Rodrigo Constantino, O Globo
Democracia não é a ditadura da maioria. O regime democrático requer condições básicas para funcionar, tais como liberdade de imprensa, limite constitucional ao governo, independência dos poderes e uma sólida oposição. Todos estes importantes pilares estão enfraquecidos no Brasil. O último deles será o foco deste artigo.
Mais de 40 milhões de brasileiros mostraram nas urnas que não estão satisfeitos com os rumos do país. Trata-se de um brado retumbante que garante legitimidade aos opositores do governo. Resta saber se a oposição vai cumprir com responsabilidade, união e coragem esta função delegada por tantos brasileiros. É o que se espera dela, e cabe às suas lideranças o papel de coordenar seus partidos nesta direção comum. Eximir-se desta tarefa significa trair milhões de eleitores.
O papel da oposição é fundamental para fortalecer a democracia. Hibernar por quatro anos para reaparecer nas eleições é suicídio político. Compreende-se o receio de enfrentar um governo popular como o do presidente Lula, mas ter deixado de fazê-lo foi como dar um tiro no próprio pé. Com Dilma na presidência, sem o mesmo carisma, esta negligência passa a ser indefensável.
Ao que tudo indica, a oposição terá uma excelente oportunidade para mostrar a que veio, lutando em defesa dos milhões de brasileiros que não suportam mais tantos impostos. Mal acabara a contagem das urnas, e a coligação eleita já falava em recriar a CPMF, com nome diferente para ludibriar o povo. Trata-se de um verdadeiro “estelionato eleitoral”, uma vez que a própria Dilma chegou a afirmar que não aumentaria os impostos, já em patamares indecentes no Brasil.
Segundo Alberto Carlos Almeida, em “O dedo na ferida”, o povo brasileiro sabe que paga muitos impostos, e gostaria que eles fossem reduzidos. Almeida acredita que há o script pronto, mas falta o ator. Eis a chance da oposição. O povo brasileiro está mais atento, e dificilmente cairá na retórica do governo, de que é preciso mais recursos para a saúde. O povo entendeu que dinheiro não tem carimbo, e que seus impostos acabam desviados para destinos menos nobres, como corrupção e inchaço da máquina pública.
A questão da recriação da CPMF será um teste crucial para verificar se ainda há oposição de fato neste país. Em vez de o governo criar mais imposto, ele deveria focar na redução dos gastos públicos, que estão em trajetória explosiva. A pressão inflacionária já começa a incomodar, e usar somente a política de juros para combatê-la significa usar uma bazuca para matar uma formiga: o estrago é geral.
O presidente Lula, no afã de eleger sua candidata, mandou às favas a responsabilidade fiscal durante o final de seu governo. Não só a gastança pública saiu de controle, como o crédito estatal também foi estimulado de forma irresponsável. O resultado foi um forte crescimento econômico, fator extremamente relevante para decidir a eleição. Mas a fatura ainda terá que ser paga. Se o governo Dilma não reverter o quadro, demonstrando maior austeridade fiscal, o crescimento será insustentável, tornando-se mais um vôo de galinha. Os “desenvolvimentistas”, estes alquimistas da ciência econômica, terão que aceitar a realidade como ela é.
Além da CPMF, existem várias outras batalhas que a oposição deve lutar. Os escândalos do Enem, para começo de conversa, ou então o trem-bala, cujo orçamento está claramente subestimado, e mesmo assim já representa enorme desperdício de recursos públicos frente a tantas alternativas mais urgentes. Ou ainda o estranho episódio envolvendo a Caixa Econômica e o Banco PanAmericano. Há muito que explicar nestes casos. A oposição não pode deixar tudo por conta da imprensa.
Há também a postura neutra lamentável do governo, quando a ONU resolveu condenar a teocracia iraniana por desrespeito aos direitos humanos. Para o governo, “negócios são negócios”. Cabe à oposição sustentar que esta não pode ser a postura de um país que ainda leva em consideração a questão ética. Milhões de brasileiros esperam esta reação da oposição.
Existem muitos outros pontos em que o papel da oposição se faz necessário para a construção de uma democracia mais sólida. O povo merece o contraditório, até para poder julgar melhor os atos do governo. Quando a oposição está fragilizada, desorganizada e passiva, a democracia corre perigo. A experiência mexicana mostrou como isso pode ser fatal. A oposição precisa resolver seus problemas internos e assumir seu papel legítimo em prol da democracia brasileira. Milhões de brasileiros contam com isso.
Rodrigo Constantino, estamos num momento delicado de pressão inflacionária, li hoje de manhã na Folha que o governo mostra intenção de mudar a metodologia de cálculo da inflação para excluir alimentos e combustíveis do cálculo. O que você acha disso? Eu desconheço o método de cálculo mas com certeza conhecendo o nosso governo todas as mudanças sinalizam mais uma maquiagem que uma melhora. Obrigado
ResponderExcluirFoi o medíocre Mantega quem levantou esta possibilidade de mudar o índice. É golpe, claro. Estilo argentino de ser. Mantega levou porrada de todo lado, e isso não deve ir para a frente. Mas fica registrado o alerta das intenções destes "desenvolvimentistas".
ResponderExcluirBrasileiro só pensa em grana, irmão oposicionista decente Constantino. Por isso, "negócios são negócios" na mente do povo brasileiro também e não só nas mentes de nossas autoridades. Ora, ainda que a clerocracia que é o (DES)governo iraniano que jamais, portanto, seria uma teocracia medieval cristã ou um governo realmente inspirado em Deus, nunca será condenado nem pelo povo do Brasil quanto mais pelo Governo. Eis aí, no mal moral ou no pecado, a origem de nossos males atuais brasileiros e dos que talvez virão se Deus não nos prouver com uma oposição política decente...
ResponderExcluirQuem viver verá. Que Deus nos perdoe sarando nossa terra...
Como dizia um dileto amigo, consul da Suiça no Recife, apreciador de uma boa comida acompanhada de uma boa bebida: o que leva um país para a frente é uma oposição dura e a alternancia dos ocupantes do poder. Nada de novo, eu sei, más vai enfiar isso na cabeça das pessoas.
ResponderExcluirO PT no governo mostrou ser o partido mais hipócrita da história desse país. O episódio do Irã foi lamentável. "Negócios são negócios". Amorim perdeu uma chance de ficar calado. Pra onde foi a tão falanda bandeira da ética do PT? A mesma bandeira que tanto usou pra atacar os outros.
ResponderExcluirHoje eles fazem questão de abraçar todos os governantes imundos do mundo que compartilham com a visão anti-EUA do planalto.
Quer dizer que abraçar um assassino ditador comunista pode mas abraçar um ianque imperialista não pode ? Só pode ser o 'duplipensamento' socialista em ação.
G.S
Não vai comentar sobre o escândalo Cablegate, RODRIGO, as "análises" americanas que vazaram no WikiLeaks? Eu ainda tô me afinando. Hehuehuheuheh. As melhores foram o exame de saude mental para a Kirchner e da enfermeira gostosa do Kadafi.
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