quinta-feira, julho 09, 2009

Rico não paga imposto?



Rodrigo Constantino

“Há duas coisas inevitáveis na vida: a morte e os impostos.” (Benjamin Franklin)

Muitos repetem ad nauseam que ricos não pagam impostos no Brasil. Eis uma das mais absurdas, porém repetidas falácias disseminadas entre os leigos. Em recente artigo intitulado “Manipulações Estatísticas”, mostrei como a estatística pode ser a arte de torturar números até que eles confessem qualquer coisa. O Ipea, que desde o comando de Márcio Pochman tem sido uma máquina ideológica à serviço do governo, tentou mostrar em estudo recente que a carga tributária média para aqueles que ganham trinta salários ou mais é de cerca de 26%, enquanto a carga total é de quase 35% no país. Não obstante o fato de que 26% não é pouco imposto – os americanos pagam 28,3% e os japoneses pagam 18,4% – resta questionar se esse valor faz algum sentido. Como os dados agregados podem enganar, já que basta um bilionário com carga média menor para puxar a média toda para baixo, nada melhor do que partir para casos individuais.

Vamos analisar o exemplo hipotético de um diretor de alguma grande empresa, que ganha R$ 30.000 mensais. Ele é considerado um rico no Brasil, apesar de muitos pensarem apenas em multimilionários quando escutam o termo. Como seria a carga tributária deste diretor, em termos aproximados? Logo de cara, o imposto de renda retido na fonte seria quase R$ 7.600, além de R$ 354 de INSS. Arredondando, ele paga R$ 8.000 de imposto direto, sem falar no imposto que a empresa tem que pagar também, reduzindo seu salário líquido. Para pagar os R$ 30.000 de salário, a empresa desembolsa uns R$ 10.000 extras ao governo, o maior sócio de todos os brasileiros, ainda que de forma compulsória. Restaram líquidos até agora uns R$ 22.000 para o diretor, enquanto o governo já embolsou uns R$ 18.000 em cima dele. Mas a coisa está longe de terminar aqui.

Outros dois impostos diretos abocanham importantes fatias de sua renda. Digamos que esse diretor viva num bairro de luxo, com um elevado IPTU. Lá se vão pelo menos R$ 7.000 anuais para o governo guloso. Mas esse diretor tem pelo menos dois carros na garagem, que custam R$ 2.500 cada um de IPVA anual. Mais R$ 5.000 para esse parceiro eterno. Apenas de impostos diretos esse diretor já foi forçado a entregar mais de R$ 100.000 anuais para o governo, ou 30% de seu salário bruto, sem levar em conta os impostos pagos pela empresa. Só que ele está longe de se ver livre do governo.

O diretor terá um plano de saúde privado, naturalmente, pois o governo arrecada para oferecer saúde pública, mas oferece em troca hospitais decrépitos com excesso de ratos e ausência de remédios. Um plano de saúde bom custaria a esse diretor algo como R$ 1.000 por mês. Vamos somando isso ao total de carga. Outro item que o governo deveria fornecer pelos impostos é segurança, mas quem pode depender apenas da “segurança” pública nesse país? Logo, o diretor irá morar num local seguro, que conta com seguranças privados, e que eleva bastante o gasto com condomínio. Pelo menos outros R$ 1.000 mensais ele deve gastar apenas para ter câmeras, seguranças particulares e sistemas de proteção em seu prédio. O governo também cobra impostos para oferecer educação, mas todos conhecem a péssima qualidade do ensino público. Logo, esse diretor colocará seus dois filhos numa boa escola particular, gastando pelo menos R$ 2.000 por mês. Esses três serviços básicos – saúde, segurança e educação – custam pelo menos R$ 4.000 mensais ao diretor, além dos impostos que ele joga no lixo.

Daqueles R$ 22.000 líquidos, o diretor já torrou R$ 5.000 apenas para pagar IPTU, IPVA, saúde, segurança e educação. Sobraram R$ 17.000 em sua conta, lembrando que seu salário bruto era de R$ 30.000 (já estamos falando de uma carga de 43%). Mas ainda não acabou! Cada conta de luz, gás e telefonia tem um imposto embutido de pelo menos 30%. Para cada compra no supermercado, o diretor terá que deixar uns 40% para o governo, imposto médio dos produtos ali vendidos. Enfim, digamos que o diretor gasta, dos R$ 17.000, R$ 12.000 por mês. Deste valor, pelo menos R$ 4.000 são impostos novamente. Pena que no Brasil os produtos não mostrem o preço antes dos impostos, como ocorre nos Estados Unidos, o que ajuda a esconder a verdadeira carga tributária aqui.

Sobraram na conta do diretor R$ 5.000, que ele finalmente poderá poupar, contribuindo para a oferta de capital que serve para investimentos produtivos no país. Mas o governo quer mais! Se ele investir esse dinheiro em um fundo tradicional de um banco, o mínimo que ele terá que recolher em impostos será 15% sobre os rendimentos, ou seja, outros R$ 1.000 por ano, em média. Se o leitor já perdeu a conta, é porque são muitos impostos mesmo. Isso porque não considerei taxas e contribuições menores, ou o custo indireto de nossa asfixiante burocracia, que somados acabam lascando outra fatia importante da renda. No total, esse diretor, que ganha R$ 30.000 por mês, ou R$ 360.000 por ano, já pagou de impostos pouco mais de R$ 200.000, ou 55% de carga. Lembrando, novamente, que a empresa pagou outros R$ 120.000 ao governo para poder empregar este diretor.

Em resumo, esse diretor custa para a empresa uns R$ 480.000 por ano, mas ele recebe líquidos apenas R$ 155.000, aproximadamente. Para onde foram os outros R$ 325.000? Ora, para aquele sócio majoritário compulsório, responsável pela “justiça social”. A carga efetiva deste diretor, prezado leitor, está próxima dos 70%! Essa é a realidade da maioria dos “ricos” desse país, que faz de tudo para incentivar a sonegação e desestimular o empreendedorismo. Mas o governo não quer que a população saiba dessas coisas. Para isso existe o Ipea...

Em tempo: Essa montanha de dinheiro que os “ricos” são obrigados a entregar para o governo, sob a mira de uma arma, serve para financiar coisas como o MST, ONGs socialistas, “mensalão”, infindáveis regalias para políticos, esmolas usadas para comprar votos pelos populistas, etc. Chamar o Brasil de capitalista parece até uma piada de mau gosto!

15 comentários:

  1. Muito bom, Rodrigo! Como sempre, você conseguiu expressar muito bem este triste aspecto da nossa realidade. Parabéns!

    Só uma crítica: Quando você contabiliza os impostos pagos --boa parte dos quais teoricamente direcionada para serviços básicos-- e depois joga na conta os gastos do executivo com estes serviços (a saber: saúde, educação e segurança) acho que você está atribuindo à carga tributária algo que já foi contabilizado; e sem falar que o gasto posterior com estes serviços foi voluntário.

    Abraço!

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  2. FIB, o ponto é que esse cara paga dobrado! Se ele joga fora imposto que deveria ir para segurança, saúde e educação, e depois paga por esses serviços privados, isso tudo seria uma carga tributária. Afinal, na carga oficial ele já tinha que ter tais serviços!

    Rodrigo

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  3. O gasto posterior com segurança e saúde privadas não é voluntário, na medida que o governo obriga o pagador de impostos, a pagá-lo obviamente. Já que estes serviços não são entregues, o pagador de impostos é OBRIGADO a buscar segurança e saúde privadas.

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  4. Rodrigo, Existe ainda a dívida pública que o governo faz em cima do trabalho deste homem. Afinal quem irá pagar o deficit público gerado enquanto ele trabalha?

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  5. REVENDO UMA ENTREVISTA DE 'FRIEDMAM', COMEÇO A PERCEBER QUE LUTAR PELA EFICIÊNCIA DO REI É NO MÍNIMO TOLICE, CASO FOSSE EFICIENTE A MARCHA SERIA PARA O ESTADO TOTAL [A LIBERDADE IA PRO BELELÉU, 'OMAIOR DOS NELSONS']. É PORTANTO APOSTANDO 'NO QUASE' QUE ALGUM BUROCRATA ENTENDA QUE QUALQUER LESGA DE CAPITAL DEVE FICAR EM MÃOS SEGURAS PARA SEU PRÓPRIO BEM. A PARTIDA ENTRE ESTADO E MERCADO É MASSACRE, DAÍ O FUTEBOL [FANATISMO] SER ILÓGICO.

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  6. Rodrigo, você comete aqui o mesmo mal do Ipea, que é criar números baseados em ficção.

    No mundo real, ninguém tem na carteira de trabalho 30.000 reais de remuneração.

    A enorme maioria usa o "subterfúgio" de receber através de uma empresa, recolhendo menos da metade dos impostos diretos.

    Empresa salário é a forma como os que ganham mais fogem do saque feito pelo governo. E isso é algo que eu tenho certeza que você sabe e provavelmente usa.

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  7. Oi Rodrigo,

    Não querendo "ser chato" com detalhes mas já sendo, achei as contas um pouco exageradas. E também sabemos que os gastos com saúde e dependentes são dedutíveis do imposto.
    Mas isso não invalida a mensagem que você quis passar. Mesmo tornando a sua conta matematicamente exata, ainda assim veremos a carga tributária pesada que arcamos.
    Também não acredito muito que a carga tribut. dos ricos seja menor que a dos pobres.
    Aliás, esse estudo do IPEA é disponibilizado publicamente? Queria olhar, vou sondar.

    Abraços,
    Diogo

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  8. Parabéns Constatino.

    Vamos pensar em formas de mudar, de forma legítima, essa nossa vergonhosa realidade.

    1° Passo: Votar com consciência.
    2° Passo: Financiar de qualquer forma possível a educação, pois so assim, daqui 30 anos poderemos gozar de uma população capaz de fazer escolhas "racionais"

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  9. Fala-se que a carga tributária do Brasil é das mais elevadas, embora ela seja inferior à dos países ricos. Justifica-se que os países ricos oferecem melhor contrapartida (porque também não possuem pobres demais, como nós). Mas, é preciso falar também sobre a taxação específica dos altos rendimentos. Nesse aspecto o Brasil é muito, mas muito menos voraz do que Canadá, França, EUA, Alemanha, etc..Temos é que aumentar a base de contribuição, para DEPOIS reduzir as alíquotas.

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  10. Everardo, sua lógica está invertida. O aumento da base vem com a redução da alíquota. Os países mais ricos ANTES ficaram ricos, e depois criaram seus modelos de welfare state (que já vêm sendo reformado em parte, devido à sua evidente ineficiência).

    Rodrigo

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  11. "Fala-se que a carga tributária do Brasil é das mais elevadas, embora ela seja inferior à dos países ricos."

    De onde voce tirou isso? Esta usando aliquota de imposto de renda retido na fonte como base de comparacao? Aih sim, eh verdade, no Brasil paga-se 27.5% enquanto na Inglaterra passaremos a pagar 50%. Mas voce esta olhando apenas as taxas diretas, nao as indiretas, como o Rodrigo citou no texto.

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  12. Um detalhe, Patrícia, os países ricos costumam expurgar das demonstrações tributárias parte dps valores pagos à previdência social. No Brasil, os economistas põem tudo.

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  13. Concordo em deixarmos de pagarmos ou recolhermos os impostos, pois assim os mataríamos de fome e eles seriam OBRIGADOS A PAGAREM PELO DIREITO DE EXISTIREM. Quem disse que eles podem nos obrigar a recolhermos impostos para eles? No caso dos empresários e comerciantes, sugiro que os mesmos emitam um recibo com o valor real do produto e um boleto com o valor do imposto para ser recolhido ao governo por cada contribuinte. Assim sendo pagaria quem quisesse ou achasse que estava sendo merecidamente restituído pelos impostos pagos, caso contrario, se o governo quisesse receber que fosse atrás de cada devedor. Pelo menos assim nós os obrigaríamos a trabalharem se quisesem receber. Seria o caos para esses macacos interesseiros que só querem receber sem nos restituir nada em troca.

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  14. Vergílio, isso é o estagio final do liberalismo. A gente paga imposto se quiser, estuda se quiser...

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  15. Eu também concordo ! É uma frase absurda, quando o correto é afirmar que RICO NO BRASIL PAGA MUITO POUCO IMPOSTO”!

    A carga tributária é muito alta para a MINORIA da população que roub... Ops! recebe trinta salários ou mais (por volta de 15.000 reais ou mais) e pagam por volta 26% de imposto, (quando pagam depende da forma de contrato....)

    UAU!É tão injusto que em países como EUA e Japão a taxa é menor que a brasileira, porém somente esquece de informar que é proibido nestes países pagar salário de miséria, ou seja, menos de 1 dólar por hora de trabalho para o trabalhador.

    Realmente o governo está “roubando” o dinheiro de empresários ou pessoas com altos salários, os quais lutaram fortemente para conquistar este montante de dinheiro através da exploração máxima dos trabalhadores!

    Como sofrem os Brasileiros!!! Principalmente os ricos que não consegue roub.. Ops! acumular mais dinheiro no banco !

    Inventa outra Sr Rodrigo! Absurdo é uma pessoa receber um salário tão altos em um país que possui salário de escravos, onde deve-se trabalhar 40 horas semanais para receber um salário de quase 450 reias MENSAIS, ou seja, por volta de 20 reais por dia que será dividido em uma família de 3 ou mais pessoas e assim não conseguir viver dignamente, ser excluído de direitos BÁSICOS ! Isto sim é um absurdo !

    Absurdo é a taxa do imposto ser somente 30% para pessoas que recebem mais de 10 salários mínimos, provocando grande abismos sociais e que poderiam ser resolvidos se o rico que recebe mais pagasse mais imposto diretamente! Porém Não somente a merreca de 30% e sim 60%!

    Absurdo é ver milhares de pessoas sofrendo devido a pensamentos COMO ESTES que acham injusto pagar taxa tributária , porém justo pagar ao empregado um salário de 450 reais que não cobre os gastos BÁSICOS como moradia, alimentação, saúde, segurança, educação, luz, gás e telefonia etc COM IMPOSTOS INCLUSOS! E não somente isto, ainda culpam o governo por existir pessoas que moram em favelas, pessoas que pedem dinheiro na rua ou pessoas miseráveis.

    É realmente tá tudo errado!
    Ah! E se o serviço público está ruim imagine sem imposto! Quer melhorar, reclame ou realize protestos ao invés de ficar com esse papo de riquinho que acha injusto pagar imposto..ainda tem muitas pessoas dependentes deste serviços ruins que você não usa provavelmente porque não é problema seu você pode pagar um melhor...


    SOU A FAVOR DO SÓCIO-CAPITALISMO! TODO MUNDO TEM O DIREITO DE VIVER DIGNAMENTE!

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