sábado, novembro 24, 2012

Mais um super-herói nacional


Guilherme Fiúza, O GLOBO

José Dirceu acertou uma: disse que o populismo chegou ao Supremo Tribunal Federal. E chegou mesmo. Não no mérito do julgamento do mensalão, que é o que Dirceu quer desclassificar. Mas nas maneiras e nos discursos afetados dos ministros, em especial o presidente que a Corte acaba de empossar, Joaquim Barbosa — o novo herói brasileiro.
O presépio está ficando completo: a “presidenta”, afilhada do ex-operário, que indicou o negro para a elite do Judiciário. Negro como Barack Obama, o presidente da nação mais rica, que ganhou o Nobel da Paz sem fazer nada — não por seus belos olhos, mas pela cor da sua pele. O mundo politicamente correto é racista.
Depois do Nobel “étnico”, Obama começou a trabalhar e mostrou enfim quem era: um líder fraco, canastrão, tentando se equilibrar entre o conservadorismo americano e seu símbolo de defensor dos fracos. Não agradou verdadeiramente a ninguém. Conseguiu uma reeleição apertada contra um dos piores candidatos republicanos dos últimos tempos. E já saiu anunciando aumento de impostos para os “ricos” — a única coisa que os populistas sabem fazer: garfar quem produz e quem investe para engordar a burocracia estatal.
Claro que Obama não vai produzir bem-estar social nenhum desse jeito, sangrando uma economia asfixiada a pretexto de distribuir renda. Os esquerdistas que emergiram na Europa panfletando contra o rigor fiscal alemão já começaram a dar com os burros n’água. As sociedades cresceram demais, e o que pode salvá-las é mais dinamismo, e não mais impostos e gastos estatais. Mas o mito do governante bonzinho que vai salvar a todos parece indestrutível.
O Brasil vive esse sonho de ter um governo mais humano por ser presidido por uma mulher. As pessoas acreditam em qualquer coisa. Basta ver os argentinos dando corda para os delírios autoritários de Cristina Kirchner (o presépio progressista tinha que ter uma viúva profissional). Cristina e Dilma são irmãs gêmeas em certas decisões maternais, como a redução na marra das tarifas de energia. O desastre decorrente dessa bondade já se consumou na Argentina, e começa a se consumar no Brasil, com as ações das empresas do setor desabando vertiginosamente. É comovente como o populismo arruína as estruturas de um país sem perder a ternura.
Enquanto a propaganda do oprimido funcionar, o governo sabe que não precisa governar. A última pérola é a campanha publicitária da Infraero. Como se sabe, o governo Dilma não planeja nada (não dá tempo), e aí vem a Copa do Mundo jogar um holofote nos remendos da infraestrutura. O que faz então o governo? Propaganda. Após anos de escárnio no Aeroporto Internacional do Galeão, onde já se viu até passageiro arrastando bagagem pela escada por falta de elevador, o contribuinte tem que ouvir agora a mensagem de que a Infraero está trabalhando pelo seu conforto etc. Podem zombar, os brasileiros não ligam.
Nem se importam que o ministro da Justiça faça comício contra as prisões brasileiras, quando seus companheiros mensaleiros se encaminham para elas. José Eduardo Cardozo disse que preferia morrer a ir preso no Brasil. Aparentemente, também prefere a morte a ter que descer do palanque e administrar as prisões. Com a crise de violência em São Paulo, um preposto do ministro apareceu para declarar que ofereceu uma maleta detetora de celulares ao governador paulista. O mais importante era avisar à imprensa que o governo tucano não respondera à generosa oferta. Em meio à onda de mortes, a estratégia do governo popular era fazer pegadinha partidária.
Cardozo disse que as prisões brasileiras são medievais. Em seguida, por coincidência, Dias Toffoli, o ministro do PT no Supremo, declarou que as penas de prisão para os mensaleiros são medievais. Os brasileiros não se incomodam de ter um juiz partidário fingindo que julga seus companheiros, e aí ficam achando que o que julga de verdade é herói.
Onde está o heroísmo de Joaquim Barbosa? Ele foi o relator de um processo julgado sete anos depois do fato — e nesse intervalo o partido dos réus fez a festa em três eleições. A estratégia petista de fazer o mensalão sumir no retrovisor só não deu certo porque a imprensa gritou contra o escândalo do escândalo — e praticamente empurrou o STF para o julgamento.
Joaquim fez bem o seu trabalho. Mas também fez bravatas, mostrou pouca serenidade em bate-bocas com colegas (tivera um embate público quase infantil com Gilmar Mendes), se empolgou às vezes com sua própria mão pesada, mostrou-se intolerante e preconceituoso ao dizer a jornalistas que eles estavam fazendo “pergunta de branco”. Tomou posse no STF com discurso militante, para delírio dos progressistas que o veneram por sua origem pobre e pela cor da sua pele.
O Brasil mimou o ex-operário e não aprendeu nada com isso. Continua em busca do seu super-herói social. Os parasitas da nação agradecem. Eles se saem muito bem no reino da fantasia.

11 comentários:

  1. Anônimo3:24 PM

    Lavínia


    Joaquim Barbosa não é nenhum semi-deus, mas as reações à posse dele são muito reveladoras. Guilherme Fiúza se incomodou com as reações de Joaquim Barbosa aos jornalistas?
    Eu já perdi a conta das matérias jornalísticas racistas contra o agora Presidente do STF e não vi ninguém reclamando disso, muito menos Guilherme Fiúza

    Pra mim,Guilherme Fiúza (assim como você Rodrigo) é só mais um homem + branco que nunca tinha visto um negro em um posto de comando tão alto, que está demonstrando uma enorme dificuldade em "se adaptar" a essa realidade.

    É tudo muito banal, sabe?


    Um beijo na alma :)




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  2. Diogo R Santos4:10 PM

    Lavínia

    O trabalho do Joaquim Barbosa no Mensalão é notável. Entretanto, lendo entrevistas dele é nítido o discurso "politicamente correto com vitimismo sobre sua raça", alguns pontos ressaltados pela crítica do Guilherme Fiuza mostraram exatamente isto.

    O problema principal não é ver negros ocupando cargos principais - é ver todo o questionamento e crítica em cima do trabalho deles sendo tratado como uma simples acusação de preconceito e discriminação que não deixa de ser uma retórica apelativa e de certo modo intimidadora.

    E olha o Marxismo Cultural atacando novamente...

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  3. Anônimo5:08 PM

    Na época do julgamento do mensalão, o Barbosa servia. Agora que acabou, vai ser "pau nele". Como acontecia antes do julgamento.
    O casamento do Fiúza com a Narcisa deve ter afetado os neurônios do cara. Ele critica o governo federal sobre a onda de violência em SP e nenhuma vírgula sobre o governo paulista. Aí quer provar que é sério ?????

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  4. Rio de Janeiro,24/nov/2012.
    Prezado Rodrigo.
    Ótimo artigo sobre a conjuntura brasileira e americana.
    Penso pelo que aprendi que, esta história de tributar mais os competentes, além de contrariar o estado de direito, é um grande engôdo pois penalizando quem trabalha melhor e é mais produtivo e eficiente,acaba prejudicando o crescimento destes empreendedores que assim não contratam nem beneficiam quem poderia se empregar tendo acesso às oportunidades que seriam oferecidas nestas empresas, prejudicando toda a economia porque tudo está interligado no universo econômico. Meu raciocínio faz sentido ?
    Um abraço para voce. UilsonJC.

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  5. Victor R10:34 PM

    Irônicamente, a política contra os "políticamente correto", adotado por muitos assemlham-se em vários sentidos aqueles grupos terroristas na década de 70, 80 que lutavam contra a ditadura, quando na realide queriam trocar uma ditadura por outra.

    Vejo a mesma coisa acontecendo nesse momento.

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  6. Anônimo7:22 AM

    "Obhrama", como diria o apedeuta, se elegeu graças aos votos dos "latrinos", negros, a parte da população que espera mais benesses do governo e dos "Puliticamente" corretos.
    Os EUA estão ficando demais "latrinizados".
    O populismo é a desgraçadas nações, vide a Europa Socialista e a Arghentina da Barbie da terceira idade.
    "Ave Caesa morituri te salutant" deveria ser o lema do povo que vota nessas merdas populistas/socialistas e dos politicamente corretos.

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  7. Anônimo11:46 AM

    Lá vem a Lavínia vomitando seu politicamente correto..
    Não se pode criticar Joaquim Barbosa, simplesmente por ser negro, como se isso lhe desse uma blindagem moral contra críticas...
    no seu pequeno comentário, já dá pra entrever que é mais uma militante ideológica que tudo julga com o olhar míope de quem só quer enxergar a 'luta de raças'...
    quanto aos preconceitos conta o ministro, bem, boa parte vieram de quem o colocou lá e queria que tivesse meramente servido de fantoche....
    "Acuse-os do que fazemos!"

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  8. IvanFR7:32 PM

    No fundo, não discordo do autor do texto (Guilherme Fiuza) quanto à eterna necessidade de um herói salvador da pátria dos brasileiros. Também não gosto da excessiva bajulação em torno de Joaquim Barbosa, por veículos como a revista Veja, por exemplo.

    Mas uma coisa soa incoerente: O Fiuza não era co-autor daquela séria global "o brado retumbante", que mostrava um político incorruptível como salvador da pátria??

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  9. Não é porque detesto o PT que vou gostar do Joaquim Barbosa.O Joaquim faz sim populismo jurídico,eu jamais vou respeitar juiz que "ouve a voz rouca das ruas".Além do que,em que pese seu grande currículo,acho que pela sua péssima oratória ele sempre me passa a impressão de ser fraco intelectualmente.Ele não se porta como juiz e sim como promotor do interior,usa um vocabulário com os colegas digno de boteco.

    Temo pela corte com ele na presidência e seu comportamento extremamente irascível.

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  10. Anônimo6:37 PM

    Prefiro o LINEU da "Grande Família". Pelo menos é imparcial.

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  11. Anônimo1:12 AM

    Guilherme Fiúza = Gênio, leio ele sempre.
    Diogo Mainardi = bananão , já saiu tarde da Veja

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