraban - é a redução do depósito compulsório. Hoje, com 45%, possibilita o empréstimo de 1.22x dos depósitos à vista no sistema bancário. Se caísse para 30%, possibilitaria o empréstimo de 2.33x.

    Para os bancos dá na mesma emprestar 2x o nosso dinheiro dos depósitos à vista cobrando 10% ou emprestar 1x cobrando 20%.

    Outro dado que eu levo em conta é a alta dependência do sistema bancário brasileiro em taxas: o que é natural em um sistema com ALTO DEPÓSITO COMPULSÓRIO. Nada de errado aí, para mim é a situação ideal.

    Só que imagine como seria o lucro dos bancos com uma queda dos juros, onde essas taxas continuem e o governo permita compulsórios mais baixos ou barateie a obtenção de reservas no mercado à vista. ISso sim é que seria a situação ideal para os banqueiros!

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  15. Anônimo2:58 PM

    Uma década, 2 anos e 6 meses depois, ainda os juros.

    Quem acha que é o BC que define a taxa de juros? Quem acha que é o próprio FED que o faz nos EUA?

    Estão ali a interpretar uma realidade de mercado.

    A realidade de mercado no Brasil é que o valor do juro é decidido por quem recebe juros, em grande parte, e por isto eles continuam altos no limite do economicamente justificável, o resto é masturbação

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