terça-feira, abril 30, 2013

Pode um intelectual gostar da Disney?

Rodrigo Constantino

Janer Cristaldo transformou nosso pequeno debate de Facebook em artigo, tendo, claro, a palavra final. É justo. Ele afirma, logo no título, que não se fazem mais intelectuais como antigamente. E eu respeito sua opinião. Pode até ser verdade. Afinal, de certa forma somos todos filhos de nosso tempo, em parte. Gostaria apenas de dizer duas coisas: 

1) não respondo pelos meus seguidores, e não aprovo chamarem o outro de "senil" apenas por discordar de sua opinião;

2) mantenho minha visão de que é possível, sim, ter angústias profundas, mergulhar em pensamentos rebuscados, ler ótimos livros e escutar música de primeira, e depois trocar o chapéu, vestir a roupa de "homem comum" e se divertir com a última baboseira high tech de Hollywood ou na montanha-russa da Disney com a filha. 

Eu não acho que para ser um intelectual é preciso ser carrancudo e ranzinza, ainda que concorde que não dá para ser o oposto, aquela "happy people", alguém que SÓ quer saber de distrações vazias, de futebol, carnaval e novelas. São coisas diferentes.

Não sei se o Janer tem filhos, mas esse debate me remeteu ao grande historiador Paul Johnson, que define intelectual como alguém que ama as idéias mais do que as pessoas. Quando estou dando um lupin na montanha-russa do Hulk e vendo o sorriso de felicidade estampado no rosto de minha filha, isso é algo muito bom, que não pode ser comparado ao prazer de ler um angustiante Camus ou Kafka. São coisas bem diferentes, e lamento que, para alguns, uma coisa impeça a outra. 

Enfim, respeito a opinião de Janer, mas ainda acho que poderíamos, eu e ele, trocar dois dedos de prosa profunda sobre o impacto da igreja nas instituições moralizantes da humanidade, e fazer isso logo depois de ver o último filme do Batman. Por que não? 

PS: Dando o benefício da dúvida ao Janer, eu confesso ter dificuldade de imaginar Luiz Felipe Pondé, um filósofo que eu admiro, ao lado do Mickey. Acho que ele vomitaria em cima do Pateta (rs). Mas, como concluiu o próprio Janer, você não pode fugir de quem você é, e minha personalidade, meu estilo, minha visão de mundo, são diferentes. Neles, o humor banal encontra algum espaço, até para suavizar o peso da angústia com as coisas mais sérias. Mas, cada um é cada um. E viva as divergências saudáveis!

9 comentários:

  1. Anônimo8:46 AM

    "Com uma pilha de gibis já lidos nos braços, exercitávamos nossos dotes de comerciantes. Alguns tinham lábia de camelôs e eu, que nunca tive vocação para o comércio, acabava sempre lesado."

    -> Olha ai o ranso esquerdista...

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  2. Confesso que vibrei com muitos filmes de super-heróis, até o ponto em que fiquei absolutamente saturado, incluindo aí de crônicas disso e daquilo, sagas e histórias da carochinha que culminam com a Joana D'Arc fazendo discursos de sindicalista antes de uma batalha (Alice e Branca de Neve) . As mesmas músicas, os gigantescos monstros, os exércitos de número infinito que são desarmados quando se dá um tiro na mãe, na fonte de poder, no botão mágico (Star Wars, Independence Day, A Múmia, etc.). Sempre soluções mágicas... Emético. Confesso que não aguento mais. Hoje, quando assisto na TV a cabo, fico pouco convencido da história, esperando o final. Mil mortes nesses filmes não conseguem o mesmo impacto no espectador que uma facada em um filme mais realista. Assistimos a Nova Iorque sendo destruída, milhares morrendo, e, com cara de tédio, esperamos para ver como, magicamente, o herói resolverá as agruras sem fim em que o mundo está metido - certamente com uma solução mágica como inserir um vírus de computador no inimigo ou dar um soco bem dado no botão "desarmar exército" do líder ou fechando o portal, sei lá... Aff...

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  3. Você escreveu algo com que concordo. Não somos mais capazes de sentir prazer com carrinhos de ferro, a não ser que tenhamos uma criancinha com quem brincar, que funcionará, digamos, como um radinho para sintonizarmos nossa própria infância. Aí capotamos o carro, andamos com ele pelas paredes. Quantas vezes não ri assistindo Pocoyo, para bebês?

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  4. Anônimo9:46 AM

    Concordo plenamente com você, Rodrigo. Sou aberto a quase tudo e danço de acordo com as músicas, mas procurando distinguir os níveis das coisas. Gosto de rock, blues, erudito, mas me divirto ouvindo uma engraçada música brega. Cada coisa em seu lugar e seu momento.

    Tem pretenso intelectual que quer regular gosto de filho. Isto é estupidez. Meu filho gostava da Xuxa e pediu um disco dela (nos anos 80). A mãe discordou. Eu intervim, comprei o disco que ele queria e ainda dancei com ele ao som do disco. A fase passou e ele não ficou com qualquer "sequela" dessa época. Nem eu!! rs

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  5. Anônimo10:26 AM

    São as máscaras onde se pretende que a aparência se sobreponha a essência.
    É o macaqueamento: supõe-se que um intelectual, seja lá oq isso for, tem que ser profundoooo e não afeito às banalidades (tão saborosas) populares. Então para ser "um" o sujeito veste a fantasia e então "se acha" ...hehehe!

    Isso é antigo. Roupas ridículas e perucas não menos já foram demonstrativo de "superioridade". Era um diferencial a ser exibido, assim não se era confundido com a ralé; regras de etiqueta, gostos suspeitos por "arte" e etc.. Muitas idiotices ainda são cultivadas como diferencial com o fim de demonstrar "qualidade superior". É quase uma moral grupal para diferir os integrantes do grupo dos demais e jogarem confete uns nos outros. Esse comportamento é característico de inseguros.

    O estereótipo do intelectual para o senso comum, ou assim considerado, é de alguém com predileções diferentes da ralé. Então, quem pretende exibir-se como tal e usufruir do conceito que atribui ao intelectual (seja lá o que isso possa ser) "veste" a fantasia que lhe parece adequada para seus fins, não se permitindo gostos semelhantes ao da ralé.
    ...mas gosto não se discute, diria um intelectual antenado ...hehehe! ...mau gosto sim!

    Coisas banais podem ser deliciosas, como rir é um prazer indispensável

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  6. Gabriel Bueno11:11 AM

    Ola Rodrigo. Acho você e o Janer ótimos críticos, alias, uma conversa entre os dois daria um bom ensaio. Cada qual com seus gostos. O problema - e será um problema natural? - é que muitos dos seus admiradores "compram" a briga. Janer é um crítico, como ele mesmo se denomina - e como qualquer leitor de seu blog ou de seus livros percebe, "sem seguir filosofia alguma". Uma coisa une os dois, ambos detestam o astrólogo.
    Abraço meu caro, alias, estou lendo seu livro, "Prisioneiros da Liberdade", assim como o livro do Janer, que leio paralelamente, "Fábrica de Racismo", e recomendo os dois, duas ótimas leituras. Por que tantos comentam no "anonimato", porquê? Vamos mostrar nossos nomes.
    Ps: Entre e você e o Janer, a grande semelhança é que não existem máscaras, os dois são autênticos e expressam o que sentem, sem temores. Para um dos "anônimos', Janer não tem nada de esquerdista, procura ler mais o blog dele.

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  7. Tenho o blog do Janer nos meus favoritos, mas colho o que me convém, pois sua posição é, na maioria das vezes, radical. Eu sempre me pergunto como seria o mundo ideal de qualquer pessoa que tivesse alcance intelectual em destaque. Leu, estudou, vivenciou e formou um acervo de informações e conhecimento que lhe permitem discernir e conceber ideais. Se encontrarem dois que concordam em tudo, ganha um doce.

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  8. Anônimo11:25 PM

    Esse Janer é um que o Olavo falou que é anti semita no urtimo

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  9. IvanFR7:04 PM

    O Slavoj Zizek, que é um intelectual esquerdista, consegue ver algo de mais "profundo" na cultura popular. É claro que a análise dele sempre parte de uma ótica bastante esquerdista, mas não deixa de ser interessante que um filósofo de formação realmente leve a sério filmes do Batman ou do Lincoln lutando contra vampiros (que, na opinião dele, é a metáfora da luta de Lincoln contra a classe aristocrática e conservadora, representada pelos vampiros, sempre bem vestidos e elegantes no imaginário popular).

    Não é a toa que o Zizek recebeu a alcunha de "filósofo pop"...

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