segunda-feira, maio 24, 2010

A destruição da Venezuela



Deu no Valor:

Chávez corre risco com estagflação na Venezuela

Enrique Andrés Pretel, Reuters, de Caracas
24/05/2010

A receita socialista que o presidente Hugo Chávez aplica para enfrentar as distorções econômicas na Venezuela ameaça aprofundar a estagflação no país e pode afetar a sua popularidade, meses antes das eleições legislativas.

O alarme disparou neste mês, quando o dólar atingiu cotação recorde em relação ao bolívar venezuelano no mercado paralelo, apesar do controle cambial, e a inflação acelerou-se para 5,2% no mês de abril, apesar do controle de preços. Em meio a isso, há crescentes casos de desabastecimento de produtos alimentares básicos.

Chávez culpa primeiramente o capitalismo pelos problemas e, em seguida, aplica o princípio básico de seu socialismo do século XXI: mais Estado e menos mercado, por meio de regulamentações, estatizações e expropriações.

"O maldito capitalismo. É preciso atingi-lo, é preciso atingi-lo aqui, é preciso atingi-lo lá, atingi-lo pela identidade, pelo céu da boca. Por todos os lados, é preciso atingir o capitalismo", insiste Chávez, que assegura que seu modelo não tenta imitar o de seu amigo Fidel Castro.

E ele atingiu. O governo outorgou na semana passada ao Banco Central o controle do mercado alternativo de divisas, deixando de fora as casas de câmbio, uma vez que o dólar paralelo serve de referência para algumas importações e essa cotação incide nos preços ao consumidor. Além disso, expropriou uma filial da empresa mexicana de alimentos Gruma e relançou seu programa de alimentos subsidiados.

Para analistas, a resposta de Chávez ao que denomina uma "conspiração econômica" aquecerá ainda mais os preços, reduzirá a produção nacional e agravará a crescente desconfiança na economia do país, que faz parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e está atolado numa recessão desde 2009.

Economistas assinalam que as distorções geradas na "transição ao socialismo" foram lubrificadas pelos cinco anos de bonança petroleira, mas que com a queda da receita com o petróleo, o sistema começa a ranger.

"Os controles de câmbio sempre terminaram com uma grave crise na balança de pagamentos, inflação, desvalorização e contração da economia", afirmou Asdrúbal Oliveros, da empresa local Econanalítica. "Essa foi a experiência com os dois [controles] anteriores e este parece que vai pelo mesmo caminho."

Entre 2004 e 2008, o país registrou entrada recorde com as exportações de petróleo, que muitos criticam por ter sido diluída em imensos gastos sociais com matizes eleitoreiras, em vez de ter sido direcionada a um plano de desenvolvimento industrial para atacar o tradicional modelo rentista venezuelano e os problemas estruturais da economia.

Embora o preço médio do petróleo tenha chegado a US$ 72 neste ano, cerca de 25% a mais que em 2009, os recursos parecem insuficientes para cobrir todas as frentes de gastos abertas pelo líder esquerdista.

"As autoridades estão lutando contra os sintomas, não contra a causa", afirmou o analista Boris Segura, do RBS.

Muitos preveem que as autoridades econômicas tentarão colocar panos quentes quando as novas regulamentações cambiais agravarem o problema - com emissões de títulos de dívidas internacionais ou leilões de dólares - como fizeram para relaxar o controle de preços quando algum artigo fica escasso.

O presidente, no entanto, apesar da possibilidade de retrocessos pontuais no curto prazo, que Chávez chamaria de "estratégicos", tem clareza quanto a seu objetivo. É previsível que aumente o risco político com mais controles da economia, mais leis "socialistas" e mais expropriações de empresas pelo Estado.

"É preciso ir acelerando, mas de maneira progressiva, como quem acelera um veículo [...] Quando alguém acelera, precisa tomar precauções. Há combustível suficiente? Qual o estado da estrada, para poder acelerar?

Há uma curva ou é uma reta?", exemplificou o líder bolivariano recentemente.

Na mira do presidente estão os bancos, aos quais ele ameaça com intervir há semanas caso não concedam mais crédito; as casas de câmbio, que poderiam ter de fechar se ele considerar que continuam especulando; e as grandes empresas de alimentos do país, às quais acusa de reter produtos para elevar os preços.

Mas, com aprovação inferior a 50% pela primeira vez desde 2003, Chávez pisa em terreno perigoso, após ter investido muito de seu capital político para levar adiante em janeiro uma impopular desvalorização do bolívar e ter gastado recursos gigantescos para aplacar uma grave crise elétrica e de água.

Segundo o pesquisador Luis Vicente León, em sua conta no Twitter (@luisvicenteleon), "62,4% da população considera que as empresas de alimentos expropriadas produzem menos que antes".

Dessa forma, Chávez enfrenta a crise não só na esfera econômica, mas também na política. Os eleitores podem se irritar se o preço da carne disparar ou, ainda pior, se a carne desaparecer dos mercados.

Enquanto Chávez espera os resultados, analista preveem uma explosão dos gastos públicos nos próximos meses, para convencer a população de que sua equação "tanto Estado quanto for possível, tanto mercado quanto for inevitável" é melhor que as receitas "neoliberais" defendidas pela oposição, empresários privados e analistas de Wall Street.

"Seguiremos em frente, é preciso acabar com o capitalismo; se não for assim, o capitalismo acabará com o povo", disse há uma semana, instando seus seguidores a abraçar a causa socialista: "Escolhamos, então!".

Comentário: Quanto tempo para que nossa esquerda diga que o "filho" não é seu? Quanto tempo para os petralhas cada vez mais se distanciarem do socialista "bolivariano"? Quanto tempo para Lula negar que disse que havia "excesso de democracia" na Venezuela? O aliado, camarada, sócio do Foro de SP, está destruindo em alta velocidade o que resta da Venezuela. É questão de tempo o PT fingir que isso não tem nada a ver com as idéias que o partido defende...

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