Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
domingo, dezembro 30, 2007
As Organizações Governamentais
Artigo que mostra a relação absurda entre governo e ONGs, que acabam funcionando, na prática, como organizações do governo ou antros de corrupção. O cão não morde a mão que o alimenta. E quem alimenta as ONGs, como no caso da Viva Rio, costuma ser justamente o governo.
http://youtube.com/watch?v=h-P3U9GspAk
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Greenspan e o Capitalismo
Rodrigo Constantino
“Pouco mais é necessário para erguer um Estado, da mais primitiva barbárie até o mais alto grau de opulência, além de paz, de baixos impostos e de boa administração da justiça: todo o resto corre por conta do curso natural das coisas.” (Adam Smith)
Em seu livro A Era da Turbulência, Alan Greenspan dedica dois capítulos para uma defesa direta do modelo capitalista de mercado. Ele afirma que desde cedo, em sua carreira profissional, se deu conta da importância da competição nos negócios, “como indutor básico do crescimento econômico e da melhoria do padrão de vida”. Para Greenspan, os dados geralmente apontam para três importantes características gerais que influenciam o crescimento global: a extensão da competição interna e da abertura do país para o comércio; a qualidade das instituições do país, que contribuem para o funcionamento da economia; e o sucesso de seus formuladores de políticas na implementação das medidas necessárias à estabilidade macroeconômica.
A garantia do direito de propriedade pelo Estado é considerada por Greenspan “a principal instituição promotora do crescimento”, pois, “sem essa certeza, de pouco adiantariam o livre comércio, os enormes benefícios da competição e as vantagens comparativas”. A explicação é óbvia: “As pessoas, em geral, não se esforçarão para acumular o capital necessário ao desenvolvimento econômico se não tiverem certeza de sua propriedade”. Se o governo pode, de maneira arbitrária, confiscar os bens, o valor do direito de propriedade é muito baixo. Sob o medo constante de expropriação, o esforço despendido para melhorar a propriedade é bem menor. A importância do direito de propriedade privada bem definido fica bem clara quando analisamos o que ocorreu na URSS: “Estigma extremamente comprometedor para o planejamento central da União Soviética era o fato de grande parte de suas colheitas ser oriunda de terras privadas que representavam apenas pequena fração das terras cultiváveis”.
Ainda que isso tudo seja evidente para muitos, reside, especialmente nos países mais atrasados, forte resquício da mentalidade contrária ao direito de propriedade privada. “Infelizmente”, diz Greenspan, “a noção de direito de propriedade ainda é fonte de conflitos, sobretudo em sociedades que questionam a moralidade da busca de lucro”. O direito de propriedade “não é defensável em sociedades que ainda mantenham qualquer resíduo significativo do conceito marxista de que propriedade é ‘roubo’”. Greenspan conclui de forma objetiva: “A premissa do direito de propriedade e da legalidade de sua transferência deve estar profundamente imbuída na cultura da sociedade para o funcionamento eficaz das economias de livre mercado”.
O império da lei e o direito de propriedade são, portanto, os pilares institucionais mais importantes do crescimento econômico e da prosperidade, segundo Greenspan. No entanto, não são os únicos. Sociedades que buscam resultados “mágicos” instantâneos acabam hipotecando o futuro, e não raro padecem de inflação e de estagflação. “As economias dessas sociedades tendem a gerar grandes déficits orçamentários públicos, financiados com a moeda fiduciária das impressoras”, alerta Greenspan. “Muitos países da América Latina são sobremodo propensos a essa ‘doença’ populista”.
A flexibilidade econômica é outro item de extrema relevância. A flexibilidade da economia a torna mais resiliente a choques, sendo um importante fator macroeconômico do sucesso dos países. Greenspan diz: “Para desenvolver flexibilidade, os mercados competitivos devem ser livres para promover seus próprios ajustes, ou seja, os participantes do mercado devem ter liberdade para alocar a propriedade da maneira que lhes parecer mais adequada”.
A confiança é outra característica indispensável para o desenvolvimento. Greenspan lembra que “se mais do que pequena fração dos contratos em aberto fossem submetidos à apreciação do Judiciário, os tribunais ficariam abarrotados de processos, comprometendo o próprio império da lei”. A vasta maioria das transações ocorre de forma voluntária, o que pressupõe, por necessidade, “confiança na palavra das pessoas com que se fazem negócios, que, na maioria das vezes, são estranhas”. O capitalismo é impessoal, abrange todos os participantes que desejam participar dessas trocas voluntárias, e por isso a confiança mútua é tão fundamental. Essa confiança nasce do interesse próprio, pois as transações comerciais seriam praticamente impossíveis sem essa cultura nos negócios. “Nos sistemas de mercado baseados na confiança”, diz Greenspan, “a reputação terá valor econômico significativo”. As leis podem regular uma pequena fração das atividades cotidianas realizadas nos mercados, mas a reputação e a confiança dela decorrente são os “atributos essenciais do capitalismo de mercado”. A regulamentação do governo não pode substituir a integridade individual, e essa conclusão veio de alguém que foi regulador das atividades bancárias durante mais de 18 anos. A vigilância das partes envolvidas, ou seja, a auto-regulação do mercado é a “mais eficaz linha de defesa contra a fraude e a insolvência”.
Greenspan derruba o mito da riqueza como conseqüência dos recursos naturais. “A riqueza fácil, não porfiada, tende a comprometer a produtividade”, explica. A “destruição criativa”, ou seja, “o sucateamento das velhas tecnologias e das velhas maneiras de fazer as coisas para ceder espaço ao novo”, é a “única maneira de aumentar a produtividade e, portanto, de elevar o padrão de vida de maneira duradoura”. Greenspan diz: “A descoberta de ouro, de petróleo ou de outros recursos naturais, a história nos ensina, não produz o mesmo efeito”. Na tentativa do governo de “proteger” parcelas de suas populações contra essas pressões competitivas, “a conseqüência é padrão de vida material mais baixo para o povo”. Para Greenspan, não há dúvida de que “as restrições à liberdade de ação, essência da regulamentação das atividades de negócios pelo governo, ou a alta tributação de empreendimentos bem sucedidos inibe a disposição para o empreendedorismo por parte dos participantes do mercado”.
Além disso, o excesso de regulamentação é uma causa importante da corrupção: “Em geral, a corrupção se torna provável sempre que o governo tem favores a conceder ou algo a vender”. Por outro lado, “quanto maior for a liberdade econômica, maior será o escopo para o risco do negócio e sua recompensa, o lucro, e, portanto, maior também será a propensão para assumir riscos”. O mercado de trabalho deve ser bem flexível também, facilitando contratações e demissões, sem monopólios sindicais obtendo privilégios na marra, aliados ao governo.
Em resumo, Greenspan explica de forma sucinta os pilares do capitalismo de livre mercado, que tanto progresso material trouxe à humanidade, tirando milhões da miséria. Muitos dos pontos levantados por ele já são conhecidos desde Adam Smith, com seu A Riqueza das Nações, de 1776. Infelizmente, não são poucos aqueles que preferem ignorar estas fundamentais lições econômicas e abraçar o marxismo. O resultado, como não poderia deixar de ser, é muita miséria.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
A Crise da Europa
Rodrigo Constantino
"Nas circunstâncias, um declínio lento e gradual parece mais provável do que um grande colapso." (Walter Laqueur)
O continente europeu tem sido o berço e a locomotiva da civilização por vários séculos. Dali saíram os principais pilares do mundo Ocidental. No entanto, vários problemas sérios, culturais e econômicos, têm ameaçado esta liderança. A Europa vem perdendo força no cenário mundial, e podemos estar diante do começo de seu declínio. Eis a tese defendida pelo historiador Walter Laqueur no livro Os Últimos Dias da Europa, cujo título já deixa evidente o teor pessimista da mensagem. O autor lembra que a história está cheia de casos de países e impérios que desapareceram ou perderam sua hegemonia. A Europa não está livre dessa ameaça, e pode acabar se transformando num grande museu. O alarmismo quanto a esta possibilidade para a Europa não é infundado.
O foco de Laqueur foi o aspecto cultural, ainda que ele tenha citado o problema econômico, que merecia uma atenção maior, em minha opinião. Ele dissecou a questão da imigração nos diferentes países europeus, mostrando como este fator representa um enorme risco devido a suas peculiaridades no caso da Europa. A imigração sempre existiu, mas existem diferenças para o que se passa atualmente. Em primeiro lugar, os imigrantes se esforçavam para se integrar social e culturalmente. Havia uma elevada taxa de casamento entre pessoas de nacionalidades distintas. Atualmente, muitos imigrantes vivem à margem da sociedade na Europa, sem um esforço claro de integração. Em segundo lugar, ninguém os ajudava, não havia assistentes sociais nem governos oferecendo moradia subsidiada, serviços médicos gratuitos e todo tipo de programa de "discriminação positiva", como ocorre hoje. O imigrante tinha que se virar sozinho. Isso estimulava a procura por trabalhos produtivos e não gerava ressentimento nos cidadãos locais. No modelo de welfare state, o pagador de impostos acaba alimentando um sentimento de rancor por ser obrigado a sustentar milhões de imigrantes que, muitas vezes, nem mesmo abraçam os valores culturais do país. O modelo está induzindo a um parasitismo social. A taxa de desemprego já chega a 40% para jovens imigrantes em alguns locais. O autor conclui: "Se há mais xenofobia agora, isso talvez se deva em parte à reação da classe trabalhadora branca contra o tratamento preferencial que costuma se dar aos novos imigrantes".
Fora isso, a grande maioria de imigrantes é formada por muçulmanos, e a religião pode se tornar um entrave na adaptação, principalmente para os mais ortodoxos. Para piorar a situação, o terrorismo, associado muitas vezes ao islamismo, é um problema. "Se houve uma animosidade crescente para com os muçulmanos na Europa em anos recentes", diz o autor, "não foi em resposta à religião deles per se, mas devido ao fato de que a maioria dos ataques terroristas foi realizada por muçulmanos". Uma retórica antiocidental constante por parte de muitos desses imigrantes muçulmanos e a ênfase na necessidade da jihad certamente não ajudam. Existe uma postura muitas vezes hostil por parte desses próprios imigrantes. Laqueur afirma que "existe consideravelmente mais fobia com referência aos ocidentais e às coisas do Ocidente do que islãfobia". O fato de a Europa ter se tornado um gigantesco lar seguro para os terroristas tampouco ajuda. Várias células terroristas surgiram em diferentes países europeus, muitas vezes sob o excesso de complacência das autoridades, e muitos terroristas chegaram a viver anos à custa da assistência social. Para o autor, "a imigração descontrolada não foi a única razão do declínio da Europa". Entretanto, "considerada junto com outras desgraças continentais, ela remete a uma crise profunda; será preciso um milagre para tirar a Europa desses apuros".
Um dos assuntos que mais recebeu a atenção do autor foi o aspecto demográfico. A taxa de natalidade na Europa está caindo faz tempo. A população mundial em 1900 girava em torno de 1,7 bilhão de pessoas, das quais uma em cada quatro morava na Europa. As estimativas existentes para os próximos anos são sombrias. As Nações Unidas estimam que a população da Alemanha irá cair de 82 milhões hoje para 61 milhões em 2050. Os 57 milhões de italianos passarão a apenas 37 milhões no meio do século. Praticamente nenhum país importante da Europa escapa deste destino preocupante. Além disso, as pessoas estão vivendo cada vez mais, ou seja, a população está envelhecendo rapidamente. Pela primeira vez na história, existem mais pessoas acima dos 60 anos do que abaixo dos 20 em países importantes como Itália, Alemanha, Espanha e Grécia. Laqueur lembra: "Quando o Estado do Bem-Estar Social foi inicialmente implantado após a Segunda Guerra Mundial, a estrutura populacional das sociedades européias era muito diversa da de hoje; além disso, a expectativa de vida aumentou consideravelmente e continuará aumentando". Há uma bomba-relógio pronta para detonar.
A parte econômica é justamente a que mereceu pouca atenção do autor. Os principais países da Europa possuem uma elevada dívida pública, um passivo previdenciário crescente e uma carga tributária que já absorve praticamente a metade do PIB. Uma rara exceção é a Irlanda, que fez inúmeras reformas liberais e apresenta um quadro bem mais confortável. Para os demais países, reformas que cortem as despesas estatais são uma necessidade, mas encontram forte resistência por parte dos grupos organizados, que não desejam abrir mão dos privilégios. Juntando os problemas provenientes da tensão cultural causada pela imigração descontrolada, a demografia desfavorável e o excesso de governo atravancando a economia, o cenário para o futuro europeu não é dos melhores. Se nada significativo se alterar neste curso, poderemos presenciar, nesse século ainda, o declínio da Europa. Somente o tempo vai dizer se essas previsões mais pessimistas irão mesmo se concretizar. Mas os riscos existem e não podem ser minimizados. A Europa está em crise.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
domingo, dezembro 16, 2007
Um Século de Hipocrisia
Rodrigo Constantino
“É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar - bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês. Trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola...” (Roberto Campos)
O arquiteto Oscar Niemeyer completou um século de vida sob grande reverência da mídia. Ele foi tratado como “gênio” e um “orgulho nacional”, respeitado no mundo todo. Não vem ao caso julgar suas obras em si, em primeiro lugar porque não sou arquiteto e não seria capaz de fazer uma análise técnica, e em segundo lugar porque isso é irrelevante para o que pretendo aqui tratar. Entendo perfeitamente que podemos separar as obras do seu autor, e julgá-los independentemente. Alguém pode detestar a pessoa em si, mas respeitar seu trabalho. O problema é que vejo justamente uma grande confusão no caso de Niemeyer e tantos outros “artistas e intelectuais”. O que acaba sendo admirado, quando não idolatrado, é a própria pessoa. E, enquanto figura humana, não há nada admirável num sujeito que defendeu o comunismo a vida inteira.
Niemeyer, sejamos bem francos, não passa de um hipócrita. Seus inúmeros trabalhos realizados para governos, principalmente o de JK, lhe renderam uma bela fortuna. O arquiteto mamou e muito nas tetas estatais, tornando-se um homem bem rico. No entanto, ele insiste em pregar, da boca para fora, o regime comunista, a “igualdade” material entre todos. Não consta nas minhas informações que ele tenha doado sua fortuna para os pobres. Enquanto isso, o capitalista “egoísta” Bill Gates já doou vários bilhões à caridade. Além disso, a “igualdade” pregada por Niemeyer é aquela existente em Cuba, cuja ditadura cruel o arquiteto até hoje defende. Gostaria de entender como alguém que defende Fidel Castro, o maior genocida da América Latina, pode ser uma figura respeitável enquanto ser humano. São coisas completamente contraditórias e impossíveis de se conciliar. Mostre-me alguém que admira Fidel Castro e eu lhe garanto se tratar ou de um perfeito idiota ou de um grande safado. E vamos combinar que a ignorância é cada vez menos possível como desculpa para defender algo tão nefasto como o regime cubano, restando apenas a opção da falta de caráter mesmo. Ainda mais no caso de Niemeyer.
Na prática, Niemeyer é um capitalista, não um comunista. Mas um capitalista da pior espécie: o que usa a retórica socialista para enganar os otários. Sua festa do centenário ocorreu em São Conrado, bairro de luxo no Rio, para 400 convidados. Bem ao lado, vivem os milhares de favelados da Rocinha. Artistas de esquerda são assim mesmo: adoram os pobres, de preferência bem longe. Outro aclamado artista socialista é Chico Buarque, mais um que admira Cuba bem de longe, de sua mansão. E cobra caro em seus shows, mantendo os pobres bem afastados de seus eventos. A definição de socialista feita por Roberto Campos nos remete diretamente a estes artistas: “No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros”.
Aquelas pessoas que realmente são admiráveis, como tantos empresários que criam riqueza através de inovações que beneficiam as massas, acabam vítima da inveja esquerdista. O sujeito que ficou rico porque montou um negócio, gerou empregos e criou valor para o mercado, reconhecido através de trocas voluntárias, é tachado de “egoísta”, “insensível” ou mesmo “explorador” por aqueles mordidos pela mosca marxista. Mas quando o ricaço é algum hipócrita que prega aos quatro ventos as “maravilhas” do socialismo, vivendo no maior luxo que apenas o capitalismo pode propiciar, então ele é ovacionado por uma legião de perfeitos idiotas, de preferência se boa parte de sua fortuna for fruto de relações simbióticas com o governo. Em resumo, os esquerdistas costumam invejar aquele que deveria ser admirado, e admirar aquele que deveria ser execrado. É muita inversão de valores!
Recentemente, mais três cubanos fugiram da ilha-presídio de Fidel Castro. Eles eram artistas, como o cantor Chico Buarque, por exemplo. Aproveitaram a oportunidade e abandonaram o “paraíso” comunista, que faz até o Brasil parecer um lugar decente. Eu gostaria de aproveitar a ocasião para fazer uma proposta: trocar esses três “fugitivos” que buscam a liberdade por Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Luiz Fernando Verissimo, três adorados artistas brasileiros, defensores do modelo cubano. Claro que não seria uma troca compulsória, pois estas coisas autoritárias eu deixo com os comunistas, que abominam a liberdade individual. A proposta é uma sugestão, na verdade. Acho que esses três comunistas mostrariam ao mundo que colocam suas ações onde estão suas palavras, provando que realmente admiram Cuba. Verissimo recentemente chegou a escrever um artigo defendendo Zapata e Che Guevara. Não seria maravilhoso ele demonstrar a todos como de fato adora o resultado dos ideais dessas pitorescas figuras?
Enfim, Niemeyer completa cem anos de vida. Um centenário defendendo atrocidades, com incrível incapacidade de mudar as crenças diante dos fatos. O que alguém como Niemeyer tem para ser admirado, enquanto pessoa? Os “heróis” dos brasileiros me dão calafrios! Eu só lamento, nessas horas, não acreditar em inferno. Creio que nada seria mais justo para um Niemeyer quando batesse as botas do que ter de viver eternamente num lugar como Cuba, a visão perfeita de um inferno, muito mais que a de Dante. E claro, sem ser amigo do diabo, pois uma coisa é viver em Cuba fazendo parte da nomenklatura de Fidel, com direito a casas luxuosas e Mercedes na garagem, e outra completamente diferente é ser um pobre coitado qualquer lá. Acredito que esse seria um castigo merecido para este defensor de Cuba, que completa um século de hipocrisia sendo idolatrado pelos idiotas.
sábado, dezembro 15, 2007
A Tolerância Religiosa e o Estado Laico
Rodrigo Constantino
“Ninguém, nem um indivíduo, nem igrejas, não!, nem mesmo comunidades têm algum título apropriado para invadir os direitos civis e os bens terrenos dos outros, sob a desculpa da religião.” (John Locke)
Durante seu exílio na Holanda, John Locke escreveu em latim a sua Epistola de Tolerantia, que foi traduzida e publicada anonimamente em 1689 na Inglaterra, sob o título de A Letter Concerning Toleration. Nesta carta, Locke defende a liberdade religiosa em amplo sentido, e propõe a separação total dos poderes político e religioso. Para a época, onde pessoas ainda podiam ser queimadas por causa da crença religiosa, tais idéias eram revolucionárias. Locke considerava que as guerras, torturas e execuções, em nome da religião, eram na verdade culpa da intervenção indevida de crenças religiosas no mundo político, e não do cristianismo em si. O alvo principal de Locke, portanto, era a Igreja Católica Romana, que não aceitava a separação dos poderes religioso e civil de forma alguma. Muito daquilo defendido por Locke na carta tornou-se lugar-comum, e hoje é aceito sem dificuldades. No entanto, ainda restam resquícios fortes de uma intolerância religiosa e de uma mistura perversa entre os diferentes poderes mundanos e divinos. Neste sentido é que se torna útil rever os principais argumentos do filósofo.
Para Locke, a comunidade é “uma sociedade de homens, constituída somente para que estes obtenham, preservem e aumentem seus próprios interesses civis. Por interesse civil, ele entendia a vida, a liberdade e a salva-guarda do corpo e a posse de bens externos. O magistrado civil, portanto, tem como dever assegurar a cada um dos indivíduos a posse justa desses bens, através da execução imparcial de leis equânimes. As questões ligadas à fé, portanto, não dizem respeito ao magistrado. Ou seja, “o cuidado das almas não está sob responsabilidade do magistrado civil”. Ninguém pode ser compelido à crença numa coisa qualquer por meio de força externa. O religioso deve usar como arma a persuasão dos argumentos, nunca a espada. Em resumo, “todo poder do governo civil relaciona-se apenas com os interesses civis dos homens, está limitado aos cuidados com as coisas deste mundo e não tem nada a ver com o mundo que virá depois”.
Uma igreja é uma sociedade de membros voluntariamente ligados para um fim comum, que está voltado para questões da alma. Locke encara tais associações livres como qualquer outro tipo de união voluntária, e, por isso, suas regras são de caráter interno, aderindo quem quer. Por outro lado, “nenhuma igreja é obrigada pelo dever da tolerância a manter em seu seio qualquer pessoa que, depois de continuadas admoestações, ofenda obstinadamente as leis da sociedade”. Este outro lado da moeda tem sido ignorado com certa freqüência atualmente. Entra para uma determinada igreja quem quer, e ela, em contrapartida, possui suas próprias regras. Isso quer dizer que o governo civil não tem direito de invadir tais associações, contanto que suas regras não firam os princípios básicos civis, da vida, liberdade e propriedade. Locke é claro neste ponto: “Este é o direito fundamental e inextirpável de uma sociedade espontânea, o de expulsar quaisquer de seus membros que transgridam as regras da instituição, sem, no entanto, adquirir, pela admissão de novos membros, qualquer direito de jurisdição sobre os que não fazem parte dela”. Como exemplo atual, podemos pensar na pressão para que a Igreja Católica aceite o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, o que significa uma invasão absurda das liberdades da própria igreja.
Muitos confundem tolerância com aceitação, mas estão errados. O próprio Locke defende a tolerância com base no princípio grego de indiferença, ou seja, não se faz necessário aceitar como legítima ou verdadeira a crença alheia, bastando tolerar os diferentes cultos. Uma igreja não deve ser forçada a aceitar certos grupos por imposição do governo. Ninguém deve ser obrigado a respeitar uma crença que considera estúpida ou falsa. Os diferentes grupos devem se tolerar mutuamente, e só. Se a religião não deve invadir o campo do magistrado civil, muitos esquecem que o contrário também é verdadeiro. O Estado laico é uma avenida de mão dupla. Os regimes comunistas foram um bom exemplo dessa confusão nefasta. O Estado estabelecido por eles não era laico, mas anti-religioso. Não havia tolerância alguma, mas sim perseguições religiosas. A carta de Locke não defende em momento algum a substituição do poder religioso pelo civil, e sim sua divisão. Um dos grandes males da modernidade foi, sem dúvida, a substituição do Deus religioso pelo Deus Estado. Há claros limites para o poder estatal, sob risco de exterminar a liberdade individual caso sejam avançados estes limites.
A tolerância religiosa exige que cultos diferentes convivam entre si. Cada um terá “certeza” de que está com a verdade ao seu lado, que conhece o único caminho da salvação, mas é crucial que as escolhas dos demais sejam toleradas. O pecado, apenas por ser pecado, nunca deve ser punido pelo magistrado. Locke diz: “Mesmo os pecados da mentira e do perjúrio em nenhum lugar são puníveis pelas leis, exceto nos casos em que a verdadeira baixeza da coisa e a ofensa contra Deus não são consideradas, mas somente a injúria cometida contra os vizinhos e contra a comunidade”. Os crentes de cada seita costumam encontrar bastante dificuldade para compreender que blasfêmia e heresia são conceitos restritos somente à sua fé particular. Para quem não comunga da mesma fé, não faz sentido algum falar em blasfêmia, pois não há crença de que se trata de algo sagrado. A reação que charges satíricas do profeta Maomé num jornal dinamarquês causaram, denota esta intolerância ainda existente, especialmente no Islã. Quando Salman Rushdie escreveu Os Versos Satânicos, um romance que critica a religião muçulmana, ele foi condenado à morte pelo aiatolá Khomeini. Um caso evidente de completa intolerância religiosa e mistura da religião com o governo.
Por mais que uma seita esteja completamente certa de que a verdade está ao seu lado, jamais deve buscar o uso da força para fazer valer tal crença. Segundo Locke, “o objetivo das leis não é prover a verdade das opiniões, porém a segurança e integridade da comunidade, e a pessoa e as posses de cada homem em particular”. A verdade deve prevalecer através do convencimento pacífico. Locke entende que, “se a verdade não penetra no entendimento por sua própria luz, ela será ainda mais fraca por qualquer força emprestada que a violência pode lhe adicionar”.
Cabe destacar que a tolerância de Locke tinha certos limites, o que deve ser colocado em contexto, já que sua época era de extrema intolerância. Para ele, “não podem ser tolerados aqueles que negam a existência de Deus”. Ele argumenta da seguinte forma: “As promessas, os pactos e os juramentos que formam as ligaduras da sociedade humana não podem ter valor para um ateísta”. Tal como para Dostoievsky depois, Locke acreditava que “a retirada de Deus, mesmo que só em pensamento, a tudo dissolve”. O problema com esta postura é que ela é totalmente especulativa, e parte de uma crença subjetiva que é extrapolada. Em outras palavras, não passa de um preconceito. Vários ateus ou agnósticos vivem de forma adequada no que diz respeito ao convívio social, isto é, não agridem as liberdades alheias. Para Locke, isso podia não parecer possível, mas a verdade é que a experiência nos prova o contrário. Neste caso, creio que Humboldt estava certo: “A moralidade humana, até mesmo a mais elevada e substancial, não é de modo algum dependente da religião, ou necessariamente vinculada a ela”. Mas talvez fosse injusto exigir de Locke, em pleno século XVII, que até os ateus fossem tolerados. Ele já estava à frente do seu tempo o suficiente sem chegar a tanto.
Por fim, vale mencionar apenas uma importante restrição à tolerância: aquela com os intolerantes. Para Locke, “aqueles que, sob o pretexto da religião, desafiam qualquer tipo de autoridade que não esteja associada a eles em sua comunhão eclesiástica, desses eu digo que não têm o direito de ser tolerados pelo magistrado, assim como não podem ser tolerados aqueles que não aceitam e não ensinam o dever de tolerar os homens em assuntos de mera religião”. É impossível ler esse trecho e não se lembrar do fanatismo islâmico atual, onde muitos pregam um jihad – ou guerra santa – contra os “infiéis”. Creio que Karl Popper resumiu de forma brilhante esse limite da tolerância: “Não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”.
Espero que a mensagem de Locke, disseminada há mais de três séculos, ainda possa ser mais bem compreendida e assimilada pelas pessoas. O mundo seria um lugar muito melhor se houvesse ampla tolerância religiosa, inclusive com os ateus, e se os poderes do governo e da religião fossem de fato completamente separados. Desde Locke, muito se conquistou nesse sentido. Mas ainda resta um longo caminho pela frente.
“Ninguém, nem um indivíduo, nem igrejas, não!, nem mesmo comunidades têm algum título apropriado para invadir os direitos civis e os bens terrenos dos outros, sob a desculpa da religião.” (John Locke)
Durante seu exílio na Holanda, John Locke escreveu em latim a sua Epistola de Tolerantia, que foi traduzida e publicada anonimamente em 1689 na Inglaterra, sob o título de A Letter Concerning Toleration. Nesta carta, Locke defende a liberdade religiosa em amplo sentido, e propõe a separação total dos poderes político e religioso. Para a época, onde pessoas ainda podiam ser queimadas por causa da crença religiosa, tais idéias eram revolucionárias. Locke considerava que as guerras, torturas e execuções, em nome da religião, eram na verdade culpa da intervenção indevida de crenças religiosas no mundo político, e não do cristianismo em si. O alvo principal de Locke, portanto, era a Igreja Católica Romana, que não aceitava a separação dos poderes religioso e civil de forma alguma. Muito daquilo defendido por Locke na carta tornou-se lugar-comum, e hoje é aceito sem dificuldades. No entanto, ainda restam resquícios fortes de uma intolerância religiosa e de uma mistura perversa entre os diferentes poderes mundanos e divinos. Neste sentido é que se torna útil rever os principais argumentos do filósofo.
Para Locke, a comunidade é “uma sociedade de homens, constituída somente para que estes obtenham, preservem e aumentem seus próprios interesses civis. Por interesse civil, ele entendia a vida, a liberdade e a salva-guarda do corpo e a posse de bens externos. O magistrado civil, portanto, tem como dever assegurar a cada um dos indivíduos a posse justa desses bens, através da execução imparcial de leis equânimes. As questões ligadas à fé, portanto, não dizem respeito ao magistrado. Ou seja, “o cuidado das almas não está sob responsabilidade do magistrado civil”. Ninguém pode ser compelido à crença numa coisa qualquer por meio de força externa. O religioso deve usar como arma a persuasão dos argumentos, nunca a espada. Em resumo, “todo poder do governo civil relaciona-se apenas com os interesses civis dos homens, está limitado aos cuidados com as coisas deste mundo e não tem nada a ver com o mundo que virá depois”.
Uma igreja é uma sociedade de membros voluntariamente ligados para um fim comum, que está voltado para questões da alma. Locke encara tais associações livres como qualquer outro tipo de união voluntária, e, por isso, suas regras são de caráter interno, aderindo quem quer. Por outro lado, “nenhuma igreja é obrigada pelo dever da tolerância a manter em seu seio qualquer pessoa que, depois de continuadas admoestações, ofenda obstinadamente as leis da sociedade”. Este outro lado da moeda tem sido ignorado com certa freqüência atualmente. Entra para uma determinada igreja quem quer, e ela, em contrapartida, possui suas próprias regras. Isso quer dizer que o governo civil não tem direito de invadir tais associações, contanto que suas regras não firam os princípios básicos civis, da vida, liberdade e propriedade. Locke é claro neste ponto: “Este é o direito fundamental e inextirpável de uma sociedade espontânea, o de expulsar quaisquer de seus membros que transgridam as regras da instituição, sem, no entanto, adquirir, pela admissão de novos membros, qualquer direito de jurisdição sobre os que não fazem parte dela”. Como exemplo atual, podemos pensar na pressão para que a Igreja Católica aceite o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, o que significa uma invasão absurda das liberdades da própria igreja.
Muitos confundem tolerância com aceitação, mas estão errados. O próprio Locke defende a tolerância com base no princípio grego de indiferença, ou seja, não se faz necessário aceitar como legítima ou verdadeira a crença alheia, bastando tolerar os diferentes cultos. Uma igreja não deve ser forçada a aceitar certos grupos por imposição do governo. Ninguém deve ser obrigado a respeitar uma crença que considera estúpida ou falsa. Os diferentes grupos devem se tolerar mutuamente, e só. Se a religião não deve invadir o campo do magistrado civil, muitos esquecem que o contrário também é verdadeiro. O Estado laico é uma avenida de mão dupla. Os regimes comunistas foram um bom exemplo dessa confusão nefasta. O Estado estabelecido por eles não era laico, mas anti-religioso. Não havia tolerância alguma, mas sim perseguições religiosas. A carta de Locke não defende em momento algum a substituição do poder religioso pelo civil, e sim sua divisão. Um dos grandes males da modernidade foi, sem dúvida, a substituição do Deus religioso pelo Deus Estado. Há claros limites para o poder estatal, sob risco de exterminar a liberdade individual caso sejam avançados estes limites.
A tolerância religiosa exige que cultos diferentes convivam entre si. Cada um terá “certeza” de que está com a verdade ao seu lado, que conhece o único caminho da salvação, mas é crucial que as escolhas dos demais sejam toleradas. O pecado, apenas por ser pecado, nunca deve ser punido pelo magistrado. Locke diz: “Mesmo os pecados da mentira e do perjúrio em nenhum lugar são puníveis pelas leis, exceto nos casos em que a verdadeira baixeza da coisa e a ofensa contra Deus não são consideradas, mas somente a injúria cometida contra os vizinhos e contra a comunidade”. Os crentes de cada seita costumam encontrar bastante dificuldade para compreender que blasfêmia e heresia são conceitos restritos somente à sua fé particular. Para quem não comunga da mesma fé, não faz sentido algum falar em blasfêmia, pois não há crença de que se trata de algo sagrado. A reação que charges satíricas do profeta Maomé num jornal dinamarquês causaram, denota esta intolerância ainda existente, especialmente no Islã. Quando Salman Rushdie escreveu Os Versos Satânicos, um romance que critica a religião muçulmana, ele foi condenado à morte pelo aiatolá Khomeini. Um caso evidente de completa intolerância religiosa e mistura da religião com o governo.
Por mais que uma seita esteja completamente certa de que a verdade está ao seu lado, jamais deve buscar o uso da força para fazer valer tal crença. Segundo Locke, “o objetivo das leis não é prover a verdade das opiniões, porém a segurança e integridade da comunidade, e a pessoa e as posses de cada homem em particular”. A verdade deve prevalecer através do convencimento pacífico. Locke entende que, “se a verdade não penetra no entendimento por sua própria luz, ela será ainda mais fraca por qualquer força emprestada que a violência pode lhe adicionar”.
Cabe destacar que a tolerância de Locke tinha certos limites, o que deve ser colocado em contexto, já que sua época era de extrema intolerância. Para ele, “não podem ser tolerados aqueles que negam a existência de Deus”. Ele argumenta da seguinte forma: “As promessas, os pactos e os juramentos que formam as ligaduras da sociedade humana não podem ter valor para um ateísta”. Tal como para Dostoievsky depois, Locke acreditava que “a retirada de Deus, mesmo que só em pensamento, a tudo dissolve”. O problema com esta postura é que ela é totalmente especulativa, e parte de uma crença subjetiva que é extrapolada. Em outras palavras, não passa de um preconceito. Vários ateus ou agnósticos vivem de forma adequada no que diz respeito ao convívio social, isto é, não agridem as liberdades alheias. Para Locke, isso podia não parecer possível, mas a verdade é que a experiência nos prova o contrário. Neste caso, creio que Humboldt estava certo: “A moralidade humana, até mesmo a mais elevada e substancial, não é de modo algum dependente da religião, ou necessariamente vinculada a ela”. Mas talvez fosse injusto exigir de Locke, em pleno século XVII, que até os ateus fossem tolerados. Ele já estava à frente do seu tempo o suficiente sem chegar a tanto.
Por fim, vale mencionar apenas uma importante restrição à tolerância: aquela com os intolerantes. Para Locke, “aqueles que, sob o pretexto da religião, desafiam qualquer tipo de autoridade que não esteja associada a eles em sua comunhão eclesiástica, desses eu digo que não têm o direito de ser tolerados pelo magistrado, assim como não podem ser tolerados aqueles que não aceitam e não ensinam o dever de tolerar os homens em assuntos de mera religião”. É impossível ler esse trecho e não se lembrar do fanatismo islâmico atual, onde muitos pregam um jihad – ou guerra santa – contra os “infiéis”. Creio que Karl Popper resumiu de forma brilhante esse limite da tolerância: “Não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”.
Espero que a mensagem de Locke, disseminada há mais de três séculos, ainda possa ser mais bem compreendida e assimilada pelas pessoas. O mundo seria um lugar muito melhor se houvesse ampla tolerância religiosa, inclusive com os ateus, e se os poderes do governo e da religião fossem de fato completamente separados. Desde Locke, muito se conquistou nesse sentido. Mas ainda resta um longo caminho pela frente.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
A Estupidez é Infinita!
Rodrigo Constantino
"Ignorância é não saber de algo; estupidez é não admitir sua ignorância." (Daniel Turov)
Essas estultices não são novidade. No passado, representantes de seis centrais sindicais lançaram uma campanha conjunta pela redução da jornada de trabalho, obviamente sem a redução dos salários, assim como pediram o fim das horas extras. Governos socialistas, como o do francês Jospin, já se aventuraram nestas águas turvas, apenas para verem resultados catastróficos, perda de competitividade e aumento da informalidade. Se as leis naturais de oferta e demanda pudessem ser "consertadas" com papel e caneta estatal, não haveria povo miserável nesse mundo. Bastava decretar a riqueza geral.
Os sindicalistas afirmam que tal medida iria gerar quase três milhões de empregos no país, mas como todo socialista, suas aparentes nobres intenções são inversamente proporcionais à lógica e realidade. Além disso, partem da rudimentar visão de riqueza estática, sendo necessário portanto apenas repartir de forma mais "eqüitativa" o que já existe. Toma-se a força o rendimento dos que estão empregados e gerando riqueza, e de forma compulsória distribuem para os demais. Nada mais arbitrário, injusto, e ineficiente. Tirar os bilhões de Bill Gates e Warren Buffett e distribuir, além de não ser justo, não cria riqueza, mas apenas dois novos miseráveis. Esquerdistas nunca souberam como se cria riqueza. A vida toda eles pensam apenas em tirar riqueza dos outros. É a ideologia da extorsão!
Com uma lei dessas, ficaria praticamente vetado ser ambicioso, almejar crescer profissionalmente, subir na vida. O empregado dedicado, que acredita no seu esforço pessoal e pretende se sacrificar no curto prazo para colher os frutos no futuro, sairia fortemente prejudicado. Não mais poderia trabalhar horas extras, objetivando ganhos extras também. Teria que se contentar, por determinação de burocratas, com o número de horas arbitrariamente escolhidas pelo governo. E o empregador então, teria que não só empregar mais pessoas contra sua vontade e lógica econômica, como ficaria obrigado a manter os mesmos salários por menos horas trabalhadas. Por decreto, o governo tentaria alterar toda a lei econômica, gerando resultados absurdos, e colocando a nação em evidente desvantagem competitiva frente aos outros países mais liberais. Ataca-se o problema do desemprego e desigualdade penalizando o bem sucedido, tornando todos igualmente fracassados. É a idealização da inveja!
O "argumento" usado por Pochman – aquele que afastou Fábio Giambiagi do IPEA por motivos ideológicos – é o acúmulo de capital pelo sistema financeiro internacional, que ele chama de "produtividade imaterial". Para ele, essa produtividade justifica a razão pela qual não há, do ponto de vista técnico, motivo para alguém trabalhar mais do que essas quatro horas diárias, três dias na semana. E atenção: isso veio daquele que deveria pensar no longo prazo da nossa economia! Talvez ele tenha em mente a máxima de Keynes, de que "no longo prazo estaremos todos mortos". Ele deve estar apenas tentando antecipar este longo prazo, para matar todos logo de uma vez, na completa miséria.
A estupidez não é monopólio tupiniquim, ainda que por estas bandas a doença assuma ares de epidemia. O filósofo Bertrand Russell, em sua pior fase, defendeu idéia parecida em O Elogio ao Ócio. Ao longo da exposição de suas idéias no livro, Russell não consegue mais esconder seu viés autoritário, e reitera a necessidade da jornada de trabalho de quatro horas como forma de fazer com que o ócio possa ser desfrutado por todos. As pessoas trabalhariam apenas o suficiente para as necessidades básicas, seja lá quem define isso, e depois estariam "livres" para aproveitar o "real" valor da vida, definido pelo próprio filósofo. Um sujeito que trabalha mais de dez horas diárias pois assim optou, objetivando a recompensa desse esforço, estaria abolido do mundo de Russell. Ele estaria ameaçando o emprego de outros. Um egoísta! É a morte da meritocracia, em nome da igualdade na mediocridade compulsória. É o fim da escolha livre individual. É a escravidão pura e simples, resultado inevitável do comunismo, que o autor defende abertamente na obra: "No conjunto, estou de acordo com o propósito dos comunistas; meus desacordos se dão mais com relação aos meios do que com os fins". Parece que o ócio, que Russell tanto elogia, não lhe fez muito bem. Ele abraçou os ideais comunistas. É a ideologia dos vagabundos!
Como fica claro, a estupidez não é uma exclusividade de Pochmann. Pessoas com renome internacional já foram acometidas por este mal. Mas creio que devemos dar o benefício da dúvida a Pochmann. Talvez ele não seja estúpido, e esteja defendendo uma idéia estúpida apenas por interesses particulares. Nesse caso, ele seria pérfido, mas não estúpido. Vai ver ele quer apenas que todos "trabalhem" tanto quanto ele e outros burocratas ligados ao PT. Assim, ele não ficaria tão mal na "foto". Num país onde todos são igualmente vagabundos, por imposição estatal, os vagabundos passam a ser vistos como sujeitos normais. Basta destruir todo o sucesso para que a mediocridade seja alçada ao pódio. Não sei qual o caso de Pochmann, se é a estupidez ou a safadeza. Mas eis a minha sugestão: reduzir para zero a carga horária de Pochmann e demais burocratas aliados do PT. Mesmo bancando os parasitas, sai mais barato mantê-los na praia do que "trabalhando". Vai que Pochmann apareça com uma idéia ainda mais brilhante que esta! Não vale a pena o risco...
terça-feira, dezembro 11, 2007
A Confissão do Papa
Rodrigo Constantino
Na sua segunda Encíclica, chamada Spe Salvi, o Papa Bento XVI ataca o ateísmo:
"O ateísmo dos séculos XIX e XX é, de acordo com as suas raízes e finalidade, um moralismo: um protesto contra as injustiças do mundo e da história universal. Um mundo, onde exista uma tal dimensão de injustiça, de sofrimento dos inocentes e de cinismo do poder, não pode ser a obra de um Deus bom. O Deus que tivesse a responsabilidade de um mundo assim, não seria um Deus justo e menos ainda um Deus bom. É em nome da moral que é preciso contestar este Deus. Visto que não há um Deus que cria justiça, parece que o próprio homem seja agora chamado a estabelecer a justiça. Se diante do sofrimento deste mundo o protesto contra Deus é compreensível, a pretensão de a humanidade poder e dever fazer aquilo que nenhum Deus faz nem é capaz de fazer, é presunçosa e intrinsecamente não verdadeira. Não é por acaso que desta premissa tenham resultado as maiores crueldades e violações da justiça, mas funda-se na falsidade intrínseca desta pretensão. Um mundo que deve criar a justiça por sua conta, é um mundo sem esperança. Nada e ninguém responde pelo sofrimento dos séculos. Nada e ninguém garante que o cinismo do poder – independentemente do revestimento ideológico sedutor com que se apresente – não continue a imperar no mundo."
De fato, é inegável que as revoluções ateístas ligadas ao socialismo causaram um estrago enorme. No entanto, não é justo jogar todos os ateus no mesmo saco podre do socialismo. As experiências socialistas não falharam por causa do seu ateísmo, mas porque eram irracionais, clamando contra a natureza humana, e indo na direção da servidão. Ateus ou agnósticos notaram isso e previram o caos que seria o socialismo, não pelo ateísmo, mas por sua inconsistência teórica e seu abandono da razão. O marxismo não tem nada de científico. É, no fundo, uma nova religião, sendo Marx o seu profeta. Somente com base na fé, na necessidade de crer, alguém consegue defender coisas tão absurdas e sem sentido. Se a religião é o ópio do povo, o socialismo é a cocaína! Ele fala através das emoções aos angustiados, desesperados, despreparados. As seitas que prometem o paraíso – sejam terrestres ou após a vida – costumam brilhar apenas na escuridão.
Ayn Rand, uma adepta do ateísmo e grande defensora da liberdade, por isso anti-socialista, já tinha previsto a desgraça do socialismo muito antes das pessoas descobrirem o fracasso que ele foi. Os pensadores da Escola Austríaca, como Mises e Hayek, ambos agnósticos, também condenaram o socialismo, não por conta do seu ateísmo, mas por sua irracionalidade. Não é preciso ser um crente para condenar o socialismo. Qualquer ateu com bom senso, que respeita a razão e a liberdade individual, abomina esta ideologia, que não passa de idealização da inveja. Por outro lado, várias crenças religiosas também geraram caos, destruição e miséria. O próprio catolicismo foi, durante muitos anos, uma poderosa arma política, e a Inquisição deixou profundas cicatrizes. Atualmente, vemos no Jihad muçulmano um movimento violento e irracional, em nome de Deus. A irracionalidade existe no mundo ateu e no mundo crente. Não é monopólio de nenhum grupo específico.
Mas um trecho do discurso do Papa merece destaque, pois se trata de uma confissão e tanto:
"Se diante do sofrimento deste mundo o protesto contra Deus é compreensível, a pretensão de a humanidade poder e dever fazer aquilo que nenhum Deus faz nem é capaz de fazer, é presunçosa e intrinsecamente não verdadeira".
O que Deus não é capaz de fazer? Essa pequena confissão nos remete diretamente ao que Epicuro já havia questionado milênios atrás:
"Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?"
Pois é. Eu não sei. Eu prefiro chamar esse "Deus" apenas de natureza, ou qualquer outro nome que não crie uma tremenda confusão com o Deus antropomórfico criado pelos homens, como o Deus cristão, que teria feito o homem à sua imagem e semelhança (um cavalo que pudesse pensar com certeza diria o mesmo, e seu Deus seria um grande cavalo poderoso). Pelo que ficou parecendo na Encíclica, o Papa Bento XVI também compartilha desse dilema. Deus, afinal de contas, não é capaz de muitas coisas!
Concordo que a pretensão humana de que podemos ser deuses e criar um paraíso terrestre, ainda mais concentrando poder, é arrogante e perigosa, o caminho da servidão e miséria. No entanto, não acho que todo ateu tem esta arrogância. Os liberais – muitos são ateus ou agnósticos – são humildes, e defendem a liberdade individual com a descentralização de poder, justamente para evitar estes riscos. Onde está a arrogância de um Hayek, por exemplo, que tanto condenou justamente a arrogância dos "iluminados"? Mas o homem pode sim melhorar o mundo, e continuamente se aproximar da justiça, não divina, mas terrestre. Ele pode, através da sua razão, questionar o que é justo de fato, e chegar a um código adequado de conduta, compatível com sua natureza, independente de alguma "revelação divina". O "não matarás" e o "não roubarás" são máximas justas, e não é preciso uma Bíblia para nos dizer isso. Por fim, há muitas coisas que o homem não tem como saber. A ignorância humana precisa ser reconhecida como ponto de partida. Mas não vejo motivo algum para ter que chamá-la de "Deus". E vejo, ao contrário do Papa, uma pretensão vinda justamente dos crentes, que juram já ter todas as respostas, contidas no "livro sagrado" através de uma "revelação". Isso me dá calafrios...
domingo, dezembro 09, 2007
A Lealdade de Lula
Texto mostrando como o presidente Lula é amoral, e faz qualquer coisa para manter o poder, mesmo passando por cima de princípios éticos. A lealdade, para Lula, é algo típico de esquemas mafiosos. Os elogios a José Sarney e o caso Renan Calheiros deixaram isso ainda mais evidente.
http://www.youtube.com/watch?v=KWgP6QzjExc
http://www.youtube.com/watch?v=KWgP6QzjExc
sexta-feira, dezembro 07, 2007
A Máscara da Inveja
Rodrigo Constantino
"A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem." (Adam Smith)
O escritor argentino Gonzalo Otálora causou polêmica ao defender a cobrança de impostos das pessoas consideradas mais belas para compensar o “sofrimento” daqueles que supostamente foram menos favorecidos pela natureza. O escritor disse que sua iniciativa tem o objetivo de provocar um debate sobre o culto à beleza. Com um megafone, ele foi à frente da Casa Rosada reclamar os “direitos” dos feios. Esperava contar com o apoio do então presidente Kirchner, a quem classifica como “pouco atraente”. Otálora alega que os deboches sofridos na infância prejudicaram sua auto-estima e atrapalharam na conquista de melhores empregos. Em sua opinião, um dos assuntos que deveriam ser debatidos é a representação de “todos os tipos de constituição física” nos desfiles de moda. A inveja é alçada ao patamar de justiça, e a mediocridade é enaltecida enquanto o superior é condenado por suas virtudes, e não vícios.
Ainda que as demandas do argentino feioso pareçam absurdas – e são, elas no fundo representam apenas os ideais igualitários levados ao extremo de sua coerência. No fundo, um igualitário deveria pregar a igualdade plena, abolindo qualquer tipo de diferença entre os indivíduos. Aquele igualitário que prega uma distribuição de riqueza igual entre os indivíduos precisa aplaudir o apelo do argentino sob pena de ser acusado de materialista, caso não o faça. Ora, ficaria evidente demais que ele só pensa em dinheiro! Por que todos deveriam ter uma renda igual, mas rostos diferentes, podendo se destacar pela beleza num desfile? Onde estaria a igualdade? Na verdade, os igualitários, ou socialistas, pregam a igualdade das contas bancárias, assumindo involuntariamente que focam apenas nos bens materiais. Normalmente, são os primeiros a acusar os capitalistas de materialistas, mas só querem saber de dinheiro. Talvez porque demandar igualdade em outros campos tornaria o verdadeiro motivador de suas idéias aparente demais. E este motivador é conhecido: a inveja.
Na década de 1960, os igualitários ganharam força, levando George Orwell a escrever 1984, uma distopia que explorava a inveja na política. O Partido Trabalhista inglês, de esquerda, demandava uma sociedade de iguais “absolutos”. Uma novela satírica iria explorar esta “paixão anti-social”, como dizia Mill, no campo do cotidiano. O escritor inglês L. P. Hartley era o autor, e a obra chamava-se Facial Justice, comentada no excelente livro de Helmut Schoeck sobre o tema, intitulado Envy: a Theory of Social Behaviour. Na sátira, Hartley chega à conclusão lógica através das tendências do século passado, e expressada por Schoeck no seu livro, sobre a estranha tentativa de legitimar o invejoso e sua inveja, de forma que qualquer um capaz de despertar inveja é tratado como anti-social ou criminoso. Em vez de o invejoso ter vergonha de sua inveja, é o invejado que deve desculpas por ser melhor. Há uma total inversão dos valores, explicada apenas por uma completa aniquilação do indivíduo em nome da igualdade coletivista. Os seres humanos passam a ser tratados como insetos gregários, e o indivíduo que ousa se destacar passa a ser tratado como um inimigo da “sociedade”. O rico, ainda que tenha criado sua riqueza de forma honesta através de trocas voluntárias, é execrado pelos invejosos. O sucesso individual é um pecado!
A heroína da novela de Hartley chama-se Jael, uma mulher que, desde o começo, não se conforma com a visão igualitária, recusando-se a aceitar porque pessoas mais bonitas ou inteligentes deveriam se anular como indivíduos por causa da inveja alheia. A novela se passa no futuro, depois de uma Terceira Guerra Mundial, e as pessoas eram divididas de acordo com o grau de aparência. A meta era obter uma igualdade facial, pois a igualdade material não era suficiente para acabar com a inveja: alguns sempre terão algo que os outros não têm e invejam.* Havia um Ministério da Igualdade Facial, e a extirpação dos rostos tipo Alfa, os mais belos, não bastava, pois os rostos tipo Beta ainda estavam em patamar superior aos do tipo Gama. Enquanto todos não tivessem a mesma aparência, não haveria justiça. Ninguém poderia ser desprivilegiado facialmente. Hartley combate a utopia dos igualitários, mostrando que a igualdade financeira jamais iria abolir a inveja na sociedade. Durante sua vida, ele demonstrou aversão a todas as formas de coerção estatal.
No livro Teoria da Personalidade, o psiquiatra G. J. Ballone diz: “Todas as tendências ideológicas que enfatizam a igualdade dos seres humanos, num total descaso para com as diferenças funcionais, ecoam aos ouvidos despreparados com eloqüente beleza retórica, romântica, ética e moral. Transportando tais ideais do papel para a prática, sucumbem diante de incontáveis evidências em contrário: não resistem à constatação das flagrantes e involuntárias diferenças entre os indivíduos, bem como não explicam a indomável característica humana que é a perene vocação das pessoas em querer destacar-se dos demais”. O sonho com um mundo de iguais, como se homens fossem cupins, denota um escancarado complexo de inferioridade. As diferenças agridem este indivíduo, pois ele é incapaz de aceitá-las, provavelmente por detestar ver no espelho aquilo que o diferencia dos demais. A inveja toma conta de seus sentimentos, e a destruição dessas diferenças passa a ser sua meta. Como ele não suporta as conquistas alheias, ele demanda a mediocridade geral. Os coletivistas odeiam admitir que indivíduos possam fazer a diferença. A riqueza precisa ser explicada como um fatalismo coletivista, os méritos individuais precisam ser derrubados, as escolhas individuais cedem lugar ao determinismo, tudo para anular o indivíduo enquanto indivíduo, substituindo-o pelo coletivo.
Em resumo, o que está por trás do igualitarismo é apenas a inveja mesquinha. O socialismo não passa da idealização da inveja. O foco desses igualitários costuma ser somente o material por dois aspectos: é inviável pregar de fato a igualdade facial, por exemplo; e fazê-lo iria rasgar de vez a máscara da hipocrisia que cobre seus apelos invejosos do mais “nobre” altruísmo. Mas a lamentável verdade é que igualitários não suportam as diferenças. E como os indivíduos, felizmente, são diferentes, parece evidente que existirão vários graus distintos de beleza, inteligência, altura, velocidade, talento musical e sim, também renda. Para Bill Gates ficar bilionário, ele não teve que tirar nada de ninguém. Foram os consumidores que, voluntariamente, julgaram os produtos de sua empresa valiosos, pois criavam valor para eles. Logo, não há motivo algum para que o governo meta suas garras na fortuna de Gates de forma compulsória, em nome da “igualdade”. Ele tem o direito de ser bem mais rico que os outros. Aqueles que não aceitam isso, desejando um imposto extorsivo sobre sua fortuna, podem tentar mascarar seu motivador com a desculpa que quiserem, mas isso não mudará o fato de que, por trás dessa máscara, reside somente a abominável inveja daqueles que não são capazes de admirar o sucesso alheio.
* No filme Círculo de Fogo, que conta a história de um soldado russo que precisa enfrentar um sniper enviado pelos nazistas especialmente para matá-lo, isso fica bem evidente quando um companheiro político, interpretado por Joseph Fiennes, acaba traindo Vasily Zaitsev, o soldado russo interpretado por Jude Law. Sua constatação, quando realiza sua traição, expressa a essência da mensagem. Ele descobre que sempre haverá algo no vizinho que desejamos, mas não possuímos, independente da igualdade material. No caso do filme, trata-se do amor de uma mulher, disputada por ambos. A inveja é uma característica da pessoa, não fruto das desigualdades em si, que sempre existirão.
terça-feira, dezembro 04, 2007
A Virada da Irlanda
Rodrigo Constantino
“Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado.” (Ludwig Von Mises)
Através da pura lógica econômica e de uma teoria apriorística acerca da ação humana podemos, em minha opinião, concluir quais são as principais bases para o desenvolvimento econômico de um povo. Mas isso não anula a importância do estudo de casos e de testes empíricos, o popular “teste do pudim”, que ilustra essas conclusões teóricas. Não devemos esquecer que uma observação empírica dos fatos foi o que levou Adam Smith a condenar o mercantilismo vigente em seu tempo. O caso da Irlanda vem bem a calhar então, pois se trata de um impressionante exemplo do sucesso das reformas liberais, que reduzem a intervenção estatal e aumentam a autonomia individual. A Irlanda aderiu com vontade ao capitalismo global, e isso permitiu um enorme crescimento econômico, levando a renda per capita dos irlandeses para patamares espantosos. O país, que era um dos mais pobres da Europa, mereceu o título de “tigre celta”. Não há milagre por trás deste sucesso, apenas lógica e respeito aos fatos da realidade.
Atualmente, os cerca de quatro milhões de habitantes do país desfrutam de uma expectativa média de vida de 80 anos, e a mortalidade infantil está em apenas 5,2 para cada mil nascimentos (no Brasil essa taxa é de 27,6). O crescimento médio da economia foi de 6% ao ano entre 1995 e 2006. A agricultura, que já foi o setor mais importante do país, agora representa uma pequena parte do total, empregando apenas 8% da mão-de-obra e respondendo por 5% do PIB, cedendo espaço para a indústria e o setor de serviços. A Irlanda é agora um grande exportador de software e conta com a presença de várias empresas importantes de tecnologia. A taxa de desemprego ficou em apenas 4,3% em 2006. A renda per capita chegou a impressionantes US$ 44.500 em 2006, sendo 40% maior que a média das quatro maiores economias européias. Durante a última década, o governo irlandês adotou uma série de medidas liberais, atacando a inflação, reduzindo os gastos públicos e promovendo o investimento estrangeiro. O período de ajuste não foi fácil nem indolor, mas os resultados estão cada vez mais visíveis.
Em conjunto com o The Wall Street Journal, o The Heritage Foundation publica todo ano o Index of Economic Freedom, onde calcula o grau de liberdade econômica existente em diferentes áreas para cada país. A Irlanda ocupava a sétima posição no ranking no último dado disponível, atrás apenas de Hong Kong, Cingapura, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido, não por acaso lugares ricos e desenvolvidos. A Irlanda conta com um elevado nível de liberdade para negócios, investimentos e finanças, além de garantir bem os direitos de propriedade privada. O empreendedorismo foi facilitado através de mudanças regulatórias, e iniciar um negócio lá leva apenas 19 dias, comparados a 48 dias de média mundial. No começo de 2003 o governo reduziu o imposto corporativo para 12,5%, bem abaixo da média européia. O país recebe quase um terço dos investimentos americanos destinados a União Européia. As tarifas médias de importação são de apenas 1,7%, ainda que outras formas de protecionismo vigorem, como no caso dos subsídios agrícolas. O setor financeiro é totalmente competitivo e aberto aos estrangeiros, e 115 bancos e instituições de crédito operam no país. Em 2002, o governo vendeu sua participação na última estatal do setor financeiro, o ACC Bank. Os direitos de propriedade são garantidos por um sistema judiciário de alta qualidade. Há pouca corrupção, como reflexo disso tudo.
O calcanhar de Aquiles encontra-se nas questões trabalhistas, ainda que possam ser consideradas “ultra-liberais” se comparadas a situação brasileira. Mas há menor flexibilidade trabalhista se comparado aos Estados Unidos, por exemplo. Demitir um empregado pode custar caro na Irlanda, o que prejudica a contratação e as mudanças de emprego, afetando negativamente a produtividade. Um trabalhador médio recebe 15% do seu salário em benefícios, o que não chega ao patamar ridículo do Brasil, mas ainda assim limita a liberdade dos trabalhadores de escolher como receber seus salários. Ainda há o que melhorar nessa área.
A comparação dos dados irlandeses com aqueles belgas é interessante para demonstrar o contraste do desempenho nos últimos anos. Os gastos públicos na Irlanda saíram de quase 50% do PIB no final da década de 80 para 34% atualmente, enquanto os gastos públicos na Bélgica continuam perto dos 50% do PIB. O desemprego, que oscilava perto de 10% até o final da década de 90, caiu para menos de 5% na Irlanda, e ainda encontra-se perto dos 7,5% na Bélgica. O crescimento da renda per capita dos dois países vinha num ritmo parecido até o final da década de 80, mas a virada irlandesa deixou um abismo entre ambos. Atualmente, a renda per capita da Irlanda já é 35% maior que a da Bélgica. Em 1994, os impostos sobre o salário eram de 55% na Bélgica e 38% na Irlanda. Em 2005, continuavam 55% na Bélgica, mas estavam em 25% na Irlanda. A dívida pública irlandesa, que estava em 94% do PIB em 1990, caiu para 25% do PIB em 2006, enquanto a da Bélgica ainda estava em 88% do PIB. A trajetória entre ambos os países foi bem diferente na última década, com a Irlanda sendo bem mais agressiva nas reformas liberais e redução do governo. Os resultados estão aí. O índice de desenvolvimento humano irlandês subiu 6,9% de 1995 até 2004, enquanto o belga aumentou apenas 1,7%. Atualmente, a Irlanda ocupa o quinto lugar no ranking, enquanto a Bélgica está no 17º lugar.
Não é preciso limitar a comparação ao caso belga. A Irlanda dá um show em praticamente qualquer país europeu na última década. Seu crescimento na renda per capita foi quase o dobro daquele experimentado pelos demais países. Os gastos públicos de 34% do PIB são bem menores que a média de 46% na Europa ou 53% na França, que vive sérios problemas por conta do excesso de governo. A criação de empregos na Irlanda foi praticamente o dobro daquela observada no restante da região desde 1985. Somente a Espanha se aproxima do nível irlandês, também como resultado de várias reformas liberais. Enquanto a Alemanha, França e Itália fecharam 2006 com um déficit fiscal de 1,6%, 2,5% e 4,4% do PIB, respectivamente, a Irlanda apresentava um superávit de 2,9% do PIB no mesmo ano. Enquanto a dívida pública da Alemanha, França e Itália estava em 68%, 64% e 107% do PIB em 2006, respectivamente, a irlandesa era de apenas 25% do PIB. Os passivos sem cobertura das pensões garantidas pelos governos representam uma bomba relógio na região, chegando a impressionantes 285% do PIB na Eurolândia. Na França, esse montante passa dos 330% do PIB. Estima-se que aumentos de impostos de 5% a 15% serão necessários no futuro se as políticas sociais não mudarem. A Irlanda, por outro lado, apresenta 150% de passivo sem cobertura em relação ao PIB, pior apenas que Holanda e Reino Unido. Uma situação bem mais confortável e sustentável.
Em resumo, a grande virada da Irlanda na última década não tem muito mistério, tampouco se explica por algum milagre qualquer. O país simplesmente resolveu encarar a dura realidade, adotar o capitalismo global como modelo, receber de braços abertos os investimentos estrangeiros, especialmente americanos, e reduzir drasticamente o peso do governo na economia. O resultado é uma das maiores rendas per capita do mundo!
“Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado.” (Ludwig Von Mises)
Através da pura lógica econômica e de uma teoria apriorística acerca da ação humana podemos, em minha opinião, concluir quais são as principais bases para o desenvolvimento econômico de um povo. Mas isso não anula a importância do estudo de casos e de testes empíricos, o popular “teste do pudim”, que ilustra essas conclusões teóricas. Não devemos esquecer que uma observação empírica dos fatos foi o que levou Adam Smith a condenar o mercantilismo vigente em seu tempo. O caso da Irlanda vem bem a calhar então, pois se trata de um impressionante exemplo do sucesso das reformas liberais, que reduzem a intervenção estatal e aumentam a autonomia individual. A Irlanda aderiu com vontade ao capitalismo global, e isso permitiu um enorme crescimento econômico, levando a renda per capita dos irlandeses para patamares espantosos. O país, que era um dos mais pobres da Europa, mereceu o título de “tigre celta”. Não há milagre por trás deste sucesso, apenas lógica e respeito aos fatos da realidade.
Atualmente, os cerca de quatro milhões de habitantes do país desfrutam de uma expectativa média de vida de 80 anos, e a mortalidade infantil está em apenas 5,2 para cada mil nascimentos (no Brasil essa taxa é de 27,6). O crescimento médio da economia foi de 6% ao ano entre 1995 e 2006. A agricultura, que já foi o setor mais importante do país, agora representa uma pequena parte do total, empregando apenas 8% da mão-de-obra e respondendo por 5% do PIB, cedendo espaço para a indústria e o setor de serviços. A Irlanda é agora um grande exportador de software e conta com a presença de várias empresas importantes de tecnologia. A taxa de desemprego ficou em apenas 4,3% em 2006. A renda per capita chegou a impressionantes US$ 44.500 em 2006, sendo 40% maior que a média das quatro maiores economias européias. Durante a última década, o governo irlandês adotou uma série de medidas liberais, atacando a inflação, reduzindo os gastos públicos e promovendo o investimento estrangeiro. O período de ajuste não foi fácil nem indolor, mas os resultados estão cada vez mais visíveis.
Em conjunto com o The Wall Street Journal, o The Heritage Foundation publica todo ano o Index of Economic Freedom, onde calcula o grau de liberdade econômica existente em diferentes áreas para cada país. A Irlanda ocupava a sétima posição no ranking no último dado disponível, atrás apenas de Hong Kong, Cingapura, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido, não por acaso lugares ricos e desenvolvidos. A Irlanda conta com um elevado nível de liberdade para negócios, investimentos e finanças, além de garantir bem os direitos de propriedade privada. O empreendedorismo foi facilitado através de mudanças regulatórias, e iniciar um negócio lá leva apenas 19 dias, comparados a 48 dias de média mundial. No começo de 2003 o governo reduziu o imposto corporativo para 12,5%, bem abaixo da média européia. O país recebe quase um terço dos investimentos americanos destinados a União Européia. As tarifas médias de importação são de apenas 1,7%, ainda que outras formas de protecionismo vigorem, como no caso dos subsídios agrícolas. O setor financeiro é totalmente competitivo e aberto aos estrangeiros, e 115 bancos e instituições de crédito operam no país. Em 2002, o governo vendeu sua participação na última estatal do setor financeiro, o ACC Bank. Os direitos de propriedade são garantidos por um sistema judiciário de alta qualidade. Há pouca corrupção, como reflexo disso tudo.
O calcanhar de Aquiles encontra-se nas questões trabalhistas, ainda que possam ser consideradas “ultra-liberais” se comparadas a situação brasileira. Mas há menor flexibilidade trabalhista se comparado aos Estados Unidos, por exemplo. Demitir um empregado pode custar caro na Irlanda, o que prejudica a contratação e as mudanças de emprego, afetando negativamente a produtividade. Um trabalhador médio recebe 15% do seu salário em benefícios, o que não chega ao patamar ridículo do Brasil, mas ainda assim limita a liberdade dos trabalhadores de escolher como receber seus salários. Ainda há o que melhorar nessa área.
A comparação dos dados irlandeses com aqueles belgas é interessante para demonstrar o contraste do desempenho nos últimos anos. Os gastos públicos na Irlanda saíram de quase 50% do PIB no final da década de 80 para 34% atualmente, enquanto os gastos públicos na Bélgica continuam perto dos 50% do PIB. O desemprego, que oscilava perto de 10% até o final da década de 90, caiu para menos de 5% na Irlanda, e ainda encontra-se perto dos 7,5% na Bélgica. O crescimento da renda per capita dos dois países vinha num ritmo parecido até o final da década de 80, mas a virada irlandesa deixou um abismo entre ambos. Atualmente, a renda per capita da Irlanda já é 35% maior que a da Bélgica. Em 1994, os impostos sobre o salário eram de 55% na Bélgica e 38% na Irlanda. Em 2005, continuavam 55% na Bélgica, mas estavam em 25% na Irlanda. A dívida pública irlandesa, que estava em 94% do PIB em 1990, caiu para 25% do PIB em 2006, enquanto a da Bélgica ainda estava em 88% do PIB. A trajetória entre ambos os países foi bem diferente na última década, com a Irlanda sendo bem mais agressiva nas reformas liberais e redução do governo. Os resultados estão aí. O índice de desenvolvimento humano irlandês subiu 6,9% de 1995 até 2004, enquanto o belga aumentou apenas 1,7%. Atualmente, a Irlanda ocupa o quinto lugar no ranking, enquanto a Bélgica está no 17º lugar.
Não é preciso limitar a comparação ao caso belga. A Irlanda dá um show em praticamente qualquer país europeu na última década. Seu crescimento na renda per capita foi quase o dobro daquele experimentado pelos demais países. Os gastos públicos de 34% do PIB são bem menores que a média de 46% na Europa ou 53% na França, que vive sérios problemas por conta do excesso de governo. A criação de empregos na Irlanda foi praticamente o dobro daquela observada no restante da região desde 1985. Somente a Espanha se aproxima do nível irlandês, também como resultado de várias reformas liberais. Enquanto a Alemanha, França e Itália fecharam 2006 com um déficit fiscal de 1,6%, 2,5% e 4,4% do PIB, respectivamente, a Irlanda apresentava um superávit de 2,9% do PIB no mesmo ano. Enquanto a dívida pública da Alemanha, França e Itália estava em 68%, 64% e 107% do PIB em 2006, respectivamente, a irlandesa era de apenas 25% do PIB. Os passivos sem cobertura das pensões garantidas pelos governos representam uma bomba relógio na região, chegando a impressionantes 285% do PIB na Eurolândia. Na França, esse montante passa dos 330% do PIB. Estima-se que aumentos de impostos de 5% a 15% serão necessários no futuro se as políticas sociais não mudarem. A Irlanda, por outro lado, apresenta 150% de passivo sem cobertura em relação ao PIB, pior apenas que Holanda e Reino Unido. Uma situação bem mais confortável e sustentável.
Em resumo, a grande virada da Irlanda na última década não tem muito mistério, tampouco se explica por algum milagre qualquer. O país simplesmente resolveu encarar a dura realidade, adotar o capitalismo global como modelo, receber de braços abertos os investimentos estrangeiros, especialmente americanos, e reduzir drasticamente o peso do governo na economia. O resultado é uma das maiores rendas per capita do mundo!
segunda-feira, dezembro 03, 2007
A Volta do Idiota
Rodrigo Constantino
“Para que os modernizadores derrotem os reacionários, a América Latina deve livrar-se do complexo populista de uma vez por todas.” (Mendoza, Montaner e Vargas Llosa)
Uma década depois de Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, o trio de autores ataca novamente com A Volta do Idiota, sem decepcionar aqueles que, com razão, gostaram do primeiro trabalho. Plinio Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa uma vez mais detonaram cada dogma repetido com fanatismo pelos esquerdistas da região. Infelizmente, para os seres racionais, a quantidade de idiotas aumentou nesse período, como o próprio Mario Vargas Llosa reconhece no prólogo do livro, ao admitir que “a verdade é que em boa parte da América Latina se verifica um evidente retrocesso da democracia liberal e uma volta do populismo, inclusive em sua variante mais cavernosa: a do estatismo e coletivismo comunistas”.
Logo no começo do livro, os autores fazem uma análise psicológica dos idiotas, constatando que grande parte deles provém da classe média espremida e ressentida em relação à classe alta. O populismo e a esquerda oferecem uma válvula de escape para eles. Os autores concluem que “se pudéssemos deitar o personagem no divã de um analista, descobriríamos complexos ulcerados e urgências de vingança”. O idiota é um “comprador de milagres”, e o sonho utópico é uma fuga para frustrações e desejos reprimidos. “A ideologia lhe permite achar falsas explicações e saídas para a realidade”. As mentiras, repetidas reiteradas vezes, tornam-se verdades absolutas para a vítima. Há uma enorme necessidade de bodes expiatórios para transferir culpa e responsabilidade pelos fracassos. Os preferidos, como sempre, são a globalização, o neoliberalismo e os ianques. Reconhece-se facilmente um perfeito idiota quando ele culpa tais coisas por todos os males do mundo.
Os fatos da realidade, naturalmente, não são importantes para o idiota. Ele não liga, por exemplo, que em 1970, 44% da população mundial vivam com menos de 2 dólares por dia, e hoje, graças à globalização, 18% sofrem com essa penúria. A realidade sempre refuta o idiota, e por isso ele foge dela como o diabo foge da cruz. A visão marxista-leninista de exploração dos pobres como causa da riqueza dos ricos conquista o idiota através das emoções, da sua necessidade de crer que o sucesso alheio é a causa de sua situação inferior. Do que adianta explicar que a Venezuela, por exemplo, recebe bilhões de dólares todo ano com a venda de petróleo, e que sua miséria é causada pelo próprio povo e modelo econômico, e não pelos americanos que compram todo esse ouro negro? Ou para que serve mostrar que os países que abraçaram a globalização com vontade, mesmo sem recursos naturais, como nos casos de Taiwan e Cingapura, ficaram ricos? Seria de alguma utilidade mostrar que dezenas de milhões de chineses conseguiram sair da miséria depois das reformas liberais e abertura econômica parcial? Seriam apenas fatos, e o idiota já desenvolveu mecanismos de defesa contra esses ingratos.
Para o “querido idiota”, não vem ao caso que os países mais pobres do planeta são justamente os que carecem de investimentos estrangeiros, vistos como o próprio demônio por ele. A sua visão concebe a riqueza como um bolo fixo que só precisa ser mais bem repartido para que se acabe com a pobreza. Ele não tem a mais vaga idéia de como riquezas são criadas. O Estado é visto como o Deus que irá executar este milagre. Novamente, não importa que no passado o Estado sempre tenha intensificado os males que tentou corrigir. “Quanto mais espaço ele confiscou à sociedade civil, mais a desigualdade cresceu, e a corrupção, o clientelismo, o desemprego, a burocracia, a má prestação de serviços, os impostos e tantas outras carências”, afirmam corretamente os autores. O Estado paternalista, socialista ou populista apenas beneficia seus aliados, dilapidando a riqueza de forma irresponsável, em vez de criá-la. Errar pode ser humano, mas insistir no erro é burrice. Em nome do “social”, palavra mágica idolatrada pelo idiota, as calculadoras e a lógica econômica são jogadas no lixo, e todo tipo de absurdo já testado e fracassado é repetido com fé cega pelos idiotas. O melhor exemplo de todos está na Venezuela, onde o projeto a ditador Hugo Chávez fala em um “socialismo do século XXI”, como se não se tratasse das mesmas idéias estapafúrdias que levaram 100 milhões para a cova, sem falar dos miseráveis que pariram.
Por falar dessa pitoresca figura, Chávez é o grande popstar do livro, como não poderia deixar de ser. Com a decadência do octogenário ditador cubano e com o preço do petróleo nas nuvens, Chávez assume a liderança dos perfeitos idiotas latino-americanos, despertando suspiros emocionados com cada retórica populista. Há uma atração mágica dos idiotas pelos caudilhos. Chávez é o ícone do que os autores chamaram de “esquerda carnívora”, aquela mais reacionária de todas, que ainda consegue pregar o socialismo depois de seu vergonhoso fracasso. Em contrapartida, os autores chamam de “esquerda vegetariana” aquela que, ao menos, respeita um pouco as inexoráveis leis do mercado. Volta e meia a retórica raivosa rouba a cena, mas essa esquerda pelo menos aceitou parcialmente a realidade como ela é. Os casos citados estão basicamente no Chile e no Brasil. Em relação a este último, eu acrescentaria que Lula não é da esquerda light por opção, mas porque as instituições brasileiras, por mais capengas que sejam, não o permitem ainda seguir na direção de seus colegas Chávez, Evo Morales e Fidel Castro. Mas que ninguém se engane, para não parecer um desses idiotas: Lula e boa parte do seu PT gostariam de ir nesse rumo, o que fica provado por várias de suas declarações e pelo Foro de São Paulo.
O livro segue refutando cada falácia repetida pelos papagaios socialistas, assim como expondo suas infinitas contradições. Algumas são tão escancaradas que chega a despertar dó o desespero dos idiotas na tentativa de fuga da realidade. É o caso do embargo americano a Cuba, usado como escusa para a miséria na ilha-presídio ao mesmo tempo em que o comércio com os americanos é tachado de “exploração”. Os idiotas ainda não decidiram se é bom ou ruim praticar comércio com o “império”. Como este, existem vários outros casos de evidente contradição citados no livro, que é uma verdadeira vacina contra a idiotice.
Uma parte do livro é dedicada aos idiotas além das fronteiras da América Latina, “intelectuais” que dão respaldo a essas patetices repetidas por aqui. Um dos maiores ícones desses manipuladores intelectuais é Noam Chomsky, que chegou a apoiar Heloísa Helena na candidatura à presidência brasileira. No Fórum Social Mundial, evento que ocorre todo ano, esses “intelectuais” são ovacionados por uma legião de idiotas latino-americanos toda vez que alimentam os sentimentos antiamericanos ou contra a globalização. A inveja mesquinha ganha assim uma aura de justificação intelectual, ainda que falte totalmente um mínimo de argumentação lógica. As massas de ressentidos autômatos não ligam para esses detalhes de pequeno-burguês.
Consta no livro um breve estudo de casos de países que, em poucos anos, saíram de uma situação delicada para um patamar de riqueza dos países desenvolvidos. São os casos da Espanha, Cingapura, Irlanda, Nova Zelândia, alguns emergentes europeus e o Chile, na América Latina, que ainda não chegou lá, mas desponta em relação aos seus vizinhos. Em todos eles encontramos os mesmos denominadores comuns: reformas liberais, respeito às regras do jogo, economia de mercado e abertura econômica. Por outro lado, os países que insistem no dirigismo estatal, no planejamento econômico através de uma autoridade central, no forte protecionismo comercial e isolamento, no nacionalismo boboca e na concentração de poder em vez do império das leis, permanecem no atoleiro da miséria.
Por fim, os autores apresentam uma pequena lista de dez livros que podem ajudar na cura da idiotice política que, segundo eles, não é um mal incurável. A terapia consiste na observação da realidade e no exercício de argumentos racionais. No entanto, isso é mais fácil falar que fazer, especialmente depois de tanto tempo de lavagem cerebral por parte dos socialistas. Os fumantes sabem que devem parar de fumar, mas isso não é garantia de sucesso. Porém, trata-se de um primeiro passo necessário, ainda que não suficiente. Se os idiotas nem sequer reconhecerem a idiotice, serão casos perdidos. Entre os livros que podem contribuir no doloroso processo de cura dessa doença, estão O Caminho da Servidão, de Hayek, Ação Humana, de Mises, A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, de Karl Popper, Liberdade de Escolher, de Milton Friedman, e Quem é John Galt?, de Ayn Rand. Eu assino embaixo dessa excelente lista, recomendando a leitura desses livros. Se, após a leitura deles, o colega continuar um idiota, então é por pura escolha própria. Ou, claro, pelo motivo que faz com que tantos “intelectuais” corram ao encontro do socialismo: a completa falta de caráter.
sábado, dezembro 01, 2007
O Caminho é o Federalismo - Vídeo
A concentração de poder em Brasília é um câncer que ameaça a liberdade. O modelo político atual faz com que o povo do Sudeste trabalhe para pagar a conta, enquanto os poderosos do Norte e Nordeste desfrutam dos privilégios. O caminho é a descentralização do poder. Ou seja, o caminho é o federalismo!
http://www.youtube.com/watch?v=fCQlhjJr-z4
http://www.youtube.com/watch?v=fCQlhjJr-z4