terça-feira, março 09, 2010

Retaliando o Inimigo



Rodrigo Constantino

O governo brasileiro divulgou uma lista com mais de cem produtos importados dos Estados Unidos cujas tarifas de importação poderão subir até 100%, como retaliação aos subsídios americanos ao algodão. A lógica da reciprocidade funciona assim: se o governo de lá prejudica o próprio povo, então nosso governo deve prejudicar o povo brasileiro também, como resposta ao abuso americano. Na guerra entre governos e lobistas de cada país, sob um modelo mercantilista, quem sai perdendo são os consumidores em ambos os países.

Muitos alegam que o livre comércio tem que ser recíproco para ser benéfico. Bastiat afirma que pessoas com tal mentalidade são protecionistas em princípio, mesmo que não reconheçam, e são apenas mais inconsistentes que os protecionistas puros, que são por sua vez mais inconsistentes que os defensores da abolição completa de produtos estrangeiros. Para provar seu argumento, ele utiliza uma fábula de duas cidades, Stulta e Puera, que construíram uma grande estrada as conectando. Após o término da construção, Stulta teria reclamado que os produtos de Puera estavam inundando o seu mercado, e criou o cargo assalariado de encarregados pela obstrução do tráfego dos importados. Logo em seguida, Puera fez o mesmo, e o resultado era mutuamente perverso.

Até que um homem velho de Puera, suspeito até de receber pagamento secreto de Stulta, disse que os obstáculos criados por Stulta eram maléficos a Puera, o que era uma pena. E que os obstáculos criados pela própria Puera também eram maléficos, novamente uma pena. Completou que não havia nada que pudessem fazer quanto ao primeiro problema, mas que poderiam solucionar a outra parte, criada por eles mesmos. Houve forte reação, e o acusaram de sonhador, utópico e até “entreguista”. Alegaram que seria mais difícil ir que vir pela estrada, ou seja, exportar que importar. Isso colocaria Puera em desvantagem em relação à Stulta, como as cidades na beira dos rios estão em desvantagem frente às montanhosas, já que é mais complicado subir que descer.

Só que uma voz disse que as cidades na beira dos rios prosperaram mais que as montanhosas, causando alvoroço. No entanto, era um fato histórico! Infelizmente, para o povo de Puera, decidiram que tais cidades tinham prosperado contra as regras, e optaram pela manutenção dos obstáculos, em nome da “independência nacional” e da proteção da indústria doméstica contra a competição “selvagem”. E os consumidores continuaram sendo sacrificados para o benefício de alguns produtores privilegiados, como sempre ocorre nas medidas protecionistas.

Eis a lógica da batalha comercial entre governo americano e governo brasileiro. O governo americano oferece subsídios ao algodão, prejudicando seus próprios consumidores e os produtores brasileiros. Como resposta, o governo brasileiro resolve tornar inúmeros produtos americanos mais caros aos consumidores brasileiros. Agora temos produtores de algodão e consumidores de diversos produtos importados, ambos perdendo. Na guerra comercial, quem sai perdendo são sempre os consumidores. Afinal, a melhor garantia para estes será sempre o livre comércio, sem as barreiras artificiais criadas pelos governos, de lá e de cá. O governo brasileiro, vítima de ranço mercantilista, pode achar que está retaliando o “inimigo” numa batalha comercial. Mas, na prática, está apenas dando um tiro no pé dos próprios brasileiros.

18 comentários:

  1. Ok, mas o que você sugere fazer para derrubar essas medidas protecionistas dos EUA? Mesmo que retaliar os EUA seja ruim para os próprios consumidores brasileiros, não será benéfico a longo prazo? Imagine que com isso o Brasil consiga derrubar as barreiras norte-americanas. Assim os produtores brasileiros sairiam ganhando e os consumidores brasileiros voltariam a se beneficiar das importações. Nesse caso, foi feito um sacrifício temporário para se alcançar um bem maior mais longevo.

    Duvido que o Brasil consiga derrubar as barreiras apenas com essa retaliação que mal deve afetar as exportações norte-americanas, mas se houvesse uma ação mais coordenada entre vários países contra as barreiras norte-americanas, talvez se conseguisse uma vitória nesse sentido.

    São apenas ideias para se pensar, mas com tudo isso quero apenas mostrar que as relações entre os países muitas vezes são mais pautados por política que pela economia e, nesse caso, nunca, ou quase nunca, se alcança a solução ideal. O que nos resta escolher a menos pior entre várias alternativas ruins.

    Talvez a retaliação brasileira seja a pior escolha vista isoladamente, mas no contexto mais geral das relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e EUA seja a melhor atitude. Ou não. Enfim, como disse, são ideias para se pensar. Não tenho dúvidas que tomado isoladamente essa medida é ruim, mas tenho muitas dúvidas se isso não é o melhor no longo prazo. As relaçoes entre países são complexas demais para se isolar fatos como esse.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo11:15 AM

    Off topic. Rodrigo: o seu blog é um dos que poem o Brasil nos trilhos. Há nova maldade no ar, a cota para as vacinas. Lulla e Temporão elegeram, por cotas, quem pode e quem não pode receber a vacina da gripe suína. E quem está fora dessas cotas, não consegue, de jeito nenhum, a vacina em clínicas particulares (ligue para uma, e veja se consegue...impossível), mesmo porque o MS "recomendou" (recomendar, na linguagem comunista gramscista, é ORDEM) que siga o mesmo "protocolo", vacinando, nas clínicas, aqueles grupos que serão vacinados pelo Governo (http://www.fatimanews.com.br/canais/noticias/?id=97396). Mas eu, que tenho entre 40 e 60, sou saudável, pago uma fortuna de imposto de renda e outros impostos, faço parte de um grupo que só tem direito a sustentar este descalabro chamado Brasil, sequer pagando consigo a vacina em clínica particular. A mesma ladainha comunista ocorreu com o Tamiflu, o governo elegeu quem o receberia e proibiu, mesmo com receita médica, que qualquer um o comprasse. Lembro-me de um grande amigo, desesperado, tentando o remédio para o filho...Resultado: O Brasil, pais tropical, foi o campeão mundial de mortes por gripe suína. Denuncie mais esta canalhice comunista, o homem e a mulher que pagam impostos elevados, porque atingiram a sua plena maturidade, tem larga experiência profissional, e auferem bons rendimentos, estão impedidos de se proteger da gripe suína. E se eu morro, quem sustenta meus filhos, o INSS? Uma vacina não custaria mais do que R$ 60,00; mas o desgoverno comunista não deixa, eu não posso me proteger e, se morro, minha família fica à míngua, porque não posso gastar meus R$ 60,00 para comprar a vacina... Está na hora de voltar o bordão: ABAIXO A DITATURA.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo11:20 AM

    Eu concordo que o melhor seja sem barreiras alfandegárias, sem protecionismo.
    Mas eu não entendo a lógica de não retaliação, pois pode ser guerra economica, desvio provocado pelo Estado.
    O Estado age de maneira errada ao conceder subsídios, por isso não consigo entender que o melhor seja a inexistência de barreiras por outro país.
    Estive pensando dias atrás que empresas estatais extrangeiras não devem praticar atividades economicas no país, uma vez que podem praticar preços menores e não podem ir a falência.
    Também concordo que o Estado não deve ter nenhuma empresa.

    ResponderExcluir
  4. Para variar, o governo incompetente faz tudo errado.
    Qualquer retaliação deveria beneficiar o povo Brasileiro não prejudicar.
    Pelo que vemos pagaremos mais caro por carros,motocicletas,cosméticos, leite em pó, trigo, agulhas de injeção, próteses ortopédicas, e vários outros produtos que utilizamos no dia a dia.
    O que esses idiótas não vêem é que com os importados mais caros os nacionais também aumentarão o preço, aumentando o lucro dos empresários e prejudicando o consumidor, tá na cara.
    Ou alguém duvida que isso vai acontecer?
    Mais prático e fácil seria taxar a remessa de lucros e quebrar patentes que venham beneficiar o povo com produtos mais baratos.
    O resto é tiro no pé. Mas o que esperar dessa corja de acéfalos PeTralhas?
    .

    ResponderExcluir
  5. Hihihihih a notícia dá até a impressão aos leitores de que a sobretaxa é uma represália do governo norte-americano ao nosso país, quando o que ocorre é exatamente o contrário. Espantoso ;). Me preocupa o preço dos cosméticos!
    É..meu amiginho, esse é o "nosso" governo......

    ResponderExcluir
  6. Anônimo12:44 PM

    Nesse ponto o governo está certo, essa é a única maneira de defender nossos produtores. Eles sim causam impacto direto na economia local gerando empregos e renda. Além de deixar claro que nós não temos medo de possíveis reações por parte deles.
    Essa OMC é uma farsa, uma hipocrisia, e todas as negociações a respeito do comércio mundial são mais ainda. Os países ricos NUNCA deixarão de subsidiar seus produtores, afinal, assim como no Brasil, os grandes lobbies agrícolas é que são os financiadores das campanhas políticas de lá. Logo, nenhum governo vai tomar alguma medida que prejudique sua chegada ao poder, muito menos se for em nome do livre comércio e do bem estar dos consumidores e produtores nacionais e "estrangeiros" (nós, no caso).

    Uma vez tentaram alterar o modelo econômico vigente, o resultado foi a 1º Guerra Mundial (motivo: partilha colonial da África e Ásia).
    Temo que esse seja o único caminho...

    ResponderExcluir
  7. Não obstante os notórios males mútuos do protecionismo, grande Digão, veja a diferença: os políticos americanos retaliam dando subsídios aos seus produtores, os de cá fazem o povão pagar do próprio bolso a retaliação aos EUA! Rsrsrsr. Se o Brasil então pelo menos desse subsidio a algum produto brasileiro, já que é para feudalizar a favor dos seus, para o mesmo chegar mais barato no mercado e fazer concorrência ao similar produzido pelos americanos. Mas não é da índole dessa corruptocracia, que prefere sair ganhando.

    A foto de Bastiat bem que poderia ser trocada por List, ou Hamilton que é o caso – para ilustrar melhor o ridículo. E professores nos fazendo “comer” os livros dessa escola. Êee meu Brasil varonil...

    ResponderExcluir
  8. Anônimo1:07 PM

    Qual a retaliação que o governo brasileiro adotou contra o governo boliviano no episodio da invasão à Petrobrás? pode me responder, preazado Rogério PC? E os brasileiros expulsos do Paraguai, com expropriações de suas terras? qual foi a reação?

    ResponderExcluir
  9. Se o governo quisesse realmente retaliar os EUA, teria reduzido reduzido o imposto dos países concorrentes dos EUA nos produtos em questão.

    Causaria igual ou maior prejuizo aos EUA sem vitimar nos, escravos locais.

    ResponderExcluir
  10. Desculpem meu raciocínio simplório,não sou economista, mas entendo que quando os EUA subsidiam seus produtores para que estes exportem mais barato que os concorrentes, na verdade está exportando a poupança dos contribuintes. Bom para quem compra barato. Certo?
    Se isso prejudica nossos produtores vamos retaliar exportando nossa poupança fazendo o mesmo? Ou fazendo o povo aqui pagar mais caro pelos produtos que importamos? No meu entender isso é burrice.
    Temos que retaliar sim, concordo, mas de forma inteligente, doendo no bolso deles, sem que nós paguemos por isso.
    Temos que lembrar que o que compramos lá é porque não temos aqui ou nossa qualidade é pior.
    Mas como?
    Poderia ser cortando impostos de nossas exportações, talvez, ou comprando de outros países ao invés dos EUA.
    Inundando o mundo com suco de laranja e carne de frango, isentando os produtores de impostos.
    Importando mais da China, Rússia e India? E só importando o que eles lá subsidiam?
    Permitindo o comércio de produtos piratas e cópias de software de boa qualidade? (Essa iria deixa-los doentes)
    Realmente não sei mas deve haver algum jeito.

    ResponderExcluir
  11. Renato4:07 PM

    Numa relação de igualdade de forças, pode-se até falar em retaliação. Quando há disparidade de forças na relação, a coisa é bem mais complicada, principalmente se o cara a ser "retaliado" é um dos seus maiores clientes. É assim: enquanto você vinga a honra dos plantadores de algodão, eles detonam os fabricantes de sapatos, de sucos, de roupas e por aí vai. Essas vitórias costumam ser vitórias de Pirro.

    ResponderExcluir
  12. Citando o Anônimo,

    "Qual a retaliação que o governo brasileiro adotou contra o governo boliviano no episodio da invasão à Petrobrás? pode me responder, preazado Rogério PC? E os brasileiros expulsos do Paraguai, com expropriações de suas terras? qual foi a reação?"

    Não posso responder. Que eu saiba não houve nenhuma retaliação. O que acho vergonhoso para a diplomacia brasileira. Não conheço em detalhes o caso dos brasiguaios. Talvez eles não estejam 100% regularizados e dentro da lei, mas no caso da Bolívia, não tenho dúvida. Acho que o governo deveria exigir a saída dos bolivianos da refinaria e caso não fosse atendido, romper as relações diplomáticas com o fechamento das embaixadas e adotar o embargo econômico.

    Novamente, nesse caso é uma medida que prejudica os consumidores brasileiros. Deixaríamos de receber o gás da Bolívia, por exemplo, mas é um mal necessário. O Brasil se apequenou e colocou o rabo entre as pernas. Que humilhação!

    ResponderExcluir
  13. Anônimo7:19 PM

    Que retaliação? O que significa 500milhões para a economia americana. Quanto as exportaçõs brasileiras significam percentualmente em relaçào ao comécio mundial? 1,5% ou 2%, portanto, se desaparecessemos do mapa hoje com certeza, o mundo nem iria perceber.
    eavergilio@ig.com.br

    ResponderExcluir
  14. Tem gente por aqui que não entendeu a mensagem que o artigo passou.

    Pessoal, o grande prejudicado com as "retaliações" feitas pelo governo Lula somos nós, que iremos pagar mais caro por diversos produtos, ao mesmo tempo em que o povo americano é obrigado a pagar mais caro para poder consumir o algodão que desejam.

    RogérioPC, mesmo que todos os países do mundo resovessem adotar medidas proteccionistas contra os EUA, o resultado seria mesmo: quem sairia prejudicado nessa história seriam os consumidores destes países, e não os EUA, já que tal proteccionismo resultaria, eventualmente, num menor volume de investimentos por parte das empresas norte-americanas. A longo prazo, isso traria consequências mais graves do que um simpes aumento no preço de um determinado conjunto de produtos. Falo de coisas como aumento do desemprego e diminuição da economia destes países.

    O contrário também é válido: se os EUA resolvessem adotar medidas proteccionistas contra todas as outras nações do globo, no fim das ontas, seria o povo americano que sairia perdendo, pois eles não só teriam que pagar mais caro para ter o que desejam, como também isso poderia ter consequências drásticas para a economia americana, que viria a enconlher por conta dessa medida.

    ResponderExcluir
  15. Como retaliação, o governo brasileiro poderia nos fazer o grande favor de diminuir os impostos aqui, tanto para exportação quanto para consumo interno. Pronto, mata vários coelhos de uma vez só.
    Enquanto isso vou estocar tylenol antes que aumente o preço... hehe

    ResponderExcluir
  16. Quando um governo diz "precisamos proteger a indústria nacional" ele está feudalizando a favor de seus amigos. Que tarifas alfandegárias são mutuamente maléficas, nem se discute.

    ResponderExcluir
  17. O paraguai agradece!

    ResponderExcluir
  18. É válido lembrar também que os dirigistas adotam o protecionismo para "evitar o desemprego de determinado setor industrial". Na balança deles, é mais leve prejudicar todo o sistema econômico e consumidor a "prejudicar" alguns milhares de trabalhadores.

    É o uso do monopólio patrimonialista como instrumento de propaganda nacional.

    ResponderExcluir