Idéias de um livre pensador sem medo da polêmica ou da patrulha dos "politicamente corretos".
quinta-feira, maio 31, 2012
Entrevista Interação 30
Entrevista que concedi ao programa Interação 30 durante o Fórum da Liberdade em Porto Alegre, para Gustavo Ene.
Parábolas italianas
Contardo Calligaris, Folha de SP
Milhares de iates e barcos mais ou menos luxuosos se reuniram para assistir às regatas de perto, no meio do mar.
Mas quem fez mesmo a festa foi a polícia financeira italiana, que, ao longo da semana, parou e controlou mais de 1.400 embarcações, constatando irregularidades fiscais em 135. Um exemplo que repercutiu na imprensa local foi o de um barco de 14 metros (valendo R$ 350 mil), cujo dono, em sua última declaração de renda, dissera ganhar menos de R$ 15 mil por ano.
Como o atual governo considera que um dos grandes vícios italianos é a evasão fiscal, só resta celebrar a ação da polícia financeira.
No entanto, na semana de regatas, alguns venezianos mais humildes, donos de barcos pequenos (que aqui são o equivalente de um carro popular 1.0), arredondaram seu fim do mês alugando assentos a quem quisesse passar o dia no mar, no meio das competições.
A polícia financeira fez que não viu. Mas alguns desses venezianos, na hora do almoço, serviram a seus clientes um refrigerante e um sanduíche. Nesse caso, a polícia os parou e multou, por servirem bebidas e comida sem a necessária licença (como se tivessem aberto restaurantes flutuantes).
Outra parábola. O senhor Mário, meu vizinho, é incomodado pela presença crescente de trabalhadores clandestinos, sobretudo chineses, nos restaurantes e cafés de nossa rua. Ele suspeita que até alguns pequenos empreendedores sejam imigrantes ilegais.
Na hora em que saio para comprar o jornal, Mário está lá, na esquina, para comentar: "Você viu? No bar lá mais adiante, é uma família inteira...". Há, na sua inquietude, uma parte de xenofobia e há também uma preocupação com as consequências fiscais do trabalho clandestino: se ninguém paga as contribuições obrigatórias, de onde virá o dinheiro para as aposentadorias? Sem contar que os clandestinos aceitam salários de fome e estragam o mercado...
Mário gostaria de denunciar os clandestinos do bar perto de nossa casa. Pelas declarações do governo atual, ele seria assim um cidadão consciente, e não um dedo-duro. Note-se, aliás, que a Comissão da União Europeia critica o governo italiano por não estar fazendo tudo o que deveria para sair da crise e, especialmente, para acabar com a evasão fiscal e com a economia informal e clandestina.
Em contrapartida, eis outro fato de crônica local. Na semana passada, um vilarejo do Vêneto foi etapa do "Giro d'Italia". O bar ao lado da chegada da famosa competição do ciclismo mundial conheceria assim um de seus "grandes" dias; para esse dia, o casal que possui e administra o pequeno estabelecimento pediu ajuda a dois parentes próximos.
Pois bem, a polícia financeira multou o casal por ter usado trabalho informal e o obrigou a empregar formalmente os dois parentes por, no mínimo, um mês. O casal declarou falência e colocou o ponto à venda.
A primeira moral dessas histórias se aplica (em parte) ao Brasil: a Itália está perseguindo evasão fiscal e trabalho informal como se fossem os grandes responsáveis pela crise atual. A história é outra: que a gente ache isso edificante ou não, a evasão fiscal e o trabalho informal foram ingredientes cruciais da receita do crescimento italiano depois da Segunda Guerra, porque também foram as reações que a sociedade inventou contra um Estado gigantesco e, muitas vezes, parasita e corrupto.
Tratar a evasão fiscal e a informalidade como uma praga é ingênuo; tratá-los como a ÚNICA praga italiana significa proteger um Estado arcaico contra todas críticas e reformas possíveis.
O outro sentido dessas histórias é mais geral e diz que talvez regras e normas nunca mereçam ser absolutas. Mais um exemplo. No dia da final da America's Cup, domingo retrasado, não muito longe da bacia de São Marcos, enquanto os catamarãs competiam, dois corpos de pescadores profissionais boiavam na água.
Proibidos de pescar a menos de três milhas da costa e tendo perdido seu barco de pesca por causa de uma multa, sobrou aos dois, para tentar ganhar o pão para suas famílias, encarar o largo numa casca de noz.
Proibir a pesca perto da costa é certo e ecologicamente necessário. Mas, como disse antes, talvez as regras nunca mereçam ser absolutas.
A temida greve da alimentação pública
Leandro Narloch, Rodrigo Constantino e Anthony Ling, Folha de SP
Dizem que é preciso haver mais planejamento do poder público, que o governo precisa investir mais no transporte coletivo, que a mobilidade urbana deve ser prioridade etc.
Recomendações assim são como oferecer uísque a alcoólatras: o remédio que se receita é precisamente a causa do problema.
O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo. Para chegar a essa constatação, basta imaginar uma notícia comum nos últimos dias tratando de outro serviço essencial: a alimentação.
"A semana foi de muito transtorno para quem precisa se alimentar fora de casa. Greves de garçons e cozinheiros paralisaram os serviços de mais de 30 mil restaurantes, padarias e lanchonetes que formam o sistema de alimentação pública municipal. Os trabalhadores pedem aumento real e reajuste dos abonos salariais. Não houve acordo entre o governo e o sindicato até o fim da noite de ontem.
Na capital, 6 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de alimentação coletiva.
Todos os estabelecimentos que vendem comida pronta são operados sob concessão por apenas 16 consórcios e cooperativas. A prefeitura e o governo estadual supervisionam a distribuição dos prato feitos e comerciais, planejam o sistema e realizam os repasses para as concessionárias.
Sem ter a quem recorrer diante da paralisação dos serviços, usuários chegaram a depredar bares e restaurantes. Outros se arriscaram em lanchonetes clandestinas, aquelas que não foram escolhidas nas licitações do governo e por isso atuam à margem do sistema de abastecimento da cidade.
A prefeitura alerta que esses serviços, além de ilegais, trazem diversos riscos para os usuários.
O sistema oficial, porém, é mal avaliado pelos cidadãos. Pesquisa recente mostra que o número total de queixas à prefeitura contra as comedorias saltou de 119.755, em 2010, para 143.901, em 2011.
A demora no atendimento ficou em primeiro lugar entre as dez principais reclamações. Outras queixas comuns são o desrespeito dos garçons, a pouca variação do cardápio e a falta de limpeza nas instalações.
O prefeito prometeu ontem mais investimentos na área. 'Até 2013, esperamos reduzir para 40 minutos o tempo de espera para o almoço', disse. Ele negou que o aumento dos salários dos garçons e cozinheiros resulte em aumento da tarifa do prato feito, hoje em R$ 30.
O Ministério Público investiga supostos repasses ilegais da prefeitura a concessionárias, que fizeram expressivas doações de campanha na última eleição. Os promotores acreditam que esses repasses seriam o principal motivo para a comida custar tão caro mesmo sendo subsidiada pelo governo.
Analistas afirmam que seria melhor que o governo deixasse para a iniciativa privada toda a venda de comida pronta. A concorrência entre padarias, botecos e restaurantes, argumentam eles, levaria diversidade e qualidade ao setor, atrairia a classe média e ainda baixaria o custo do serviço popular, como acontece em centenas de outros ramos da economia.
Para os analistas, a livre iniciativa e a concorrência poderiam até fazer a cidade ser mundialmente conhecida por seus restaurantes.
O sindicato dos garçons, a prefeitura, a associação das concessionárias, o Ministério Público e o governo estadual reagiram veementemente a essa proposta, que qualificaram de 'irresponsável e neoliberal'.
Para as entidades, a ausência do Estado na alimentação poderia resultar na falta de lanchonetes em áreas distantes, além do desabastecimento de comida na cidade. 'Se algum dia entregarmos o setor de restaurantes a empresários comprometidos apenas com o lucro, criaremos um completo caos', disse o prefeito."
LEANDRO NARLOCH, 33, é jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa)
RODRIGO CONSTANTINO, 35, é economista e autor de "Economia do Indivíduo: o Legado da Escola Austríaca" (Instituto Ludwig Von Mises Brasil)
ANTHONY LING, 26, é arquiteto e urbanista
Na capital, 6 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de alimentação coletiva.
Todos os estabelecimentos que vendem comida pronta são operados sob concessão por apenas 16 consórcios e cooperativas. A prefeitura e o governo estadual supervisionam a distribuição dos prato feitos e comerciais, planejam o sistema e realizam os repasses para as concessionárias.
Sem ter a quem recorrer diante da paralisação dos serviços, usuários chegaram a depredar bares e restaurantes. Outros se arriscaram em lanchonetes clandestinas, aquelas que não foram escolhidas nas licitações do governo e por isso atuam à margem do sistema de abastecimento da cidade.
A prefeitura alerta que esses serviços, além de ilegais, trazem diversos riscos para os usuários.
O sistema oficial, porém, é mal avaliado pelos cidadãos. Pesquisa recente mostra que o número total de queixas à prefeitura contra as comedorias saltou de 119.755, em 2010, para 143.901, em 2011.
A demora no atendimento ficou em primeiro lugar entre as dez principais reclamações. Outras queixas comuns são o desrespeito dos garçons, a pouca variação do cardápio e a falta de limpeza nas instalações.
O prefeito prometeu ontem mais investimentos na área. 'Até 2013, esperamos reduzir para 40 minutos o tempo de espera para o almoço', disse. Ele negou que o aumento dos salários dos garçons e cozinheiros resulte em aumento da tarifa do prato feito, hoje em R$ 30.
O Ministério Público investiga supostos repasses ilegais da prefeitura a concessionárias, que fizeram expressivas doações de campanha na última eleição. Os promotores acreditam que esses repasses seriam o principal motivo para a comida custar tão caro mesmo sendo subsidiada pelo governo.
Analistas afirmam que seria melhor que o governo deixasse para a iniciativa privada toda a venda de comida pronta. A concorrência entre padarias, botecos e restaurantes, argumentam eles, levaria diversidade e qualidade ao setor, atrairia a classe média e ainda baixaria o custo do serviço popular, como acontece em centenas de outros ramos da economia.
Para os analistas, a livre iniciativa e a concorrência poderiam até fazer a cidade ser mundialmente conhecida por seus restaurantes.
O sindicato dos garçons, a prefeitura, a associação das concessionárias, o Ministério Público e o governo estadual reagiram veementemente a essa proposta, que qualificaram de 'irresponsável e neoliberal'.
Para as entidades, a ausência do Estado na alimentação poderia resultar na falta de lanchonetes em áreas distantes, além do desabastecimento de comida na cidade. 'Se algum dia entregarmos o setor de restaurantes a empresários comprometidos apenas com o lucro, criaremos um completo caos', disse o prefeito."
LEANDRO NARLOCH, 33, é jornalista e autor de "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa)
RODRIGO CONSTANTINO, 35, é economista e autor de "Economia do Indivíduo: o Legado da Escola Austríaca" (Instituto Ludwig Von Mises Brasil)
ANTHONY LING, 26, é arquiteto e urbanista
quarta-feira, maio 30, 2012
Extra! Extra!
Imagens exclusivas e bombásticas do encontro entre Lula e Gilmar Mendes, que você jamais verá na grande imprensa!
Euro - o encontro final
Vídeo que mostra como será o último dos encontros da Comunidade Europeia para negociar a saída ou permanência da Grécia no euro.
terça-feira, maio 29, 2012
Criação coletiva
DORA KRAMER, Estadão
Não, o ex-presidente Lula não perdeu o juízo como sugere em princípio o relato da pressão explícita sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para influir no julgamento do mensalão, em particular da conversa com o ministro Gilmar Mendes eivada de impropriedades por parte de todas as partes.
Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar a tudo e a todos no cumprimento de suas vontades.
E por que o faz? Porque sente que pode. E pode mesmo porque deixam que faça. A exacerbação desse rude atrevimento é fruto de criação coletiva e não surgiu da noite para o dia.
A obra vem sendo construída gradativamente no terreno da permissividade geral onde se assentam fatores diversos e interesses múltiplos, cuja conjugação conferiu a Lula o diploma de inimputável no qual ele se encontra em pleno usufruto.
Nesse último e bastante assombroso caso, produto direto da condescendência institucional – para dizer de modo leve – de dois ex-presidentes da Corte guardiã da Constituição: o advogado Nelson Jobim, que convidou, e o ministro Gilmar Mendes, que aceitou ir ao encontro do ex-presidente.
Nenhum dos dois dispõe da prerrogativa da inocência. Podiam até não imaginar que Lula chegaria ao ponto da desfaçatez extrema de explicitar a intenção de influir no processo, aconselhando o tribunal a adiar o julgamento e ainda insinuar oferta de “proteção” ao ministro.
Inverossímil é que não desconfiassem da motivação do ex-presidente que anunciou disposição de se dedicar diuturnamente ao desmonte da “farsa do mensalão” e provou isso ao alimentar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no intuito de embaralhar as cartas e embananar o jogo.
Mas, apenas para raciocinar aceitemos o pressuposto da ingenuidade, compremos a versão do encontro entre amigos e consideremos natural tanto o convite quanto a anuência.
À primeira questão posta – “é inconveniente julgar esse processo agora” –, à primeira pergunta feita pelo ex-presidente – “não tem como adiar o julgamento?” –, se o ministro Gilmar Mendes tivesse agradecido ao convite e polidamente se retirado, não teria ouvido o que viria a seguir, segundo o relato que fez depois ao presidente do STF, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Narrativa esta que se pressupõe verdadeira. Se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e de esperar contra ele algum tipo de interpelação.
Tivesse dado por encerrado o encontro logo de início, o ministro Gilmar Mendes não teria ficado “perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”.
Não teria ouvido alusões ao seu possível envolvimento com o esquema Cachoeira – razão da oferta de proteção na CPMI –, não teria escutado o ex-presidente chamar o ministro Joaquim Barbosa de “complexado”.
Não teria testemunhado Lula desqualificar ao mesmo tempo o ex-ministro Sepúlveda Pertence e a ministra Cármen Lúcia ao sugerir a existência de uma cadeia de comando com a frase “vou falar para o Pertence cuidar dela”.
É verdade que se tivesse ido embora o ministro Gilmar Mendes teria poupado a si um enorme constrangimento.
Mas não daria ao País a oportunidade de saber que o ex-presidente tem acesso a informações de um inquérito na data da conversa (26 de abril) ainda protegido por sigilo de Justiça.
Não saberíamos que Lula diz orientar a conduta do ministro Dias Toffoli – “eu falei que ele tem que participar do julgamento”– e que afirma acompanhar de perto os passos do ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski – “ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem”.
Em suma, ninguém fica bem nessa história, mas Lula fica pior ao deixar que a soberba e o ressentimento o façam porta-voz do pior combate: a desqualificação das instituições. Entre elas o papel de ex-presidente da República.
Não, o ex-presidente Lula não perdeu o juízo como sugere em princípio o relato da pressão explícita sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para influir no julgamento do mensalão, em particular da conversa com o ministro Gilmar Mendes eivada de impropriedades por parte de todas as partes.
Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar a tudo e a todos no cumprimento de suas vontades.
E por que o faz? Porque sente que pode. E pode mesmo porque deixam que faça. A exacerbação desse rude atrevimento é fruto de criação coletiva e não surgiu da noite para o dia.
A obra vem sendo construída gradativamente no terreno da permissividade geral onde se assentam fatores diversos e interesses múltiplos, cuja conjugação conferiu a Lula o diploma de inimputável no qual ele se encontra em pleno usufruto.
Nesse último e bastante assombroso caso, produto direto da condescendência institucional – para dizer de modo leve – de dois ex-presidentes da Corte guardiã da Constituição: o advogado Nelson Jobim, que convidou, e o ministro Gilmar Mendes, que aceitou ir ao encontro do ex-presidente.
Nenhum dos dois dispõe da prerrogativa da inocência. Podiam até não imaginar que Lula chegaria ao ponto da desfaçatez extrema de explicitar a intenção de influir no processo, aconselhando o tribunal a adiar o julgamento e ainda insinuar oferta de “proteção” ao ministro.
Inverossímil é que não desconfiassem da motivação do ex-presidente que anunciou disposição de se dedicar diuturnamente ao desmonte da “farsa do mensalão” e provou isso ao alimentar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no intuito de embaralhar as cartas e embananar o jogo.
Mas, apenas para raciocinar aceitemos o pressuposto da ingenuidade, compremos a versão do encontro entre amigos e consideremos natural tanto o convite quanto a anuência.
À primeira questão posta – “é inconveniente julgar esse processo agora” –, à primeira pergunta feita pelo ex-presidente – “não tem como adiar o julgamento?” –, se o ministro Gilmar Mendes tivesse agradecido ao convite e polidamente se retirado, não teria ouvido o que viria a seguir, segundo o relato que fez depois ao presidente do STF, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Narrativa esta que se pressupõe verdadeira. Se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e de esperar contra ele algum tipo de interpelação.
Tivesse dado por encerrado o encontro logo de início, o ministro Gilmar Mendes não teria ficado “perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”.
Não teria ouvido alusões ao seu possível envolvimento com o esquema Cachoeira – razão da oferta de proteção na CPMI –, não teria escutado o ex-presidente chamar o ministro Joaquim Barbosa de “complexado”.
Não teria testemunhado Lula desqualificar ao mesmo tempo o ex-ministro Sepúlveda Pertence e a ministra Cármen Lúcia ao sugerir a existência de uma cadeia de comando com a frase “vou falar para o Pertence cuidar dela”.
É verdade que se tivesse ido embora o ministro Gilmar Mendes teria poupado a si um enorme constrangimento.
Mas não daria ao País a oportunidade de saber que o ex-presidente tem acesso a informações de um inquérito na data da conversa (26 de abril) ainda protegido por sigilo de Justiça.
Não saberíamos que Lula diz orientar a conduta do ministro Dias Toffoli – “eu falei que ele tem que participar do julgamento”– e que afirma acompanhar de perto os passos do ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski – “ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem”.
Em suma, ninguém fica bem nessa história, mas Lula fica pior ao deixar que a soberba e o ressentimento o façam porta-voz do pior combate: a desqualificação das instituições. Entre elas o papel de ex-presidente da República.
O céu é o limite
João Pereira Coutinho, Folha de SP
"Igualdade" será igualdade de todos perante a lei? Concordo. "Igualdade" será igualdade de tratamento para brancos ou negros no acesso a profissões e universidades? Também concordo.
Como diria o reverendo Martin Luther King, os homens devem ser julgados pelo seu caráter, não pela cor da sua pele.
O problema é que uma parte da esquerda quer julgar a cor da pele, não o caráter de um homem. Para essas patrulhas, o objetivo já não está em abolir situações de discriminação racial no acesso a profissões ou universidades.
O objetivo agora é outro: voltar a discriminar racialmente de forma a garantir igualdade de resultados, e não apenas de oportunidades. Esse conceito de igualdade é um travesti do original.
As cotas raciais, toleradas em universidades americanas (e, por decisão do Supremo Tribunal Federal, brasileiras também), são um bom exemplo. Desde logo porque elas começam por imitar o pior do pensamento racista: a diluição da identidade na pigmentação da pele de um grupo.
Para um racista, não existe o João ou a Maria; não existe gente concreta, com vícios e virtudes concretos. O racista agrupa: para ele, só existem "negros", ou "brancos", ou "pardos". O grupo suplanta o indivíduo. Só o grupo é dotado de uma qualidade própria -ou, melhor dizendo, imprópria.
Os defensores das "políticas afirmativas" são racistas invertidos. Para eles, também não há João ou Maria. E indivíduos não devem ser avaliados pelas qualidades pessoais.
O que existe são grupos que devem ser discriminados positivamente: as qualidades particulares dos indivíduos que compõem esses grupos não interessam para nada.
O resultado dessa despersonalização foi bem estudado por Thomas Sowell, sociólogo americano (e negro) que, durante três décadas, acompanhou as consequências das "políticas afirmativas" nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo (Índia, Sri Lanka, Nigéria etc.).
A principal obra de Sowell intitula-se, precisamente, "Affirmative Action Around the World: An Empirical Study" (políticas afirmativas pelo mundo: um estudo empírico), e a sentença do autor não é otimista: as vantagens dessas políticas são bem menores do que os prejuízos que elas causam.
Para começar, as "políticas afirmativas" alimentam nos seus beneficiários a humilhante ideia de que eles voam com asas falsas. Ironicamente, o que começa por ser um instrumento favorável à "autoestima" rapidamente se converte num dano para essa mesma "autoestima".
Mas o mais interessante é que essa percepção de fraude pessoal não se limita ao beneficiário dessas políticas. Ela estende-se igualmente à sociedade que o rodeia, gerando o tipo de hostilidade e ressentimento que se procurava combater. Uma vez mais, um instrumento favorável à "integração" também se transforma num mecanismo de exclusão.
O resultado perverso de todos esses estigmas está na desistência ou, pelo menos, na menor exigência que o beneficiário exibe na sua formação intelectual: estudar para quê, quando existe um lugar na universidade que premia a cor da minha pele?
E o inverso também acontece: de que vale o meu esforço quando eu tenho a cor da pele errada?
Se a cor da pele é critério relevante de admissão universitária, todos os grupos sociais, sejam ou não beneficiados por "políticas afirmativas", perdem o estímulo para realizarem o seu máximo potencial.
Como afirma Thomas Sowell, os defensores das "políticas afirmativas" acreditam que estão apenas a transferir benefícios de um grupo para o outro, corrigindo injustiças históricas.
Na verdade, estão a cometer novas injustiças e a empobrecer a sociedade como um todo, privando-a dos melhores médicos, dos melhores engenheiros, dos melhores professores -independentemente da cor da pele.
Para que o desastre fosse completo, ironiza Sowell, só faltava que os Estados Unidos começassem também a discriminar (negativamente) os alunos asiáticos que apresentam resultados acadêmicos superiores a brancos ou negros.
E por que não? Quando as universidades deixam de ser lugares de excelência e viram laboratórios de fanatismo ideológico, o céu é o limite.
Sinais de retrocesso
Rodrigo Constantino, O GLOBO
Voltamos aos tempos de pacotes econômicos semanais. Precisamos ficar atentos diariamente ao “Jornal Nacional”, pois pode surgir nova medida estatal que muda as regras do jogo, cedendo privilégios a uns e punindo outros. O governo parece mais perdido que cego em tiroteio.
Para quem tem apenas um martelo, tudo parece prego. Este governo só sabe estimular consumo e crédito, nada mais. Não podemos menosprezar o fator ideológico da equipe econômica. São nacional-desenvolvimentistas, com orgulho. Acreditam no governo como locomotiva do progresso nacional, e costumam desprezar os riscos inflacionários.
Quando os dados da economia apontam arrefecimento, lá vem o governo com a solução: nova rodada de estímulos para expandir o consumo via crédito. Ocorre que o modelo não é sustentável e apresenta claros sinais de esgotamento. As famílias já estão muito endividadas, consumindo quase um quarto da renda com o serviço da dívida. Há evidentes limites para mais alavancagem.
Os investidores ficam receosos para aumentar investimentos. A insegurança cresce quando o governo adota postura errática, partindo para medidas arbitrárias. Além disso, faz mais sentido “investir” no lobby em Brasília, quando a canetada do governo decide os rumos do setor e escolhe os campeões nacionais na marra.
Por que investir em eficiência quando o BNDES empresta dinheiro com juros abaixo da inflação? Muito melhor conquistar os políticos e cair nas graças do banco estatal, que já recebeu cerca de R$ 300 bilhões do Tesouro para tal finalidade.
Aprovar reformas estruturais e cortar seriamente os gastos públicos, para aumentar a poupança doméstica e permitir um crescimento sustentável, dá muito trabalho. É mais fácil reduzir as taxas de juros no grito, torcendo para a inflação não sair de controle. O próprio Banco Central conta com a “ajuda” externa, uma vez que a crise europeia e a desaceleração chinesa pressionam os preços das commodities para baixo, aliviando em parte a inflação.
Só que o Brasil continua em pleno emprego, com massa salarial em alta, e inflação de serviços rodando em patamares preocupantes. Ninguém no mercado financeiro acredita que há autonomia no BC, que se mostra cada vez mais politizado. Como resultado, as estimativas de inflação seguem desancoradas, mesmo com o “pibinho” crescendo abaixo de 3% ao ano.
Entre medidas desesperadas, o governo reforça o protecionismo comercial, intervém no câmbio nas duas direções (é preciso agradar à Fiesp, mas sem destruir a “Bolsa Miami” da classe média), reduz o IPI de setores específicos e força os bancos a conceder mais crédito, mesmo com a inadimplência em alta. Agora a presidente Dilma quer mexer até no lucro das montadoras. Não tem como dar certo.
O índice de ações das empresas brasileiras, medido pelo Ibovespa, acusa o golpe e acumula queda de quase 15% em 12 meses. Ele está no mesmo patamar de meados de 2007, sendo que a inflação no período passa de 30%. Os estrangeiros parecem cansados do modelo brasileiro também, e sacam seus recursos do país. O dólar passou de R$ 2,00 e o BC precisou intervir.
O fato é que esta equipe econômica nunca foi realmente testada em ambiente adverso. Na crise de 2008 isso quase aconteceu, mas, à época, ainda havia espaço para simplesmente inundar os mercados com estímulo ao consumo, único instrumento que este governo conhece. Assim foi feito, e a inflação bateu no topo da elevada meta.
Isso não é mais viável agora. Se o governo seguir nesta trajetória, ele vai fomentar uma bolha de crédito que inevitavelmente irá estourar, produzindo efeitos nefastos na economia. Sem maiores investimentos privados e liberdade econômica, o Brasil corre o risco de cair em uma armadilha de crescimento pífio com inflação elevada. É o que os economistas chamam de estagflação.
Resta saber se, no pânico, o governo vai apelar ainda mais para marretadas artificiais, como fez a vizinha Argentina, que até mexeu no cálculo oficial da inflação para tentar enganar o mercado.
A alternativa correta seria soltar as amarras criadas pelo governo, cortar os gastos públicos e deixar o mercado funcionar. Mas como esperar isso deste governo, com forte viés ideológico?
O PT, na oposição, foi contra todas as principais reformas que modernizaram o país, tais como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações e as metas de superávit primário e de inflação, com autonomia do BC.
A dúvida é se agora, no poder, o partido vai destruir estas conquistas. Espera-se que não. Mas os sinais de retrocesso saltam aos olhos de todos.
Voltamos aos tempos de pacotes econômicos semanais. Precisamos ficar atentos diariamente ao “Jornal Nacional”, pois pode surgir nova medida estatal que muda as regras do jogo, cedendo privilégios a uns e punindo outros. O governo parece mais perdido que cego em tiroteio.
Para quem tem apenas um martelo, tudo parece prego. Este governo só sabe estimular consumo e crédito, nada mais. Não podemos menosprezar o fator ideológico da equipe econômica. São nacional-desenvolvimentistas, com orgulho. Acreditam no governo como locomotiva do progresso nacional, e costumam desprezar os riscos inflacionários.
Quando os dados da economia apontam arrefecimento, lá vem o governo com a solução: nova rodada de estímulos para expandir o consumo via crédito. Ocorre que o modelo não é sustentável e apresenta claros sinais de esgotamento. As famílias já estão muito endividadas, consumindo quase um quarto da renda com o serviço da dívida. Há evidentes limites para mais alavancagem.
Os investidores ficam receosos para aumentar investimentos. A insegurança cresce quando o governo adota postura errática, partindo para medidas arbitrárias. Além disso, faz mais sentido “investir” no lobby em Brasília, quando a canetada do governo decide os rumos do setor e escolhe os campeões nacionais na marra.
Por que investir em eficiência quando o BNDES empresta dinheiro com juros abaixo da inflação? Muito melhor conquistar os políticos e cair nas graças do banco estatal, que já recebeu cerca de R$ 300 bilhões do Tesouro para tal finalidade.
Aprovar reformas estruturais e cortar seriamente os gastos públicos, para aumentar a poupança doméstica e permitir um crescimento sustentável, dá muito trabalho. É mais fácil reduzir as taxas de juros no grito, torcendo para a inflação não sair de controle. O próprio Banco Central conta com a “ajuda” externa, uma vez que a crise europeia e a desaceleração chinesa pressionam os preços das commodities para baixo, aliviando em parte a inflação.
Só que o Brasil continua em pleno emprego, com massa salarial em alta, e inflação de serviços rodando em patamares preocupantes. Ninguém no mercado financeiro acredita que há autonomia no BC, que se mostra cada vez mais politizado. Como resultado, as estimativas de inflação seguem desancoradas, mesmo com o “pibinho” crescendo abaixo de 3% ao ano.
Entre medidas desesperadas, o governo reforça o protecionismo comercial, intervém no câmbio nas duas direções (é preciso agradar à Fiesp, mas sem destruir a “Bolsa Miami” da classe média), reduz o IPI de setores específicos e força os bancos a conceder mais crédito, mesmo com a inadimplência em alta. Agora a presidente Dilma quer mexer até no lucro das montadoras. Não tem como dar certo.
O índice de ações das empresas brasileiras, medido pelo Ibovespa, acusa o golpe e acumula queda de quase 15% em 12 meses. Ele está no mesmo patamar de meados de 2007, sendo que a inflação no período passa de 30%. Os estrangeiros parecem cansados do modelo brasileiro também, e sacam seus recursos do país. O dólar passou de R$ 2,00 e o BC precisou intervir.
O fato é que esta equipe econômica nunca foi realmente testada em ambiente adverso. Na crise de 2008 isso quase aconteceu, mas, à época, ainda havia espaço para simplesmente inundar os mercados com estímulo ao consumo, único instrumento que este governo conhece. Assim foi feito, e a inflação bateu no topo da elevada meta.
Isso não é mais viável agora. Se o governo seguir nesta trajetória, ele vai fomentar uma bolha de crédito que inevitavelmente irá estourar, produzindo efeitos nefastos na economia. Sem maiores investimentos privados e liberdade econômica, o Brasil corre o risco de cair em uma armadilha de crescimento pífio com inflação elevada. É o que os economistas chamam de estagflação.
Resta saber se, no pânico, o governo vai apelar ainda mais para marretadas artificiais, como fez a vizinha Argentina, que até mexeu no cálculo oficial da inflação para tentar enganar o mercado.
A alternativa correta seria soltar as amarras criadas pelo governo, cortar os gastos públicos e deixar o mercado funcionar. Mas como esperar isso deste governo, com forte viés ideológico?
O PT, na oposição, foi contra todas as principais reformas que modernizaram o país, tais como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações e as metas de superávit primário e de inflação, com autonomia do BC.
A dúvida é se agora, no poder, o partido vai destruir estas conquistas. Espera-se que não. Mas os sinais de retrocesso saltam aos olhos de todos.
segunda-feira, maio 28, 2012
República das bananas
Rodrigo Constantino, Revista VOTO
"Vês, pois, que, onde tudo está sob o poder de uma facção, não se pode dizer que existe República." (Cipião)
Quando o então presidente Lula terminou seu segundo mandato, ele declarou que seria sua nova prioridade “provar” que o “mensalão” não passou de uma farsa. Não sendo possível provar isso, uma vez que o “mensalão” claramente existiu e está bem documentado, restou ao ex-presidente apelar para subterfúgios que tentam reescrever a história e jogar fumaça no julgamento dos acusados pelo Supremo Tribunal Federal.
O último episódio desta cruzada imoral foi também o mais abjeto de todos. Segundo o ministro Gilmar Mendes relatou à revista “Veja”, Lula teria solicitado um encontro com este por intermédio do ex-ministro Nelson Jobim, aliado político do ex-presidente. Gilmar Mendes jamais deveria ter aceitado tal convite. Mas o fato é que aceitou e, segundo seus relatos, foi vítima de constrangimento e até ameaça velada por parte de Lula.
O que foi comentado sobre este encontro, se verdadeiro na íntegra, representa um absurdo, um total desprezo pelos valores republicanos. Dada a trajetória de Lula, confesso que não fico nada surpreso com o conteúdo da conversa. O sindicalista sempre encarou a democracia como um simples meio para chegar ao poder, e uma vez lá, não foram poucas as tentativas de enfraquecer as principais instituições republicanas do país.
Conforme revelou Gilmar Mendes, Lula teria solicitado uma espécie de acordo com o ministro. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga Carlinhos Cachoeira, criada pela pressão do próprio Lula por interesses políticos e pessoais, seria suspensa em troca da postergação do julgamento do “mensalão”. Lula teria usado chantagem para convencer Gilmar Mendes, mencionando a viagem para Berlim que o ministro fez em companhia de Demóstenes Torres.
Sendo tudo isso verdade – e não há porque duvidar do ministro Gilmar Mendes –, trata-se de um escândalo de proporções gigantescas para a nossa frágil República. Lula realmente parece ignorar as lições do Barão de Montesquieu, principal iluminista responsável pela moderna divisão dos poderes. Para o ex-presidente, o país pode ser tratado como seu quintal, como uma espécie de feudo onde os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário se misturam por completo.
Tal divisão de poderes foi idealizada justamente para combater o arbítrio do governo, comum na época das monarquias absolutistas tão condenadas pelo próprio Montesquieu. Se o governante se sente no direito de legislar e julgar, além de executar, então o céu é o limite para seus mandos e desmandos. Lula, mesmo fora do cargo de presidente, parece ter deixado sua popularidade subir à cabeça, e não enxerga mais limites constitucionais aos seus desejos. Espera-se que a lei imponha tais limites.
Um dos mais importantes pilares de uma República constitucional que preza o império das leis é justamente um Judiciário independente. Governos autoritários sempre tentaram controlar a Corte Suprema. Foi o caso de Roosevelt nos Estados Unidos, cujo programa “New Deal” era claramente inconstitucional, e o meio encontrado para driblar este inconveniente foi expandir a quantidade de ministros para diluir os opositores.
Dos 11 ministros do STF, já são seis apontados pelo governo petista. Uma das indicações mais controversas foi a de José Antônio Dias Toffoli, por ser conhecido simpatizante do PT e ter trabalhado para membros do partido. Além desta afinidade, sua namorada é advogada de alguns “mensaleiros”. Um mínimo de bom senso e de apreço republicano faria com que o ministro se declarasse impedido de julgar o caso. A decisão ainda não foi tomada, mas o ex-presidente Lula teria dito, na reunião com Gilmar Mendes, que Toffoli tem que participar do julgamento. Como cobrar imparcialidade assim? Será que Lula pensa que estamos em Cuba?
Outro importante pilar de uma república saudável é a ampla liberdade de imprensa. Não por acaso o que resta de nossa imprensa livre tem sido alvo constante dos petistas. Assim que Gilmar Mendes colocou a boca no trombone sobre este nefasto encontro com Lula, o “bunker” virtual dos petistas disparou inúmeras mensagens tentando colocar em dúvida a honra do ministro, levantando suspeitas de uma parceria com a revista “Veja” em interesses obscuros. O ataque, para esta gente, é a melhor defesa. Já sobre o encontro em si e o que foi revelado dele, o ex-presidente preferiu não se manifestar.
É muito triste e também preocupante ver o modo como alguns petistas, incluindo o ex-presidente Lula, tratam as instituições republicanas de nosso país. Se dependesse somente deles, já seríamos uma legítima República das Bananas. Não estamos livres deste destino, como a vizinhança latino-americana pode atestar. Mas enquanto isso, que eles saibam que ainda há quem lute pela República neste país!
"Vês, pois, que, onde tudo está sob o poder de uma facção, não se pode dizer que existe República." (Cipião)
Quando o então presidente Lula terminou seu segundo mandato, ele declarou que seria sua nova prioridade “provar” que o “mensalão” não passou de uma farsa. Não sendo possível provar isso, uma vez que o “mensalão” claramente existiu e está bem documentado, restou ao ex-presidente apelar para subterfúgios que tentam reescrever a história e jogar fumaça no julgamento dos acusados pelo Supremo Tribunal Federal.
O último episódio desta cruzada imoral foi também o mais abjeto de todos. Segundo o ministro Gilmar Mendes relatou à revista “Veja”, Lula teria solicitado um encontro com este por intermédio do ex-ministro Nelson Jobim, aliado político do ex-presidente. Gilmar Mendes jamais deveria ter aceitado tal convite. Mas o fato é que aceitou e, segundo seus relatos, foi vítima de constrangimento e até ameaça velada por parte de Lula.
O que foi comentado sobre este encontro, se verdadeiro na íntegra, representa um absurdo, um total desprezo pelos valores republicanos. Dada a trajetória de Lula, confesso que não fico nada surpreso com o conteúdo da conversa. O sindicalista sempre encarou a democracia como um simples meio para chegar ao poder, e uma vez lá, não foram poucas as tentativas de enfraquecer as principais instituições republicanas do país.
Conforme revelou Gilmar Mendes, Lula teria solicitado uma espécie de acordo com o ministro. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga Carlinhos Cachoeira, criada pela pressão do próprio Lula por interesses políticos e pessoais, seria suspensa em troca da postergação do julgamento do “mensalão”. Lula teria usado chantagem para convencer Gilmar Mendes, mencionando a viagem para Berlim que o ministro fez em companhia de Demóstenes Torres.
Sendo tudo isso verdade – e não há porque duvidar do ministro Gilmar Mendes –, trata-se de um escândalo de proporções gigantescas para a nossa frágil República. Lula realmente parece ignorar as lições do Barão de Montesquieu, principal iluminista responsável pela moderna divisão dos poderes. Para o ex-presidente, o país pode ser tratado como seu quintal, como uma espécie de feudo onde os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário se misturam por completo.
Tal divisão de poderes foi idealizada justamente para combater o arbítrio do governo, comum na época das monarquias absolutistas tão condenadas pelo próprio Montesquieu. Se o governante se sente no direito de legislar e julgar, além de executar, então o céu é o limite para seus mandos e desmandos. Lula, mesmo fora do cargo de presidente, parece ter deixado sua popularidade subir à cabeça, e não enxerga mais limites constitucionais aos seus desejos. Espera-se que a lei imponha tais limites.
Um dos mais importantes pilares de uma República constitucional que preza o império das leis é justamente um Judiciário independente. Governos autoritários sempre tentaram controlar a Corte Suprema. Foi o caso de Roosevelt nos Estados Unidos, cujo programa “New Deal” era claramente inconstitucional, e o meio encontrado para driblar este inconveniente foi expandir a quantidade de ministros para diluir os opositores.
Dos 11 ministros do STF, já são seis apontados pelo governo petista. Uma das indicações mais controversas foi a de José Antônio Dias Toffoli, por ser conhecido simpatizante do PT e ter trabalhado para membros do partido. Além desta afinidade, sua namorada é advogada de alguns “mensaleiros”. Um mínimo de bom senso e de apreço republicano faria com que o ministro se declarasse impedido de julgar o caso. A decisão ainda não foi tomada, mas o ex-presidente Lula teria dito, na reunião com Gilmar Mendes, que Toffoli tem que participar do julgamento. Como cobrar imparcialidade assim? Será que Lula pensa que estamos em Cuba?
Outro importante pilar de uma república saudável é a ampla liberdade de imprensa. Não por acaso o que resta de nossa imprensa livre tem sido alvo constante dos petistas. Assim que Gilmar Mendes colocou a boca no trombone sobre este nefasto encontro com Lula, o “bunker” virtual dos petistas disparou inúmeras mensagens tentando colocar em dúvida a honra do ministro, levantando suspeitas de uma parceria com a revista “Veja” em interesses obscuros. O ataque, para esta gente, é a melhor defesa. Já sobre o encontro em si e o que foi revelado dele, o ex-presidente preferiu não se manifestar.
É muito triste e também preocupante ver o modo como alguns petistas, incluindo o ex-presidente Lula, tratam as instituições republicanas de nosso país. Se dependesse somente deles, já seríamos uma legítima República das Bananas. Não estamos livres deste destino, como a vizinhança latino-americana pode atestar. Mas enquanto isso, que eles saibam que ainda há quem lute pela República neste país!
Comitês de depuração
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
IMAGINE PARIS entre 1940 e 1944. Ocupação nazista. Agora se pergunte: onde estavam os artistas e intelectuais, franceses ou não, naquele momento? Estes que gostam de posar de arautos da ética, da transparência e do bem.
Claro, houve a "resistência francesa". Se contarmos o número de pessoas cujos pais e avós foram da Resistência Francesa, não teremos franceses suficientes para completar a cota dos resistentes de cada família.
Provavelmente, os resistentes de fato não enchiam dois ônibus. A Resistência Francesa é um dos maiores mitos modernos, assim como a dinamarquesa, a sueca, a holandesa e outras. A falsa coragem não é privilégio de nenhum povo. A maioria conviveu com o nazismo. E conviveria de novo. Raros são os que se revoltam contra situações assim, porque simplesmente temos medo e somos seletivos em nossas prioridades morais -quando existem.
Em situações assim, pensamos primeiro no café da manhã, no almoço e na janta. No emprego, no cotidiano, nas vantagens que podemos ter, dadas as condições em que vivemos. Danem-se as vítimas.
O século 20 criou uma das maiores mentiras da humanidade: a solidariedade abstrata. Aquela que se presta direto do Facebook ou do cardápio orgânico.
Não quero dizer que "tudo bem ser covarde", desculpando nossos atos pela banalização do medo. Basta um só corajoso para a covardia revelar sua face vergonhosa. O que me espanta é a mentira moral que se conta negando a epidemia de covardia em situações como essas. E gente "chique intelectualmente" adora esse tipo de farsa.
Depois de passar o dilúvio, aí aparecem milhares de "resistentes" corajosos para colher os louros que não merecem. Onde estavam Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac, Colette, Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
Se você quer saber, leia o maravilhoso livro de Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural durante a Ocupação Nazista, 1940-4", publicado pela Cia. das Letras. Trata-se de um painel definitivo do cenário intelectual e artístico da época, revelando detalhes do convívio "pacífico" da casta erudita francesa (e de estrangeiros que lá viviam) com a ocupação alemã.
Não se tratam dos reconhecidos fascistas e antissemitas franceses como Louis-Ferdinand Céline, o grande escritor e médico. Mas sim daqueles que ensaiaram uma resistência cultural tímida (que os alemães nunca levaram de fato a sério) a troco de permanecer vivendo suas vidas comuns de intelectuais e artistas "comprometidos com um mundo melhor" (risadas?).
Até o mercado das artes plásticas viveu um crescimento tímido, mas real, na época.
Não eram "colabôs" de fato ("colaboracionistas", termo usado na França para quem apoiou a ocupação nazista), apenas faziam teatro, escreviam livros, pintavam quadros, faziam música, bebiam vinho. E quando os Aliados libertaram a França, logo se apressaram em "provar" sua condição de membros da resistência "cuspindo" na cara de gente que, muitas vezes, os ajudou porque eram de fato "colabôs" e tinham acesso a favores nazistas.
Os "comités d' épuration" (comitês de depuração) se multiplicaram no pós-guerra e visavam estabelecer a verdade de quem era ou não "colabô".
Os alemães sabiam que, mantendo os salões, os cabarés, as "brasseries", os cafés, as livrarias, as galerias de arte e os teatros em atividade, ajudariam a manter os franceses e estrangeiros cultos "ocupados". Todo mundo sabe que o risco para regimes como o nazista está em quem pega em armas, e não em quem fala delas.
Por que a vergonha da casta artística e intelectual manchou tanto o nome da França? Porque se esperava mais deles.
Segundo Riding, o trauma francês com relação à covardia daqueles que se diziam combatentes do pensamento e da arte pode ter sido causada pelo fato de que, desde a Revolução Francesa de 1789, a França "é uma população educada para reverenciar ideias... Alguns consideram este um dos legados da revolução de 1789, a noção inebriante de que uma ideia traduzida em ação pode produzir uma mudança súbita, radical e idealizada".
Ledo engano.
IMAGINE PARIS entre 1940 e 1944. Ocupação nazista. Agora se pergunte: onde estavam os artistas e intelectuais, franceses ou não, naquele momento? Estes que gostam de posar de arautos da ética, da transparência e do bem.
Claro, houve a "resistência francesa". Se contarmos o número de pessoas cujos pais e avós foram da Resistência Francesa, não teremos franceses suficientes para completar a cota dos resistentes de cada família.
Provavelmente, os resistentes de fato não enchiam dois ônibus. A Resistência Francesa é um dos maiores mitos modernos, assim como a dinamarquesa, a sueca, a holandesa e outras. A falsa coragem não é privilégio de nenhum povo. A maioria conviveu com o nazismo. E conviveria de novo. Raros são os que se revoltam contra situações assim, porque simplesmente temos medo e somos seletivos em nossas prioridades morais -quando existem.
Em situações assim, pensamos primeiro no café da manhã, no almoço e na janta. No emprego, no cotidiano, nas vantagens que podemos ter, dadas as condições em que vivemos. Danem-se as vítimas.
O século 20 criou uma das maiores mentiras da humanidade: a solidariedade abstrata. Aquela que se presta direto do Facebook ou do cardápio orgânico.
Não quero dizer que "tudo bem ser covarde", desculpando nossos atos pela banalização do medo. Basta um só corajoso para a covardia revelar sua face vergonhosa. O que me espanta é a mentira moral que se conta negando a epidemia de covardia em situações como essas. E gente "chique intelectualmente" adora esse tipo de farsa.
Depois de passar o dilúvio, aí aparecem milhares de "resistentes" corajosos para colher os louros que não merecem. Onde estavam Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac, Colette, Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
Se você quer saber, leia o maravilhoso livro de Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural durante a Ocupação Nazista, 1940-4", publicado pela Cia. das Letras. Trata-se de um painel definitivo do cenário intelectual e artístico da época, revelando detalhes do convívio "pacífico" da casta erudita francesa (e de estrangeiros que lá viviam) com a ocupação alemã.
Não se tratam dos reconhecidos fascistas e antissemitas franceses como Louis-Ferdinand Céline, o grande escritor e médico. Mas sim daqueles que ensaiaram uma resistência cultural tímida (que os alemães nunca levaram de fato a sério) a troco de permanecer vivendo suas vidas comuns de intelectuais e artistas "comprometidos com um mundo melhor" (risadas?).
Até o mercado das artes plásticas viveu um crescimento tímido, mas real, na época.
Não eram "colabôs" de fato ("colaboracionistas", termo usado na França para quem apoiou a ocupação nazista), apenas faziam teatro, escreviam livros, pintavam quadros, faziam música, bebiam vinho. E quando os Aliados libertaram a França, logo se apressaram em "provar" sua condição de membros da resistência "cuspindo" na cara de gente que, muitas vezes, os ajudou porque eram de fato "colabôs" e tinham acesso a favores nazistas.
Os "comités d' épuration" (comitês de depuração) se multiplicaram no pós-guerra e visavam estabelecer a verdade de quem era ou não "colabô".
Os alemães sabiam que, mantendo os salões, os cabarés, as "brasseries", os cafés, as livrarias, as galerias de arte e os teatros em atividade, ajudariam a manter os franceses e estrangeiros cultos "ocupados". Todo mundo sabe que o risco para regimes como o nazista está em quem pega em armas, e não em quem fala delas.
Por que a vergonha da casta artística e intelectual manchou tanto o nome da França? Porque se esperava mais deles.
Segundo Riding, o trauma francês com relação à covardia daqueles que se diziam combatentes do pensamento e da arte pode ter sido causada pelo fato de que, desde a Revolução Francesa de 1789, a França "é uma população educada para reverenciar ideias... Alguns consideram este um dos legados da revolução de 1789, a noção inebriante de que uma ideia traduzida em ação pode produzir uma mudança súbita, radical e idealizada".
Ledo engano.
sexta-feira, maio 25, 2012
Liberdade, Liberdade
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Prezado leitor, estimada leitora, peço que você faça agora um exercício de memória voltando ao primeiro dia deste ano de 2012. Lembre de cada ida ao trabalho, que poderia ser um dia de folga, com a família, com um bom livro ou filme. Pense naquelas broncas todas que o chefe deu, na quantidade de sapo que você foi obrigado a engolir para manter seu emprego.
Lembre ainda aquela perda enorme de tempo nas filas do transporte coletivo, ou no engarrafamento dentro de seu carro, porque falta transporte coletivo decente. Pense ainda nos desafios que você teve de enfrentar no trabalho em janeiro, fevereiro, março, abril e maio, nos momentos em que você quase desanimou, mas teve que arregaçar as mangas e seguir em frente.
Pronto. Agora você já pode ficar sabendo que foi tudo isso em vão! Sei que pareço cruel, mas é que a verdade precisa ser dita. Todo esse esforço homérico, esse tempo dedicado ao trabalho em vez do lazer, ele foi a fundo perdido. Até agora, caro leitor, tudo isso serviu apenas para pagar as mamatas dos políticos, os esquemas corruptos dos governantes e seus apaniguados.
Sabe o escândalo do Cachoeira? Lembra do mensalão do PT? Pois é, de onde você acha que saiu a grana para tudo isso? Os invasores do MST, os anistiados terroristas comunistas, os funcionários públicos cheios de privilégios, os sindicalistas, os subsídios bilionários para as empresas amigas do rei, tudo isso demanda muita verba. Na verdade, quase 40% de tudo que é produzido no país, e que seu trabalho faz parte.
A partir de hoje você começa a trabalhar para você mesmo, e não mais para Brasília e para seu governo estadual. Agora você vai labutar para pagar tudo aquilo que supostamente o governo deveria oferecer para cobrar tanto imposto.
Mas não entre em desespero, nem comece a me xingar. Hoje é sexta-feira! É dia de cerveja com os amigos! Ops, preciso fechar com mais uma lembrança chata. Um certo “amigo” vai com você nessa "chopada" mesmo sem convite. É o fiscal da Receita, que leva mais da metade de cada gole que você der na bebida. Não vá com tanta sede ao pote, pois ele custa caro graças ao governo.
Amanhã, entretanto, será outro dia. Liberdade, liberdade!
Prezado leitor, estimada leitora, peço que você faça agora um exercício de memória voltando ao primeiro dia deste ano de 2012. Lembre de cada ida ao trabalho, que poderia ser um dia de folga, com a família, com um bom livro ou filme. Pense naquelas broncas todas que o chefe deu, na quantidade de sapo que você foi obrigado a engolir para manter seu emprego.
Lembre ainda aquela perda enorme de tempo nas filas do transporte coletivo, ou no engarrafamento dentro de seu carro, porque falta transporte coletivo decente. Pense ainda nos desafios que você teve de enfrentar no trabalho em janeiro, fevereiro, março, abril e maio, nos momentos em que você quase desanimou, mas teve que arregaçar as mangas e seguir em frente.
Pronto. Agora você já pode ficar sabendo que foi tudo isso em vão! Sei que pareço cruel, mas é que a verdade precisa ser dita. Todo esse esforço homérico, esse tempo dedicado ao trabalho em vez do lazer, ele foi a fundo perdido. Até agora, caro leitor, tudo isso serviu apenas para pagar as mamatas dos políticos, os esquemas corruptos dos governantes e seus apaniguados.
Sabe o escândalo do Cachoeira? Lembra do mensalão do PT? Pois é, de onde você acha que saiu a grana para tudo isso? Os invasores do MST, os anistiados terroristas comunistas, os funcionários públicos cheios de privilégios, os sindicalistas, os subsídios bilionários para as empresas amigas do rei, tudo isso demanda muita verba. Na verdade, quase 40% de tudo que é produzido no país, e que seu trabalho faz parte.
A partir de hoje você começa a trabalhar para você mesmo, e não mais para Brasília e para seu governo estadual. Agora você vai labutar para pagar tudo aquilo que supostamente o governo deveria oferecer para cobrar tanto imposto.
Mas não entre em desespero, nem comece a me xingar. Hoje é sexta-feira! É dia de cerveja com os amigos! Ops, preciso fechar com mais uma lembrança chata. Um certo “amigo” vai com você nessa "chopada" mesmo sem convite. É o fiscal da Receita, que leva mais da metade de cada gole que você der na bebida. Não vá com tanta sede ao pote, pois ele custa caro graças ao governo.
Amanhã, entretanto, será outro dia. Liberdade, liberdade!
quarta-feira, maio 23, 2012
Sensible Keynesians see no easy way out
By Raghuram Rajan, Financial Times
In the long run we are not dead, we will still be recovering from the Great Recession. We should therefore weigh stimulus policies not just on their immediate effect but on their consequences over time. Sensible Keynesians recognise this. They bet that reviving growth through government spending today outweighs the future loss of growth as the debt taken on to fund current spending is paid back. Consider two circumstances where this may apply.
The first is in a fully fledged panic where demand collapses, banks and companies fail and organisational capital is destroyed. Save, possibly, for Greece, it is hard to argue any industrial country is there today.
The key question then is whether more government spending can make a real difference to the most severe employment problems. Here the case for a general stimulus becomes less compelling. In the US, demand is weakest in communities where a boom and bust in house prices has left an overhang of household debt. Lower local demand has hit employment in industries such as retail and restaurants. A general increase in government spending may be too blunt – greater demand in New York is not going to help families eat out in Las Vegas (and hence create more restaurant jobs there). Targeted household debt write-offs in Las Vegas could be a better use of stimulus dollars.The second is when persistent high unemployment leads the long term unemployed to lose the habits and skills that make them employable. This is probably the more pertinent case in several industrial countries, such as the US and Spain. Increasing employment in a sustainable way today could more than pay for itself if people who would otherwise drop out of the workforce earn incomes.
However, the past build-up of debt in now depressed areas may suggest that demand was too high relative to incomes. If so, demand, without the dangerous stimulant of borrowing, will stay weak. Policy should instead help workers move where there are suitable jobs – for instance, by helping them offload their homes and the associated debt without the stigma of default.
Employment is also lower in states that experienced a housebuilding bust. In these states, unemployment is higher among construction workers and in related jobs such as real estate brokerage. Could big publicly funded infrastructure projects, modelled on those in the 1930s, re-employ them? Possibly not, since today’s built-up US is less in need of infrastructure on that scale. Moreover, it is not clear that a worker used to putting up drywall can move easily to laying fibre-optic cable. Perhaps it would be better policy to support retraining for private jobs.
Japan, which had a huge property boom and bust in the late 1980s, provides a salutary warning of the difficulties of stimulus through infrastructure spending. Even though Japan covered much of the country with concrete, it never fully emerged from the crisis. For the Japanese, the long run has arrived, and they are older, fewer and have the highest government debt in the G7.
The US government can still spend. The UK is more on the margin. With a huge financial sector dependent on the government’s financial standing, it can take fewer chances with its finances. Austerity is painful, which is why austerity tomorrow is not credible. Yet shared tax increases and spending cuts can instil a sense of national purpose to help a country weather tough times.
For Greece, government spending is the problem, not the solution. A responsible government would implement judicious austerity, firing the party hacks who were hired in the go-go years, cutting wages and pensions and restructuring itself to collect taxes and provide useful services, even while retaining transfers to the indigent and elderly. As public sector workers share the private sector’s pain, national solidarity could improve. Also, improved government efficiency and other structural reforms will make it easier for Europe to provide the financing that will prevent even more savage cuts to government functions. And it will make it easier to write down Greek debt further and attract private investment, giving people hope of growth.
Targeted government spending, or reduced austerity, along the lines suggested by sensible Keynesians, might be feasible in some countries and helpful in speeding recovery. But we should examine each policy based on a country’s circumstances. We should be particularly wary of populist Keynesians, who parrot “in the long run we are dead” to justify any short-sighted government action. They do the world a disservice by suggesting there are easy ways out. By misleading people and their leaders, they may well precipitate revolution rather than recovery.
In the long run we are not dead, we will still be recovering from the Great Recession. We should therefore weigh stimulus policies not just on their immediate effect but on their consequences over time. Sensible Keynesians recognise this. They bet that reviving growth through government spending today outweighs the future loss of growth as the debt taken on to fund current spending is paid back. Consider two circumstances where this may apply.
The first is in a fully fledged panic where demand collapses, banks and companies fail and organisational capital is destroyed. Save, possibly, for Greece, it is hard to argue any industrial country is there today.
The key question then is whether more government spending can make a real difference to the most severe employment problems. Here the case for a general stimulus becomes less compelling. In the US, demand is weakest in communities where a boom and bust in house prices has left an overhang of household debt. Lower local demand has hit employment in industries such as retail and restaurants. A general increase in government spending may be too blunt – greater demand in New York is not going to help families eat out in Las Vegas (and hence create more restaurant jobs there). Targeted household debt write-offs in Las Vegas could be a better use of stimulus dollars.The second is when persistent high unemployment leads the long term unemployed to lose the habits and skills that make them employable. This is probably the more pertinent case in several industrial countries, such as the US and Spain. Increasing employment in a sustainable way today could more than pay for itself if people who would otherwise drop out of the workforce earn incomes.
However, the past build-up of debt in now depressed areas may suggest that demand was too high relative to incomes. If so, demand, without the dangerous stimulant of borrowing, will stay weak. Policy should instead help workers move where there are suitable jobs – for instance, by helping them offload their homes and the associated debt without the stigma of default.
Employment is also lower in states that experienced a housebuilding bust. In these states, unemployment is higher among construction workers and in related jobs such as real estate brokerage. Could big publicly funded infrastructure projects, modelled on those in the 1930s, re-employ them? Possibly not, since today’s built-up US is less in need of infrastructure on that scale. Moreover, it is not clear that a worker used to putting up drywall can move easily to laying fibre-optic cable. Perhaps it would be better policy to support retraining for private jobs.
Japan, which had a huge property boom and bust in the late 1980s, provides a salutary warning of the difficulties of stimulus through infrastructure spending. Even though Japan covered much of the country with concrete, it never fully emerged from the crisis. For the Japanese, the long run has arrived, and they are older, fewer and have the highest government debt in the G7.
The US government can still spend. The UK is more on the margin. With a huge financial sector dependent on the government’s financial standing, it can take fewer chances with its finances. Austerity is painful, which is why austerity tomorrow is not credible. Yet shared tax increases and spending cuts can instil a sense of national purpose to help a country weather tough times.
For Greece, government spending is the problem, not the solution. A responsible government would implement judicious austerity, firing the party hacks who were hired in the go-go years, cutting wages and pensions and restructuring itself to collect taxes and provide useful services, even while retaining transfers to the indigent and elderly. As public sector workers share the private sector’s pain, national solidarity could improve. Also, improved government efficiency and other structural reforms will make it easier for Europe to provide the financing that will prevent even more savage cuts to government functions. And it will make it easier to write down Greek debt further and attract private investment, giving people hope of growth.
Targeted government spending, or reduced austerity, along the lines suggested by sensible Keynesians, might be feasible in some countries and helpful in speeding recovery. But we should examine each policy based on a country’s circumstances. We should be particularly wary of populist Keynesians, who parrot “in the long run we are dead” to justify any short-sighted government action. They do the world a disservice by suggesting there are easy ways out. By misleading people and their leaders, they may well precipitate revolution rather than recovery.
Trabalho escravo
Rodrigo Constantino
"O direito nunca é infringido a não ser quando alguém se encontra destituído de uma parte daquilo que apropriadamente lhe pertença, ou de sua liberdade pessoal, sem o seu consentimento ou contra a sua vontade." (Humboldt)
A Câmara aprovou nesta terça-feira a PEC do Trabalho Escravo, que pode expropriar a propriedade rural ou urbana, sem indenização, caso seja detectado "trabalho escravo". Muitos aplaudem a medida, cheios de boas intenções. Eu confesso que lamento profundamente a decisão. Não por ser a favor do trabalho escravo, naturalmente. E sim porque tenho muito receio da arbitrariedade do estado com o uso flexível e vago do conceito "escravo".
Alguns podem associar o termo automaticamente àqueles trabalhadores acorrentados, levando chibatadas dos capatazes. Não é nada disso. Se não tiver carteira assinada (quase 40% da mão de obra brasileira não possui carteira), se as condições do local de trabalho não forem "adequadas" de acordo com infindáveis normas vagas, se as autoridades, enfim, resolverem achar indícios de "trabalho escravo", então o proprietário poderá perder sua propriedade sem mais nem menos. Abre-se um precedente perigoso, um risco enorme ao nobre e fundamental pilar da propriedade privada.
Abaixo, um texto meu antigo, quando foi levantada pela primeira vez esta ideia:
Escravidão é coerção. Para configurarmos um trabalho como escravo, necessitamos invariavelmente do conceito objetivo de obrigatoriedade contra a vontade, sendo o trabalhador forçado a executar suas tarefas sob ameaça de punição caso não as cumpra. A escravidão é, portanto, um conceito objetivo atrelado a moral, e independe dos sofismas e eufemismos que legisladores de plantão resolvam aplicar. Ela pode ser permitida por lei, como já foi no passado, ou distorcida pela lei, como o é atualmente, mas isso nada altera sua definição básica de caracterizar-se pela supressão da liberdade de escolha individual.
Algumas pessoas, mesmo que bem intencionadas, preferem manipular tais conceitos objetivos e complicar a questão da escravidão, associando-a a aspectos subjetivos e abstratos, como a dignidade humana. Revoltados com certas condições de trabalho, principalmente no meio rural, essas pessoas criam novos conceitos para definir a escravidão, solapando a objetividade da lei e abrindo perigoso espaço para o poder arbitrário do burocrata do momento. Tal atitude abre um perigoso precedente, permitindo que a arbitrariedade do conceito de "justiça social" condene à morte a necessária e concreta noção de justiça, essencial para a liberdade dos indivíduos.
Alguns defensores de malabarismos com o conceito de escravidão argumentam que sem um salário "justo" ou mínimo para a subsistência, temos um evidente caso de trabalho escravo. Isso está incorreto. O princípio básico de liberdade é o direito à propriedade, incluindo aí a escolha voluntária do indivíduo no que diz respeito ao trabalho e às trocas que este irá efetuar. Se alguém decide, voluntariamente, por um trabalho filantrópico, por exemplo, com a ausência de remuneração material pelo seu esforço, este nunca poderá ser considerado um escravo. Já um trabalhador que recebe salário "decente", mas não é livre para escolher abandonar tal serviço, é um escravo.
"O direito nunca é infringido a não ser quando alguém se encontra destituído de uma parte daquilo que apropriadamente lhe pertença, ou de sua liberdade pessoal, sem o seu consentimento ou contra a sua vontade." (Humboldt)
A Câmara aprovou nesta terça-feira a PEC do Trabalho Escravo, que pode expropriar a propriedade rural ou urbana, sem indenização, caso seja detectado "trabalho escravo". Muitos aplaudem a medida, cheios de boas intenções. Eu confesso que lamento profundamente a decisão. Não por ser a favor do trabalho escravo, naturalmente. E sim porque tenho muito receio da arbitrariedade do estado com o uso flexível e vago do conceito "escravo".
Alguns podem associar o termo automaticamente àqueles trabalhadores acorrentados, levando chibatadas dos capatazes. Não é nada disso. Se não tiver carteira assinada (quase 40% da mão de obra brasileira não possui carteira), se as condições do local de trabalho não forem "adequadas" de acordo com infindáveis normas vagas, se as autoridades, enfim, resolverem achar indícios de "trabalho escravo", então o proprietário poderá perder sua propriedade sem mais nem menos. Abre-se um precedente perigoso, um risco enorme ao nobre e fundamental pilar da propriedade privada.
Abaixo, um texto meu antigo, quando foi levantada pela primeira vez esta ideia:
Escravidão é coerção. Para configurarmos um trabalho como escravo, necessitamos invariavelmente do conceito objetivo de obrigatoriedade contra a vontade, sendo o trabalhador forçado a executar suas tarefas sob ameaça de punição caso não as cumpra. A escravidão é, portanto, um conceito objetivo atrelado a moral, e independe dos sofismas e eufemismos que legisladores de plantão resolvam aplicar. Ela pode ser permitida por lei, como já foi no passado, ou distorcida pela lei, como o é atualmente, mas isso nada altera sua definição básica de caracterizar-se pela supressão da liberdade de escolha individual.
Algumas pessoas, mesmo que bem intencionadas, preferem manipular tais conceitos objetivos e complicar a questão da escravidão, associando-a a aspectos subjetivos e abstratos, como a dignidade humana. Revoltados com certas condições de trabalho, principalmente no meio rural, essas pessoas criam novos conceitos para definir a escravidão, solapando a objetividade da lei e abrindo perigoso espaço para o poder arbitrário do burocrata do momento. Tal atitude abre um perigoso precedente, permitindo que a arbitrariedade do conceito de "justiça social" condene à morte a necessária e concreta noção de justiça, essencial para a liberdade dos indivíduos.
Alguns defensores de malabarismos com o conceito de escravidão argumentam que sem um salário "justo" ou mínimo para a subsistência, temos um evidente caso de trabalho escravo. Isso está incorreto. O princípio básico de liberdade é o direito à propriedade, incluindo aí a escolha voluntária do indivíduo no que diz respeito ao trabalho e às trocas que este irá efetuar. Se alguém decide, voluntariamente, por um trabalho filantrópico, por exemplo, com a ausência de remuneração material pelo seu esforço, este nunca poderá ser considerado um escravo. Já um trabalhador que recebe salário "decente", mas não é livre para escolher abandonar tal serviço, é um escravo.
Logo, escravidão não pode ter ligação com a remuneração, e sim com a livre escolha ou não do trabalhador. Isso para não falar dos que consideram que remuneração, numa visão materialista marxista, dá-se somente através de papel-moeda. Ora, o próprio termo salário vem de sal, produto que já foi utilizado como moeda de troca antigamente. Portanto, um trabalhador que aceita, voluntariamente, oferecer seu esforço individual em troca de comida e moradia, sem dinheiro como forma de pagamento, não pode ser considerado um escravo. Mais escravo que ele é o "contribuinte" que entrega compulsoriamente cerca de metade de sua renda para o estado, que concentra ainda mais poder através da retórica contra a escravidão!
As condições materiais da vida desses trabalhadores pode, e deve, suscitar nas pessoas de bem a vontade de ajudar. Porém, há que se preservar a justiça, sempre. O inferno está cheio de boas intenções, diz a sabedoria popular. E a dignidade humana não estará condicionada à conta bancária, mas sim ao aspecto moral da conduta individual. O sujeito que permanece livre para escolher, assumindo responsabilidade por seus atos, é mais digno de respeito que o homem que depende de burocratas "iluminados" para decidir seus passos. Parasitas do governo, em busca de votos, que retiram a liberdade individual, não estão dando dignidade alguma, mas sim a destruindo. A dignidade vem da liberdade do indivíduo em exercer livremente suas preferências.
Exauridos os argumentos conceituais, podemos combater as recentes medidas sobre escravidão através da linha prática. Sabemos que o PT possui ranço ideológico socialista, além de uma proximidade criminosa com o MST. Observando a história, vemos que contorcionismos com a definição de escravidão foram bastante úteis aos revolucionários marxistas, cuja míope visão de luta de classes levou ao extermínio de milhões de indivíduos inocentes. Na melhor das hipóteses, fossem os defensores do combate à "escravidão" pessoas sinceramente imbuídas de senso de justiça, seus objetivos ficariam limitados à aplicação da lei via julgamento criminal dos fazendeiros com trabalho escravo. Entretanto, é a expropriação de suas terras que estes visam, numa clara confissão de perfídia, que passa despercebida pelos leigos românticos.
O próximo passo poderia ser tranquilamente estender tal luta contra a "escravidão" para o meio urbano, alegando que trabalhadores sem carteira assinada e excluídos das "garantias" da lei precisam de ajuda. Levando-se em conta que estamos falando de quase metade da população economicamente ativa, temos um prato cheio para os revolucionários de plantão. Amanhã, a empregada que voluntariamente trabalha sem carteira justamente para fugir das "regalias" utópicas das leis, poderá ser considerada uma escrava, e seu patrão poderá ter sua residência confiscada pelos nobres combatentes da escravidão. Salve-se quem puder!
As condições materiais da vida desses trabalhadores pode, e deve, suscitar nas pessoas de bem a vontade de ajudar. Porém, há que se preservar a justiça, sempre. O inferno está cheio de boas intenções, diz a sabedoria popular. E a dignidade humana não estará condicionada à conta bancária, mas sim ao aspecto moral da conduta individual. O sujeito que permanece livre para escolher, assumindo responsabilidade por seus atos, é mais digno de respeito que o homem que depende de burocratas "iluminados" para decidir seus passos. Parasitas do governo, em busca de votos, que retiram a liberdade individual, não estão dando dignidade alguma, mas sim a destruindo. A dignidade vem da liberdade do indivíduo em exercer livremente suas preferências.
Exauridos os argumentos conceituais, podemos combater as recentes medidas sobre escravidão através da linha prática. Sabemos que o PT possui ranço ideológico socialista, além de uma proximidade criminosa com o MST. Observando a história, vemos que contorcionismos com a definição de escravidão foram bastante úteis aos revolucionários marxistas, cuja míope visão de luta de classes levou ao extermínio de milhões de indivíduos inocentes. Na melhor das hipóteses, fossem os defensores do combate à "escravidão" pessoas sinceramente imbuídas de senso de justiça, seus objetivos ficariam limitados à aplicação da lei via julgamento criminal dos fazendeiros com trabalho escravo. Entretanto, é a expropriação de suas terras que estes visam, numa clara confissão de perfídia, que passa despercebida pelos leigos românticos.
O próximo passo poderia ser tranquilamente estender tal luta contra a "escravidão" para o meio urbano, alegando que trabalhadores sem carteira assinada e excluídos das "garantias" da lei precisam de ajuda. Levando-se em conta que estamos falando de quase metade da população economicamente ativa, temos um prato cheio para os revolucionários de plantão. Amanhã, a empregada que voluntariamente trabalha sem carteira justamente para fugir das "regalias" utópicas das leis, poderá ser considerada uma escrava, e seu patrão poderá ter sua residência confiscada pelos nobres combatentes da escravidão. Salve-se quem puder!
terça-feira, maio 22, 2012
Time to plan a velvet divorce for the euro
By Gideon Rachman, Financial Times
As I read
the umpteenth article on the “Grexit”, a phrase from the filmMarathon Man ran
around my head. In this cult-thriller, Laurence Olivier plays a war criminal
turned dentist who tortures Dustin Hoffman by drilling through his dental
nerves without anaesthetic. As he does so, he asks repeatedly “Is it safe?”
“Is it
safe?” is the question European leaders have been asking themselves for months,
as they contemplate Greece leaving the eurozone. Late last year I found myself
discussing this very question with a senior European politician. He had noticed
that I had written repeatedly that the eurozone was a flawed construction that
was likely to collapse. If that was the case, I was asked, would it not be
better to break the whole thing up now?
At this
point, I heard myself becoming shifty and evasive – “The trouble,” I replied,
“is that I keep being told that a break-up would cause a catastrophe. Until I
can tell you convincingly why that’s untrue, I can’t responsibly advocate it.”
But
prevarication is no longer good enough. In the coming months, Europe may be
forced to decide.
So – to
answer the question that I dodged back in December – yes, I do think that it
would ultimately be better if the eurozone broke up. This might not involve a
complete reversion to national currencies. A hard core of euro-users, centred
on Germany, might survive. But the current euro will have to go.
It is
true that the transition from here to there will be painful and dangerous. My
colleague Martin Wolf laid out an updated version of thefull horror
scenario in Friday’s FT – involving a breakdown of law and
order in Greece, and financial collapse across Europe. How could anyone
responsibly run that risk?
The
answer is that the alternatives to eurozone break-up are inherently implausible
and deeply unattractive. At the weekend G8 leaders called for Greece to stay in
the eurozone. Their present plan seems to involve some magical mix of stimulus
and austerity that restores both budgetary balance and growth. But even if they
can agree a real plan and even if it works – and neither outcome is likely –
the eurozone’s structural problems would remain.
Without
the option of devaluing their currencies, uncompetitive economies are left with
“internal devaluation” – otherwise known as wage cuts and mass unemployment. It
is true that countries such as Greece badly need economic reforms. But these
reforms – conducted within the straitjacket of monetary union with Germany –
are causing political and economic turmoil.
The real
problem, however, is political. The euro does not have a political union behind
it so it simply lacks the key institutions needed to make monetary union work.
There is no strong central government to enforce budgetary discipline and no
large federal budget to fund transfers from rich to poor areas. And, as we are
discovering, there is no euro-wide bank-deposit insurance scheme.
In
theory, the eurozone might rectify this error by moving to a real political
union. But the idea of a permanent transfer of sovereignty from Athens to
Brussels has been rejected by all sides in Greece. Meanwhile, in Germany, the
idea of a transfer union – involving a permanent gush of subsidies from
northern to southern Europe – remains anathema.
Even if
EU politicians were able to overcome such objections and create a real federal
union, this giant new entity would essentially hollow out the powers of
national democracies. Sacrificing national self-rule on the altar of the euro
is inherently objectionable – and would invite a nationalist backlash across
Europe. This “cure” for the ills of the euro would be worse than the disease.
Since the
long-term alternatives to the break-up of the eurozone lack credibility, it is
necessary to think about how to manage such an event – rather than simply
dismissing it as too dangerous to contemplate.
Unfortunately,
the break-up plans that Europeans are already drawing up behind closed doors
are too limited.
They
envisage a Greek exit, followed by a determined effort to throw up a firewall
that prevents other countries being sucked into the crisis. This has unfortunate
echoes of the past two years, during which the EU has consistently tried and
failed to confine the crisis to Greece.
In fact,
the exit of Greece would unleash contagion, by making it clear that membership
of the euro need not be permanent. Markets would inevitably round on the next
vulnerable countries.
Allowing
the fate of the euro to be driven by a succession of market panics would be the
worst possible way of breaking up the single currency. It would involve the
loss of billions of euros of public money as the EU burnt through its firewall.
The political and economic turmoil that followed would cause public panic and
discredit the politicians in charge.
It would
be infinitely preferable if EU leaders were to make a rational assessment of
which countries are willing and able to stay in the euro – and announce plans
to work on an amicable and orderly divorce between the stayers and the goers.
Only by acting in this way might they finally achieve their oft-stated goal of
“getting ahead of events”. Almost all euro-users adopted the currency without a
referendum, and they could leave the same way.
It is
true that even a “velvet divorce” for the eurozone would involve enormous
dangers. But at least it would offer a believable exit from the present maze.
As a (very) German proverb puts it – “Better an end with horror, than a horror
without end.”
Uma herança
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Passei uma parte da adolescência com a revista "Playboy". Culpa de um familiar, que a consumia primeiro e a deixava na mesa de cabeceira depois.
Dito e feito: aos sábados, almoçava na casa dele como um menino aprumado. E, quando os comensais ainda estavam na sobremesa, eu mostrava certo enfartamento, levantava-me sem fazer ondas e ia repousar na biblioteca.
A biblioteca era um pequeno banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Maitê Proença, Vera Fischer e Luiza Tomé.
Ainda hoje, a caminho da meia-idade, penso nas fotos de Luiza Tomé e sinto o tipo de estremecimento que Stendhal detectou em certos turistas girando pelos monumentos de Itália. Nunca desmaiei, é certo, mas, já que falamos no assunto: onde anda você, Luiza? Não escreve, não telefona, não diz nada.
A "Playboy" era educação estética. Mas era também formação cultural. Parece piada: folhear a "Playboy" pelos contos e ensaios.
Não era. A primeira vez que ouvi falar de Graham Greene, foi na "Playboy". O mesmo para Nabokov, Amis (pai) e Amis (filho). Se os li na edição brasileira ou na edição americana, é difícil dizer. Consumia ambas. Nunca discriminei.
Mas, para ficarmos no Brasil, o melhor de tudo eram as entrevistas.
Recordo, com gratidão sincera, uma conversa notável com Roberto Campos, na qual o economista elaborava uma das defesas mais inteligentes do capitalismo que li em qualquer língua.
Uma das observações mais sagazes de Campos era, ironia das ironias, uma evocação de Marx: a ideia de que, sem produzir em abundância, não há riqueza para redistribuir. É tudo "die alte Scheisse" ("a mesma merda").
Muitos intelectuais de esquerda, na impossibilidade de lerem Marx, deveriam ler essa entrevista.
Ou outras. O que acontecia com os escritores, acontecia com certos políticos: um tal de "Lula" foi-me apresentado pela "Playboy".
As considerações econômicas do sindicalista eram de um primitivismo embaraçoso, confesso. Mas, depois, Lula mostrava um tal desprezo por Caetano Veloso e Gilberto Gil (juro, juro), que simpatizei logo com o personagem.
Sem falar de Nelson Rodrigues. Já conhecia as crônicas do mestre, é verdade. Mas desconhecia que aos sete anos Nelson escrevera sua primeira história de adultério. Palavras do próprio. Onde estará essa história? Ruy Castro que nos esclareça.
Os sábados eram assim: repartidos entre as curvas do corpo e as contracurvas do espírito. E eu, na estupidez própria dos 12 ou 13 anos, pensava honestamente que um cidadão tinha direito aos seus segredos. Eu desaparecia uma tarde inteira com as revistas debaixo do braço. E ninguém notava.
Esse familiar notou. Semanas atrás, depois de uma doença demasiado longa e dolorosa para merecer comentário, o homem apagou-se. Fizeram-se as cerimônias fúnebres, disseram-se as palavras de circunstância.
E eu, em frente ao caixão, enquanto meditava em todos os sábados do passado, recebi do filho dele a informação de que existia uma caixa na casa deles que me era destinada.
A caixa chegou hoje, com o conteúdo inevitável: as revistas. Ou o que sobrou delas: dezenas de números da "Playboy", até dezembro de 1999. Não sei por que motivo elas deixaram de ser consumidas na virada do milênio.
Sei apenas que eu as deixei de consumir anos antes, quando o desafio passou a ser encontrar Luizas Tomés fora do banheiro, não dentro dele.
Com a imaginação literária que o momento exige, ainda procurei um bilhete no meio da herança: uma explicação, um "sempre-soube-de-tudo", um aceno irônico do outro lado da eternidade. Em homenagem aos almoços interrompidos, talvez um "bom apetite".
Nada encontrei. Faz sentido: os segredos de duas vidas não devem terminar quando termina uma delas. Pelo contrário, devem continuar com a vida que fica. Por momentos, ainda pensei expor a coleção na melhor estante da sala.
Mas isso seria uma traição ao espírito da coisa. Melhor guardar tudo na mesa do quarto. Com sorte, haverá filhos ou sobrinhos que saberão o que fazer com elas.
Dito e feito: aos sábados, almoçava na casa dele como um menino aprumado. E, quando os comensais ainda estavam na sobremesa, eu mostrava certo enfartamento, levantava-me sem fazer ondas e ia repousar na biblioteca.
A biblioteca era um pequeno banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Maitê Proença, Vera Fischer e Luiza Tomé.
Ainda hoje, a caminho da meia-idade, penso nas fotos de Luiza Tomé e sinto o tipo de estremecimento que Stendhal detectou em certos turistas girando pelos monumentos de Itália. Nunca desmaiei, é certo, mas, já que falamos no assunto: onde anda você, Luiza? Não escreve, não telefona, não diz nada.
A "Playboy" era educação estética. Mas era também formação cultural. Parece piada: folhear a "Playboy" pelos contos e ensaios.
Não era. A primeira vez que ouvi falar de Graham Greene, foi na "Playboy". O mesmo para Nabokov, Amis (pai) e Amis (filho). Se os li na edição brasileira ou na edição americana, é difícil dizer. Consumia ambas. Nunca discriminei.
Mas, para ficarmos no Brasil, o melhor de tudo eram as entrevistas.
Recordo, com gratidão sincera, uma conversa notável com Roberto Campos, na qual o economista elaborava uma das defesas mais inteligentes do capitalismo que li em qualquer língua.
Uma das observações mais sagazes de Campos era, ironia das ironias, uma evocação de Marx: a ideia de que, sem produzir em abundância, não há riqueza para redistribuir. É tudo "die alte Scheisse" ("a mesma merda").
Muitos intelectuais de esquerda, na impossibilidade de lerem Marx, deveriam ler essa entrevista.
Ou outras. O que acontecia com os escritores, acontecia com certos políticos: um tal de "Lula" foi-me apresentado pela "Playboy".
As considerações econômicas do sindicalista eram de um primitivismo embaraçoso, confesso. Mas, depois, Lula mostrava um tal desprezo por Caetano Veloso e Gilberto Gil (juro, juro), que simpatizei logo com o personagem.
Sem falar de Nelson Rodrigues. Já conhecia as crônicas do mestre, é verdade. Mas desconhecia que aos sete anos Nelson escrevera sua primeira história de adultério. Palavras do próprio. Onde estará essa história? Ruy Castro que nos esclareça.
Os sábados eram assim: repartidos entre as curvas do corpo e as contracurvas do espírito. E eu, na estupidez própria dos 12 ou 13 anos, pensava honestamente que um cidadão tinha direito aos seus segredos. Eu desaparecia uma tarde inteira com as revistas debaixo do braço. E ninguém notava.
Esse familiar notou. Semanas atrás, depois de uma doença demasiado longa e dolorosa para merecer comentário, o homem apagou-se. Fizeram-se as cerimônias fúnebres, disseram-se as palavras de circunstância.
E eu, em frente ao caixão, enquanto meditava em todos os sábados do passado, recebi do filho dele a informação de que existia uma caixa na casa deles que me era destinada.
A caixa chegou hoje, com o conteúdo inevitável: as revistas. Ou o que sobrou delas: dezenas de números da "Playboy", até dezembro de 1999. Não sei por que motivo elas deixaram de ser consumidas na virada do milênio.
Sei apenas que eu as deixei de consumir anos antes, quando o desafio passou a ser encontrar Luizas Tomés fora do banheiro, não dentro dele.
Com a imaginação literária que o momento exige, ainda procurei um bilhete no meio da herança: uma explicação, um "sempre-soube-de-tudo", um aceno irônico do outro lado da eternidade. Em homenagem aos almoços interrompidos, talvez um "bom apetite".
Nada encontrei. Faz sentido: os segredos de duas vidas não devem terminar quando termina uma delas. Pelo contrário, devem continuar com a vida que fica. Por momentos, ainda pensei expor a coleção na melhor estante da sala.
Mas isso seria uma traição ao espírito da coisa. Melhor guardar tudo na mesa do quarto. Com sorte, haverá filhos ou sobrinhos que saberão o que fazer com elas.
segunda-feira, maio 21, 2012
Que dó da Chanel
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
"Que dó da Chanel!", disse minha filha ao ouvir que o Monsieur Normal (François Hollande, o socialista) ganhou as eleições presidenciais na França. Só vai restar a Chanel fugir para Bélgica.
Caras como ele parecem não entender que se você coloca limites para o retorno financeiro de quem trabalha, a pessoa trabalha menos e fica preguiçosa. Ou foge para onde não roubem seu dinheiro, fruto de anos de trabalho duro.
Basta ver a história. Estes caras deveriam ler a filósofa russa Ayn Rand e seu maravilhoso "A Revolta de Atlas", da editora Sextante. Sociedades socialistas cultivam a preguiça, a mediocridade e desestimulam a criatividade e coragem profissional. Todo mundo vira funcionário público. Rand conheceu na pele o ridículo do sistema socialista soviético, antes de fugir para os Estados Unidos.
Dirá o leitor que exagero. Sim, um pouco, mas em se tratando da esquerda francesa, acostumada à vida mansa do Estado de bem-estar social, a França produtiva deve ficar alerta.
Assim como a Argentina, que nunca saiu da pasmaceira peronista, a França nunca saiu do delírio jacobino da Revolução Francesa.
Os caras não crescem e continuam a não entender que país é como sua casa, quando se gasta mais do que se ganha, a conta não fecha no final do mês e você estoura sua conta no banco.
Engraçado como a França e outros países europeus ocidentais que não passaram por regimes marxistas gostam de brincar de socialista. Brincam como se a catástrofe que foi a experiência marxista no poder não tivesse acontecido.
Acusam muita gente de não ter "consciência histórica", quando eles não têm nenhuma. A começar pelos intelectuais de esquerda, esses mandarins da mentira.
Vejam que os países do leste europeu que foram comunistas não chegam nem perto da baboseira da esquerda. Pergunte a uma tcheca ou russa se ela gostaria de voltar ao comunismo.
Mas, como a França ainda tem dinheiro para gastar, o dinossauro francês ganhou a eleição. Se ele não criar juízo e ficar prometendo o que não pode (como deixar os franceses se aposentarem com menos de 60 anos e com isso piorar a pressão sobre a população mais jovem produtiva que paga a conta da previdência social francesa), na próxima eleição, Marine Le Pen (do Front National, partido de extrema-direita) leva, o que seria outra catástrofe. É isso que ela espera, por isso recusou apoio ao Sarkozy.
Tanto a direita radical quanto a esquerda são contra a sociedade de mercado e não entendem nada de economia. Os da esquerda culpam os ricos, os da direita radical culpam os estrangeiros, e nenhum dos dois sabe lidar com a complexidade de um mundo que nada tem de perfeito e que é sempre fruto da velha natureza humana: mentirosa, interesseira e preguiçosa, quando pode. Nada brota onde não há dinheiro. Até minha llhasa apso, mais inteligente do que muita gente que conheço, sabe disso.
E por falar em Chanel (que para mim significa "mulher bonita"), recentemente tivemos mais uma prova de que a natureza humana é atávica em suas mazelas, sendo a inveja uma das piores.
Já disse várias vezes nesta coluna que as mulheres bonitas são vítimas de perseguição por parte das feias -a velha inveja da beleza.
Em recente pesquisa sobre mercado de trabalho, publicada no caderno "Mercado" desta Folha (13/5), israelenses provaram que mulheres bonitas que colocam suas fotos no CV são constantemente eliminadas, não tendo chance de chegar nem a uma primeira entrevista.
E por quê? O fato é que o RH é comumente dominado pelas mulheres, e estas, aparentemente, temem que mulheres bonitas assumam cargos em suas empresas.
Incrível, não? Depois dizem que são os homens que atrapalham a vida profissional das mulheres bonitas. A verdade parece ser o contrário: se aumenta o número de homens envolvidos no processo decisório, a seleção pode deixar de ser injusta para as mais bonitas.
Já que estamos em época de cotas para minorias oprimidas, proponho cotas para mulheres bonitas nas faculdades, nas empresas e no governo. O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. Elas são o pulmão do mundo.
"Que dó da Chanel!", disse minha filha ao ouvir que o Monsieur Normal (François Hollande, o socialista) ganhou as eleições presidenciais na França. Só vai restar a Chanel fugir para Bélgica.
Caras como ele parecem não entender que se você coloca limites para o retorno financeiro de quem trabalha, a pessoa trabalha menos e fica preguiçosa. Ou foge para onde não roubem seu dinheiro, fruto de anos de trabalho duro.
Basta ver a história. Estes caras deveriam ler a filósofa russa Ayn Rand e seu maravilhoso "A Revolta de Atlas", da editora Sextante. Sociedades socialistas cultivam a preguiça, a mediocridade e desestimulam a criatividade e coragem profissional. Todo mundo vira funcionário público. Rand conheceu na pele o ridículo do sistema socialista soviético, antes de fugir para os Estados Unidos.
Dirá o leitor que exagero. Sim, um pouco, mas em se tratando da esquerda francesa, acostumada à vida mansa do Estado de bem-estar social, a França produtiva deve ficar alerta.
Assim como a Argentina, que nunca saiu da pasmaceira peronista, a França nunca saiu do delírio jacobino da Revolução Francesa.
Os caras não crescem e continuam a não entender que país é como sua casa, quando se gasta mais do que se ganha, a conta não fecha no final do mês e você estoura sua conta no banco.
Engraçado como a França e outros países europeus ocidentais que não passaram por regimes marxistas gostam de brincar de socialista. Brincam como se a catástrofe que foi a experiência marxista no poder não tivesse acontecido.
Acusam muita gente de não ter "consciência histórica", quando eles não têm nenhuma. A começar pelos intelectuais de esquerda, esses mandarins da mentira.
Vejam que os países do leste europeu que foram comunistas não chegam nem perto da baboseira da esquerda. Pergunte a uma tcheca ou russa se ela gostaria de voltar ao comunismo.
Mas, como a França ainda tem dinheiro para gastar, o dinossauro francês ganhou a eleição. Se ele não criar juízo e ficar prometendo o que não pode (como deixar os franceses se aposentarem com menos de 60 anos e com isso piorar a pressão sobre a população mais jovem produtiva que paga a conta da previdência social francesa), na próxima eleição, Marine Le Pen (do Front National, partido de extrema-direita) leva, o que seria outra catástrofe. É isso que ela espera, por isso recusou apoio ao Sarkozy.
Tanto a direita radical quanto a esquerda são contra a sociedade de mercado e não entendem nada de economia. Os da esquerda culpam os ricos, os da direita radical culpam os estrangeiros, e nenhum dos dois sabe lidar com a complexidade de um mundo que nada tem de perfeito e que é sempre fruto da velha natureza humana: mentirosa, interesseira e preguiçosa, quando pode. Nada brota onde não há dinheiro. Até minha llhasa apso, mais inteligente do que muita gente que conheço, sabe disso.
E por falar em Chanel (que para mim significa "mulher bonita"), recentemente tivemos mais uma prova de que a natureza humana é atávica em suas mazelas, sendo a inveja uma das piores.
Já disse várias vezes nesta coluna que as mulheres bonitas são vítimas de perseguição por parte das feias -a velha inveja da beleza.
Em recente pesquisa sobre mercado de trabalho, publicada no caderno "Mercado" desta Folha (13/5), israelenses provaram que mulheres bonitas que colocam suas fotos no CV são constantemente eliminadas, não tendo chance de chegar nem a uma primeira entrevista.
E por quê? O fato é que o RH é comumente dominado pelas mulheres, e estas, aparentemente, temem que mulheres bonitas assumam cargos em suas empresas.
Incrível, não? Depois dizem que são os homens que atrapalham a vida profissional das mulheres bonitas. A verdade parece ser o contrário: se aumenta o número de homens envolvidos no processo decisório, a seleção pode deixar de ser injusta para as mais bonitas.
Já que estamos em época de cotas para minorias oprimidas, proponho cotas para mulheres bonitas nas faculdades, nas empresas e no governo. O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. Elas são o pulmão do mundo.
O fim do euro
Meu novo artigo para o OrdemLivre.org: “The european single currency is bound to fail, economically, politically, and indeed socially, though the timing, occasion, and full consequences are all necessarily still unclear.” (Margaret Thatcher)
sábado, maio 19, 2012
Dilma ressuscita Geisel
Vídeo onde comento a situação preocupante da economia brasileira, com medidas erráticas do desgoverno Dilma, que ressuscitou o nacional-desenvolvimentismo de Geisel com vontade. Pagaremos um alto preço por tanta incompetência e ranço ideológico.
sexta-feira, maio 18, 2012
Here we go again
Buttonwood, The Economist
THE pattern is eerily familiar. Investors start the year in a blaze of optimism, hoping that the euro zone has been stabilised and that the American economy is growing strongly. By the late spring, the latest example of euro-zone “make and mend” policies shows signs of fraying and the American recovery is proving less robust than hoped. The same description of events applies to both 2011 and 2012, even if last year’s market correction was also triggered by special factors—the terrible damage resulting from the Japanese earthquake and tsunami, along with the Libyan civil war.
This year’s rally really began in late November, and got much of its impetus from the €1 trillion ($1.3 trillion) in three-year loans made by the European Central Bank to the region’s banking system. But the effect of the ECB’s liquidity package has quickly worn off. The MSCI World stockmarket index had gained 12.6% at one stage this year but has seen that advance cut to 2.7%. In Europe, the Euro Stoxx 50 has fallen by 6% in dollar terms; Spanish shares are off by 21%.
Investors have retreated to the safety of selected government bonds. Since the start of 2012, the yields on British and German ten-year government bonds have fallen to levels that are pretty much unprecedented; French yields are a third of a point lower. American yields have fallen, too, but not by as much. The yields on ten-year Bunds are now almost 40 basis points lower than those on Treasuries.
In the periphery the government of Mario Monti in Italy has been more successful in calming the markets than that of Mariano Rajoy in Spain. At the start of the year Italian ten-year yields were almost 150 basis points higher than those of Spain; now they are around 45 basis points lower (see chart). But both are again moving in the wrong direction.
In many ways, the debt crisis confronts euro-zone leaders with a dilemma similar to that facing governments when the banking sector crumbled in 2007 and 2008. Back then, policymakers were forced to distinguish between those banks that were illiquid and just needed emergency loans, and those that were insolvent and needed injections of capital. For a time the authorities appeared to be clueless about this distinction, causing investor alarm. But the American authorities in particular managed to draw a line under their financial crisis by injecting new capital into the (sometimes unwilling) banks and by showing that those banks could pass fairly rigorous stress tests in May 2009. A vigorous equity rally duly occurred.
In contrast, Europe’s leaders have spent much of the past two years treating Greece as a liquidity problem when it is really insolvent. Some of the country’s debts have been forgiven, but not enough. Of course, Europe’s problems are more deep-seated than America’s, thanks to the principal flaw in the euro’s design: that it is a single currency operating in a continent without fiscal union. Politically, it is very hard to reach quick decisions when 17 governments are involved.
But even those countries that are not in the zone have failed to generate the kind of rapid economic growth that has marked previous recoveries. Corporate profits have held up pretty well in the circumstances, which is one reason why the markets are still well ahead of their 2009 levels. But the corollary of those high profits has been depressed real wages, which have weighed on consumer demand. And companies have so far tended to sit on their cash, rather than invest in new plant and equipment or hire new workers.
All this has left the markets desperately waiting for a new “hit” from their central banks, in the form of quantitative easing or additional liquidity support. Each central-bank statement is closely analysed for signs of change, rather as Kremlinologists used to study Politburo photographs for hints of leadership reshuffles.
Like the adrenalin injected into an overdosing Uma Thurman’s heart in “Pulp Fiction”, these central-bank boosts usually provoke an immediate market reaction. But a repeated regime of heroin and adrenalin injections hardly makes for a healthy lifestyle. While it lasts central-bank action means that equity markets are unlikely to crash, since the yields on cash and bonds are so low. At a conference this week organised by Morningstar, a research firm, one fund manager pointed out that Royal Dutch Shell shares yield 4.8%, whereas its bonds pay just 1.5%. But the prospect of markets standing on their own two feet—of surviving without the crutch of massive monetary easing—looks as far away as ever.
THE pattern is eerily familiar. Investors start the year in a blaze of optimism, hoping that the euro zone has been stabilised and that the American economy is growing strongly. By the late spring, the latest example of euro-zone “make and mend” policies shows signs of fraying and the American recovery is proving less robust than hoped. The same description of events applies to both 2011 and 2012, even if last year’s market correction was also triggered by special factors—the terrible damage resulting from the Japanese earthquake and tsunami, along with the Libyan civil war.
This year’s rally really began in late November, and got much of its impetus from the €1 trillion ($1.3 trillion) in three-year loans made by the European Central Bank to the region’s banking system. But the effect of the ECB’s liquidity package has quickly worn off. The MSCI World stockmarket index had gained 12.6% at one stage this year but has seen that advance cut to 2.7%. In Europe, the Euro Stoxx 50 has fallen by 6% in dollar terms; Spanish shares are off by 21%.
Investors have retreated to the safety of selected government bonds. Since the start of 2012, the yields on British and German ten-year government bonds have fallen to levels that are pretty much unprecedented; French yields are a third of a point lower. American yields have fallen, too, but not by as much. The yields on ten-year Bunds are now almost 40 basis points lower than those on Treasuries.
In the periphery the government of Mario Monti in Italy has been more successful in calming the markets than that of Mariano Rajoy in Spain. At the start of the year Italian ten-year yields were almost 150 basis points higher than those of Spain; now they are around 45 basis points lower (see chart). But both are again moving in the wrong direction.
In many ways, the debt crisis confronts euro-zone leaders with a dilemma similar to that facing governments when the banking sector crumbled in 2007 and 2008. Back then, policymakers were forced to distinguish between those banks that were illiquid and just needed emergency loans, and those that were insolvent and needed injections of capital. For a time the authorities appeared to be clueless about this distinction, causing investor alarm. But the American authorities in particular managed to draw a line under their financial crisis by injecting new capital into the (sometimes unwilling) banks and by showing that those banks could pass fairly rigorous stress tests in May 2009. A vigorous equity rally duly occurred.
In contrast, Europe’s leaders have spent much of the past two years treating Greece as a liquidity problem when it is really insolvent. Some of the country’s debts have been forgiven, but not enough. Of course, Europe’s problems are more deep-seated than America’s, thanks to the principal flaw in the euro’s design: that it is a single currency operating in a continent without fiscal union. Politically, it is very hard to reach quick decisions when 17 governments are involved.
But even those countries that are not in the zone have failed to generate the kind of rapid economic growth that has marked previous recoveries. Corporate profits have held up pretty well in the circumstances, which is one reason why the markets are still well ahead of their 2009 levels. But the corollary of those high profits has been depressed real wages, which have weighed on consumer demand. And companies have so far tended to sit on their cash, rather than invest in new plant and equipment or hire new workers.
All this has left the markets desperately waiting for a new “hit” from their central banks, in the form of quantitative easing or additional liquidity support. Each central-bank statement is closely analysed for signs of change, rather as Kremlinologists used to study Politburo photographs for hints of leadership reshuffles.
Like the adrenalin injected into an overdosing Uma Thurman’s heart in “Pulp Fiction”, these central-bank boosts usually provoke an immediate market reaction. But a repeated regime of heroin and adrenalin injections hardly makes for a healthy lifestyle. While it lasts central-bank action means that equity markets are unlikely to crash, since the yields on cash and bonds are so low. At a conference this week organised by Morningstar, a research firm, one fund manager pointed out that Royal Dutch Shell shares yield 4.8%, whereas its bonds pay just 1.5%. But the prospect of markets standing on their own two feet—of surviving without the crutch of massive monetary easing—looks as far away as ever.
O mapa errado
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que o crescimento do país não pode depender exclusivamente das "forças de autorregulação do mercado" e ressaltou o momento de "mutação" atual vivido no desenvolvimento do Brasil. Ela entregou o prêmio Almirante Álvaro Alberto de contribuição científica à sua ex-professora e economista Maria da Conceição Tavares, a quem atribuiu grandes contribuições ao desenvolvimento do país. A presidente disse que Conceição Tavares contribuiu para “o mapa do caminho”.
Resta perguntar: quais contribuições foram essas? Que mapa é este? Conceição Tavares, para quem não lembra, é aquela senhora com fala agressiva, mas que se derreteu em lágrimas de emoção, em rede nacional, quando o fracassado Plano Cruzado foi aprovado. Ela sempre defendeu o nacional-desenvolvimentismo, esta ideologia fadada ao insucesso. Não consigo lembrar uma só contribuição positiva desta senhora para o desenvolvimento do país. Ao contrário: foi contra, assim como o PT, todas as reformas que melhoraram nossa situação.
A fala da “presidenta” é importante para frisar que seu governo é caracterizado por um forte ranço ideológico. Dilma realmente acredita no nacional-desenvolvimentismo, e suas últimas medidas deixam isso bastante claro. Até aqui, ela encontrou pela frente um cenário externo favorável. Com a deterioração do quadro e o esgotamento do modelo de estímulos estatais, parece que o governo vai caminhar cada vez mais na direção intervencionista. Voltamos à época de pacotes quase semanais, de acordo com as demandas pontuais que surgem.
Os pilares que sustentaram a credibilidade macroeconômica foram sendo derrubados um a um. A meta de inflação foi afrouxada e o Banco Central se mostrou sem autonomia. O câmbio sofre forte intervenção. Até a meta de superávit fiscal parece ameaçada. A Folha diz hoje que no governo há quem defenda até aumentar os gastos públicos e reduzir o aperto fiscal para estimular o consumo e o investimento. Um país não pode ter uma equipe econômica tão medíocre por tanto tempo e sair impune disso.
A ficha dos gringos pode estar caindo. A revista The Economist desta semana tem uma matéria de destaque sobre o Brasil, com tom negativo, pregando a necessidade de novas reformas. Mas Dilma declarou que seu mapa é mesmo ideológico, e aponta para o lado errado. Ela usa um mapa da Venezuela para trafegar pelo Brasil. Não tem como chegar ao lugar certo...
Os pilares que sustentaram a credibilidade macroeconômica foram sendo derrubados um a um. A meta de inflação foi afrouxada e o Banco Central se mostrou sem autonomia. O câmbio sofre forte intervenção. Até a meta de superávit fiscal parece ameaçada. A Folha diz hoje que no governo há quem defenda até aumentar os gastos públicos e reduzir o aperto fiscal para estimular o consumo e o investimento. Um país não pode ter uma equipe econômica tão medíocre por tanto tempo e sair impune disso.
A ficha dos gringos pode estar caindo. A revista The Economist desta semana tem uma matéria de destaque sobre o Brasil, com tom negativo, pregando a necessidade de novas reformas. Mas Dilma declarou que seu mapa é mesmo ideológico, e aponta para o lado errado. Ela usa um mapa da Venezuela para trafegar pelo Brasil. Não tem como chegar ao lugar certo...
quarta-feira, maio 16, 2012
Democracy and the Euro
Editorial do WSJ
One way to look at this week's events in Greece is as George Papandreou's revenge. As Prime Minister last November, he proposed that Greeks vote on whether they could live with the conditions the EU and IMF were imposing in return for a bailout. The idea sent markets into a tizzy, Mr. Papandreou lost his job, and the referendum never occurred.
But Greek voters are having their say anyway. On Tuesday Greek President Karolos Papoulias called a new election for next month, after no party could put together a majority following this month's splintered election.
The far-left Syriza coalition, which finished second in the voting, is rejecting the bailout terms and demanding an end to fiscal restraint and economic reform. Presumably the Greeks will now have a no-holds-barred debate about the consequences of their policy choices, including possible ouster from the euro zone.
The rest of Europe may find this inconvenient, but this strikes us as progress and in any event was inevitable. That was the wisdom behind Mr. Papandreou's stillborn idea. Like every other country in the EU, Greece is still a democracy. Greek voters reserve the right to say no to Brussels, or even to elect those willing to abrogate agreements made in their names by former governments.
For decades, the European conceit has been that voters would gladly cede their national right to democratic accountability in return for Continental peace and prosperity. This worked as long as there was prosperity. But now that pan-European governance includes painful policy choices imposed from afar, the national publics want their franchise to mean something.
Angela Merkel may want to enshrine fiscal rectitude for all time in a fiscal pact. The German Chancellor may even be right as a policy matter to want to do that given that her taxpayers will otherwise have to pay. But the fatal flaw in her vision is that she can't control the course of democratic events outside Germany's borders. All the more so when she has become arguably the main issue in Greek politics, complete with demagogic posters of her in Nazi garb.
In a sense the Greeks are using their elections as a way to renegotiate the terms of their most recent €130 billion bailout by the rest of Europe. They assume that if they refuse to go along, the Germans and the European Central Bank will give in and ease the terms of fiscal retrenchment and reform.
The belief, at least on the Greek left, is that the country will be able both to stay in the euro and keep its generous welfare state, albeit with some mild adjustment. Syriza leader Alexis Tsipras is even proposing to hire 100,000 more public employees.
European leaders will be doing everyone a favor if they make clear that there is no such easy way out. If Greeks want to continue being rescued by the rest of Europe, they must meet European terms. If Greeks can't manage that, then Athens will get no more bailout cash and will have to find the money to pay its own bills.
And if Athens fails to do so, then default and ouster from the euro zone are likely, with all of the predictably terrible consequences for Greek living standards following the return of the drachma and devaluation. Instead of staying as part of modern Europe, Greece will slide toward a Third World future.
European leaders need to deliver this message not as a threat, but as the reality of what Greeks are risking if they reject reform. At least this is a choice Greeks will be making for themselves. The lesson will not be lost on voters elsewhere in the euro zone.
Europe's leaders can't repeal democracy on the Continent, and therefore they can't ask countries in the euro zone for more than their politicians can deliver or their populations can take. This means admitting that the bailout model that Europe adopted for Greece two years ago has failed and is increasing political polarization across Europe, and not only in Greece.
The euro zone was conceived as a currency union among countries adhering to certain basic fiscal rules. Had it stuck to that vision in this crisis—rather than turn it into a fiscal or debt union—and let Greece face the consequences of its economic mismanagement from the beginning, Greece might have defaulted and stayed within the euro.
Now so much damage has been done that it's hard to see such an outcome. Trying to turn the euro into a larger political union has put the entire euro zone in jeopardy.
One way to look at this week's events in Greece is as George Papandreou's revenge. As Prime Minister last November, he proposed that Greeks vote on whether they could live with the conditions the EU and IMF were imposing in return for a bailout. The idea sent markets into a tizzy, Mr. Papandreou lost his job, and the referendum never occurred.
But Greek voters are having their say anyway. On Tuesday Greek President Karolos Papoulias called a new election for next month, after no party could put together a majority following this month's splintered election.
The far-left Syriza coalition, which finished second in the voting, is rejecting the bailout terms and demanding an end to fiscal restraint and economic reform. Presumably the Greeks will now have a no-holds-barred debate about the consequences of their policy choices, including possible ouster from the euro zone.
The rest of Europe may find this inconvenient, but this strikes us as progress and in any event was inevitable. That was the wisdom behind Mr. Papandreou's stillborn idea. Like every other country in the EU, Greece is still a democracy. Greek voters reserve the right to say no to Brussels, or even to elect those willing to abrogate agreements made in their names by former governments.
For decades, the European conceit has been that voters would gladly cede their national right to democratic accountability in return for Continental peace and prosperity. This worked as long as there was prosperity. But now that pan-European governance includes painful policy choices imposed from afar, the national publics want their franchise to mean something.
Angela Merkel may want to enshrine fiscal rectitude for all time in a fiscal pact. The German Chancellor may even be right as a policy matter to want to do that given that her taxpayers will otherwise have to pay. But the fatal flaw in her vision is that she can't control the course of democratic events outside Germany's borders. All the more so when she has become arguably the main issue in Greek politics, complete with demagogic posters of her in Nazi garb.
In a sense the Greeks are using their elections as a way to renegotiate the terms of their most recent €130 billion bailout by the rest of Europe. They assume that if they refuse to go along, the Germans and the European Central Bank will give in and ease the terms of fiscal retrenchment and reform.
The belief, at least on the Greek left, is that the country will be able both to stay in the euro and keep its generous welfare state, albeit with some mild adjustment. Syriza leader Alexis Tsipras is even proposing to hire 100,000 more public employees.
European leaders will be doing everyone a favor if they make clear that there is no such easy way out. If Greeks want to continue being rescued by the rest of Europe, they must meet European terms. If Greeks can't manage that, then Athens will get no more bailout cash and will have to find the money to pay its own bills.
And if Athens fails to do so, then default and ouster from the euro zone are likely, with all of the predictably terrible consequences for Greek living standards following the return of the drachma and devaluation. Instead of staying as part of modern Europe, Greece will slide toward a Third World future.
European leaders need to deliver this message not as a threat, but as the reality of what Greeks are risking if they reject reform. At least this is a choice Greeks will be making for themselves. The lesson will not be lost on voters elsewhere in the euro zone.
Europe's leaders can't repeal democracy on the Continent, and therefore they can't ask countries in the euro zone for more than their politicians can deliver or their populations can take. This means admitting that the bailout model that Europe adopted for Greece two years ago has failed and is increasing political polarization across Europe, and not only in Greece.
The euro zone was conceived as a currency union among countries adhering to certain basic fiscal rules. Had it stuck to that vision in this crisis—rather than turn it into a fiscal or debt union—and let Greece face the consequences of its economic mismanagement from the beginning, Greece might have defaulted and stayed within the euro.
Now so much damage has been done that it's hard to see such an outcome. Trying to turn the euro into a larger political union has put the entire euro zone in jeopardy.
terça-feira, maio 15, 2012
Governo esquizofrênico
Rodrigo Constantino, O GLOBO
O juro nada mais é que o preço do capital, e costuma ser definido pelo encontro entre sua oferta e demanda. Quanto maior for a oferta disponível de capital na economia, menor será seu preço. E esta oferta depende basicamente da poupança existente, que serve como lastro para empréstimos bancários. Os bancos atuam como intermediários entre poupadores e investidores ou consumidores financiados.
No Brasil a poupança é muito baixa em relação ao que é produzido. O principal responsável por isso é o próprio governo, que arrecada e gasta quase 40% do PIB. Sobra pouco para se poupar no país. Como o governo não aceita reduzir seus gastos, resta pegar poupança externa emprestada para permitir o crescimento tanto dos investimentos como do consumo. Mas há claros limites a esta estratégia.
Ela dura somente até os estrangeiros aceitarem exportar capital para o Brasil. Só que esta entrada de recursos, que a presidente Dilma chamou de "tsunami monetário", pressiona o câmbio, apreciando o real frente ao dólar. A indústria nacional reclama, faz lobby em Brasília, e o governo reage com intervenção na moeda e protecionismo. Só que isso, por sua vez, produz mais inflação aqui.
O governo pretende controlar inúmeras variáveis econômicas com instrumentos limitados, gerando consequências indesejadas. Cada nova medida produz mais efeitos não intencionais, demandando nova intervenção. Cria-se um verdadeiro emaranhado complexo com os tentáculos estatais pela economia.
Os empresários acusam o golpe e retraem investimentos, e os bancos, preocupados com o aumento da inadimplência e com os excessos no crédito, decidem reduzir seu crescimento.
Mas como uma das metas do governo é o crescimento do PIB no curto prazo, este recuo é inaceitável. O que faz o governo então? Reduz seus gastos? Aprova reformas estruturais que aumentem a produtividade da economia? Não. Isso tudo dá muito trabalho.
O governo prefere comprar uma briga com os bancos, e mandar o setor baixar as taxas na marra. E ai de quem reclamar! O governo é dono de 40% do mercado por meio dos bancos públicos, e ainda conta com outros mecanismos de pressão.
Aqui aproveito para fazer um alerta contra o risco autoritário. O governo, com postura arrogante, teria exigido dos bancos uma retratação pública após uma nota da Febraban criticando as medidas estatais. Que país é este que não permite mais o contraditório? Os bancos não podem mais discordar das medidas do governo?
Reduzir os juros a fórceps vai gerar apenas mais inflação. O que nos remete finalmente à esquizofrenia do governo. Há outros fatores que justificam os juros altos: o enorme compulsório que os bancos são obrigados a manter parados no Banco Central sem retorno adequado; os bilionários desembolsos do BNDES, que responde por um quarto do total do crédito no país, a taxas de juros subsidiadas (abaixo até da inflação); e o excesso de burocracia que reduz a concorrência no setor.
Ou seja, o próprio governo cria distorções que fazem com que a taxa final de juros permaneça elevada, e depois escolhe os bancos como únicos bodes expiatórios para o problema que ajudou a criar.
É como um sujeito ocioso e obeso, que come doces sem parar, culpar o doceiro por seus problemas de saúde. O governo plantou as sementes do problema, e não adianta atacar apenas o sintoma sem olhar para suas verdadeiras causas.
Há ainda outro sinal claro de esquizofrenia. Não faz muito tempo, o então presidente Lula acusava os banqueiros pela crise financeira mundial. Os banqueiros gananciosos teriam concedido crédito demais, o que produziu a bolha que estourou. Ironia das ironias, eis que agora o governo Dilma reclama que os nossos banqueiros querem conceder crédito... de menos!
O crédito no Brasil vem crescendo a taxas perto de 20% ao ano. Como não tivemos reformas estruturais, é claro que isso vai bater na inflação em algum momento. Na verdade, a inflação já está acima do centro da meta, que já é bastante elevado. E o crescimento econômico vem caindo.
Corremos o risco de ter estagflação ou então uma bolha de crédito no país, fomentada pelo próprio governo e seu banco central subserviente (seu presidente se entrega quando chama Dilma de "presidenta" em nota oficial). Depois não vai adiantar culpar os "loiros de olhos azuis" e os banqueiros gananciosos pela crise...
O casamento é para todos
João Pereira Coutinho, Folha de SP
TENHO PENSADO ultimamente nas vantagens da poligamia. O amor exige fidelidade e exclusividade?
Admito que sim. E também admito que existe uma certa nobreza na velha ideia platônica de que somos seres incompletos, em busca da outra metade que nos falta. Os românticos não inventaram nada. Limitaram-se a ler "O Banquete".
Mas, por outro lado, não é justo, nem fácil, nem humanamente possível exigir de uma mulher que ela seja tudo e o seu contrário. Boa amante. Ótima confidente. Excelente dona de casa. Mãe aprumada. Parceira intelectual distinta. Enfermeira nas horas funestas.
A mulher perfeita não existe. Ou, melhor dizendo, ela existe, sim. Só que é composta por várias mulheres distintas.
Anos atrás, em viagem pelo Marrocos, visitei um amigo que me levou a conhecer as suas duas famílias: uma em Casablanca, a outra em Agadir.
A primeira mulher era a encarnação perfeita da sensualidade magrebina -olhos negros, cabelo idem, lábios generosos e carnudos. Cinco minutos bastaram para perceber a função daquela senhora na vida daquele homem feliz.
A segunda mulher era menos exuberante (digamos assim); mas fazia um cuscuz como só voltei a provar em viagem recente ao Nordeste do Brasil. Tão diferentes, mas tão complementares.
Fiquei convencido sobre as vantagens do arranjo. E antes que a leitora me acuse de machismo obscurantista, esclareço já: quem fala em poligamia fala em poliandria.
Nenhum homem pode ser tudo para uma só mulher. Por isso esperava um pouco mais das declarações de Barack Obama sobre o casamento gay -mais do que apenas "hélas" sobre o casamento gay.
O presidente americano, em gesto inédito para ano eleitoral, disse na televisão que "evoluiu" sobre o assunto. É agora favorável à união matrimonial de lésbicas e homossexuais, embora deixe para os Estados a decisão final sobre o assunto.
O raciocínio de Obama é conhecido: quem somos nós, a maioria heterossexual e opressora, para negar a felicidade a duas pessoas do mesmo sexo que querem se casar?
Eis, em resumo, a essência do pensamento progressista. Um pensamento que os filósofos Sherif Girgis, Robert P. George e Ryan T. Anderson analisaram no melhor ensaio que conheço sobre o tema: "What is Marriage?".
O casamento, para o pensamento progressista, é uma mera construção social, sem uma história ou um propósito distintos. O casamento deve apenas basear-se no afeto; e basta que exista afeto entre dois seres humanos adultos para que o Estado reconheça o vínculo matrimonial, distribuindo direitos e deveres pelos cônjuges.
O problema, escrevem os autores do ensaio, é que essa definição sentimental de casamento não pode se limitar a lésbicas e homossexuais.
Se o casamento pode ser tudo o que quisermos, não há nenhum motivo para recusar o privilégio a um homem que queira se unir a várias mulheres. Ou a uma mulher que queira se unir a vários homens.
O próprio Obama deveria saber disso: só nos Estados Unidos, é possível que existam mais de 500 mil relações poligâmicas, informava há tempos a revista "Newsweek", citada no ensaio. O número de homossexuais que desejam casar-se é superior a esse número?
Talvez. Mas falamos de um princípio, não de uma questão numérica: se 500 mil relações poligâmicas vivem à margem da lei, não devemos também respeitar a felicidade -no fundo, o "afeto" dessa vasta legião de apaixonados?
Por mim, ficaria encantado. Até porque as relações poligâmicas não vivem apenas à margem da lei. Elas são punidas pela lei. Eu invejo o meu amigo marroquino. Mas, se pretendesse imitar o seu modo de vida, casando-me com duas donzelas da minha preferência, a Justiça não perdoaria o crime.
Moral da história? O mundo não acaba com os direitos dos homossexuais. E não é possível defender o casamento gay sem defender também todas as outras formas de união conjugal. Abrir uma exceção é abrir todas as exceções. Negar isso é perpetuar a intolerância.
Espero que o presidente Obama continue a "evoluir" sobre o assunto e nos brinde em breve com a defesa apaixonada que a poligamia merece.
TENHO PENSADO ultimamente nas vantagens da poligamia. O amor exige fidelidade e exclusividade?
Admito que sim. E também admito que existe uma certa nobreza na velha ideia platônica de que somos seres incompletos, em busca da outra metade que nos falta. Os românticos não inventaram nada. Limitaram-se a ler "O Banquete".
Mas, por outro lado, não é justo, nem fácil, nem humanamente possível exigir de uma mulher que ela seja tudo e o seu contrário. Boa amante. Ótima confidente. Excelente dona de casa. Mãe aprumada. Parceira intelectual distinta. Enfermeira nas horas funestas.
A mulher perfeita não existe. Ou, melhor dizendo, ela existe, sim. Só que é composta por várias mulheres distintas.
Anos atrás, em viagem pelo Marrocos, visitei um amigo que me levou a conhecer as suas duas famílias: uma em Casablanca, a outra em Agadir.
A primeira mulher era a encarnação perfeita da sensualidade magrebina -olhos negros, cabelo idem, lábios generosos e carnudos. Cinco minutos bastaram para perceber a função daquela senhora na vida daquele homem feliz.
A segunda mulher era menos exuberante (digamos assim); mas fazia um cuscuz como só voltei a provar em viagem recente ao Nordeste do Brasil. Tão diferentes, mas tão complementares.
Fiquei convencido sobre as vantagens do arranjo. E antes que a leitora me acuse de machismo obscurantista, esclareço já: quem fala em poligamia fala em poliandria.
Nenhum homem pode ser tudo para uma só mulher. Por isso esperava um pouco mais das declarações de Barack Obama sobre o casamento gay -mais do que apenas "hélas" sobre o casamento gay.
O presidente americano, em gesto inédito para ano eleitoral, disse na televisão que "evoluiu" sobre o assunto. É agora favorável à união matrimonial de lésbicas e homossexuais, embora deixe para os Estados a decisão final sobre o assunto.
O raciocínio de Obama é conhecido: quem somos nós, a maioria heterossexual e opressora, para negar a felicidade a duas pessoas do mesmo sexo que querem se casar?
Eis, em resumo, a essência do pensamento progressista. Um pensamento que os filósofos Sherif Girgis, Robert P. George e Ryan T. Anderson analisaram no melhor ensaio que conheço sobre o tema: "What is Marriage?".
O casamento, para o pensamento progressista, é uma mera construção social, sem uma história ou um propósito distintos. O casamento deve apenas basear-se no afeto; e basta que exista afeto entre dois seres humanos adultos para que o Estado reconheça o vínculo matrimonial, distribuindo direitos e deveres pelos cônjuges.
O problema, escrevem os autores do ensaio, é que essa definição sentimental de casamento não pode se limitar a lésbicas e homossexuais.
Se o casamento pode ser tudo o que quisermos, não há nenhum motivo para recusar o privilégio a um homem que queira se unir a várias mulheres. Ou a uma mulher que queira se unir a vários homens.
O próprio Obama deveria saber disso: só nos Estados Unidos, é possível que existam mais de 500 mil relações poligâmicas, informava há tempos a revista "Newsweek", citada no ensaio. O número de homossexuais que desejam casar-se é superior a esse número?
Talvez. Mas falamos de um princípio, não de uma questão numérica: se 500 mil relações poligâmicas vivem à margem da lei, não devemos também respeitar a felicidade -no fundo, o "afeto" dessa vasta legião de apaixonados?
Por mim, ficaria encantado. Até porque as relações poligâmicas não vivem apenas à margem da lei. Elas são punidas pela lei. Eu invejo o meu amigo marroquino. Mas, se pretendesse imitar o seu modo de vida, casando-me com duas donzelas da minha preferência, a Justiça não perdoaria o crime.
Moral da história? O mundo não acaba com os direitos dos homossexuais. E não é possível defender o casamento gay sem defender também todas as outras formas de união conjugal. Abrir uma exceção é abrir todas as exceções. Negar isso é perpetuar a intolerância.
Espero que o presidente Obama continue a "evoluir" sobre o assunto e nos brinde em breve com a defesa apaixonada que a poligamia merece.
segunda-feira, maio 14, 2012
Caminhando com Mantegovsky
Por Rodrigo Constantino
Primeiro eles vieram atrás da Petrobras, diluindo os minoritários com o aumento de capital e usando a empresa como instrumento político. Como eu não sou acionista da Petrobras, não liguei.
Aí eles vieram atrás das empresas elétricas, alterando as regras de ajuste das tarifas. Como não sou acionista das empresas elétricas, não liguei.
Então eles vieram atrás de minha humilde quitanda. Quando fui reclamar, já não tinha ninguém mais para escutar meu brado de angústia.
Primeiro eles vieram atrás da Petrobras, diluindo os minoritários com o aumento de capital e usando a empresa como instrumento político. Como eu não sou acionista da Petrobras, não liguei.
Depois eles vieram atrás da Vale, exigindo investimentos sem rentabilidade e derrubando o presidente da empresa por motivos políticos. Como eu não sou acionista da Vale, não liguei.
Depois eles vieram atrás dos investidores estrangeiros em derivativos de câmbio e renda fixa, aumentando impostos e tomando medidas arbitrárias. Como não sou investidor estrangeiro, não liguei.
Depois eles vieram atrás dos bancos, pressionando pela redução de juros na marra e usando os bancos públicos para destruir a racionalidade no setor. Como não sou acionista dos bancos, não liguei.
Depois eles vieram atrás dos investidores estrangeiros em derivativos de câmbio e renda fixa, aumentando impostos e tomando medidas arbitrárias. Como não sou investidor estrangeiro, não liguei.
Depois eles vieram atrás dos bancos, pressionando pela redução de juros na marra e usando os bancos públicos para destruir a racionalidade no setor. Como não sou acionista dos bancos, não liguei.
Aí eles vieram atrás das empresas elétricas, alterando as regras de ajuste das tarifas. Como não sou acionista das empresas elétricas, não liguei.
Então eles vieram atrás de minha humilde quitanda. Quando fui reclamar, já não tinha ninguém mais para escutar meu brado de angústia.
A traição da psicologia social
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Olha que pérola para começar sua semana: "Esta é a grande tolice do mundo, a de que quando vai mal nossa fortuna -muitas vezes como resultado de nosso próprio comportamento-, culpamos pelos nossos desastres o Sol, a Luz e as estrelas, como se fôssemos vilões por fatalidade, tolos por compulsão celeste, safados, ladrões e traidores por predominância das esferas, bêbados, mentirosos e adúlteros por obediência forçada a influências planetárias". William Shakespeare, "Rei Lear", ato 1, cena 2 (tradução de Barbara Heliodora).
Os psicólogos sociais deveriam ler mais Shakespeare e menos estas cartilhas fanáticas que dizem que o "ser humano é uma construção social", e não um ser livre responsável por suas escolhas, já que seriam vítimas sociais. Os fanáticos culpam a sociedade, assim como na época de Shakespeare os mentirosos culpavam o Sol e a Lua.
Não quero dizer que não sejamos influenciados pela sociedade, assim como somos pelo peso de nossos corpos, mas a liberdade nunca se deu no vácuo de limites sociais, biológicos e psíquicos. Só os mentirosos, do passado e do presente, negam que sejamos responsáveis por nossas escolhas.
Mas antes, um pouco de contexto para você entender o que eu quero dizer.
Outro dia, dois sujeitos tentaram assaltar a padaria da esquina da minha casa. Um dos donos pegou um dos bandidos. Dei parabéns para ele. Mas há quem discorde. Muita gente acha que ladrão que rouba mulheres e homens indo para o trabalho rouba porque é vítima social. Tadinho dele...
Isso é papo-furado, mas alguns acham que esse papo-furado é ciência, mais exatamente, psicologia social. Nada tenho contra a psicologia, ao contrário, ela é um dos meus amores -ao lado da filosofia, da literatura e do cinema. Mas a psicologia social, contra quem nada tenho a priori, às vezes exagera na dose.
O primeiro exagero é o modo como a psicologia social tenta ser a única a dizer a verdade sobre o ser humano, contaminando os alunos. Afora os órgãos de classe. Claro, a psicologia social feita desta forma é pura patrulha ideológica do tipo: "Você acredita no Foucault? Não?! Fogueira para você!".
Mas até aí, este pecado de fazer bullying com quem discorda de você é uma prática comum na universidade (principalmente por parte daqueles que se julgam do lado do "bem"), não é um pecado único do clero fanático desta forma de psicologia social. Digo "desta forma" porque existem outras formas mais interessantes e pretendo fazer indicação de uma delas abaixo.
Sumariamente, a forma de psicologia social da qual discordo é a seguinte: o sujeito é "construído" socialmente, logo, quem faz besteira ou erra na vida (comete crimes ou é infeliz e incapaz) o faz porque é vítima social. Se prestar atenção na citação acima, verá que esta "construção social do sujeito" está exatamente no lugar do que Shakespeare diz quando se refere às "esferas celestes" como responsáveis por nossos atos.
Antes, eram as esferas celestes, agora, são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros, ou não trabalharmos ou sermos infelizes. Se eu roubo você, você é que é culpado, e não eu, coitado de mim, sua real vítima. Teorias como estas deveriam ser jogadas na lata de lixo, se não pela falsidade delas, pelo menos pelo seu ridículo.
Todos (principalmente os profissionais da área) deveriam ler Theodore Dalrymple e seu magnífico "Life at The Bottom, The Worldview that Makes the Underclass", editora Ivan R. Dee, Chicago (a vida de baixo, a visão de mundo da classe baixa), em vez do blá-blá-blá de sempre de que somos construídos socialmente e, portanto, não responsáveis por nossos atos.
Dalrymple, psiquiatra inglês que atuou por décadas em hospitais dos bairros miseráveis de Londres e na África, descreve como a teoria da construção do sujeito como vítimas sociais faz das pessoas preguiçosas, perversas e mentirosas sobre a motivação de seus atos. Lendo-o, vemos que existe vida inteligente entre aqueles que atuam em psicologia social, para além da vitimização social que faz de nós todos uns retardados morais.
Olha que pérola para começar sua semana: "Esta é a grande tolice do mundo, a de que quando vai mal nossa fortuna -muitas vezes como resultado de nosso próprio comportamento-, culpamos pelos nossos desastres o Sol, a Luz e as estrelas, como se fôssemos vilões por fatalidade, tolos por compulsão celeste, safados, ladrões e traidores por predominância das esferas, bêbados, mentirosos e adúlteros por obediência forçada a influências planetárias". William Shakespeare, "Rei Lear", ato 1, cena 2 (tradução de Barbara Heliodora).
Os psicólogos sociais deveriam ler mais Shakespeare e menos estas cartilhas fanáticas que dizem que o "ser humano é uma construção social", e não um ser livre responsável por suas escolhas, já que seriam vítimas sociais. Os fanáticos culpam a sociedade, assim como na época de Shakespeare os mentirosos culpavam o Sol e a Lua.
Não quero dizer que não sejamos influenciados pela sociedade, assim como somos pelo peso de nossos corpos, mas a liberdade nunca se deu no vácuo de limites sociais, biológicos e psíquicos. Só os mentirosos, do passado e do presente, negam que sejamos responsáveis por nossas escolhas.
Mas antes, um pouco de contexto para você entender o que eu quero dizer.
Outro dia, dois sujeitos tentaram assaltar a padaria da esquina da minha casa. Um dos donos pegou um dos bandidos. Dei parabéns para ele. Mas há quem discorde. Muita gente acha que ladrão que rouba mulheres e homens indo para o trabalho rouba porque é vítima social. Tadinho dele...
Isso é papo-furado, mas alguns acham que esse papo-furado é ciência, mais exatamente, psicologia social. Nada tenho contra a psicologia, ao contrário, ela é um dos meus amores -ao lado da filosofia, da literatura e do cinema. Mas a psicologia social, contra quem nada tenho a priori, às vezes exagera na dose.
O primeiro exagero é o modo como a psicologia social tenta ser a única a dizer a verdade sobre o ser humano, contaminando os alunos. Afora os órgãos de classe. Claro, a psicologia social feita desta forma é pura patrulha ideológica do tipo: "Você acredita no Foucault? Não?! Fogueira para você!".
Mas até aí, este pecado de fazer bullying com quem discorda de você é uma prática comum na universidade (principalmente por parte daqueles que se julgam do lado do "bem"), não é um pecado único do clero fanático desta forma de psicologia social. Digo "desta forma" porque existem outras formas mais interessantes e pretendo fazer indicação de uma delas abaixo.
Sumariamente, a forma de psicologia social da qual discordo é a seguinte: o sujeito é "construído" socialmente, logo, quem faz besteira ou erra na vida (comete crimes ou é infeliz e incapaz) o faz porque é vítima social. Se prestar atenção na citação acima, verá que esta "construção social do sujeito" está exatamente no lugar do que Shakespeare diz quando se refere às "esferas celestes" como responsáveis por nossos atos.
Antes, eram as esferas celestes, agora, são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros, ou não trabalharmos ou sermos infelizes. Se eu roubo você, você é que é culpado, e não eu, coitado de mim, sua real vítima. Teorias como estas deveriam ser jogadas na lata de lixo, se não pela falsidade delas, pelo menos pelo seu ridículo.
Todos (principalmente os profissionais da área) deveriam ler Theodore Dalrymple e seu magnífico "Life at The Bottom, The Worldview that Makes the Underclass", editora Ivan R. Dee, Chicago (a vida de baixo, a visão de mundo da classe baixa), em vez do blá-blá-blá de sempre de que somos construídos socialmente e, portanto, não responsáveis por nossos atos.
Dalrymple, psiquiatra inglês que atuou por décadas em hospitais dos bairros miseráveis de Londres e na África, descreve como a teoria da construção do sujeito como vítimas sociais faz das pessoas preguiçosas, perversas e mentirosas sobre a motivação de seus atos. Lendo-o, vemos que existe vida inteligente entre aqueles que atuam em psicologia social, para além da vitimização social que faz de nós todos uns retardados morais.
sábado, maio 12, 2012
Estado-babá e paternalismo de aspirinas
Rodrigo Constantino, Folha de SP
O Senado
aprovou recentemente uma medida provisória que autoriza a venda de produtos de
saúde em supermercados. Vale ressaltar que são apenas medicamentos e acessórios
que dispensam prescrição médica. Ainda assim, a presidente Dilma deverá vetar a
medida, segundo a ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti.
O líder
do PT no Senado, senador Humberto Costa, afirmou: “Mesmo sendo remédio sem
restrição médica tem de ser restrito a drogarias”. Resta perguntar: por quê?
Não há
sólidos argumentos para sustentar esta reserva de mercado das drogarias. O
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, arriscou uma linha de raciocínio que não
parece fazer muito sentido: “Seremos contrários a qualquer tipo de atitude que
reforce a automedicação”.
Não ficou
claro porque isso reforçaria a automedicação, uma vez que nas farmácias estes
produtos independem de receita médica.
Mas mesmo
que o consumo de tais remédios aumentasse, porque logisticamente ficou mais
fácil obtê-los (ignorando-se a enorme quantidade de drogarias pelas cidades),
ainda seria o caso de questionar qual o mal nisso.
Afinal,
será que o governo sabe melhor que os indivíduos como cuidar de si próprios?
Será que há algum problema em comprar junto com os alimentos aquele analgésico
para aliviar a dor de cabeça? Será que a humanidade corre perigo se o sujeito
adquirir no mesmo local a carne para seu churrasco e o remédio contra azia e má
digestão?
Nos
Estados Unidos é perfeitamente normal encontrar remédios nos supermercados,
assim como alguns alimentos em farmácias.
Na
verdade, ocorre muitas vezes a fusão de ambos os serviços, o que é natural. É
difícil dizer se a Target é um supermercado ou uma farmácia, e o mesmo vale
para a Wallgreens. Quando há livre concorrência, o foco é aumentar a
conveniência do consumidor, e o resultado costuma ser favorável ao cliente.
No
Brasil, o governo representa um entrave a este benefício, punindo justamente o
consumidor que supostamente quer proteger.
Ao
impedir que as farmácias atuem também como lojas de conveniência, e que os
supermercados vendam remédios que dispensam receitas, o governo consegue apenas
encarecer os produtos e atrapalhar a vida das pessoas.
A
desculpa usada, de evitar automedicação, não cola. Primeiro porque não consegue
evitar coisa alguma. Segundo porque não cabe ao governo tratar cidadãos como
crianças indefesas.
Para
David Harsanyi, autor de “O Estado Babá” (editora Litteris), tem-se um governo
paternalista quando ele “assume um hiperinteresse em microadministrar o
bem-estar dos cidadãos”. Quem pode negar que é esta a situação quando o governo
resolve dificultar até a venda de uma simples aspirina?
Como o
brasileiro pode se sentir um adulto responsável quando o governo o encara como
um mentecapto incapaz de escolher um simples medicamento para problemas do
cotidiano? Quem outorgou tal direito aos burocratas de Brasília?
A tutela
estatal é o caminho da servidão. O governo existe para nos proteger de
terceiros, não de nós mesmos. Só há liberdade quando podemos assumir riscos.
O pior é
que, no caso, nem mesmo este manto altruísta de proteção resiste, uma vez que
tais medicamentos já podem ser encontrados nas farmácias sem receita. O único
objetivo, portanto, é garantir uma reserva de mercado para determinado grupo de
empresários, punindo desta forma os consumidores.
A
verdadeira doença que assola o Brasil é o paternalismo estatal usado como
desculpa para criar privilégios e avançar sobre nossas liberdades. Contra esta
doença grave, quem tem a cura?